witch lady

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quinta-feira, 10 de maio de 2012

Andar Comigo



Meus passos são largos
E ziguezagueiam...
Por vezes,
Desnorteiam!

Eu sei pisar duro,
Mas também flutuo,
E quando flutuo,
Te deixo no escuro...

Eu sumo na esquina,
Bem antes que a vires,
Eu peço carona,
Me sento ao meio-fio,
Chupando laranja,
E morro de frio!

Meu passo é ligeiro,
Meu alvo é certeiro!
A ponta da echarpe
Roçando o teu queixo
Deixando o meu cheiro:
É o que  presenteio!

Escuta o que dizem
De mim; mas duvides,
Sou alvo de muitos,
Amada por poucos,
Os que são mais loucos!

Não andes comigo
Se tens preconceito,
Se morres de medo,
Se hesitas, claudicas,
Não andes comigo,
Dizem que não presto,
Dizem ...

SABER VIVER



Me diz, alguém por aí
Sabe o que é viver?
Saber viver é viver
Exatamente como você?

A criança não pergunta,
Se diverte, e assim, vive...
O homem do campo labuta,
E o viver, é ver a fruta...
O pássaro canta no galho,
E cantar, voar, é viver...

Para mim, viver é ser,
E o que é ser?
-É viver!
Viver, sendo o que se quer,
Do jeito que eu sei fazer...
E deixar que cada um
Decida o que é seu viver!

Eu te Conheço



Eu te conheço
Há muitos anos.

Sei a história
De cada ruga
No teu rosto.

Sei porque cerram-se
Assim, de repente,
As tuas sobrancelhas...

Sei o motivo
Desse brilho repentino
No teu olhar,
E o momento antes
Da lágrima rolar.

Sinto o menor rubor
Da tua face,
Mesmo que disfarces.

Vejo o tremor
Nas tuas mãos
Quando alisas, assim,
Os teus cabelos.

Eu te conheço
Há muitos anos,
Mas não sei o quanto
Isto é bom ou ruim.

Só sei que moras
Dentro de mim,
E que existe em teu coração
Algum lugar
Que eu não conheço,
Que eu não alcanço.

quarta-feira, 9 de maio de 2012

o pêndulo




Na ponta de um fio,
Entre a sombra e o sol
Um coração oscila.

Ora na sombra, ora na luz...
Ora, apenas.

O fio é longo e flexível,
E o coração,
Leve.

A brisa é o beijo
Que balança
O coração.

Ora na sombra, ora na luz...
Ora, apenas.

Na ponta de um fio,
Um coração
Breve.

O CHEIRO DA MORTE



Pelos longos corredores
Insinuante e friamente
Flutuam as saias da Morte.
Senhora infame, profana,
Altiva, irônica, lânguida,
Mantém suspenso o machado
Para criar expectativas.
Nunca se sabe, exatamente,
Quando ela o vai baixar.

Finalmente alguém lhe pede
(De olhos fechados, a rezar)
Para que ela seja breve
E leve a quem quer levar.
Mas a Morte é caprichosa,
E nunca chega sem dor...
E ainda há quem repita
Que a Morte tem cheiro de flor...

EU VELHA



Já não sou mais nenhum brotinho, e nem sinto isso a maior parte do tempo, a não ser quando me olho no espelho mais demoradamente - e sem roupas. Mas um dia, a casa cai para todo mundo, até mesmo para você que me lê, vinte aninhos, tudo em cima, início de carreira... rá! A Lei da Gravidade é infalível! Maldito Newton...

Tenho pensado no que será a minha vida quando eu estiver velhota. Sempre penso em mim como uma pessoa bastante solitária, devido a minha preferência pela solidão e pelo fato de não ter tido filhos (pelo menos, não vou sofrer da Síndrome do Ninho Vazio! No máximo, a Síndrome do Canil vazio...).

Bem, sendo uma velhota solitária - contando com a probabilidade cientificamente comprovada não sei por quem de que os homens batem as botas antes das mulheres, que ficam por aqui, para ter mais um pouquinho de diversão sem cuecas para lavar - penso nas coisas que farei: com certeza, vou assitir TV pra caramba, e se meus olhos ainda aguentarem, vou ler muito. Meus alunos de Inglês há muito terão debandado, não mais aguentando as músicas que eu dava para eles durante as aulas, de umas bandas com nomes esquisitos, como Queen, ou Keane, e de cantores velhotes, como Justin Timberlake, Madonna e Lady Gaga, dos quais eles nunca ouviram falar. E também não concordarão quando eu os deixar ajoelhados sobre o milho durante meia hora por não terem feito o dever de casa.

Acho que com o tempo, vai ficar meio-difícil cuidar de cães Rottweilers pesadões e comilões, que fazem imensos cocôs no gramado, os quais minha coluna cervical me impedirão de limpar; terei gatos. Dezenas deles. Eles ficarão soltos pela casa, dormindo sobre camas, poltronas, muros, e até sobre a mesa da cozinha. Velhos tem lá suas manias... e quando eu morrer, se alguma coisa me restar, deixarei para eles, nomeando um de meus sobrinhos como tutor.

Serei uma daquelas velhas eremitas, que os garotos da vizinhança se divertem em perturbar, e minha casa fará parte dos seus ritos de passagem: quem conseguir pular o muro e tocar a campainha, sem ser apanhado pela minha bengala, poderá entrar para o clube. A polícia já me conhecerá, e estará acostumada aos meus telefonemas noturnos, quando eu sempre reclamarei por causa das algazarras que os "marginais" (filhos de meus vizinhos) estão fazendo na rua.

