Tem gente que detesta a confusão das mudanças. Montes de coisas que a gente tem que decidir se leva com a gente ou se doa ou descarta; Todo o trabalho de embrulhar louças e objetos frágeis em toneladas de folhas de jornal e depois arrumar tudo em caixas etiquetadas. E, chegando na nova casa, desembalar tudo, lavar e guardar nos devidos lugares - processo que pode durar muitos dias, ou até mesmo meses!
Já passei por isso quatro vezes ao longo da minha vida, e adorei todas elas! A gente tem que remexer nos armários, e acaba encontrando coisas que já tínhamos esquecido que estavam por lá - algumas delas, achávamos que tínhamos perdido! E daí, quando percebemos, estamos sentados diante de uma pilha de livros que gostaráimos de reler. E começamos ali mesmo. Ou quem sabe, encontramos velhas fotografias de viagens ou datas comemorativas, onde pessoas que não vemos há muito tempo, nos olham de volta; algumas delas, jamais voltaremos a encontrar. Simplesmente, se foram de nossas vidas, ou deste mundo.
Eu adoro chegar em uma casa nova e decidir onde colocar as minhas coisas até que ela tenha cara de lar, até que ela se pareça comigo e com meus novos sonhos e objetivos. É como se um novo recomeço nos estivesse sendo oferecido. Andar por um novo bairro, cumprimentar novos vizinhos...
Mas apesar de amar mudar, acho que ainda ficarei nesta casa por muito tempo, pois adoro o lugar, os vizinhos e a casa. Aqui, bati um recorde de permanência: enquanto nas outras casas nós permanecemos por exatos sete anos, nesta já estamos há onze. Só morei mais tempo em uma casa quando era ainda solteira - a casa dos meus pais, onde vivi durante vinte e seis anos. Às vezes me pergunto se terminarei meus dias aqui.
Mas acredito que, se nós envelhecermos, esta casa vai ficar muito difícil de manter, e teremos que nos mudar para algum lugar bem menor. Mudar de casa é um exercício de desapego. O que levaremos conosco?
Algumas pessoas não conseguem se livrar de nada. Não doam nada, não vendem, não emprestam e não trocam. Porém, continuam adquirindo coisas e mais coisas. Conforme vão envelhecendo, suas casas vão se transformando em lugares atravancados e empoeirados, por onde fica difícil cuircular ou até mesmo, respirar. Limpar? Tarefa hercúlea, praticamente impossível! Acho que elas pensam que, de alguma maneira, estas coisas as segurarão aqui, mantendo-as vivas: "Tenho muita coisa para cuidar." Mal sabem elas que a morte é democrática, não tem preconceito de classe social, e não se importa se quem ela leva é rico ou pobre, jovem ou idoso, se possui muitas coisas ou não. Apegam-se a objetos como se eles fossem a garantia de que permanecerão vivos por mais tempo. E então, fica tudo por aí...
Depois que eles morrem, ficam os copos de cristal que nunca foram usados, o aparelho de jantar que nunca foi partilhado em uma mesa, a colcha bordada pela avó que permaneceu anos e anos trancafiada no fundo do armário em um saco com naftalinas, roupas e mais roupas que pertenceram a várias fases da vida e que poderiam ter aquecido o inverno de muitas pessoas, livros que poderiam ter sido doados a escolas e hospitais, e sobre os móveis, bibelôs que serão jogados fora sem a menor cerimônia.
Eu não quero ser assim. Não quero ter esse grau de apego às coisas. Adoro tudo o que tenho, mas não quero que aquilo que eu tenho me possua. Sou muito grata por saber que as coisas tornam a minha vida mais fácil, mas que seu tempo comigo vai passar, e então elas pooderão continuar sendo úteis a outras pessoas.
Quando nos mudamos para esta casa, nossos pertences couberam em uma viagem de caminhão. Hoje, como a casa é maior, eles aumentaram, mas se tivesse que me mudar para um lugar menor, sei que o faria sem me lamentar pelas coisas que ficariam para trás. Vez ou outra, faço um "esvaziamento" de espaço. Acho que a vida fica mais leve...