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quarta-feira, 25 de abril de 2012

Amizades



Uma amizade verdadeira é um bem de valor incalculável! Pena que amigos verdadeiros sejam tão raros... mais uma vez, a vida e a experiência vieram para mostrar-me este fato.

E o que significa, ser um amigo verdadeiro? Bem, a amizade pode significar diferentes coisas para as pessoas, dependendo da maneira que elas tem de encarar a vida e os fatos. Alguns acham que ser amigo é viver amontoado, como os bichinhos aí da foto, sempre uns por cima dos outros, engalfinhados, esquecendo-se de uma palavrinha que para mim, é muito importante: respeito e privacidade. Nesses meus quarenta e seis anos de vida e de rarísssimas pessoas que encontrei pelo caminho e que posso chamar de amigas - façam elas parte de minha vida atualmente ou não - aprendi a estabelecer alguns critérios; para mim, um amigo é aquele que...

-Respeita as nossas decisões, mesmo que elas o desagradem. Entendem que cada um precisa ter as suas próprias experiências e caminhos de aprendizado.

-Alegra-se sempre com o nosso sucesso, mesmo que isto signifique um sucesso realmente muito grande! O verdadeiro amigo não sentirá inveja e nem se considerará diminuido pela alegria e o sucesso do outro.

-Jamais nos exporá ao ridículo! Se tiver qualquer coisa a tratar conosco, ele o fará de maneira privada.

-Ao estarmos tristes, o verdadeiro amigo ficará ao nosso lado e segurará a nossa mão. Não tentará nos 'consolar', tentando obrigar-nos a fazer coisas para as quais não estamos preparados, como sair e divertir-se quando você está arrasado, ou até mesmo, de luto.  Um amigo sabe respeitar nossos momentos.

-Um amigo não acreditará naquilo que disserem de ruim sobre nós; pelo menos, não sem antes verificar por si mesmo. Um verdadeiro amigo jamais tomará a palavra de outro a nosso respeito como verdadeira sem antes averiguar.

-Um bom amigo tem memória. Se tiver de julgar-nos por um erro, lembrar-se-há também das vezes em que acertamos.

-Um amigo verdadeiro não baterá a porta em nossa cara se precisarmos de alguém para conversar. E durante uma conversa, não tentará impor-nos seus pontos de vista.

-Um amigo verdadeiro não falará mal de nossos outros amigos, tentando monopolizar o relacionamento. Isto, os inimigos já fazem, e muito bem!

Um amigo, enfim, é a pessoa que estará do nosso lado quando precisarmos, na alegria e na tristeza. Exatamente como deveria ser em um bom casamento. Pode ser que ele nos dê uma boa bronca de vez em quando... afinal, um amigo verdadeiro é sempre sincero, e ao invés de concordar com nossas asneiras, tenta alertar-nos. Mas saberá respeitar as nossas escolhas, sejam elas quais forem.

É... não é fácil encontrar um bom amigo!

