witch lady

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quarta-feira, 1 de junho de 2022

CONTEMPLAÇÃO

 



Aqui, nesse jardim

Onde eu me sento,

Não há espaço para os apegos.

Um dia flor, perfume, cor,

No outro, dor, miolo, chão,

Semente.


Um dia canto, voo, liberdade,

No outro, apenas

As penas pelo chão,

Corpo vazio de ave.


O sol nasce e se põe, todos os dias,

Mas nem isso é verdadeiro,

Pura ilusão, estarmos parados

Ou nos movermos.


Não há razão para a saudade,

Pois nada morre,

E nada nasce,

Tudo é passagem.


Eu penso ver todas as coisas,

Mas há mil coisas 

Que eu nem enxergo

Ou imagino

Que esteja lá (Mas onde é Lá?)


Esse jardim

Onde eu me sento,

Onde contemplo,

É como um templo

Que desafia

O próprio tempo

(Que nem existe).





segunda-feira, 30 de maio de 2022

ENXURRADA

 

 

 

Enxurrada

 

Eu, sentada,

Céu por cima,

Enxurrada,

Chuva fina...

 

E na água,

Passam os pontos de exclamação,

Afundando e emergindo,

Afundando, e indo...

 

Minha vida,

Minha lida,

Minha história

Quase escrita...

 

E na água,

Passam os pontos de interrogação,

Afundando e emergindo,

Afundando, e indo...

 

O passado,

As histórias,

As memórias,

As ausências...

 

E na água,

Passam parênteses não preenchidos,

Afundando e emergindo,

Afundando e indo...

 

O futuro,

Os dilemas,

As promessas,

E seus cacos...

 

E na água,

Passam os tremas e as reticências,

Afundando e emergindo,

Afundando e indo...

 

Eu sentada,

Eu olhando,

Eu parada,

Eu sonhando...

 

 



terça-feira, 24 de maio de 2022

O Céu Me Trouxe




Eram tardes como a de hoje, de céu vermelho. Eu me sentava à mesa da cozinha a fim de fazer meus deveres de casa, ou então para ajudar minha mãe a escolher o feijão (gostava de separar os feijões coloridos para brincar mais tarde). Enquanto isso, ela ficava entre a pia e o fogão, cozinhando o jantar, lavando a louça, cortando os legumes. E naquelas tardes surgiam as histórias.

Eram sobre os tempos em que ela tinha sido criança, e que por ter perdido a mãe muito cedo, precisou ficar sendo cuidada por várias pessoas diferentes enquanto meu avô ia trabalhar – e nem sempre, tais pessoas a tinham tratado bem. Finalmente, devido aos maus tratos, ele conseguiu vaga para ela em uma escola interna, onde ela passou a viver dos quatro até os dezoito anos de idade. E minha mãe me falava de muitas coisas: das freiras do colégio interno, algumas muito boas, outras muito más, das colegas de classe, do enorme dormitório com as caminhas arrumadas lado a lado, do banho coletivo gelado de manhã bem cedo em uma época em que Petrópolis era uma das cidades mais frias do sudeste, dos insetos encontrados às vezes na comida, e que as meninas eram instruídas pelas freiras a tirar do prato e continuar comendo. Havia o porão, onde viviam dezenas de gatos; havia a horta onde as meninas trabalhavam; havia a palmatória para punir as meninas mais travessas e desobedientes.

Às vezes, minha mãe pegava a caixa de fotografias e me mostrava velhas fotos amareladas de família, da “Italianada”, como a gente costumava se referir aos parentes que tinham vindo da Itália. Ela me apontava as pessoas na foto e dizia seus nomes, e um pouco sobre quem eles eram. Pena que não consigo mais me lembrar de todos aqueles nomes, embora os rostos tenham se tornado tão familiares.

Ela me contava histórias sobre como ela e meu pai tinham se conhecido – ele, um rapaz pobre, o mais velho de treze irmãos, que precisou começar a trabalhar muito cedo para ajudar a família, passava em frente da casa da prima com quem ela morava quando deixou a escola. Meu pai usava tamancos de madeira, e ela corria para a janela quando escutava o ruído dos tamancos nos paralelepípedos. 

Mais tarde, quando se casaram, meu avô cedeu para eles uma casa que pertencera aos seus pais, meus bisavós, em um bairro onde nada existia ainda. As outras casas do bairro foram sendo construídas ao longo dos anos, e hoje é um dos bairros mais populosos de Petrópolis. 

