witch lady

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domingo, 16 de agosto de 2020

O QUE PENSAM DE NÓS?


 





Ontem assisti a um filme no qual um rapaz visitou algumas pessoas, e antes de sair, deu um jeito de colocar o celular gravando, escondido sob as almofadas do sofá, a fim de ouvir as conversas depois que ele saísse da casa. Na rua, usando uma escuta conectada ao aparelho, ele ouviu quais as verdadeiras impressões das pessoas sobre ele, e constatou que elas o achavam simplório, insignificante e risível. Ele as ouviu falarem sobre seu perfume barato, darem risadas sobre a maneira como ele segurava o garfo e oferecerem à empregada da casa um pote de geleia com o qual ele as tinha presenteado. Lágrimas rolaram de seus olhos durante a humilhação.

 

Isso me fez pensar: e se nós pudéssemos saber o que as outras pessoas realmente pensam de nós? Bem, mesmo sem ter esse poder, confesso que minha intuição me ajuda muito nessa parte; costumo acertar quanto a quem gosta ou não gosta de mim, e consigo sentir no ar insinuações ou trocas de olhares significativos entre as pessoas presentes. Também sinto de longe o cheiro da tentativa de manipulação e do elogio falso.  Mas sempre fica uma dúvida: será que a minha intuição está certa?


Bem, se tivéssemos certeza absoluta a respeito do que pensam de nós de verdade, não existiriam amizades. As pessoas viveriam isoladas, aquarteladas em suas casas, com ódio ou ressentimento umas das outras. E talvez constatássemos que a grande maioria das pessoas que nos criticam, na verdade, gostariam de ser como nós ou ter algum talento que nós temos.

Diante desse pensamento, concluo que Deus realmente sabe o que faz; melhor não saber ou continuar fingindo não saber o que pensam de nós!





quinta-feira, 13 de agosto de 2020

MEU POBRE IPÊ AMARELO

Foto: uma imagem antiga do meu ipê


 Havia um vaso de terra sob o ipê, onde eu cultivava uma plantinha que não vingou. O vaso acabou ficando por lá um tempo, até que percebi que havia uma mudinha de alguma coisa crescendo dentro dele, brotando corajosamente da terra mal-tratada do vaso. Comecei a regá-la. Em algum tempo, percebi tratar-se de uma muda do ipê amarelo. Replantei-a para os fundos do terreno, e hoje ela já está mais alta do que eu, e já dá flores, embora tenha puxado a mesma magreza de seu pai/mãe ipê.


Quando nos mudamos para esta casa, ele já não ia muito bem de saúde: um tronco magrelo que se dividia em dois galhos ainda mais magrelos nas pontas. Dava algumas flores, porém. Começamos a cuidar dele, e ele cresceu e multiplicou seus galhos, mas nunca chegou à exuberância, mas deu muitas e muitas flores, atraindo a atenção de quem passava pela rua e olhava por cima do muro. Quando ventava, o gramado ficava cheio de manchas amarelas, e eu colhia algumas para colocar na minha fonte.


Houve uma tempestade, e meu manacá da serra foi arrancado do chão com raiz e tudo. Meu enorme mandacarú também não resistiu, mas o ipê, em toda a sua magreza, curvou-se sobre o telhado da garagem sem quebrar. Aos poucos, ele foi voltando ao normal, tal era a sua vontade de viver.


Mas agora, acho que ele está realmente se despedindo, e entendi a sua urgência em deixar-nos um descendente que continue a enfeitar o nosso jardim. Os galhos mais altos estão quase totalmente secos, e quebram-se ao peso dos pássaros maiores que pousam neles. Alguns galhos começaram a brotar bem no meio do tronco, e ao ler um livro sobre árvores, descobri que é uma última tentativa de tentar viver por mais alguns anos, mas que não há salvação para ele. Segundo o livro, quando uma árvore começa a dar galhos muito baixos, é porque a seiva já não chega aos galhos mais altos; ela está morrendo.