Praça da Liberdade



Já tinha pago as contas do mês. Caminhava pela Avenida XV de Novembro, já voltando para casa no final da tarde, quando a menina pediu: "Mãe, me leva na praça?" Ela pensou nos legumes que tinha deixado na geladeira, já descascados e cortados para para o preparo do jantar. Pensou na roupa que ficara de molho no tanque. Pensou no chão que ainda não varrera. Suspirou: "Está bem, mas só um pouquinho!" A menina pulou de alegria, abraçando a mãe pela cintura.
Ainda não tinham lanchado, mas a menina não sentia fome; só conseguia pensar nos balanços, nas gangorras e no vai-vém.
A mãe resolveu ir pela Avenida Koeller, pois adorava passar por aquelas mansões maravilhosas. As magnólias que se enfileiravam pela rua estavam crivadas de pássaros, que faziam a maior algazarra nas copas das árvores. O céu era de um azul absurdamente límpido e uniforme. Uma linda tarde.
Ela segurava a mãozinha da filha, que ia pulando ao lado dela, e lembrava de um tempo - bem distante - em que passeara por ali segurando a mão de seu primeiro amor. Nada mudara. A paisagem era a mesma. Seus sonhos, embora perdidos pelo caminho, ainda insistiam em vir à tona de vez em quando, mesmo sendo impossíveis.
Atravessaram a rua em direção à Praça da Liberdade. A menina, ansiosa, quase arrastava a mãe pelo caminho, querendo chegar logo aos balanços. Teve que esperar sua vez, mas enquanto isso, comeu a metade do saquinho de pipocas sem casca que sua mãe comprara para ela. A outra metade, a mãe colocara na bolsa.
Finalmente, a mãe ajudou-a a sentar-se num balanço de assento vermelho, e logo começou a empurrá-la. Outras crianças também aguardavam sua vez, e algumas mães conversavam.
Ela gritava: "Mais alto, mãe!" Enquanto as copas das árvores iam ficando cada vez mais próximas. A sensação era indescritível! Cansada de empurrar, a mãe disse: " Agora você dá impulso, como eu ensinei!" E ela assumia o controle do balanço, sentindo-se cada vez mais livre.
A mãe sentou-se em um dos banquinhos de madeira para descansar. Sentia um pouco de fome, mas talvez a menina quisesse comer o resto da pipoca mais tarde, e as moedinhas em sua carteira só dariam para a passagem de ônibus de volta para casa e para seu vidro de xampu. Ela ficou ali, observando o movimento, admirando os vestidos das outras mães. Nem se lembrava mais da última vez que comprara um vestido novo. Será que ainda era bonita? Não tinha muito tempo para cuidar da aparência, pois sua vida resumia-se a acordar às cinco da manhã, preparar a marmita do marido e dos três filhos mais velhos para que fossem trabalhar e preparar as duas meninas mais novas para a escola. Depois, a lida com a acasa tomava-lhe todo o tempo restante. Sua diversão consistia em ouvir as novelas no rádio e conversar com a vizinha da casa ao lado.
De repente, percebeu que estava sendo observada.
Do outro lado da praça, um homem olhava insistentemente para ela. Olhos de lobo. apenas um paquerador barato em busca de aventura, mas ela sentiu-se viva novamente, sabendo que ainda era capaz de chamar a atenção de alguém. Passou as mãos pelo cabelo instintivamente. Alisou a saia do vestido. Percebeu as unhas lascadas. Ele ainda olhava para ela. Sentiu vontade de sorrir, mas achou que não ficava bem. Achou melhor ir embora.
Chamou a menina, que insistiu em ficar mais um pouco, mas a mãe segurou o balanço e obrigou-a a descer. A menina berrava, esperneava, soluçava. As outras mães começaram a olhar e fazer comentários em voz baixa. Ela sentiu seu rosto queimar.
Quando saiu do balanço, a menina estava aos prantos, e a mãe tentava consolá-la. "Não chore, eu te compro uma caixa de estalinhos..." Enquanto isso, a menina caminhava ao lado da mãe, desconsolada. De vez em quando, olhava para trás, para os balanços - o seu, ocupado por outra criança. Gritou: "Eu não quero estalinho, quero uma cornetinha!" A mãe aproximou-se da barraca do vendedor e perguntou quanto era a cornetinha de plástico que a menina queria. Custava metade do seu vidro de xampu. Mas ela comprou-a assim mesmo. Finalmente consolada, a menina assoprava a cornetinha, tentando reproduzir alguns sons interessantes, cobrindo e descobrindo os três furinhos.
Começava a escurecer, e a menina sentia frio e fome. Também estava muito cansada. Pediu a mãe que a carregasse no colo. A mãe protestou: "O ponto de ônibus é logo ali. Ande mais um pouquinho, e eu te carrego no colo depois." A menina, mau humorada, jogou no chão a cornetinha, lascando-lhe a beirada. A mãe pegou-a do chão, limpando a poeira na saia e devolvendo-a à menina: "Olhe, ainda serve, só quebrou um pedacinho..." Mas a menina berrou: "eu quero uma nova!"
Naquele momento, a mãe teve vontade de chorar também. Estava cansada, com frio e com fome. mais uma vez, tinha feito o melhor que podia, e não tinha sido o bastante. De repente, vieram à tona todas as queixas do marido, sobre o quanto ela era insuficiente, sobre a comida sem-sal ou salgada demais, a camisa mal-passada. Ela quis chorar. Ela quis morrer.
Mas simplesmente pegou o restante do dinheiro na carteira e comprou outra cornetinha para a filha.
No ônibus, a menina adormeceu em seu colo, agarrada à sua nova cornetinha. A mãe olhava a paisagem, as primeiras luzes se acendendo nos postes, os faróis dos carros, o céu avermelhado. Um vento frio entrava pela janela do passageiro do banco da frente, e ela apertou mais a menina adormecida, tentando aquecê-la.
Novamente, pensava no jantar, que naquela noite, estaria atrasado.