A casa de minha mãe, onde todos nós nascemos e crescemos, ainda existe. Uma de minhas irmãs vive lá. Ainda existem as marcas feitas à faca no portal, marcando o quanto eu estava crescendo; as enormes janelas de venezianas ainda são as mesmas. O forro de madeira do teto, apesar de bem velho, ainda está por lá. E ainda circulam por lá os fantasmas dos meus bisavós, avós, pais e de outras pessoas da família que viveram naquela casa e que lá morreram.

Hoje esse céu vermelho e o mês de maio - quando minha mãe aniversariava - me fizeram lembrar daquela casa.




segunda-feira, 23 de maio de 2022

REPTILIANO?



A respeito da visita de Elon Musk ao Brasil, era de se adivinhar o resultado. Como ele chegou aqui a convite do Presidente Bolsonaro e sua equipe, imediatamente uma porção de supostos "podres" começaram a surgir na imprensa sobre o empresário e criador da Starlink - desde que estaria envolvido em escândalos sexuais e subornos, de que teria um péssimo relacionamento com os filhos, de que seria o anticristo e até mesmo - pasmem! - a novidade em um site espírita de uma "iluminada", que se diz portadora de mensagens alienígenas, de que Musk seria reptiliano (supostamente, uma raça alienígena conhecida dessa senhora e de outros "seres de luz"  cujo objetivo é dominar o planeta Terra). 

Ora, se Elon Musk tivesse vindo a convite de Lula, com certeza estaria sendo apontado como sendo o novo Messias ou a reencarnação de Miguel Arcanjo.

As pessoas perderam totalmente a noção do plausível. Fico me perguntando como uma espírita com centenas de milhares de seguidores afirma uma idiotice dessas, sabendo que sua influência sobre seus seguidores fará com que uma onda de ódio se levante contra um ser humano que pretende levar conexão de qualidade a 19 mil escolas em áreas rurais e também monitoramento que servirá para ajudar na preservação da Floresta amazônica. 

Ao mesmo tempo, a "espiritualizada criatura" mostrou-se mal-informada ao afirmar que Elon Musk deveria fazer caridade, já que tem tanto dinheiro. Com certeza, seus guias espirituais falharam ao informá-la de que comprovadamente, em 2021, o empresário fez doações à caridade que somam 5,74 milhões de euros.

Segundo informações do site Yahoo Finanças, "Elon Musk, CEO da Tesla, doou cerca de R$ 29,5 bilhões em ações da fabricante de carros elétricos para caridade. De acordo com documentos apresentados à Securities and Exchange Commission (equivalente à Comissão de Valores imobiliários aqui no Brasil) entre 19 e 29 de novembro do ano passado, 5.044.000 ações foram transferidas para organizações filantrópicas."

Mas com certeza isso não vale uma ideologia. 

A internet está pululando de falsos profetas e pessoas supostamente espiritualizadas, que através de afirmações aparentemente canalizadas da espiritualidade através delas, estão dominando as mentes fracas de milhões de pessoas. Mas eu fico aqui só imaginando  onde esses canos que estão canalizando tais mensagens estão introduzidos...




 

quarta-feira, 18 de maio de 2022

O MONSTRO DO OUTRO LADO

 



“Não concordo com você.”

Esta simples frase, nos dias de hoje, é o suficiente para que se comece uma discussão com alguém – não uma discussão saudável, no sentido de troca de ideias e crescimento, mas no sentido de expressar agressividade, de necessitar demonstrar o quanto as minhas ideias são mais inteligentes, mais arrojadas. 

Quem não pensa como eu é burro, e pronto. Eu posso até ter acabado de conhecer alguém que eu começo a admirar, quando de repente, tal pessoa diz alguma coisa com a qual eu não concordo, e o verbo a ser conjugado vira imediatamente “cancelar.” Cancelo quem não concorda comigo, quem não gosta das mesmas coisas que eu gosto, quem não me obedece.

O mundo de hoje é um lugar enorme, cheio de pessoas vivendo em caixinhas, panelinhas, grupinhos, entrincheirados em suas próprias convicções, achando-se cheios de razão e propriedade. Ao mesmo tempo, vemos o filósofo incontestável, que por ter estudado a vida e a obra de vários outros filósofos, acha-se acima da maioria das pessoas, e por isso, tudo o que diz tem que ser endossado e aceito; quem não concorda, é burro. E quem concorda com tudo o que ele diz, nem percebe que, na maioria das vezes, ele está apenas repetindo alguma coisa que ele leu, algo que alguém que morreu há muitos anos disse um dia. 

