witch lady

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quinta-feira, 7 de novembro de 2019

CONFESSO








Eu erro, berro, espanto os astros,
Desfaço os laços, caio no abismo
Me despedaço, mas me refaço,
Arranco à unha a falsa tinta
Dos falsos mastros.

Viver é um passo a cada dia,
Uma alegria, um cataclismo,
Doce mormaço sobre mãos dadas
Que prenuncia um desenlace
Anunciado.

Clara passagem, amarga via,
Um triste riso de um triste rosto
Dentro de um rio, cujas correntes
Levam aonde não se iria
Se fosse escolha.

Eu erro o alvo e acerto a flecha 
Naquilo mesmo que eu nem sabia,
Vejo o palhaço fazendo graça
Mas me concentro na alegoria
Sob a pintura.

Pois o que vale, pois o que fica
Depois de toda essa aventura,
É a mente leve, coração calmo,
E a sanidade que resistir
À essa loucura.







segunda-feira, 4 de novembro de 2019

Egoísmo







As pessoas se movimentam conforme as marés de seus interesses. Quase ninguém é o que diz ser, pois a maioria apenas está como diz ser, e pode mudar a qualquer momento - basta que apareça algum interesse pessoal 'in the picture.' A alma humana anda muito volátil, e eu acho isso lamentável! Acredito em valores. Acredito que aquilo que só é bom para mim, prejudicando os outros, não é bom para ninguém, na verdade. 

Acho incrível a maneira como as pessoas encontram justificativas estapafúrdias para apoiarem suas ações equivocadas. Mais incrível ainda, é que algumas realmente passam a acreditar nestes falsos motivos. De repente, estão tão necessitadas de algo, que torcem e retorcem fatos e ainda tentam convencer os outros de que estão fazendo aquilo "para o bem de todos", quando os únicos beneficiados são elas mesmas, em detrimento dos demais, apenas para satisfazerem a um capricho!

Desse jeito, jamais poderemos evoluir de verdade.




sexta-feira, 1 de novembro de 2019

O Tempo Para se Ler um Livro



Em conversas com minha aluna sobre como tudo está tão rápido nos dias de hoje, lembrei-me de quando eu lia livros na minha adolescência. Eu não tinha muitos livros, pois eram demasiadamente caros. Geralmente, eu os comprava em sebos, pegava emprestado com amigos ou pedia ao meu pai que os comprasse, o que ele raramente tinha condições de fazer. Então, era comum que nós relêssemos os livros várias vezes, trocássemos com os amigos ou fizéssemos parte do Clube do Livro, onde os livros eram bem mais em conta – a única exigência é que comprássemos um livro a cada mês, e eles eram entregues nas nossas casas quase quinze dias após a compra. 


Eu conseguia lembrar- me de cor de alguns trechos dos livros, pois lia e relia várias vezes, e sempre me lembrava do nome dos autores, coisa que hoje eu frequentemente me esqueço. Bem, também não havia tantos autores como hoje!

Ler era uma atividade vagarosa: eu tinha um caderno onde anotava meus trechos prediletos (nada de computadores nas casas ainda) e levava-os comigo para o quintal, e voltava nos trechos que não tinha entendido muito bem. Eu tinha tempo, e não tinha muitos livros.
Hoje tenho muitos livros, mas não tenho tempo.

Os livros impressos e virtuais que eu compro ficam meses na prateleira ou no Kindle, até que eu tenha tempo para lê-los. E como o tempo é sempre curto, sublinho passagens que muitas vezes jamais voltarei a ler, pois há outros livros na fila de espera, e o tempo é tão curto, e nem sei se o que me resta de vida será o suficiente para ler todos. 

Tenho livros que comecei a ler e não terminei em todos os lugares da casa: sobre a banheira, na mesinha de cabeceira, na sala de aula onde trabalho, nas prateleiras e no Kindle. Começo, mas fico ansiosa para passar ao próximo, então acabo pulando alguns trechos (se forem livros apenas para entretenimento) ou acabo esquecendo de terminar a leitura. E muitas vezes, acabo substituindo-os por um livro antigo, de Gibran, Osho, ou Cecília Meireles.