A BOLHA DA PERSPECTIVA



Perspectiva... definição de dicionário: "Ato de representar, num plano, os objetos tais como se apresentam à vista, guardadas as distâncias e situações; pintura que representa edifícios e paisagens à distância (gostei mais desta); panorama, vista, aparência, miragem, probabilidade, esperança, promessa."

Quando se tem perspectiva, raramente nos desesperamos. Porque sabemos que existe um começo, um meio e um final para tudo que se nos apresenta nessa vida.

Conversando com minha irmã pelo telefone, ela me disse: "Ana, já leu "O Profeta", do Gibran? Tem uma parte na qual ele fala da alegria e da tristeza. Ele diz que aquilo que mais nos dá alegria no dia de hoje, será nossa maior tristeza, e vice versa. Ele poetisa que enquanto a alegria come à sua mesa, a tristeza dorme em sua cama." E é verdade!

O amor, por exemplo, nos traz alegria, mas quando precisamos nos separar daqueles a quem amamos, ou quando eles nos decepcionam, sentimos tristeza. Às vezes, alguma coisa que nos falta há muito tempo, nos é inesperadamente suprida; então, aquilo que nos causava tristeza, torna-se nossa maior alegria.

Não é nada fácil, quando estamos bem no olho do furacão, ver as coisas deste jeito. Só enxergamos o problema. Mas se saírmos de dentro dele, andarmos para um pouco mais longe de onde nos encontramos, veremos a paisagem em volta. Poderemos ter um vislumbre do futuro. Saberemos que, seja qual for o problema que estamos enfrentando, ele terá uma solução. Não vai durar para sempre!

Por isso, eu hoje fui lá para fora. Sentei-me no jardim, entre meus cães e os beija-flores, e "saí " um pouco dos acontecimentos que me cercam. Vi que, apesar dos meus dramas pessoais, e dos dramas das pessoas que me cercam, a vida continua acontecendo, e que ela não vai me esperar para continuar o seu curso. Vi que, mesmo em meio ao caos total, é possível encontrar um centro, um ponto de equilíbrio. Um lugar onde a gente entra, uma bolha que nos proteja de tudo o que está do lado de fora e nos fornece paz, energia, confiança e otimismo.

Depois, podemos voltar renovados lá para onde se encontra o problema (ou problemas) que estamos vivendo, com muito mais perspectiva, e deixar que as soluções se apresentem quando chegar a hora - porque existem problemas que não podem ser resolvidos pelas nossas atitudes. Não adianta perder a cabeça, se estressar, fazer pirraça e dizer "Eu não quero isso!" Existem coisas que simplesmente fogem ao nosso controle, e pronto.

Só nos resta entrar na bolha da perspectiva e esperar... mas essa espera não é infrutífera, pois podemos aprender muitas coisas sobre nós mesmos, enquanto isso. Acho que a pior coisa, é passarmos pelas experiências difíceis e sairmos delas exatamente como entramos, sem ter aprendido nada.

Resistir ao inevitável não é uma atitude sensata. A vida é feita de aceitação. Podemos espernear, gritar, berrar, chorar, sofrer, socar o travesseiro. Mas sabendo que, daqui a pouco, só nos restará respirar fundo e aceitar as coisas que são.

terça-feira, 24 de abril de 2012

ESTAR





Estar aonde se quer
E ser, sem ser perturbada...
Esta é minha paz de espírito,
Da qual não serei lograda.

A estrada é muito larga,
E também tem muitas curvas...
Cristalinas poças d'água,
Mas algumas, muito turvas!

Há uma faixa bem no meio
Que divide as duas mãos:
Eu não piso no seu lado,
Nem você pisa no meu!

O acordo está fechado,
Eu aperto a tua mão...
O destino foi selado,
Você fica do teu lado,
Não ando na contra mão.

CANYON




Hoje, já  faz um ano
Que aquele meteoro
Abriu um grande buraco
Sobre a paz do nosso solo.

No começo, ele podia
Ser visto à grande distância,
Mas com o tempo, muitas plantas
Bichos, árvores, regatos,
Habitaram nosso canyon.

Assim, passou-se o tempo...
O buraco ainda existe,
E para sempre, ele estará
Bem no meio do viver.

