E veio a inundação,
Invadiu a casa onde eu morava
E me trancava,
Levando consigo tudo o que se escondia
Em meus porões.
O medo venceu a surpresa,
E de repente,
Eu não tinha mais nada
– Sequer a mim mesma.
E quando se foram as águas,
Passei vários dias raspando a espessa
Camada de lama.
Dormi ao relento, sob as estrelas,
Pois não me restou sequer uma cama.
E foi assim que descobri o sopro da brisa, ao ar livre,
E a chuva fresca lavou toda a noite da minha alma,
Levando-a na correnteza das suas águas.
O brilho das estrelas enfeitou minha dor,
E ao sol da manhã, sequei minhas mágoas.
Na casa, então vazia de tudo,
Eu entrei descalça,
Deixando as janelas abertas, as portas escancaradas.
Os passarinhos cantaram nas calhas
Enquanto as folhas dançaram
No piso da sala.
.
.
.
Todo final representa um recomeço, por mais que doa, e dói terrivelmente quanto mais tentamos "segurar" o que se foi. Porque,
Nunca mais não é "Te vejo daqui a alguns dias,"
Nunca mais não é "Vou ali e já volto,"
Nunca mais não é como "Um dia nos reencontramos para um café,"
Nunca mais é bem depois que se acabaram
A esperança e a fé.
Nunca mais não é "Talvez um dia,"
E de nada adianta rezar mil Padre Nossos
Ou Ave-Marias,
Porque nunca mais é acabou, fim,
Até que se perceba
Que nunca mais é um rio de amor jorrando
Sem um mar que o receba.
Nunca mais é como uma lápide sobre o peito,
Que vai doer por muito, muito tempo,
Até que se aceite, de fato,
Que nunca mais é cadeado,
Nunca mais é para sempre,
É fato consumado.
Nunca mais é mais pesado que chumbo numa linha de anzol, que desce num lago para fisgar um peixinho faminto. Um texto quem em analogia carrega todo um sentimento de perdas e de nunca mais. Salva-nos os gorjeios dos pássaros nas arvores que restaram depois do temporal Ana.
ResponderExcluirSentimentos Ana que sabemos como se tatuam em nós.
Um carinhoso abraço amiga.
Muito lindo, Ana, pesa sim, e como!
ResponderExcluirTambém não gosto do 'Adeus', uma palavra
do nunca mais nos veremos!
Esses são os extremos das palavras e que não uso,
e se usar, deve ser por distração.
Mas tem casos radicais que usamos o nunca mais.
Um bom fim de semana
Bjs 🌹
"Todo final representa um recomeço, por mais que doa, e dói terrivelmente quanto mais tentamos "segurar" o que se foi."
ResponderExcluirAqui faz a síntese perfeita de tudo o que escreveu. Triste e muito belo.
Uma boa semana.
Um beijo.
Todo e qualquer fechamento de ciclo, acompanhado de um adeus é muito doloroso e triste. Seu poema é lindo, embora cheio de dor, mas toca as almas sensíveis.
ResponderExcluirAbraços fraternos!
Olá, Ana
ResponderExcluirEu não conseguiria, ao menos neste momento, expressar os muitos (e dolorosos) sentimentos que o seu poema provocou (e/ou rememorou) em mim. Me deixei por ele embalar e pretendo, noutra circunstância, revisitá-lo
As ocorrências da vida, as mudanças, por vezes contra nós se abatem, furioso oceano, parece que buscando nos levar a pique! A calmaria, obviamente, logo vem, mas a mudança, é claro, está ai, com suas consequências, permanência. Sigamos, fortes, a navegar no imprevisível oceano da vida. Naufragar jamais
Abraço
Olá, Jonatas. Algumas mudanças são terríveis. Não queremos desapegar do que se foi, é doloroso dizer adeus. Mas a vida não está nem aí para nossas dores, ela faz o que tem que ser feito, doa a quem doer. A nós, resta nos adaptarmos.
ExcluirLinda poesia e boa reflexão.
ResponderExcluirArthur Claro
http://www.arthur-claro.blogspot.com
Seu poema tem uma força incrível! Bjus
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