O jardineiro acha melhor que o cortemos de uma vez, mas não vou fazer isso com ele. Vou deixá-lo viver enquanto ele quiser, já que luta tanto para permanecer vivo. Tenho certeza que, caso ele esteja em sofrimento e deseje uma eutanásia, arranjará uma maneira de me dizer isso, e então abreviarei seu sofrimento. Enquanto isso, olho pela janela da sala de aula e vejo sua cria a crescer, magrinha, já vencendo a altura do muro que separa a minha casa da casa do vizinho. 


As árvores têm alma, eu tenho certeza. As árvores amam e são gratas. Também sou grata a todas as flores que meu ipê nos deu de presente nesses dezesseis anos que moramos aqui. Cuidarei bem de sua cria.



sábado, 8 de agosto de 2020

SETE MINUTOS DEPOIS DA MEIA-NOITE

 




SETE MINUTOS DEPOIS DA MEIA-NOITE

Título original:  A MONSTER CALLS

Autor: Patrick Ness

O filme homônimo foi estrelado por Lewis MacDougall, Sigourney Weaver, Felicity Jones, Toby Kebbell e Liam Neeson.


Conor O'Malley (Lewis MacDougall) é um menino de 12 anos de idade que está em uma péssima fase de sua vida, na qual enfrenta, ao mesmo tempo, a péssima performance na escola associada ao bullying que vem sofrendo, à ausência do pai, ao mal relacionamento com a avó e à deterioração da saúde da mãe, acometida por um câncer em fase terminal. 

O’Malley precisa amadurecer muito rapidamente, tomando para si responsabilidades que deveriam ser assumidas por adultos, como cozinhar, cuidar da casa e ajudar a mãe doente, até que sua avó – mãe de sua mãe – vem para ajudar. Porém, a presença autoritária da avó causa ainda mais conflitos, e a chegada do pai, que vive nos Estados Unidos com sua nova família, também não parece ajudar. 

É quando um monstro enorme, surgido na forma de uma velha árvore que está plantada no terreno da igreja nos fundos de sua casa,  aparece para ele, e promete contar ao menino três histórias, dizendo-lhe que ao final da terceira, o menino terá que contar a sua própria história e revelar a sua verdade. 

A história é magnífica, inesperada, tocante, comovente e reveladora. Esteja preparado para derramar muitas lágrimas e reviver muitas de suas próprias histórias.


FM DA RESENHA


Minha opinião pessoal sobre a história-


Eu me senti representada pelo O’Malley da história, pois lembrei de mim mesma quando passei pela perda de minha mãe. As muitas idas ao hospital, as muitas semanas de noites mal-dormidas ao lado dela, sentada em uma cadeira, observando seu sofrimento e esperando que ela melhorasse – ou, a terrível verdade, que algo acontecesse e mudasse a situação – me levaram a me sentir totalmente identificada com o menino da história, o que me causou a catarse final que eu precisava para me libertar dos meus próprios monstros, mesmo oito anos após a morte de minha mãe.


Do lado de fora do hospital, as coisas também iam de mal a pior, e ir para casa de manhã, sendo substituída por uma de minhas irmãs, não me trazia nenhum alívio. 


A história me ajudou a entender que todos temos monstros dentro de nós que precisam ser encarados e ouvidos a fim de que aprendamos que, afinal, somos todos muito parecidos em nossos dramas e perdas, e que aquilo que consideramos monstruoso dentro da gente, na verdade, é apenas o nosso lado humano. Olhar para esse lado não é fácil, e entende-lo, muito menos; mas quando finalmente fazemos isso, sentimos um alívio enorme, pois compreendemos que é normal chorar, é normal não aguentar tudo que acontece e enlouquecer de vez em quando, e acima de tudo, é normal desejar o fim do próprio sofrimento.