Vemos os professores donos da razão, os políticos de bom coração, os coaches da positividade tóxica, os (péssimos) influenciadores digitais, todos cegos, guiando uma multidão de gente igualmente cega. Mas pelo menos, eles têm o dom da palavra, que muitas vezes lhes confere a capacidade de convencer aos que não o tem de que eles estão perdidos e necessitam de ajuda. 

Basta abrir uma página qualquer na internet e encontraremos gente pobre ensinando os outros a ficarem ricos, pessoas que já se casaram e se divorciaram várias vezes ensinando o segredo dos relacionamentos felizes, pessoas que fazem cursos de uma semana e se acham aptos a guiar e aconselhar os outros. Criam-se princípios que ninguém sabe de onde surgiram; coisas como:

- Existe um anjo/ um Superhomem/uma Mulher Maravilha dentro de você.

- Você é especial para Deus.

- Você tem o poder de realizar absolutamente tudo o que você quiser.

- Se você não é totalmente feliz a maior parte do tempo, está fazendo tudo errado.

- Se você não defende tal ideia/político/ideologia, você é um preconceituoso, nazista, fascista, esquerdinha, bolsominion, xenófobo, ignorante, BURRO.

Está cada vez mais chato viver nesse mundo, fazer parte dessa geração. Viver não é mais natural. Viver é sobreviver até o próximo embate e tentar não ser cancelado ou ridicularizado. Viver é tentar se adaptar àquilo que esperam de você e tentar agradar a todos. Viver é socar suas emoções lá para dentro, pois é feio sentir coisas como medo, raiva, indignação, tristeza, luto. 





segunda-feira, 16 de maio de 2022

ECLIPSE





Entre as folhas, ao erguer dos olhos,

A surpresa entre o risonho girar dos planetas

Que parecem estar sempre parados.

Deito confortavelmente a cabeça na cerca,

Desprendo-me do peso do corpo cansado

Enquanto sonho.


Leve, esta é a palavra,

O meu adjetivo atemporal nesse momento

Que me transporta para bem além do tempo

A um templo onde eu era, antes de ser.

Dissolvo-me morta no pó das estrelas,

Empresto meu sangue ao sonho da lua

Que nele mergulha, e me bebe inteira.





ECLIPSE


O céu ontem estava incrível. Para quem não soube, houve um eclipse total com lua de sangue. Infelizmente, não tenho uma câmera superpoderosa para registrar momentos assim, então a foto acima foi o que consegui para poder registrar aquele momento.

Tem havido muitos eventos no céu em 2022: chuvas de meteoros, eclipses, super luas, luas de sangue. Acho que a bagunça aqui em baixo está tão grande, que já estamos começando a afetar o céu... será?


Para hoje temos previsão da chegada de uma frente fria que derrubará as temperaturas; dizem que teremos neve no sul, geadas em São Paulo e temperaturas baixíssimas na serra fluminense. Tenho sentido os pássaros daqui agitados. Espécies não nativas tem aparecido com frequência - e há algumas que nem consigo identificar. Ontem fotografei esse tucano no meu ipê. A definição está péssima, mas lá está ele.


Também tenho visto pássaros brancos e azuis escuros, grandalhões, parecidos com corvos ou gralhas. Elas gritam bastante e fazem um barulhão nas árvores. 

Enquanto escrevo este texto, uma saíra azul bate contra o vidro da minha janela, e uma borboleta entra na sala, parecendo assustada. Agora, olho para fora e tem um gavião enorme pousado na ponta do telhado do vizinho. 

Efeitos do eclipse?









 

segunda-feira, 9 de maio de 2022

OS PREPERS NÃO ESTÃO PREPARADOS

 



Devido a uma lição de inglês que eu dei e que mencionava uma classe de pessoas que, basicamente, preparam-se para o fim do mundo – os Prepers – decidi pesquisar mais sobre o assunto. Encontrei vários canais desses sobrevivencialistas no YouTube, que ensinam desde a armazenar comida em garrafas pet a cavar buracos no mar a fim de esconder comida e armas. Existem instruções sobre como sobreviver a ataques nucleares abrigando-se em bunkers (existem bunkers de todos os tipos sendo vendidos nesse exato momento em que você lê meu texto, alguns deles muito luxuosos, que custam milhões de dólares), purificar água contaminada, armazenar medicamentos e produzir eletricidade. 

Seguramente, eu penso que essas pessoas não têm uma verdadeira dimensão do que significaria sobreviver a um ataque nuclear, em um mundo onde quase tudo – plantas, animais, seres humanos – estará morto durante o tempo que restasse de vida aos sobreviventes. Se eu soubesse que uma guerra nuclear de proporções mundiais estivesse a ponto de começar, eu escolheria o lugar mais vulnerável possível para que eu fosse uma das primeiras a morrer. Não quero saber de sobreviver a isso.

