Dos lábios de Deus, partiu um sopro
E as ruas ficaram desertas.
De repente, nada havia
Que explicasse a dor silenciosa
Que se espalhava pelas ruas
E das casas, que se esvaziavam.
Nas sacadas, as pessoas cantavam.
E após o toque de recolher,
As mãos juntaram-se em preces,
Clamava pela vida
Quem não soubera viver.
Mesmo assim, das sacadas
As luzes dos celulares piscavam.
A rua deserta se estendia
Sobre as dores das almas, que temiam
Porque não sabiam como ascender,
Porque, durante toda a vida,
Só tinham mesmo aprendido
A ter medo de morrer.
E toda fé, que já era pouca,
Passou a ser testada,
E todo o amor, que já era raro,
Tornou-se quase nada,
Pois as pessoas só pensavam
Naquilo em que elas mesmas
Eram afetadas.
E das sacadas, as pessoas oravam.
Clamavam a Deus: “O que será de nossa raça,
Como será o futuro,
Quando tudo isso acabará?”
E Deus, estendendo as mãos,
Lançou um sorriso triste
Perguntando: “Querem mesmo a verdade?
Quem tem coragem?”
E das sacadas, as pessoas se calaram.