 E é normal não tentar ser um super-humano que aguenta tudo sozinho e que sente vontade de mandar para o inferno todos aqueles que pensam que é nossa obrigação carregar seus problemas para eles – e manda-los para o inferno de fato, sem sentir culpa. Sete Minutos Depois da Meia-Noite é uma história e tanto. A história que eu gostaria de ter escrito, e confesso que eu tinha material para cria-la.




segunda-feira, 3 de agosto de 2020

O DIA DOS TRANSPAIS



Quando estamos diante de grandes mudanças, nos sentimos inseguros e a maioria de nós tenta agarrar-se àquilo que já conhece – nem sempre por maldade, mas por medo. E nessas tentativas de nos agarrarmos, de tentarmos continuar tendo as mesmas interpretações a respeito das coisas, o que permite que tenhamos a ilusão de estarmos seguros num mundo que já conhecemos e ao qual nos acostumamos, surgem os preconceitos.

Mas o mundo não pode esperar; assim, os grupos que estão envolvidos nessas mudanças e que delas dependem, passam a querer incuti-las à força em mentes que não estão preparadas para elas, o que só faz com que o medo e o preconceito aumentem ainda mais. 

Não posso obrigar ninguém a concordar comigo; mas preciso entender que se eu sou vegetariano, isso não significa que aqueles que gostam de comer carne são assassinos cruéis. Se eu sou trans, não posso forçar que héteros passem a me ver como alguém como eles – primeiramente, porque eu não sou. 

A Natura colocou Thammy Miranda em sua campanha de Dia dos Pais, como se fosse geneticamente possível que ela possa, algum dia, vir a ser um pai. Thammy jamais será pai, pois ela não é um homem. Mas ela pode sim, ser um excelente  transpai. Ao invés de tentar colocá-la como símbolo de uma classe que ela não representa, por que a Natura não cria o dia dos Transpais? Assim, cada um ficaria feliz dentro do seu quadradinho, respeitando o quadradinho do outro. 

Certa vez li uma frase que dizia: “Se precisa forçar, é porque não é o seu tamanho.” Hoje em dia existem muitas pessoas querendo forçar as outras a vestirem algo que não lhes serve – e fica apertado ou largo demais, ninguém se sente bem. Seria bem melhor se cada um tivesse a liberdade de “vestir” aquilo que o deixa feliz, respeitando e sendo respeitado.

Eu penso que a melhor coisa da vida, é não forçar a minha entrada em lugares onde eu sei que não serei bem-vinda, não tentar calçar um sapato que não me serve e não tentar comer uma coisa que eu sei que não vou conseguir engolir. Acho que o caminho para fazer com que as mudanças pelas quais o mundo está passando sejam aceitas – ou pelo menos, toleradas – seria cada grupo ficar no seu quadrado sem interferir no quadrado alheio, ou seja, se eu não sou aceito por uma determinada religião porque vou contra os seus preceitos, eu devo criar  a minha própria religião; se não me querem por perto, eu vou achar um lugar aonde eu sou bem-vindo, ao invés de me arriscar forçando a minha permanência em um grupo de pessoas que eu sei que me odeia. 

Hoje, apesar de ainda termos pessoas intolerantes e preconceituosas, as coisas melhoraram bastante. A tendência é que essas mudanças sejam lentamente absorvidas, pois novas crianças estão nascendo e crescendo, aprendendo coisas diferentes e vendo o mundo e as pessoas de formas diferentes. Não é preciso invadir a praia alheia, pois o sol é o mesmo e brilha para todo mundo. 

Tenho esperanças de que um dia olhemos uns para os outros sem nos preocuparmos com questões de gênero, etnia ou religião. Será algo tão natural, que nem passará pelas nossas cabeças alguma coisa como “Olhe, ele é preto/gay/índio!” Mas por enquanto, não é assim ainda. Forçar um entendimento em cabeças que não estão prontas para ele não vai fazer com que haja aceitação, e sim mais ódio, medo e preconceito.





sábado, 1 de agosto de 2020

TREVAS




Tem gente
Que traz dentro de si
Apenas trevas,
E as leva e as espalha
Pelas pedras do caminho.

Tem gente
Que leva uma faca
Sob a manga,
Arrasta pessoas em uma canga,
Prende passarinhos,
Destrói ninhos.

Tem gente
Que até se faz de amigo,
Mas traz na língua uma dormência,
Uma carência que vem do umbigo,
Espalha a maledicência.

