Da Páscoa, eu me lembro de minha irmã com caixas de sapato e papel de seda, fazendo 'ninhos' para o coelho por os ovos. Ela cortava alguns babados de papel, colava à volta da caixa, e depois, fazia palha fininha com o que sobrava dele, enquanto eu ficava imaginando o que encontraria na manhã seguinte.
Da Páscoa, lembro-me das quaresmeiras em flor. O morrinho ao lado da casa ficava salpicado de roxo e amarelo.
Da Páscoa, lembro-me de meus pais me acordando no domingo bem cedinho, e de eu levantar da cama correndo para ir olhar meu ninho de caixa de sapato, cheio de ovinhos de chocolate e bombons.
Da Páscoa, lembro-me da família reunida na sala de estar, assistindo àqueles filmes religiosos que passavam na semana santa, todos comendo bombons. Havia bombons que não existem mais, com sabores de frutas: figo, ameixa, pera, laranja. Não gostávamos deles, e eram sempre os últimos a serem comidos.
Da Páscoa, lembro-me de minha irmã e eu, e das outras crianças do bairro, todos unidos depois do almoço de domingo, para mostrarmos nossos ninhos uns aos outros e comermos chocolate.
Da Páscoa, lembro-me do almoço em família, o cheiro do 'batatalhau' se espalhando pela casa.
Da Páscoa, lembro-me de nós no Teatro Mariano, para assistir, pela enésima vez, "A Paixão de Cristo."
Da Páscoa, lembro-me do enorme ovo de chocolate que minha irmã mais velha ganhava do namorado, e que ficava sobre o móvel da sala de estar, por meses a fio, e no qual não podíamos nem sonhar em tocar... uma vez, ela demorou tanto tempo para abrí-lo, que quando o fez, ele estava todo mofado.
Hoje, eu sei do verdadeiro significado da Páscoa, mas quando eu era criança, eu o vivia muito mais intensamente, sem o saber...