witch lady

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terça-feira, 11 de setembro de 2012

A Mão e as Cabeças









A mão pesava 
Sobre as cabeças
Sempre bem baixas...

A mão mostrava
E apontava 
As direções.

A mão cortava
Cada cabeça
Que se erguia.

A mão matava,
E escolhia,
Manipulava.

A mão batia
E espancava
O que chamava
De rebeldia.

A mão punia
E esmagava
Cada cabeça
Que se erguia...

Cabeças burras,
Cabeças tolas,
Cabeças fracas!

Cada cabeça
Tinha a sentença
Que merecia.

*

segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Sempre Acontece em Setembro





Meu ipê amarelo está começando a florir. Isto sempre acontece em setembro. Lembro-me de quando nos mudamos para esta casa, no dia 4 de setembro de 2004, e ele estava carregado de flores amarelas. Para mim, estas flores anunciam o início de um novo ciclo - a primavera. 

Meu ipê está florindo de novo, meu velho e magrinho ipê. Até quando ele aguentará? Às vezes eu penso que ele deve ser muito velho... tão mirrado! Quando cheguei aqui, ele não passava de um tronco da grossura do meu braço, com dois - apenas dois - galhos na ponta, que se envergavam para lados diferentes. Apesar disso, parecia uma árvore velha. 

Começamos a cuidar dele, e hoje, já existem vários galhos que se espalham, se enchendo de flores. Mas galhos tão fraquinhos, que um vento forte os derruba.

Certo dia, ao chegar em casa após uma tempestade, vi que ele estava totalmente envergado em direção ao telhado da garagem, e que se não fosse pelo amparo do telhado, a árvore poderia ter caído com a ventania. Achei que ele morreria, mas aos poucos, ergueu-se e aprumou-se novamente.

Os pássaros vem alimentar-se de suas flores, que tombam, manchas amarelas amolecidas sobre o gramado, murchando  ao sol, tão frágeis! Meu lindo e pobre ipê amarelo...

Há um grande vaso de flores na entrada da casa, junto aos degraus que descem até a varanda. Há algum tempo, eu vinha notando que uma plantinha começara a crescer. Plantinha esta que eu não plantei. Confesso que eu quase a arranquei, mas decidi deixá-la crescer mais um pouco, para ver o que era. Alguns meses se passaram, e eis que numa manhã, eu me lembro da plantinha, e vejo que ela já tem alguns palmos de altura. É quando o vento derruba uma das folhas fraquinhas do meu velho ipê; comparando-a as da plantinha que está crescendo, vejo que é um novo ipê, um filhotinho!

Acredito que é um sinal. A velha árvore está deixando um herdeiro. Alguém que continue a sua existência quando ela se for. Porque se não for assim, como saberei que a vida continua?





DOBRADIÇAS




As dobradiças rangem,
Pesadas, rígidas
Ao nosso rude esforço
De reabrir as portas...

O ferrugem ruge,
Intenso ruído
De um sentimento em desmanche,
Carcomido.

Tentamos de novo,
Fazemos um esforço
Quebramos argolas
E correntes,

As dobradiças cedem,
Cada vez mais frágeis...
Ao abrir das portas,
Arrastam batentes...



Uma Nova Fobia: Medo de Crianças


Eu assistia TV, quando começou um programa sobre uma senhora que vai de casa em casa, contratada pelos pais, para ajudá-los a resolverem seus problemas com os filhos pequenos. Entendendo por 'problemas:' criá-los adequadamente, fazendo com que coisas que deveriam ser normais - ir para a cama na hora certa, fazer as refeições, obedecer - fossem cumpridas pelas crianças.

Naquele dia, mostravam a história de um jovem casal e seus três filhos pequenos, que não obedeciam, agrediam os pais fisicamente quando contrariados, gritavam e esbofeteavam uns aos outros. A casa, de classe média alta, uma verdadeira bagunça. Sobrava desorganização para todos os lados.

A 'babá' , após observar o comportamento da família, consegue captar o que os pais estavam fazendo de errado e bola um esquema para ajudá-los. Ensina aos pais que disciplina é uma coisa que se ensina, e se necessário, se impõe, e que quando os filhos não obedecem, devem ser punidos de alguma forma - com uma repreensão ou um castigo, mas que nunca devem apenas deixar para lá.

Feito isto, a família sai para um passeio no parque, acompanhados da babá. Logo que chegam, o filho menor sai correndo em disparada, deixando a mãe em maus lençóis com um bebê que empurra no carrinho e um outro menino que segura pela mão. Imediatamente, a babá a relembra das técnicas, e a mãe chorosa começa a chamar o filho para junto de si. Quando o garoto finalmente decide obedecer, a mãe, emocionada, o felicita, dizendo:

"Filho, a mamãe falou e você obedeceu! Muito obrigada, querido, muito obrigada por obedecer a mamãe!"