Tem gente
Cuja presença sombria
Recacha a paz alheia,
Tricotando suas vítimas
Nas mais vis teias.

Tem gente
Que infelizmente,
Nem deveria ser chamada
De gente.







sábado, 25 de julho de 2020

Um Sonho Estranho




Frequentemente, tenho sonhos estranhos que mais tarde se mostram muito significativos. Vou escrever sobre um sonho que tive na noite retrasada. Ainda não sei o que ele significa, porém.
Eu estava em uma espécie de galpão onde havia muitas coisas velhas. Era a casa de um homem indiano. Ele era um pouco feinho, franzino, a pele olivada comum aos indianos, e de repente, ele começou a tirar a roupa. Não havia no sonho nenhuma conotação sexual. Eu me senti desconfortável, mas por algum motivo, não tentei ir embora. No galpão, que era a casa dele, só havia nós dois. Olhei seu corpo franzino e feio, me perguntando o que ele queria com aquilo, e pensando que fosse o que fosse, não contaria comigo.

Ele começou  a rir ao perceber meu pensamento, e disse: "Fique tranquila! Não quero nada com você também." E dizendo aquilo, me jogou um chocalho redondo, uma espécie de instrumento musical. Ele tocava uma cítara e cantava um mantra em sânscrito do qual não me lembro, mas no sonho, eu cantava junto com ele, balançando o chocalho e dançando. 

Me lembro que o lugar era feio e meio sujo, e eu não gosto de lugares assim. Mas a gente cantava e dançava, e a noite passou toda assim. 

De manhã, quando eu me preparava para sair, ele me disse: "É preciso celebrar a vida!" Me despedi dele e saí para a rua; ainda era madrugada. De repente, avisto um grupo de pessoas vindo pela calçada, e identifico entre elas duas de minhas irmãs. Ambas pareciam muito mais jovens do que são hoje. Me espantei, e disse para uma delas: "Que legal! Que ano é esse?" Ela me respondeu: "1974." Juntei-me ao grupo e me sentia muito renovada e feliz. 

Que sonho estranho esse... tenho certeza de que ele tem um significado forte, e ainda saberei qual é. 

No meu novo livro, UM MERGULHO PROFUNDO (disponível na amazon.com.br) eu abro as crônicas contando sobre um outro sonho que tive quando estava em Portugal, logo antes do lockdown ser decretado. Transcrevo-o aqui, e o que aconteceu depois dele:


No nosso penúltimo dia de viagem, na noite de sexta para sábado, eu tive um sonho estranho: eu estava de pé, ao lado de um médium incorporado que dava consultas espirituais e abençoava uma fila de pessoas soprando a fumaça de um charuto sobre elas. Desconfiada, eu ficava só olhando de longe, pois não me sentia muito à vontade, até que ele me encarou, fazendo sinal para que eu me aproximasse. Naquele momento, ao olhar para ele, enxerguei a figura de uma cigana. Hesitei, mas ela insistiu, e eu me aproximei. Após a benzedura soprando fumaça, durante o qual permaneci com uma sensação de pura estranheza e embaraço, a cigana segurou-me pelos ombros e me fez olha-la de frente, perguntando: “Você quer saber de alguma coisa? ” Fiquei ainda mais constrangida, pois não conseguia pensar em nada que eu quisesse perguntar a ela. Como se nos restasse pouco tempo, ela de repente declarou: “Tudo bem; você vai passar por dificuldades a partir de domingo, mas vai ficar tudo bem. Não se preocupe; você estará segura. ”
No dia seguinte, contei o sonho aos meus amigos e ao meu marido, e eles ficaram quase tão intrigados quanto eu.
Na noite de sábado tomamos o voo de volta para o Brasil. Lembrei-me muito do meu sonho com a cigana durante a madrugada de sábado para domingo, pois houve muita turbulência e acabei me sentindo muito mal a viagem toda. Estava muito enjoada e inquieta. Ao chegarmos  ao Brasil, a pessoa que tinha marcado de nos buscar no aeroporto não apareceu. Eu ainda estava bastante enjoada, além de exausta após uma noite inteira sem dormir, chacoalhando no avião. Ficamos mais de uma hora esperando, sem conseguir entrar em contato com ele por telefone ou aplicativo, até que finalmente tomamos um táxi para casa. Mais uma vez, lembrei-me das advertências da cigana.
Mas ao chegarmos em casa, as advertências da cigana foram finalmente coroadas de êxito: ligamos para um casal de amigos a fim de marcarmos uma pequena reunião em sua casa para entregar-lhes algumas lembranças de viagem que trouxéramos para eles, mas eles, em pânico, disseram que ficássemos onde estávamos; era melhor que não nos víssemos durante algum tempo, já que tínhamos acabado de retornar da Europa, onde o vírus assolava a Itália e já começava a se espalhar por outros países. Nos sentimos muito mal com a reação deles, mas poucos dias depois, a quarentena foi estipulada no Brasil. 






