witch lady

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quarta-feira, 27 de março de 2013

Da Páscoa








Da Páscoa, eu me lembro de minha irmã com caixas de sapato e papel de seda, fazendo 'ninhos' para o coelho por os ovos. Ela cortava alguns babados de papel, colava à volta da caixa, e depois, fazia palha fininha com o que sobrava dele, enquanto eu ficava imaginando o que encontraria na manhã seguinte.


Da Páscoa, lembro-me das quaresmeiras em flor. O morrinho ao lado da casa ficava salpicado de roxo e amarelo. 


Da Páscoa, lembro-me de meus pais me acordando no domingo bem cedinho, e de eu levantar da cama correndo para ir olhar meu ninho de caixa de sapato, cheio de ovinhos de chocolate e bombons. 


Da Páscoa, lembro-me da família reunida na sala de estar, assistindo àqueles filmes religiosos que passavam na semana santa, todos comendo bombons. Havia bombons que não existem mais, com sabores de frutas: figo, ameixa, pera, laranja. Não gostávamos deles, e eram sempre os últimos a serem comidos. 


Da Páscoa, lembro-me de minha irmã e eu, e das outras crianças do bairro, todos unidos depois do almoço de domingo, para mostrarmos nossos ninhos uns aos outros e comermos chocolate. 


Da Páscoa, lembro-me do almoço em família, o cheiro do 'batatalhau' se espalhando pela casa. 

Da Páscoa, lembro-me de nós no Teatro Mariano, para assistir, pela enésima vez, "A Paixão de Cristo." 

Da Páscoa, lembro-me do enorme ovo de chocolate que minha irmã mais velha ganhava do namorado, e que ficava sobre o móvel da sala de estar, por meses a fio, e no qual não podíamos nem sonhar em tocar... uma vez, ela demorou tanto tempo para abrí-lo, que quando o fez, ele estava todo mofado. 

Hoje, eu sei do verdadeiro significado da Páscoa, mas quando eu era criança, eu o vivia muito mais intensamente, sem o saber...



Sobre Demônios e Pecados - Rubem Alves




Trechos do livro "Sobre Demônios e Pecados," de Rubem Alves



"Mais poderoso que o nome do demônio é o riso. Quando ele começa a atormentá-lo, ponha-se a rir. O demônio ou demônios que moram em você fugirão espavoridos. Porque, como disse Nietzsche, maravilhoso exorcista, os demônios 'são o espírito da gravidade' e não suportam a leveza do riso."



A Arrogância

"Nicolas Berdyaev, filósofo russo, disse que a estética é o campo em que Deus e o Diabo travam suas batalhas. Há demônios especializados na beleza. Porque a beleza é sedutora.(...) O programa do nazismo era lindo: saúde, beleza, limpeza. Eu estaria pronto a dar o meu apoio a um partido que adotasse esse programa. Hitler amava as artes plásticas e a música. E quantas tragedias pessoais acontecem por causa de um rosto bonito e vazio! (...) O arrogante se acha lindo. Somente aqueles que o veem se dão conta de seu ridículo.

É o caso do vaidoso. Ele se acha o mais bonito, o mais inteligente, o mais interessante. Deseja aparecer. Abre o rabo de penas coloridas e fica esperando a admiração dos que o veem. (...) Os mais bobos falam sem parar, julgando que suas palavras são poemas. Não percebem que os outros estão dizendo: "Você é um chato!"



(...) A arrogância assume várias formas. Numa extremidade está a arrogância narcísica. Você conhece o mito de Narciso. Jovem lindo, o mais lindo de todos, apaixonou-se pela própria imagem refletida no espelho d'água de uma fonte. (...) Ficou paralisado à beira da fonte e morreu, transformando-se então na flor que leva seu nome.

O mundo está cheio de Narcisos. 

(...) Na outra extremidade está a arrogância violenta, que acontece quando Narciso, além de convencimento, tem poder. Tendo poder, ele se impõe. Claro. Convencido de sua beleza, ele acredita que suas ideias são as únicas certas. As ideias de todos os outros tem de estar erradas. Ele não pode admitir que outros possam estar certos. Porque isso seria admitir que os outros possuem uma beleza que ele não possui. Se ele for somente um Narciso sem poder, sua feiura aparece somente na chatice de que todos fogem. mas, se ele tem poder -  se é presidente, ou diretor de escola, ou chefe de departamento, ou delegado, ou oficial do exército, ou campeão de artes marciais, ou professor, ou pai, ou mãe-, não titubeia em lançar mão de de seu poder para fazer valer a  superioridade que acredita possuir. Aí a arrogância se revela como violência. Quanto ao arrogante narcísico, todos riem dele. Quanto ao arrogante violento, todos riem dele e desejam sua morte.