As pessoas nos vídeos mostram seus bunkers, geralmente localizados nos porões de suas casas,e as coisas que estão armazenadas por lá e que possibilitariam que talvez eles sobrevivessem, quem sabe, alguns meses após um ataque nuclear. Fazem isso sorrindo, pedindo ‘likes’ e compartilhamentos, agradecendo aos que contribuem financeiramente para que seus canais “possam continuar existindo e ajudando as pessoas a sobreviverem.”

Para onde foi o bom senso da humanidade?

Prefiro dar uma chance ao mundo e às demais criaturas; diante de um ataque nuclear de proporções mundiais causado pela espécie humana, espero que apenas animais e plantas sobrevivam; assim, quem sabe, exista uma chance para o nosso planeta. 

O mundo não precisa de nós. Nós não servimos para nada. Vivemos a nossa existência em meio a superficialidades, intrigas, divisões políticas, ideologias absurdas, competições, invejas, ‘likes’, fofocas, “(des)harmonizações faciais que fazem com que pessoas fiquem se parecendo com bonecos infláveis, e saímos daqui tão sem noção quanto ao entrarmos.

Como disse Anitta, A Sábia, “Se o mundo acabar, acaba a internet.” E pelo que vejo, para a maioria das pessoas, é só isso que importa.






quinta-feira, 5 de maio de 2022

FAXINA MODERNA

 



Finalmente decidi testar os serviços oferecidos por uma firma de limpeza de residências, que conseguiu meu contato não sei como e insistia em enviar-me e-mails e mensagens.

Antes, é claro, fiz uma busca pela internet e cheguei até o site e o Instagram da tal firma a fim de checar sua idoneidade. Tudo certo. Através do site, entrei no ‘chat’ a fim de saber como agendar e ter informações adicionais. A conversa foi mais ou menos assim:

- Bom dia, senhora Ana. Como podemos ajudá-la?

-Bom dia. Eu queria mais informações sobre que tipo de serviços vocês prestam e também sobre valores.

-Então... oferecemos limpeza residencial, e o valor vai depender do que a senhora gostaria que fosse feito. Mas a limpeza básica fica em torno de duzentos e cinquenta reais.

Achei o preço altíssimo, mas como ando precisando de ajuda, decidi contratar a firma.

-Bem... queria alguém que pudesse fazer as coisas que eu não tenho tempo de fazer, como limpar janelas e organizar armários e gavetas.

- Não podemos limpar janelas. A senhora terá que contratar um serviço especializado para fazer isso.

- E quanto aos armários e gavetas?

- Então... não estamos autorizados a abrir armários e gavetas.

-Não? Mas eu tenho uma cama queen size com gavetas e queria alguém para removê-las e limpar sob a cama. As gavetas são pesadas, e...

-Sinto muito. Não poderemos “estar removendo” as gavetas da cama. Como eu já expliquei, não abrimos armários e gavetas.

-Não limpam armários e gavetas e nem janelas?

-Não, senhora.

-Então... quero alguém que retire os tapetes e arraste os móveis para limpar atrás deles.

- Não arrastamos móveis pesados, senhora Ana. E a limpeza dos tapetes é feita com os mesmos no lugar, usando o aspirador de pó.

-Bem, e quanto ao material de limpeza?

-O mesmo é fornecido pelo cliente.

-Ok, deixe eu ver se entendi: vocês me pedem duzentos e cinquenta reais para não limparem minhas janelas, não arrumarem gavetas e armários, não removerem móveis pesados para limpar atrás, não removerem os tapetes para limpar em baixo e eu ainda tenho que fornecer o material de limpeza?

- Bem... hã... nós varremos, removemos o pó e aspiramos os tapetes; limpamos os banheiros com pano de limpeza...

-Não lavam os banheiros?

-Hã... não. Limpamos apenas. O serviço de lavagem dos banheiros seria cobrado à parte. 

- Ok, obrigada, mas para limpar por cima eu mesma faço. Não preciso pagar duzentos e cinquenta reais.

Eis o serviço de faxina moderno.

Dizem que nos Estados Unidos e Europa é assim. Eles nunca lavam banheiros ou limpam janelas. Cozinhas e banheiros sequer possuem ralos para escoamento de água. Nada de passar pano no piso ou tirar as coisas do lugar. 