Mas hoje, ele abriga vidas,
Lembranças, ecos de risos,
Muitas flores, passarinhos,
E tornou-se um santuário

Onde vamos recolher
Pedacinhos da passagem
Tão breve, mas tão marcante,
Paisagem que tu plantaste.


17 de janeiro de 2012

A Montanha



Lá do alto, a montanha observa a planície e as criaturas que vivem sobre ela. A montanha é altiva, e sabe-se objeto dos muitos sonhos dos que vivem na planície, mas ela não tem orgulho. Mas também não é condescendente com aqueles que desejam galgá-la: trata a todos igualmente, enviando tempestades quando tem que enviar, não importa em que ponto da escalada eles estejam.

Muitas vezes, ela manda um pouco de neve; em outras, um calor escaldante. Quem quiser vencê-la, precisa aprender a sentí-la, entender seus humores e basear sua escalada de acordo com eles. De nada adianta lutar contra o seu vento, a sua chuva ou o seu sol. É preciso adaptar-se a eles.

A montanha é linda, e alcançar o seu cume é um momento inesquecível; poucos conseguem, mas os que chegam lá, olham para baixo e tem uma nova compreensão sobre a vida. Uma nova visão e entendimento, muito mais profundos. Mesmo os que não conseguem chegar ao cume, mas ao menos, tentam a escalada, sempre aprendem alguma importante lição que levam consigo pelo resto da vida. Até aqueles que tentam e caem, perdendo-se no abismo, lucram mais do que aqueles que permanecem na segurança da planície.

A montanha não deseja ser decifrada; ela deseja ser aceita. Ela quer ser galgada, não por ambição, mas por amor. Amor puro. Ela não dá aos alpinistas nenhuma forma de garantia ou segurança. Ela só dá, a cada um, o direito ao próximo passo. O direito a ter esperanças. O resto, cada um terá que conseguir por si mesmo, com a ajuda da própria fé.

A SORTE DE ESTAR VIVA




Em momentos assim,
Quando o céu se tinge
Dessa luz de fogo
Que aos poucos,
Chamusca a alma da gente,
É que sinto, pulsante e quente,
A sorte de estar viva.

Beleza caridosa
Da natureza, que doa
Sem limites,
Toda a sua beleza!

Em momentos assim,
Não existe incerteza!
Apenas um entregar-se, sem limites,
Confiante e serena,
A tudo o que vier,
Ao que se der.

Cavaleiros do Apocalipse



Eram quatro cavaleiros
Sobre o deserto escaldante
As trombetas carregavam
Um oásis procuravam...
E o vento em seus cabelos
Contava histórias perdidas
De estradas e de prados
Por onde eles cavalgavam.

A mensagem que traziam
Era bem definitiva:
Falava de um final próximo
E de um recomeço da vida.
Eram quatro cavaleiros
E a mensagem tão temida
Que traziam, era evitada,
Ninguém desejava ouví-la!

Soa a primeira trombeta,
E a Terra se reparte,
Espalha-se sobre ela
A vanguarda de uma arte
Ainda não compreendida,
Reprovada, descabida
Escurraçada e odiada
Pela humana maior parte!

Soa a segunda trombeta,
E o povo tapa os ouvidos,
Agora, eram rios de sangue
Entre choros e gemidos
Que aos poucos, se tornavam
Grandes, abertas risadas,
Gargalhadas frouxas, loucas,
Das gentes desesperadas!

Soa  a terceira trombeta,
E os rios transbordantes
Trazem enxurradas longas
E pedras de diamantes
Que cortam os pés descalços
De quem anda distraído,
E o passar da correnteza
Solta a voz, que estava presa!

Soa  a quarta trombeta,
Sob apupos e mil risos,
E os quatro cavaleiros
Espalham a falta de ciso,
Aproveitam a jornada,
Pois sabiam que o fim
Aos poucos, se aproximava,
E eles seriam banidos,
Expulsos do Paraíso!

Eram quatro cavaleiros
Que andavam lado a lado,
Sob as patas dos cavalos
Muita poeira e cansaço...
Um final, um recomeço,
Uma estrada se estendia
Entre a noite mal dormida
E o nascer de um novo dia...





Medo de Música?




Uma crônica baseada na postagem "TIME," do blog da Lia. Provocou-me esta lembrança.