A arrogância está intimamente ligada à vaidade. A palavra 'vaidade' vem do latim vanus, que quer dizer 'vão'. Vaidade, assim, é o vazio, o sem conteúdo, o sem valor. O arrogante está possuído pela vaidade. Vi um lagarto arrogante. Insignificante se não se percebia visto, quando queria impressionar os outros estufava um saco vermelho que havia no pescoço. Ficava, de fato, impressionante e amedrontador. Mas seu papo vermelho era vanus - estava cheio de ar. Assim são os arrogantes."

terça-feira, 26 de março de 2013

Cartas




Surpreende-me,
A maneira como  embaralhas
E distribuis vidas
Como se fossem cartas...

Jogas,
Descartas,
E roubas no jogo
Para a nefasta glória
De uma sórdida vitória.

E a mesa
Ganha sempre,
Cartas marcadas,
Nem lembras que são gente...

¨¨¨¨

FLORES






FLORES



As flores da tua casa
Estão roxas de saudades...
Derramam-se pelo chão,
Penduram-se em cada galho.
Quem passa e vê tanta cor
Pensa logo que é alegria,
Mas quem olhar bem de perto,
Verá que é só agonia...



As flores da tua casa
Cansaram de florescer...
Exalam exuberância
Mas sofrem por não te ver.
Espalham sua beleza
Mas quem as vê, logo sente
Que se elas desabrocham,
É apenas de tristeza!



As flores da tua casa
Que um dia, você plantou
Tem as pétalas sem riso
Sonhando com o paraíso...
E quando chegar o inverno,
Eu não sei o que vai ser...
Será que na primavera
Voltarão a florescer?...



"As flores do jardim da nossa casa morreram todas de saudades de você." - Roberto Carlos


Paz




Enquanto me desfias, divirto-me,
Pois pensas que me desnudas,
Que achas novo planeta,
Quando nada em mim está sob,
Nada...

Rio da tua giga,
Do peso que pões em teu dorso...
Pois não é preciso esforço
Para desvendar o óbvio!

É só olhar nos meus olhos,
E verás o que desejas
(Ou talvez, o que não queres)
Sem sofreres qualquer opóbrio!

Pois de todos os mistérios
Que procuras desvendar,
Sou o menos misterioso,
Cedo ao peso de um olhar...

*

segunda-feira, 25 de março de 2013

DEVOÇÃO





Ama-me, este cão,
Cobre-me com seu olhar amado,
Deseja minha presença,
Quer-me ao seu lado,
Sem nem sequer pedir compensação.

Compreende-me em silêncio,
Não indaga,
Dedica-me o calor de suas patas,
E o seu amor sincero - devoção...

Ama-me, e como,
Este cão,
Esta inocente e pura criatura,
Que alguém mandou dos céus com a missão
De ser o meu anjo guardião...

Ama-me, sem nada pedir em troca,
A não ser, um pouco de carinho,
A não ser, uma gota de atenção.

*

Porta Fechada




Atrás da porta
Eu ando nua,
Me sento nua,
Faço o que quero.

Atrás da porta,
Eu me revelo,
Digo o que penso,
Faço o que quero.

Atrás da porta
Dentro da casa,
Eu sou mais eu,
Fecho a cortina,
Ninguém vê nada.

Atrás da porta
Vivo trancada
E mesmo assim
Existe gente
Incomodada...

*


Pedaço de Mim





Chico Buarque - Pedaço de Mim
Oh, pedaço de mim
Oh, metade afastada de mim
Leva o teu olhar
Que a saudade é o pior tormento
É pior do que o esquecimento
É pior do que se entrevar

Oh, pedaço de mim
Oh, metade exilada de mim
Leva os teus sinais
Que a saudade dói como um barco
Que aos poucos descreve um arco
E evita atracar no cais

Oh, pedaço de mim
Oh, metade arrancada de mim
Leva o vulto teu
Que a saudade é o revés de um parto
A saudade é arrumar o quarto
Do filho que já morreu

Oh, pedaço de mim
Oh, metade amputada de mim
Leva o que há de ti
Que a saudade dói latejada
É assim como uma fisgada
No membro que já perdi

Oh, pedaço de mim
Oh, metade adorada de mim
Lava os olhos meus
Que a saudade é o pior castigo
E eu não quero levar comigo
A mortalha do amor
Adeus




Das Marcas







...E quando eu me for, deixarei poucas marcas,
Todas rasas,
Perder-me-hei no vão das estradas
Por onde passa o esquecimento,
Apagando todas as pegadas.