Os personagens dos livros que não terminei andam pela casa toda, me assediando, me cobrando que lhes dê um final e eles possam voltar para dentro de suas histórias. Frequentemente, eles se encontram e trocam ideias, falam mal de mim e sonham com um tempo em que havia mais leitores do que livros a serem lidos, e eles recebiam toda a atenção que mereciam. 




Passarinho








Pousado num galho bem alto,
Ele olha o mundo e se lembra
Dos tempos em que não tinha asas
E andava por aqui.
As coisas parecem distantes,
Agora que está tão longe...
Vê que as pessoas mudaram,
Envelheceram
E se afastaram.

Ele lança um longo pio
Que ecoa contra o sol
Que desponta no horizonte.
Daqui, alguém ergue os olhos
Sente uma estranha presença,
Olha para trás a procura
De alguma antiga surpresa.

Ele bate as suas asas
Pelos quartos, pelas salas,
Traz no bico algumas flores
Que derrama pelas casas.
Suas essências fantasmas
Causam alguns arrepios,
Um folego de saudade,
-Até mesmo um certo frio.

Ele mora tão distante,
Viajou por tanto tempo
Para chegar até aqui
E poder revisitar
Todos os que ele deixou.
Alguns sequer o percebem,
Outros, sentem, outros ouvem,
Outros, lembram – logo esquecem,
Pois o tempo é um trator
Que passa por cima de tudo.

O sol nasce sobre o mundo,
E seus raios atravessam
O peito do passarinho
Em feixes de arco-iris.
Ele sacode suas penas,
Prepara-se para ir embora
Em sua longa viagem.
Antes, alça mais um voo
Sobre o lugar onde um dia
Deixou-nos tantas saudades.



31/10 - Não esqueci, nunca esquecerei. Onde quer que você esteja, Feliz Aniversário!





quarta-feira, 30 de outubro de 2019

GADO





GADO

Gado - substantivo masculino
1. conjunto de reses criadas para serviços agrícolas e consumo doméstico
2. popular, pejorativo gente ordinária

O gado não raciocina. O gado vai aonde a maioria vai, entrando e saindo do curral quando alguém determina, comendo diariamente seu capim seco e sua ração insípida sem jamais se perguntar sobre o seu destino. O gado engorda, engorda e engorda até que finalmente é levado ao seu destino final: o matadouro. Porque esse é o destino do gado: virar comida para encher os estômagos de seus algozes. O que sobra, vira couro para calçar os pés de seus opressores. Justamente por não raciocinar, o gado não se preocupa com isso. Vive sua vida miserável e segue aquele que enche seu coxo de comida.

O gado às vezes acha que é gente. Bate palmas quando a luz azul acende, joga pedra quando a luz vermelha pisca, e come, come e come, e engorda, engorda e engorda. Gado serve para fazer volume, para balançar a cabeça feito vaquinha de presépio e para carregar bandeiras e cartazes que eles não conseguem ler. Se alguém chegar e tentar levar o gado do curral escuro e fedorento para um campo verde, eles não vão querer ir. Porque suas pequenas mentes estão condicionadas a só fazerem o que o vaqueiro manda, pois suas vidas têm sido apenas isto desde que nasceram.

Eles obedecem sem raciocinar e sem questionar, desde que o capim seco e a ração caiam no coxo. Além disso, para chegar ao campo verde, o gado terá que fazer uma coisa a qual sua raça não está acostumada: trabalhar. Será preciso derrubar cercas de arame farpado, caminhar muitas milhas diariamente, esquecer a ração pronta, cultivar a própria comida e desembotar o cérebro. 

O gado repete incansavelmente as mesmas palavras de ordem, regurgitando frases cujos significados ele nem sequer compreende, só porque alguém mandou. E  até acha, em seu raciocínio de gado, que está fazendo o certo – embora nunca tenha se perguntado a diferença entre o certo e o errado.

