Ontem fomos dar uma caminhada no final da tarde, e passamos pela nossa antiga casa, hoje totalmente reformada, bem diferente do que era quando moramos lá. Pintada de um verde fortíssimo (até dói os olhos, mas gosto é gosto), ela ganhou mais um andar. Minhas roseiras foram todas removidas: a branca, a laranja, a cor-de-rosa, a rosa chá e a vermelha. A casa ficou muito boa e funcional, mas lamentei pela destruição do jardim e dos canteiros que nós cuidávamos com tanto carinho. Faltam plantas.
De repente, olhei e percebi que eles conservaram os balaustres da cerca, e imediatamente, lembrei-me do Aleph, meu cão, a cabeça enorme para fora, entre os balaustres, latindo para a rua. E foi como se todas as lembranças que estavam presas em algum lugar, de repente, desaguassem.
Revi os dias nos quais eu me deitava na rede da varanda (hoje, coberta por telhas; antes, por uma pérgula onde crescia um Bunganville cor-de-maravilha) e o Aleph deitava-se sob a rede, dormindo de roncar. Lembrei-me de mim mesma, podando as roseiras, arrancando o capim dos canteiros, limpando as grades das janelas. Recordei as noites de sábado, nas quais nós íamos para fora e nos deitávamos no chão de cimento do jardim, olhando estrelas e conversando, até a madrugada. O quintalzinho dos fundos, onde eu tomava sol.
Hoje, moro em uma casa bem melhor que aquela, mas vivi tantas coisas boas ali... impossível não sentir saudades do que foi bom! Confesso que deu um nó na garganta ao lembrar-me de tudo o que vivemos naquela casa.