Minha memória será breve,
Lavada pelo pranto igualmente raso
Dos que jamais me amaram ou compreenderam
Ou souberam, realmente, quem eu fui.

Talvez demorem-se um instante no caminho,
Olhando para trás, 
Enquanto um bando de pássaros em revoada
Carregam consigo o que restou de mim,
Para bem longe,
Para o infinito,
Onde esquecem-se as memórias.

Talvez meditem no enigma daquela
Estranha criatura, que nasceu
E cresceu entre eles, 
Sem jamais tornar-se como eles,
Uma alma caída não-se-sabe-de-onde,
Ou por qual objetivo.

Pois se hoje mesmo, sinto o quanto sou efêmera
Nos corações que cultivei
Por onde plantei flores que cresceram
E murcharam,
Negligenciadas.

Talvez seja melhor que eu seja assim,
Uma alma que passa, como uma nuvem carregada,
Que chove e cai na terra abençoada,
Fertilizando tudo, 
E depois retorna, evaporada,
Sem que seja lembrada,
Sem que seja notada.








domingo, 24 de março de 2013

ÍNFIMO










Aquela gota sobre a folha, 


Ínfima, 


A nuvem quase derretida, 


Qual fiapo de vida que passa, 


Mas deixa seu encanto em algum canto... 



A borboletinha que voa de manhã, 


Espalhando graça, 


Gotículas de chuva na vidraça... 


Pequeno besouro, tão perfeito, 


Que as asas parecem pintadas 


Pelo pincel de um grande artista 


De grandes efeitos... 



A minoria, desprezada, ignorada, 


A que dorme nas calçadas 


Com quem ninguém se importa, e quem sabe, 


Tenham a alma mais lavada! 


Suaves nuances de poesia, 


As sombras que aos poucos se transformam 


Trazendo a tarde, 


A noite, e outro dia... 



As coisas que nascem e morrem 


À margem de tudo aquilo 


Que a maioria considera importante, 


Passando despercebidas, 


Esquecidas... 



Vem e vão sem nenhum grito, 


Arrancam-lhes a dignidade 


E o direito de existir 


Violentamente, 


Com os ganchos da maldade! 



Disseram-me 


Que as minorias 


Deveriam ficar à margem 


Da vida, da sociedade, 


Pois nada tem a dizer 


Ou a acrescentar ao mundo... 


Devem permanecer no escuro fundo 


Da dor, do preconceito e do medo, 


Sem serem notadas, 



Como as pequenas gotas de orvalho sobre a folha, 


As borboletinhas, 


Os pequenos besouros 


E as nuvens efêmeras 


Cuja chuva nem toca o solo! 


Só tem direito à vida 


Quem é grande, normal, importante, 


Quem dita as regras às minorias, 


Regras que devem ser seguidas 


E jamais contestadas! 




Abaixo as pequenas coisas da vida, 


Abaixo as minorias, 


Abaixo a voz que tenta ser ouvida, 


Abaixo as palavras de Cristo 


Que disse que somos iguais, 


Abaixo!... 


Bem baixo, 


Por baixo de tudo, 


Sob o polegar imundo 


Daquilo que chamam justiça! 








memória






Às vezes, é bom 


Que a memória seja curta, 

Noutras, que ela se estique, 

Se lance no espaço 

E procure novamente 

Os braços do passado... 


Às vezes, é bom 

Que a vida tenha traços 

Marcantes e marcados, 

Das memórias boas, 

Vividas e partilhadas 

Pelos que se amaram. 


Às vezes, é melhor 

Que a memória esqueça, 

Para que a vida não apodreça, 

Para que o tudo não se perca 

Ante a ingratidão, 

A arrogância e o desprezo 

De quem nunca soube amar. 


A infelicidade e a insatisfação 

Hão de sempre deixar marcas, 

Qual profundos arranhões 

Naquilo que poderia 

Ter sido o mais bonito, 

O mais importante motivo 

Para recordar vida afora. 


Tudo tem sua hora, 

E quem sabe, um belo dia 

O orgulho e a arrogância 

Sejam amansados 

Pela constância e a humildade 

Da auto-observação? 


Quem sabe, assim, a alegria 

Substitua, de vez, 

A tristeza e a hipocrisia 

Daquele sonho abortado 

De quem jamais aprendeu 

A receber da vida, o dom 

De aprender a perdoar, 

De amar e ser amado?... 










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