O gado apoia o vaqueiro que o açoita e o conduz ao matadouro. 
Acredita que o diabo é seu salvador, e adora a cor vermelha. Tenta destruir tudo o que ameace sua vidinha confortável e pequenininha. Acham que destruindo tudo o que é campo verde e ensolarado, estará protegendo seu escuro e claustrofóbico curral, onde se sente seguro. Acredita que o progresso é o Mal, que as diferenças precisam ser banidas para que todos os outros animais do mundo sejam gado como ele: as águias e demais pássaros, os leões, as cabras, os cães, os gatos, os peixes, os répteis. Todo mundo precisa virar gado. Se todos mundo for gado, não haverá mais diferenças. O mundo será um lugar unificado, pintado de cinza e de vermelho, onde todo mundo andará de cabeça baixa comendo da mesma porcaria de ração e indo para o mesmo matadouro. 

Não é linda, a igualdade?

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O que estão fazendo com o cidadão Jair Bolsonaro é covarde.
O que estão fazendo com o Presidente Jair Bolsonaro é criminoso.
O que estão fazendo com o Brasil é vergonhoso.




segunda-feira, 28 de outubro de 2019

CORINGA




Data de lançamento 3 de outubro de 2019 (2h 02min)
Direção: Todd Phillips
Elenco: Joaquin Phoenix, Robert De Niro, Zazie Beetz
Gênero Drama
Nacionalidades EUA, Canadá

Ontem, após muitas recomendações de alunos e amigos, fui assistir ao filme JOKER – ou Coringa. O nome faz alusão à carta 2 do baralho, que pode ser de crucial importância durante um jogo de cartas, pois ela substitui qualquer outra em uma jogada. Mas se o jogador não souber jogar com ela, pode causar uma pane e perder o jogo, ou desperdiçá-la em uma jogada estúpida.

O filme conta a história da origem do Coringa – inimigo número um de Batman – e de como ele tornou-se mau e vingativo. O personagem principal, muito bem interpretado por Joaquin Phoenix, passa por várias dificuldades em sua vida, em todos os campos: profissional, financeiro, de saúde, social e amoroso. Sua vida está em ruínas, sua autoestima é inexistente e devido ao fato de estar sofrendo de  depressão profunda e envolto em pensamentos negativos, sentimentos de inadequação e autopiedade, ele afunda cada vez mais em um poço de negatividade, atraindo para si mesmo desgraça e miséria. Para piorar ainda mais sua situação, as pessoas o evitam, pois ele sofre de um distúrbio que o faz perder o controle sobre o riso, dando gargalhadas incontroláveis nas horas mais impróprias.

Se tentarmos olhar para o filme apenas como um trabalho de arte, ele é muito bom: bem dirigido, bem interpretado, com bom roteiro e cenários adequadamente sombrios. Mas se formos considerar a mensagem subliminar que ele traz, eu diria que ela é inadequada ao momento que o mundo está passando, momento este em que uma simples fagulha pode colocar fogo no palheiro, pois pode incutir nas mentes mais fracas pensamentos de ódio e revolta, incitando a violência, a separação de classes sociais e a exaltação e adoração ao bizarro. Já li algumas resenhas, e em uma delas, o personagem Thomas Wayne é citado como “O rico fascista.”

De repente, um louco tem uma atitude totalmente apolítica e inadvertidamente torna-se o líder de um movimento supostamente político. Em certa altura, o Coringa do filme me fez lembrar o Annonymous das manifestações ocorridas no Brasil e em outras partes do mundo há alguns anos.
Apesar de tratar-se de uma obra de ficção, é impossível não estabelecer uma comparação com a vida real e notar o quanto as pessoas se deixam levar por ideias equivocadas, escolhendo líderes políticos e espirituais nas piores camadas e pocilgas terrestres, apenas porque têm preguiça de pensarem por si mesmos. No filme, um assassino com graves problemas mentais torna-se o símbolo de uma revolução.