quinta-feira, 16 de julho de 2020

PODEMOS MUDAR A HISTÓRIA?






A história é feita de fatos passados que já aconteceram, e essa definição é óbvia e lúdica. Infelizmente, a história já escrita da humanidade é coalhada de injustiças, maldades, enganos, mentiras, violência e preconceito. Isso não pode ser mudado, porque é humanamente impossível mudarmos o passado. Porém, nós podemos, a qualquer momento, mudar o nosso futuro e escrever uma história mais justa, mais bonita e muito mais verdadeira. Uma história que inclua todos os tipos de personagens, onde todos tenhamos voz, espaço e direito de ser.

Para que isso aconteça, penso ser essencial que possamos ter acesso a fatos históricos, por mais desagradáveis que eles sejam, pois através deles, podemos criar exemplos para ensinar aos nossos jovens e crianças sobre como eles não devem proceder em relação às outras pessoas. É importante que a nossa vergonha não seja coberta por uma camada mentirosa e açucarada, mas que seja estudada para promover reflexões importantes a fim de que nada semelhante venha a repetir-se. 

Posso compreender que alguns segmentos de pessoas sintam-se ofendidas pela maneira como foram ou tem sido tratadas ao longo dos séculos, mas não consigo entender seus argumentos de que, tentando negar o que se deu, isso jamais terá acontecido. É como negar a própria história, o próprio progresso que obtiveram até agora, a própria luta. 

Creio que, ao invés de derrubar estátuas e apagar símbolos e traços de uma história vergonhosa, essas pessoas deveriam lutar para que estátuas e símbolos da sua própria história fossem erguidas ao lado de tais monumentos. Só assim as crianças e jovens teriam acesso à verdade e aprenderiam a diferença entre o que é certo e o que é errado. A única maneira de ensinar o que é certo é através da compreensão dos fatos. Exaltar a separação, o preconceito e o ódio entre raças e religiões, sublinhando as diferenças ao invés de destacar a necessidade da igualdade de direitos entre pessoas diferentes, é no mínimo contraproducente. 

A única coisa que se pode ensinar através do ódio, é o próprio ódio. E a única coisa que se pode obter através da negação da história, é que ela venha a repetir-se. 

Ainda temos muito chão pela frente. Ainda falta muito para que possamos ser considerados cem por cento humanos, com todas as características que a ciência e a religião nos atribuem. Porém, embora a construção dessa estrada esteja apenas no começo, é importante que o pedaço que já foi construído permaneça, com todos os seus acertos, erros e aberrações ao longo do caminho, pois outros deverão passar por ela e tentar entender o que nos conduziu até aonde estamos. 

A partir de hoje, nós temos as ferramentas necessárias para construir uma estrada bem mais bonita que possa incluir a todos nós nessa jornada histórica para o futuro. A vida é daqui para frente. O resto, é história. A história existe para que nós possamos ler e aprender através dela.

Existe uma história que nós podemos mudar. Ela começa hoje.


Aqui, um convite para assistir ao meu vídeo:


PODEMOS MUDAR A HISTÓRIA?




quarta-feira, 15 de julho de 2020

Discrepâncias







Este poema foi inspirado por uma postagem que li no blog de Paulo Bratz.



