Eu tenho algo a dizer.
Mas ninguém deseja me ouvir,
E isso às vezes sufoca.
Caminho de um lado ao outro
No quintal desta mesma casa,
Batendo, mil vezes, à mesma porta.
Esqueço - ou finjo esquecer
As minhas palavras sob o alpendre;
Quem sabe, alguém ouça, quem sabe alguém pense?
No dia seguinte, eu sempre volto,
E as encontro ainda úmidas de noite,
Adormecidas e esquecidas...
Penalizada, eu as pego de volta,
Coloco no bolso, mas num gesto louco,
Jogo-as todas pelo chão, com raiva,
Pisoteando-as sem piedade.
Afinal, o que são palavras, o que são palavras?
Apenas setas afiadas de um coração,
Filtradas pelo crivo de uma mente jocosa,
Em momentos de ociosa solidão...