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Quem não conhece a música "Time" do Pink Floyd? Bem, eu a conheci quando eu era bem pequena, acho que eu tinha uns seis ou sete anos. Minha irmã tinha um amigo, o Nelson, que colecionava muitos discos de rock e MPB, e vivia emprestando para ela. Dentre eles, havia uma muito legal, do Di Giorgio, que dizem, foi o pioneiro da onda da discoteca. Bem, mas essa é outra história...

Certa vez, minha irmã apareceu em casa com um disco do Pink Floyd, cuja capa era preta, e tinha a fotografia de um prisma - que só vim a saber o que significava muitos anos depois. Bem, prisma é um cristal que absorve a luz e a reparte nas cores do arco íris. Criança, fiquei muito curiosa a respeito do disco. Já tinha o rock na alma, e nem sabia.

Enquanto minha irmã estava fora, e minha mãe conversava com a vizinha, eu entrei em casa e pus o disco na vitrola. Estava tudo muito bem, até que, de repente, o som de um despertador - vários despertadores - soaram na casa vazia, semi-escurecida. Um tiquetaquear sinistro, seguido de sons melodiosos, vozes e gemidos guturais, profundos e amedrontantes... a música era o tema da série "O Sexto Sentido," famosa nos anos setenta.

Acho que nunca senti tanto medo na vida!

De repente, as cenas do filme começaram a passar em minha cabeça. A música tornava as sensações ainda mais terríveis, e o medo, mais brutal. Calafrios percorriam a minha espinha, e eu fiquei parada, de pé no meio da sala, sem atrever mover-me, de olhos fechados e suando muito frio. Parecia haver alguma coisa post-mortem naquela música, algum sinal macabro do além, sei lá!

Eu queria mover-me, sair correndo da casa e ir até aonde minha mãe estava, do lado de fora, mas o medo me paralisou completamente. As sombras começaram a se adensar dentro da sala, conforme a tarde escurecia. Só consegui mover-me (e saí correndo) depois que entrou a voz do cantor.

Apesar de ter durado apenas alguns minutos, aqueles foram minutos que pareceram horas! E confesso que, até hoje, se esta música me pega de surpresa, ainda sinto um arrepio na espinha...

segunda-feira, 23 de abril de 2012

O QUARTO DO VOVÔ




Quando criança, eu estava acostumada a sempre dividir o quarto com minhas irmãs. A casa era pequena, e um dos quartos que usávamos era, na verdade, de nosso avô, que morava em Niterói e era copeiro na casa de Mme. Nair de Tefé. Ele vinha apenas algumas vezes ao ano, pois precisava voltar ao trabalho, e passava uma noite, indo embora na manhã seguinte. Naquelas ocasiões, eu e minhas irmãs dormíamos em outros cômodos. Sendo assim, aquele quarto foi batizado como Quarto do Vovô.

Havia um grande armário com um lindo espelho de cristal na porta, que ele tinha ganho como parte de sua indenização ao ser demitido do Hotel Majestic, quando este fechou as portas. Dentro deste armário, ficavam guardadas algumas de suas coisas: livros sobre espiritismo, um vestido antigo de minha bisavó, algumas peças de roupa, uma toalha de banho, fotos antigas e documentos.

Quando meu avô morreu, eu tinha oito anos de idade. Ele tinha uma outra casinha em Petrópolis, que estava alugada para uma família, mas mantinha lá um quarto para ele com alguns pertences. Dentre outras coisas, achamos um baú com moedas muito antigas, bolas de cristal, mais livros sobre espiritismo, alguns objetos que até hoje não sabemos para que serviam, algumas poucas jóias, mais fotos, documentos e roupas. Passei boa parte de minha adolescência lendo os livros do vovô. O que mais me marcou foi uma coleção chamada (grafia da época) Sciência Secreta, por Henry Durville, editado em 1929. Minha mãe ainda guarda dois volumes desta coleção.

Bem, eu e minhas irmãs tomamos posse do quarto, mas mesmo assim, ele continuava sendo o quarto do vovô, como o chamamos até hoje. Uma a uma, minhas irmãs forsam casando-se e mudando-se para suas próprias casas, até que, aos dezenove anos, eu fiquei sozinha no quarto.

Foi quando os fatos estranhos começaram a acontecer.

