As nossas manhãs são tão diferentes agora,
Depois que você foi embora...
Não há pelos a varrer,
Marcas de patinhas
No chão da cozinha.
As manhãs, antes tão ruidosas,
Preenchidas pelos sons de latidos alegres,
Hoje são silenciosas.
Ao abrir da porta da cozinha,
Você corria para dentro, rodopiando de alegria,
Acompanhada do nosso outro amiguinho,
E eu, feliz, dizia: "Bom dia!"
"Bom dia, e que bom que você está aqui,
Que bom que você é nossa,
Que bom que você é minha!"
E ambos corriam para o jardim,
Causando uma revoada de passarinhos aborrecidos
Que tiveram perturbada, de repente,
A sua paz, pelos seus rosnados contentes.
Hoje, a nossa família está menor,
E ao abrir a porta, encaro o vazio,
O silêncio, o frio,
A casinha cavernosa e profunda, vazia dele e de sua dama,
Já que hoje, nosso outro cachorrinho
Dorme conosco, em nossa cama.
E a cada dia, você se vai mais um pouquinho...
Ontem ventou muito,
E ao me sentar no gramado com ele em meu colo, enovelado,
Percebi que em minhas roupas, nas pernas das calças pretas,
Havia pelos seus, emaranhados
Ao redor dos meus tornozelos.
A casa estã tão limpa,
-Nada a ser feito de manhã,
O pano de chão, antes tão utilizado,
Descansa na beirada do tanque, retorcido,
Ressecado.
E nossa pequena família
Tenta continuar de onde você parou
Todos os dias,
Tentando nos readaptar à nossa nova rotina,
Fazendo planos para, quem sabe, um dia,
Na condição de eternos aprendizes,
Possamos ser, novamente,
Felizes.
A ausência dela me fez ver que o tempo todo, a bagunça era feita por ela (eu pensava que era tudo feito pelo Mootley), as marcas de patinhas enlameadas eram dela, era ela a barulhenta, a esfuziante, a que chamava o Mootley para latir no portão, a que escondia os brinquedos (ontem encontrei, escondidas entre os vasos de plantas, duas bolinhas e uma rodelinha de plástico amarela, semienterrada no canteiro), era ela que nos chamava para a vida todos os dias.
Foi sempre ela. O Mootley era apenas mal-influenciado.