Tinha uma fome insaciável,
Passava tardes entre banquetes
A língua lânguida deslizando
Por sobre os cones de mil sorvetes.
Tinha uma fome tão perigosa!
Enchia a boca de mil mordidas
E mastigava tudo, ruidosa
E engolia frementemente.
Tinha uma fome de muitas eras,
Prendia tudo entre lábios e dentes,
E escorriam de sua boca
Todos os sumos das frutas quentes.
Tinha uma fome que não passava,
E mergulhava em potes de mel
Cremes, champanhes, e muitos doces
Mas sua fome só aumentava!...
Tinha uma fome de pratos cheios,
De camas quentes, lençóis de seda,
E ela servia-se sobre uma mesa
Para senhores de fino gosto.
Tinha uma fome de fazer gosto,
E devorava, com muito gosto
Tudo o que via e que tinha gosto
Com tal prazer, e com tanto gosto,
Que sua mesa era sempre farta,
E suas ancas, sempre tão cheias!...
Deliciosas, todas as ceias,
Mais quente o sangue de suas veias!