Enquanto inspiro-me para escrever esta crônica, olho para fora e vejo as gotas de chuva insistindo em cair. As mesmas gotas de chuva que causam tanta destruição. Sinto-me culpada por achá-las tão belas! Mas não posso negar a beleza da chuva. O mistério que carrega o assovio do vento quando passa pelas frestas da janela.
O que é a beleza? As pessoas valorizam demais a beleza física, a etiqueta, a elegância, o adaptar-se aos padrões. "Uma mulher tem que aprender a sentar-se. Tem que saber empostar a voz. Tem que saber vestir-se." Quem define este saber? Acho que a mulher que tem bom-senso e autoconfiança, saberá sempre vestir-se, portar-se, usar a sua voz, caminhar... sempre demonstrando bom-gosto. Não importa o que dizem os padrões estabelecidos. Eles são apenas um pedaço em branco de um quebra-cabeças sobre uma mesa, onde pouquíssimas peças encaixam-se.
Eu vejo a beleza nas coisa mais simples. Às vezes, um pedaço de parede azul contra um pouco de mato. Um passarinho. A chuva. A natureza.
A beleza mais impressionante jamais durará, se estiver apenas do lado de fora. Conheci pessoas que foram tornando-se cada vez mais bonitas, à medida que eu as conhecia melhor. Mas também conheci mulheres deslumbrantes, que foram tornando-se cada vez mais feias, devido a um coração duro e uma personalidade frágil e corrompível. Tinham todos os homens a seus pés, mas por pouco tempo. Por mais bela que a mulher seja, se ela não tiver conteúdo, não passará de um bibelô na prateleira de alguém, do qual ele logo se cansará... e a trocará por outra!
Eu não gosto da tentativa de perfeição. As coisas são mais bonitas quanto revelam sua incompletude, sua natural imperfeição. E também sua inevitável transitoriedade. Mulheres que tentam permanecer jovens para sempre, podem estar apenas tentando agradar aos outros. Sofrem, fazem sacrifícios tremendos, passam fome, submetem-se a dolorosas cirurgias... por puro pavor. É claro, muitas dependem de sua aparência física devido à sua profissão; modelos, atrizes, até cantoras. Mas por que uma mulher comum preocupa-se demasiadamente com a beleza fisíca?
Eu sou vaidosa. Gosto de vestir-me bem, cuidar das unhas e cabelos, da pele, manter o peso. Mas não admito sacrificar-me ou impor a mim mesma padrões extremados.
A beleza, às vezes, não é óbvia; precisa ser descoberta. Desvendada. Ela pode estar ali, logo depois da curva, no gatinho que dorme tranquilo sobre o latão de lixo. Pode vir com o vento, que traz um revigorante perfume de café fresco, em um final de tarde, após um dia cansativo de trabalho. Pode estar até em uma fila de ônibus ou de banco, quando as pessoas começam a conversar entre si. Talvez, em uma criança que, distraída, brinca com seus brinquedinhos, espalhados pelo chão.
Acho que a beleza precisa ser confirmada por uma boa base de conteúdo. Ou ela será apenas beleza vazia. E quando ela mudar (toda beleza transforma-se com o tempo), só continuará existindo se houver algo mais além de simplesmente, beleza.