Eu acordava quase todas as noites, mas não conseguia mover-me. Abria os olhos, via a penumbra do quarto, mas meus braços e pernas ficavam totalmente dormentes, muitas vezes, ao ponto de formigarem. Eu então escutava um forte zumbido, que ia aumentando cada vez mais, e ouvia ruídos de passos no chão de madeira, passos que paravam diante de minha cama. Depois, o mais aterrorizante: eu sentia que minhas cobertas eram puxadas com força, deixando-me exposta. Eu queria gritar, e não podia. Os zumbidos ficavam ainda mais fortes, e era como se alguém me sacudisse com as mãos com toda força, como fazemos quando queremos acordar alguém profundamente adormecido.

Eu tentava gritar e pedir ajuda aos meus pais, que dormiam no quarto ao lado. Depois de algum tempo, os zumbidos iam pouco a pouco diminuindo, e meus movimentos voltavam. O grito preso na garganta saía, e meus pais corriam para ver o que estava acontecendo. Eu acordava aos prantos, suando muito. Custava a dormir novamente.
Finalmente, passei a dormir na sala.

Isso voltou a acontecer algumas vezes quando me casei, e fui acordada pelo meu marido exatamente com as mesmas sensações que eu tinha quando criança. Uma noite, ao invés de gritar apavorada, tentei relaxar e perguntei: "Se você quer dizer-me alguma coisa, diga logo e deixe-me em paz." No mesmo instante, foi como se eu tivesse sido puxada para fora do quarto, voando pela janela. Eu via os telhados das casas, e o bairro lá em baixo. Nunca tinha tido aquele ângulo de visão antes, o que tornava tudo ainda mais estranho. A sensação era maravilhosa, pois eu sentia o vento da noite, via as estrelas e a lua, via as ruas desertas e silenciosas. Parecia haver alguém ao meu lado, mas nunca consegui distinguir quem era. O que acontecia depois sempre foi muito obscuro, então não sei como contar, pois não consigo estabelecer uma sequência de eventos.
Mas estive em alguns lugares desconhecidos, e falei com pessoas que nunca tinha visto.

Ainda hoje isso acontece, mas só que raramente. Às vezes consigo lembrar-me de algumas coisas, outras vezes não me lembro de nada. Mas tudo isso começou a acontecer depois que passei a dormir sozinha no quarto do vovô.

Por que Nada dá Certo?...



Originalmente publicado no Recanto das Letras



"Por que nada dá certo em minha vida?"

Quando nos fazemos esta pergunta, é hora de parar tudo e olhar para trás.

Não é fácil admitir que erramos ou que magoamos as pessoas ao longo do caminho. Mas, se nos sentimos infelizes, é porque fizemos alguma coisa errada. De repente, valorizamos as pessoas erradas. Ou pisamos em alguém. Talvez, tenhamos deixado que outros assumissem as rédeas de nossas vidas. Motivos não faltam!
Um dia, alguém a quem ajudei saiu de repente de minha vida, e nem sequer se despediu. Não levou em consideração que foi através de mim que ele conseguiu chegar onde está hoje. Culpa de quem? Minha, que confiei no sujeito. Não espero gratidão eterna, apenas consideração. É muito? É demais, esperar que quem bebeu do nosso café não saia quebrando a xícara?
Mas o universo tem um olho clínico para esse tipo de pessoa. É uma pena, não desejo isso para ele, mas logo alí na frente, alguma coisa de errado acontecerá, inesperadamente, e ele nem sequer se lembrará que ele próprio a atraiu. E quem sabe, encabeçará a lista dos "mas o que foi que eu fiz de errado", onde no momento, eu sou a líder.
Bem feito! Quem mandou confiar demais? Quem mandou acreditar que ele não cuspiria no prato que comeu?
Eu já aprendi minha lição. Não foi tão difícil. Aliás, nem perdi muito, pois a quantia que ele ficou me devendo, eu recupero em um mês. Mas é nas pequenas coisas que se mostra o caráter das pessoas. Infelizmente, fiquei conhecendo o dele da forma mais decepcionante. Bem feito outra vez, pois quem espera dos outros, sempre se decepciona.
Dor de barriga não dá uma vez só, e ele vai ficar sabendo disso algum dia.
Mas não é nada agradável sentir que fui usada, descartada e esquecida. Meu Deus, será que as pessoas não enxergam que recebemos de volta aquilo que fizemos? Às vezes, não da mesma forma, mas sempre acabamos perdendo alguma coisa quando saímos pisando nos outros, pena que na maioria das vezes, nunca ficamos sabendo por que estamos sofrendo, pois nossa memória autocrítica é sempre muito fraca.

E o momento de lembrarmos pode não tardar...




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O Tucano O TUCANO   Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me ...