Será que eu estou exigente demais? Será que não acompanhei a evolução e por isso não percebi que os padrões de limpeza mudaram?






terça-feira, 3 de maio de 2022

MEMÓRIAS



 O que ficou preso

Nas tramas do tempo

Jamais se foi,

Não se perdeu.

Descansa em silêncio 

Sob os cotovelos

No peitoril da janela,

Desce com a chuva

Pelas telhas,

Está entrelaçado 

Nas tramas da colcha,

Nos olha feliz

De dentro do quadro

Dependurado

Do passado.


Eu posso senti-lo,

Conversa comigo

No véu das lembranças,

As suas risadas

Ainda ecoando

Nos cantos da casa,

Seus passos marcados

Ainda impressos

Na minha calçada. 


Mas a vida segue

Longe e perto,

Dentro e fora,

Do lado escondido

Da minha memória, 

Em cada palavra

Da qual se compõe 

A minha,

A tua,

A nossa história. 






quarta-feira, 27 de abril de 2022

FATALIDADE






Todos os caminhos De todas as pessoas De todos os animais De todas as plantas Levam à morte. Cedo ou tarde, Ou na hora certa, Mas quase sempre Na hora errada. Choramos tanto Pelo que vai antes, E seguramos Por entre os dedos O que escapa, Como se ficar Fosse vantagem, Como se quem fica Fosse feliz. E vamos todos Por essa estrada Que ninguém sabe Onde vai dar. E vamos todos, E não há nada A se fazer, De nada adianta Tanto chorar.




segunda-feira, 25 de abril de 2022

ACEITEM-ME!


 

Foto minha, que amo, obtida na Ponte do Brooklin, N.Y, 2018


Antes eu achava que as pessoas tinham que me aceitar e aprovar a minha conduta. "Se não me aceitam," eu dizia, "que pelo menos me respeitem." Mas eu descobri uma coisa libertadora: ninguém tem a obrigação de me aceitar ou de me respeitar. E eu não preciso da aceitação ou do respeito de ninguém. Eu sou livre. Eles são livres.

Só existe um lugar no qual eu posso exigir o mínimo de respeito das pessoas, e esse lugar é a minha própria casa, o meu espaço sagrado. Aliás, a casa de cada pessoa é um espaço sagrado que todos devemos respeitar e pisar devagar, controlando o tom de voz e o entusiasmo exagerado - a não ser que o próprio dono da casa nos convide a fazer o contrário. E se eu pensar melhor, perceberei que na minha casa só entra quem eu quero; portanto, eu escolho convidar as pessoas que respeitam o meu espaço.

Fora isso, eu não preciso do respeito ou da aceitação de ninguém, porque quando impomos estas condições, acreditando que assim seremos mais livres, na verdade, nos escravizamos e escravizamos o outro. Assim como eu tenho o direito de ser como eu sou, o outro também tem. Problema dele se ele não concorda comigo; problema meu se eu não concordo com ele.

Ninguém nunca deve deixar de ser o que é, preocupado em ser ou não aceito pelos amigos/família/sociedade. Se eu estiver fazendo o que eu quero e sendo feliz sem agredir a ninguém, estarei fazendo o que é certo - azar o de quem não compreender isso. Pessoas entram e saem das nossas vidas pelos mais variados motivos, e eu deixo a minha porta de entrada sempre entreaberta, e a de saída, escancarada. E quando a gente é sincero conosco mesmos, quando somos felizes e expressamos aquilo que somos, sempre haverá quem nos ame e nos compreenda exatamente assim, e são estas pessoas as certas para mantermos em nossas vidas. 

O equilíbrio entre sermos aceitos e sermos felizes é muito frágil, pois estamos acostumados a pensar que se fizermos "a coisa certa" (aquilo que esperam de nós) seremos realmente felizes; mas esta felicidade é frágil, é de mentira. Seremos felizes quando formos livres do peso dos julgamentos alheios, que sempre existirão.




sexta-feira, 22 de abril de 2022

A Montanha





 Ela já era antes que eu fosse.

No corpo liso, traz carícias de chuva e limo,

Manchas de veludo verde e marrom.


Viro a cabeça e a vejo lá fora,

Altiva e imponente,

Senhora de pássaros, árvores, nuvens

E corredeiras.


Às vezes, o luar brinca de se esconder

Por trás do seu corpo volumoso,

E a água da chuva a faz resplandecer

Na paisagem noturna.


É possível amar uma montanha

Sem jamais tê-la tocado?

É possível visualizar as alturas

De passos que jamais foram dados?




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O TUCANO

O Tucano O TUCANO   Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me ...