Há mais sapatos que pés, 
E há mais pés do que passos,
Mais passos do que caminhos,
Mais caminhos que destinos.

Mais sentenças que justiça,
Mais justiça que verdades,
Mais verdades escondidas
Sob  o badalar dos sinos.

Se eu olho muito, não vejo,
Se penso demais, não entendo,
Se eu falo, não me escutam,
-Malfadado desatino!

Estou à beira do mundo,
Estou no meio de tudo,
À direita e à esquerda,
Sob os olhares lupinos.

Eu quero um par de sapatos
Que me levem a uma estrada
Eu quero um pouco de paz...
-Talvez eu nem queira nada!






Desculpem pela falta de frequência nas visitas, mas ando muito ocupada, trabalhando bastante, graças a Deus.








segunda-feira, 13 de julho de 2020

Palavras Natimortas







Eu tenho saudades dos tempos
Em que as palavras ficavam
Dentro de grossos dicionários,
Guardadas e protegidas.

Porém, nos dias de hoje,
Abriu-se a caixa de Pandora
E as palavras ficaram
Todas soltas aqui fora,
À mercê de qualquer um,
Espalhadas, retorcidas,
Mal-usadas, ejetadas
Pelas vis línguas fendidas.

Hoje em dia, eu me pergunto:
O que fizeram com elas?
Perderam a eternidade!
Palavras mal proferidas,
Mal escritas e mal-ditas
Sem ter o menor compromisso
Em espalhar a verdade!

Ah, palavras natimortas,
Ditas sem qualquer cuidado
Condenadas, desde já,
A jamais terem um passado!





sexta-feira, 10 de julho de 2020

Minhas Roupas Estão Saudosas







Nesses últimos quatro meses, meu guarda-roupa tem se resumido a:
- Uma blusa de malha cinza, de mangas três-quartos.
- Uma calça jeans preta bem velhina, uma jeans azul e duas de malha (todas bem velhas);
- Um par de tênis de cor vinho e outro de sandálias gastas;
- Um casaco azul;
- Dois suéteres bem velhos, sendo um preto e outro bege.

Ontem de manhã entrei no closet para me vestir e senti meu blazer axadrezado agarrar o meu punho enquanto eu passava. Ao mesmo tempo, meu par de botas jogou-se na minha frente, e pude ver o mofo acumulado em volta do salto. Imediatamente, as saias e camisetas, suéteres e echarpes começaram a reclamar:

-Queremos sair daqui! Precisamos de ar!

Naquele exato momento, uma gorda traça cruzou o meu caminho, dirigindo-se para o lado esquerdo, onde estão meus cabides de roupas que uso para passear, mas pude esmagá-la antes que ela chegasse ao seu objetivo.

Pensei: 'Acho que esse ano não vou ter a chance de usar as minhas melhores roupas.' Com certeza, ela ouviram meu pensamento, pois começaram todas a falar e reclamar ao mesmo tempo, e enquanto elas se mexiam nos cabides e prateleiras e os sapatos e botas protestavam veementemente batendo seus saltos contra o piso, um leve cheiro de bolor encheu o ar. 

Estendi a mão e peguei meu blazer de xadrez e o par de botas que comprei na Macy's. Imediatamente, lembrei-me daquela ocasião feliz - estávamos em Nova Iorque com amigos, e eu pude finalmente realizar o meu sonho de conhecer aquela que já foi a maior rede de lojas de departamento do mundo, e que hoje, infelizmente, está fechando aos poucos.

Vesti o blazer, calcei as botas. Também escolhi uma echarpe bonita para usar, borrifando um pouco do meu Nina Ricci que só uso para sair, em ocasiões especiais. No banheiro, abri a gaveta das maquiagens e espalhei um pouco de base, sombra e rímel no rosto. 

A gente precisa se adaptar à nova realidade. A gente precisa encontrar forças para nos lembrarmos de não nos esquecermos de nós mesmos durante esse evento inesperado.

Prometi às outras roupas, echarpes e sapatos que usarei todas elas aos poucos. E vou cumprir minha promessa.





quarta-feira, 8 de julho de 2020

MERGULHADAS NO SILÊNCIO







Não preciso dizer tudo;
A minha simples palavra
Jamais mudará o mundo.

