Terminei de ler “Conversas
que Tive Comigo ,” de Nelson Mandela. O livro em si é até um pouco
chato, e a leitura às vezes torna-se arrastada, pois é um apanhado de
fragmentos de anotações pessoais, cartas e conversas que ele teve com
pessoas, relatos de viagens, experiências que teve na prisão, encontros
políticos... e até mesmo notas sobre sua saúde. Mas pesca-se pérolas
muito preciosas durante a leitura deste livro, o que seria impossível
de não acontecer, devido a grandeza de quem o escreveu.
Mandela diz que a prisão é
o melhor lugar para alguém pensar sobre a vida... às vezes, tem-se a
impressão de que os vinte e sete anos que ele passou preso, na verdade,
foram-lhe leves. Não vi
nenhuma palavra de raiva dirigida contra seus opressores. Será porque as
cartas eram censuradas?
O livro só faz aumentar a
admiração que sempre tive por este homem único. E a certeza de que eu
jamais, em milhões de vidas, seria capaz de ser como ele: entregar a
minha vida e a minha liberdade
em defesa da causa de um povo. Arriscar-me a morrer para que outros
pudessem ser livres. Pessoas como ele dão a mim uma noção exata de minha
pequena pessoa, e de minha quase inexistente colaboração ao mundo.
Em um dos relatos que
mais me impressionaram até o momento, Mandela conta como, durante um
julgamento, ele tinha certeza de que seria sentenciado à morte, e que
ele não se importava. Tinha certeza, quando o juiz ia começar a ler a
sua sentença, que ele estava morto. E a indiferença com que ele trata do
assunto, surpreendeu-me; na verdade, chocou-me. É preciso uma grande
dose de desprendimento, um idealismo fortemente arraigado dentro do
coração, para ter uma reação assim. Qual de nós caminharia para a morte
com tanta coragem e indiferença, com a certeza de que estaria fazendo
uma troca justa: a vida pela causa?
Acho que pessoas como ele
não são seres humanos comuns; são missionários. São maiores do que eles
próprios. Não tem , em si, uma gota de egoísmo, e não podem ser
comparados a nós, pobres seres humanos comuns.
Vinte e sete anos na
prisão, sendo submetido a trabalhos forçados, passando fome, sendo
mal-tratado e tendo seus escritos censurados. Durante um período, as
visitas só eram permitidas a cada seis meses, e durante apenas trinta
minutos. Acho que eu teria enlouquecido. Mesmo que , mais tarde, a
dureza tenha sido relaxada, eu fico pensando no quanto a liberdade me é
cara... mas eu estou falando apenas da minha pequena liberdade, essa
coisinha egoísta de poder ir e vir quando eu quiser, a hora que eu
desejar.
A liberdade da qual ele
fala em seu livro e pela qual ele luta, é de outra esfera. Nem se
compara à nossa. Nem ouso tentar compreendê-la.