Congela tudo:

A mãe precisa agradecer a um filho porque ele a obedeceu? Na minha época, isto era obrigação da criança, e ai de quem discutisse as ordens dos pais! Que droga de educação moderna é essa, que faz os pais acreditarem que precisam ser gratos aos filhos por eles lhes obedecerem?! E o que tem levado as mães de hoje em dia a não conseguirem lidar com seus próprios filhos, a ponto de ficarem emocionalmente abaladas ao cuidar deles? Acho que existe aqui, além de uma imensa inversão de valores, muito exagero. Por exemplo, se um pai bate no filho que está fazendo pirraça em um shopping center, dezenas de pessoas o olham com olhos de condenação, e ele corre o risco de ser preso, responder processo e até perder a guarda do filho! Qualquer coisa que os pais façam, alguém aponta o dedo e diz que ele vai traumatizar a criança.  E qualquer distúrbio psicológico encontrado em um adulto, pode ser classificado como 'trauma de infância' ou 'culpa dos pais', principalmente, da mãe.Mas os adeptos da educação moderna não estão na pele dos pais.

Ninguém culpa uma sociedade de consumo que faz com que as mães tenham que ir à luta a fim de equilibrar a renda familiar, deixando as crianças aos cuidados de estranhos que, na verdade, não estão nem aí para elas. Ou o fato de que as crianças hoje em dia, já tem carreiras: saem de casa às sete da manhã e retornam às oito da noite, após escola em regime integral, aulas de inglês, espanhol, balé, natação, judô, computação... tudo para que possam continuar sustentando, no futuro,  a sociedade de consumo na qual estão inseridas, pois isto é ser bem-sucedido.

Certa vez, conversando com uma mãe, ela me disse: "Acho que meu filho está com algum problema... anda triste, amuado, calado..." perguntei se ela já tinha conversado com ele, e ela respondeu: "Não, mas eu vou levá-lo ao psicólogo."

 Bem, acho que não preciso falar mais nada. A não ser que escola e psicólogos não substituem os pais, e que a educação começa - ou deveria começar - em casa.

domingo, 9 de setembro de 2012

SERENO






SERENO


Passear bem cedo
Passos lentos
E apreciar o sereno...

Gotas que se formam
Choradas
Pela madrugada...

Parece que choveu,
Mas foi o frio
Condensado
Em lágrimas,
Orvalhadas
Sobre a rosa.

Suave sereno,
Lentamente sugado
Pelo sol da manhã!

Se Você Não Crê Em Deus...






Se você não crê em Deus,
Saiba que Ele não se importa...
E se um dia precisares,
Poderás bater à porta...

Mas se mesmo assim, insistes
Em jamais acreditar,
É um direito que te assiste,
Não precisa te zangar!

Mas a fé é necessária,
Seja ela em quê for:
Em si mesmo, em um amigo,
Ou quem sabe, no amor?...

E se um dia tu sentires
Fé numa nuvem que passa,
Sem que saibas, Deus rirá...
E em ti estará a graça!

Amor ou Medo?



Eu ontem li uma frase interessantíssima em uma reportagem da revista Bons Fluidos, que dizia que todos os sentimentos e emoções que existem, baseiam-se em apenas dois outros: o amor ou o medo. De alguma forma, esta afirmação abriu uma janela em minha mente.

Tudo o que é bom, só pode vir do amor. Quem ama, jamais tentará, deliberadamente, ferir ou prejudicar aquele a quem ama. Pode ser que cometa erros, pois como seres humanos, todos cometemos; mas ao percebê-los, existe uma palavra que, quando dita na hora certa, reconstrói muitas pontes: "Desculpe-me." Mas nem todos conseguem pronunciá-la. 

Aquele que tenta, voluntariamente, ferir ou magoar outra pessoa, seja um conhecido ou desconhecido, está baseado no medo. Porque muitas vezes, atacamos para prevenir um ataque (que pode ou não acontecer), e quando tememos, odiamos. 

Eu gostaria de saber viver apenas o lado bom das coisas, ou seja, ser apenas amor; mas acho que é impossível... ser humano é ser dual. É ser, até mesmo, multifacetado. Não acredito em pessoas que dizem agir sempre baseados apenas no amor. Elas estariam afirmando que são perfeitas e não cometem erros. 

No que eu acredito?

Que estou aqui por algum motivo que eu desconheço, e que posso melhorar e evoluir sempre. Que eu devo  procurar cultivar sempre mais o meu amor do que o meu medo. E que eu devo entender - embora não seja nada fácil - que quando alguém me magoa, é porque teve medo, e portanto, é digno de pena. Assim também devo pensar quando eu magoo alguém. Mas isto não significa que eu tenha que ser voluntariamente esbofeteada o resto da vida! algumas presenças , quando confirmadamente letais ao meu bem estar, devem ser mantidas longe. Por enquanto, é assim que eu consigo ser.

Talvez um dia eu consiga ter dentro de mim aquele amor ideal, incondicional, que a tudo perdoa, que a todos aceita. Dizem ser ele o amor ideal. Mas enquanto isto não acontece, devo continuar tentando melhorar, e não ficar apontando tanto o dedo para os outros que eu, em meu orgulho e presunção, considero 'menos evoluídos do que eu.' 