Às vezes, colocarei no CD player (já há muito ultrapassado), meus discos de rock, e ficarei dançando dentro de casa, queimando incensos e cantando. Os vizinhos vão me ver pela janela, e chamarão as crianças para ver "Aquela velha maluca aprontando de novo." Talvez eu comece a fumar, pois aos oitenta anos, o que terei a perder? E por que não, maconha?

Talvez eu tente seduzir o entregador de pizza ou o encanador... quem sabe?

Acho que serei uma velha chique, pois sempre fui muito vaidosa. Usarei muitos pretinhos básicos, pouca bijuteria, e minha marca indelével continuará sendo  Ninna Ricci.

Se hoje tenho alguns problemas por dizer o que penso, imaginem só aos oitenta! Mas todo mundo vai relevar e até achar engraçadinho, então a culpa será deles.

Coisa que não vou fazer, é ir aos bailes da Terceira Idade, pois as músicas que eles tocam lá são muito chatas. Detesto bolero e pagode. Talvez eu funde um Clube da Terceira Idade para Apreciadores de Rock e Hip-hop. Até lá, estes serão rítmos ultrapassados.

Um belo dia, a vizinhança começará a sentir um cheiro nauseabundo no ar. Perceberão que já não apareço há algum tempo, e alguém vai chamar a polícia. Meus amigos policiais invadirão a casa, e me encontrarão na cama, vestindo uma camisola preta de rendas e usando batom vermelho, cercada de livros e gatos famintos. Eu estarei pairando acima deste cenário, rejuvenescida e novamente bonitona, quando de repente, aparecerá um túnel, ao finaldo qual uma luz branca muito forte dirá: "Aqui você não entra!" E me mandarão de volta a outro corpo, imediatamente!

Aí sim, na minha próxima encarnação, serei rica, famosa, gostosa e muito poderosa!

EXISTENCIAL




Estou cansado
De escolher, sempre,
Um lado:
Nós / eles,
Direito / esquerdo ,
Certo/ errado.

Estou cansado
De julgar
E de ser julgado.
Deve haver outro jeito,
Outro caminho,
Outro fado!

Estou farto!

Inocência



O veludo das pétalas
Que mesmo efêmeras,
Se entregam à vida.

O brilho do luar
Que mesmo sendo emprestado,
Jamais se revolta.

A paz de um besouro
Que pousa,
E não se perde em perguntas.

A beleza do  entardecer, 
Que chega sempre antes,
Mas jamais se precipita.

Um cão que late, no meio da noite
Para lembrar-nos
Da continuidade.

Gotas de chuva caídas
De um céu que se abre
E se doa, inteiro!

Dia que amanhece, e traz
Um pouco de esperança
E renovação.

Inocência,
De ser, apenas,
Aquilo que se deve,
Sem cobrar
E sem dever!

CONCEITOS



Cada estrada que termina
Traz uma trilha
Para que se faça estrada,
Mas é preciso coragem
Para segui-la.

Uma rua sem saída
Já é, em si, a saída,
E a resposta,
Mas é preciso
Formular a pergunta.

Certeza: a palavra mais vaga,
Sem substância,
Imprecisa e inútil,
Vazia de significados!

Prefiro a fé,
Essa palavra curta,
Monossilábica e quente
Que não responde nada,
Apenas se sente.

Recanto



Uma casinha no meio do nada,
No meio do mato,
Entre flores e regatos,

Gotas de orvalho no telhado,
Pegadas de gnomos no jardim...
Quem não queria, meu Deus, quem não queria
Viver assim?

Um passarinho na janela,
Vidro embaçado pelo frio...
Flores espalhadas
Na curva do rio.

Quem não queria, meu Deus, quem não queria
Viver assim?



fotos: Hotel Büller, Visconde de Mauá

Para Lembrar de Você




Perdoe-me, Marília, mas deste eu gostei tanto que vou publicar aqui também. Fiquei muito feliz e orgulhosa por ter vencido esta rodada do Crônicas do BVIW Tecendo Letras! Obrigada a todas, obrigada por me convidarem a fazer parte.

Para Lembrar de Você


Para lembrar de você, guardei um pouquinho da sua risada em meus ouvidos, os risquinhos da tua íris na minha e o teu olhar curioso por trás do meu, para que assim, você possa continuar observando a vida com o mesmo encantamento. Para lembrar de você, coloquei no pendrive as músicas que você adora, e no álbum de fotografias, a história da sua vida. Para lembrar de você, caminho pelos caminhos que você costumava seguir, sempre pronta a encontrar uma nova surpresa, e admirar-me com cada coisinha: uma folha seca com um formato estranho, um pequeno inseto interessante, um sapinho minúsculo meio-esverdeado, um braço de rio surgindo na curva da floresta, um pássaro pousado em um galho de árvore, assoviando uma canção estranha e suave. Para lembrar de você, fui ao fundo de mim mesma e chorei todas as lágrimas que eu tinha para chorar, até que a tua lembrança estivesse totalmente enxuta e purificada, lá dentro de mim.Para lembrar de você, revivi cada momento da tua dor, aqueles momentos nos quais você se sentia mais sozinho, mais desesperado, mais perdido, quando você me ligava à noite, e quando nos despedíamos ao telefone, você já estava rindo outra vez. Para lembrar de você, eu não preciso de muita coisa: basta estar aqui. Basta existir. Basta ser quem eu sou, e você estará em mim. O tempo todo.


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Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...