A justiça que eu procuro,
Descansa, ainda intacta,
A espera do seu dia.

Mergulho minhas palavras
De dor ou indignação
No silêncio abençoado
E profundo das minhas águas.

Deixo que sua violência
Dissolva-se, bem lentamente,
Evitando qualquer mágoa
E curando a rebeldia.


Quer saber um pouco mais sobre as árvores?

Acesse o link e assista ao meu novo vídeo no canal O "X" da Questão!






sábado, 27 de junho de 2020

CAI








Cai

Cai o tempo em gotas da meia-água do telhado.
A chuva lava as telhas, resgatando o passado.
Deitada em minha cama, eu aspiro o perfume
De terra refrescada, e as gotas ganham volume
Tornando-se pesadas, refletem a paisagem
Minúscula, esquecida, trazendo uma mensagem
De como foi a lida, de vozes abafadas
De gente que se foi nas chuvas dessa vida.




terça-feira, 23 de junho de 2020

VOLTANDO AO "NORMAL"







Aos poucos, minha cidade está voltando às atividades - e também o mundo inteiro. Quero recomeçar minhas aulas presenciais pra valer, mas as pessoas têm medo, então fico com os alunos que concordaram em ter aulas através do Skype. 

Ontem, conversando com minha irmã que tem 67 anos, é diabética e paciente cardíaca, ela me disse: "Não aguento mais! Minha quarentena termina no dia 1 de julho. A partir esse dia, eu vou sair e voltar a levar minha vida normal!"

Eu concordei com ela. Desde que tomemos todos os cuidados, é o que pode e deve ser feito. Não podemos ficar trancados em casa o resto da vida, com medo de ficarmos doentes. O Coronavírus, dentro em breve, será apenas mais uma doença circulando entre nós, atingindo alguns e matando outros, assim como o sarampo, varíola, meningite, H1N1, câncer, etc...

E todas essas doenças mencionadas (e muitas que não mencionei) também  têm consequências horríveis e podem ser mortais. Mas nem por isso nós nos escondemos por causa delas. 

Mas algumas coisas vão mudar, e pensando nessas coisas, fiz uma listinha:

- A maneira como nós trabalhamos vai mudar. Antes, o brasileiro via com maus olhos o trabalho em casa, mas agora aprendemos que, além de ser possível, os resultados são tão produtivos quanto em um escritório. Isso vai diminuir a necessidade de deslocamento diário para o trabalho, e consequentemente, engarrafamentos, estresse no trânsito e poluição do ar.

-A maneira como as pessoas estudam também vai mudar. As aulas online, tão combatidas, serão implantadas em escolas e universidades, na medida do possível.

- Consultas médicas poderão ser feitas online, com receituário e tudo. Também tratamentos psicológicos e psiquiátricos mais leves.

- Passaremos a ser mais reservados quanto a abraçar e beijar conhecidos e desconhecidos. Assim como os europeus, aprenderemos a manter uma distância segura das outras pessoas e nos sentiremos desconfortáveis quando alguém tentar invadir nosso espaço físico. 

- Restaurantes a quilo talvez mudem sua maneira de atendimento, decretando o fim do self-service. A comida será servida por um atendente, exatamente como é em alguns países europeus que visitei: a comida fica em uma vitrine, e os clientes pedem o que desejam, sendo servidos pelo atendente. 

- Estaremos mais cuidadosos quanto a higiene pessoal e também passaremos a ter o hábito de higienizar as compras antes de guardá-las nos armários de casa. 

- Talvez aprendamos a utilizar máscaras sempre que estivermos resfriados, a fim de não contaminarmos as outras pessoas. Isso seria ótimo! Acho no mínimo detestável quando uma pessoa nos cumprimenta com abraço e beijo, e depois declara: "Estou com uma gripe horrorosa!" Falta de consciência!

Bem, estas são algumas das mudanças que eu acredito que vão acontecer. E eu espero que elas aconteçam!








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O Tucano O TUCANO   Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me ...