OLHOS SECOS
Um homem sentado ao alpendre
Com seu olhar de boi manso
Contempla um fio de nuvem
Que some no azul do céu.
Aos seus pés, a terra seca
Onde brincam os seus filhos
De pés descalços e secos,
De olhos baços e secos,
Cabelos de arame seco,
E risos secos de fome.
"Quando será?..." um pergunta,
Estendendo-lhe a cuia vazia.
E o homem, com olhos de boi,
Aperta o chapéu contra o peito
Diz só: "Quando Deus quiser..."
Aos poucos, morrem-lhe os filhos,
Um a um, ele os sepulta.
Mas os olhos de boi manso
Há muito não choram mais...
Quem sabe, se Deus quiser,
Eles voltam a nascer
Do chão seco do sertão
Quando Deus mandar chover?