O dia termina. Novamente. As avenidas estão cheias de pessoas e carros. As padarias estão cheias, e as pessoas se juntam nelas para o último cafezinho do dia. Os pais compram o pão. As crianças de uniforme compram os sonhos e pães doces.
Os ônibus estão cheios, e as lanternas avermelhadas dos carros colorem o crepúsculo.
Nos bairros, as avós ligam os rádios para ouvir a Ave Maria. Os cães latem nos portões das casas, devido ao movimento de carros e pessoas chegando.Portões se abrem. Pessoas entram. As crianças estão sentadas às mesas das cozinhas e salas de jantar, terminando a lição de casa. As crianças que tem irmãos, brigam. As mães ralham com elas.
Pelo ar, cheiros de jantares que estão sendo preparados. Fragmentos de conversas. Boas tardes, boas noites. Buzinas amigáveis. Alguém liga a TV. E todos começam a ligaras suas TVs, e as luzes dentro das casas se acendem. Os homens calçam seus chinelos, as mulheres lavam seus cabelos, mandam as crianças tomarem banho, põe as mesas...
Os casais comentam sobre o dia que terminou. Como foi o trabalho? Conseguiu resolver aquele problema? Lembrou-se de pagar aquela conta? As crianças brigam, e alguém ralha com elas novamente. Quem passa pela rua, vê as casas com suas vidraças iluminadas, gente dentro delas vivendo suas vidas. Cachorrinhos, gatinhos... as cigarras cantam alto na mata. As luzes dos postes já se acenderam. O céu ainda está claro, mas aos poucos, as estrelas começam a se destacar no fundo cada vez mais escuro. Mas ninguém se lembra delas, pois estão dentro das casas, cuidando de suas vidas.
E as pessoas que moram do lado de dentro das vidraças iluminadas, não sabem o quanto são felizes. São tão felizes!... E é uma felicidade de cenas que aconteceram no passado, acontecem hoje e acontecerão no futuro. Uma felicidade tão comum, que como as estrelas no céu, ninguém presta atenção a ela.
Mas um dia, alguém sentirá saudades... um dia, alguém se lembrará daqueles dias simples, por trás das vidraças iluminadas.