Acredito que a maioria de nós faz o melhor que consegue fazer, e não pretende cometer erros voluntariamente, e nem deseja ser cruel conscientemente. É claro, existem as pessoas potencialmente ruins; mas até mesmo elas, um dia, serão melhores, nem que levem vidas para chegar lá (ah, sim, eu acredito em reencarnação!).

Amor ou medo: todos agimos sempre baseados nestas duas emoções, e quem sabe, estejamos aqui para entendê-las melhor, a fim de lidar com elas de uma forma mais saudável...

sexta-feira, 7 de setembro de 2012

IMAGEM




A lua crescente ao crescer da noite... lá de cima, ela vê os picos da montanhas, as primeiras luzes que se acendem aqui em baixo e que, muitas vezes, nos impedem de olhar para o céu e enxergá-lo em sua plena beleza. 

Mas este foi um momento só meu.

Fingi que, naquele instante, eu era a única pessoa que olhava o céu. Fingi que a natureza preparara um espetáculo especial, somente para mim. E enquanto eu olhava aquela beleza, ouvia as pessoas em seus carros, que chegavam em casa, saudadas por seus cães e suas crianças. Ouvi os jacus e siriemas em sua costumeira gritaria antes de se recolherem. Ouvi os últimos acordes dos sabiás e bem-te-vis.

Percebi o quanto eu sou feliz.

quarta-feira, 5 de setembro de 2012

CREME DE CONFEITEIRO





Ontem, quando acordei, eu não estava bem. Marasmo se instalando... o dia, apenas no começo. O que fazer para que ele não se estragasse?

Olhei para fora; a manhã estava fria e cinzenta, e até minha cadelinha parecia chateada. Nem mesmo os passarinhos tinham aparecido, talvez por causa da ventania forte que soprava.

Lembrei-me do meu livro de receitas, o "Dona Benta." Uma edição nova, que comprei há pouco tempo. Minha mãe já possuía um livro destes, o dela, tão antigo, que a capa estava desbotada, e quase já não se viam as figuras: uma velha senhora segurando um bolo todo confeitado, enquanto um menino a observa de olhos compridos.

Fui para a cozinha. Mas não sem antes chamar a Latifa, minha cadelinha, para acompanhar-me. Coloquei um velho tapete de lã para ela deitar-se junto a porta, e olhei em volta: tinha algumas maçãs e bananas. Trigo. Açúcar. Pensei em fazer uma torta.

A massa pronta, a cozinha aquecida pelo calor do forno, os aromas... as frutas picadas sobre a massa. Levei tudo ao forno, mas achei que faltava ainda alguma coisa. Folheei o livro, procurando por uma receita de um creme para cobrir a torta... achei uma muito fácil e rápida, de creme de confeiteiro. Fica exatamente igual aos recheios dos sonhos da padaria, e coberturas de cucas e pães doces:

-duas gemas
-três colheres de trigo
-meia xícara de açúcar
-essência de baunilha
-duas xícaras de leite.

Peneirar os sólidos, e juntando as gemas, a baunilha e o leite, levar ao fogo até ferver. Se der pelotas, passar na peneira novamente depois de pronto. A torta pronta, joguei o creme por cima.

Ficou tão bom, que eu e meu aluno, que chegou logo depois, consumimos metade da torta. Depois, meu marido consumiu quase todo o restante, e hoje de manhã, ainda tinha uma fatia que devorei com uma boa xícara de café.

Tédio? Para onde ele foi?...

O AR QUE TU RESPIRAS





Não desejo jamais ser
Esse ar que tu respiras,
Porque um dia, eu te falto,
Porque um dia, eu me vou,
E ficas a sufocar...

Não quero ser a razão
Dessa tua pobre vida...
Porque  um dia, eu morro,
E a tua dignidade
Fica num canto, caída!

Não desejo ser a fonte
Pra molhar tua garganta,
Porque um dia, eu seco,
E tu ficas à minha margem
Morrendo, aos poucos de sede...

Não quero ser o teu ar,
Tua razão, tua fonte,
Mas quero ser teus pulmões,
Tua vida, tua sede,
A paz que deita contigo
Ao teu lado, em tua rede..

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Canção do Arrebol







CANÇÃO do ARREBOL



Não  adianta sonhar com a canção arredia
Para tentar reviver a velha melodia
Que o vento trouxe um dia, mas levou embora
E que agora navega nos mares de outrora.



De nada adianta tocar as velhas cordas
De uma antiga guitarra desafinada...
Da música ansiada, não resta mais nada,
Rasgou-se a partitura , e não há  maestro.



Embora lamentemos o que se perdeu,
A música não volta; dos ecos, os restos...
Morreu para sempre o ritmo da canção...



Mas Deus é bom, e a manda num raio de sol
Que ao findar do dia, em ligeira escanção
Nos brinda com seu brilho, e morre ao arrebol.

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Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...