Mas, se pensarmos apenas no trabalho de arte, com certeza será indicado ao Oscar e poderá ganhar várias estatuetas.



terça-feira, 15 de outubro de 2019

Um Jardim se Expande Diante de um Olhar


Minhas orquídeas



Você chega naquele jardim relativamente pequeno e olha em volta; pensa: “É um pequeno jardinzinho.” E você está certo, se for considerar apenas o espaço físico em metros quadrados ocupado por ele. Mas se você se sentar e olhar em volta de verdade, vai começar a perceber, ali, naquele pequeno espaço, centenas de coisas diferentes e interessantes que geralmente estão escondidas aos olhares mais distraídos.

A vida...


De repente, um passarinho pousa, você o segue com o olhar enquanto ele pula sobre os galhos das árvores e faz uma linda descoberta: existe um ninho ali perto. Você se aproxima e vê os pequenos pássaros ainda sem penas, e escutando um crocitar, olha para cima e repara no tucano que pousou em outro galho, interessado em uma refeição fácil. Atraídos pelos gritos da mãe passarinho, outros pássaros se juntam para banir o intruso e assegurar a segurança dos ninhos que estão por ali.
Encantada – afinal, ver um tucano em um jardim assim não é tão comum, você agora passa a focar nos gritos das maritacas que, sentadas na beirada do telhado, conversam em voz alta, rindo distraídas. 

...só começando!


Logo, o bando se retira em uma revoada barulhenta, indo pousar nas árvores do vizinho.

É nesse exato momento que você percebe, ali, bem juntinho ao chão, algumas pequenas flores coloridas que ninguém plantou, e também aprecia as orquídeas que você colocou nas árvores há mais de um ano, e que finalmente, decidiram florir. Um espetáculo à parte! E enquanto você está distraído com as flores, um casal de borboletinhas amarelas passam juntas, rodopiando como se dançassem uma valsa. E junta-se a ela uma monarca, duas, três, e então vêm as borboletinhas brancas. Um vento forte as sopra para longe, trazendo um besouro de asas nacaradas que passa zunindo pertinho do seu ouvido, indo pousar no tronco da árvore. 

Descansar...

No céu, nuvens pequeninas deslizam suavemente sobre o fundo azulado. O dia está um pouco nublado, fresco e delicioso. Daí você se senta em uma grande pedra que fica sob uma árvore, e olhando à direita, enxerga as montanhas. Seus olhos se perdem sobre elas, as pupilas rolam sobre as encostas catando todo o musgo das pedras, sorvendo a água que escorre das minas e dá a montanha um aspecto espelhado quando o sol bate.



Mas olhe só que coisa tão perfeita, esse chapeuzinho de sapo na madeira velha! Parece coisa de magia! A terra úmida solta seu perfume, que atinge suas narinas de repente e você automaticamente fecha os olhos para senti-lo melhor. E fechando os olhos, você começa a escutar sons que antes não estava escutando. E a brisa mais delicada entra em seus ouvidos, os cantos de passarinhos mais distantes, zumbidos, e até mesmo um bater de asas de borboleta. Você escuta o jardim, e nota que um jardim pode ser percebido de várias formas diferentes, não apenas através do olhar, mas do tato, do olfato e da audição.



E você se vê sendo invadido aos poucos por um sentimento quase religioso, uma paz de espírito imensa ali, entre o verde, enquanto se senta na grama macia e percebe entre as folhinhas da grama outras criaturinhas que moram por ali. E você pensa: “Como é possível que alguém seja infeliz nesse mundo? Por que há tantas coisas tristes e medonhas fora dos jardins?” A resposta vem em um relance: “Porque as pessoas focam naquilo que não devem. Se abrissem seus sentidos a qualquer jardim, por menor que ele fosse, com certeza o mundo seria bem mais bonito, muito mais alegre, e todos viveriam em paz.”



Você não precisa de dinheiro para sentar-se em um jardim. Nem precisa de muito tempo, ou de roupas ou sapatos especiais. Não precisa nem de companhia – aliás, eu aconselho que você faça isso sozinho, sem ninguém falando nos seus ouvidos, desfolhando problemas, reclamando ou se lamentando. Vá sozinho, procure o seu jardim, e ele nem precisa ser seu, não tem que estar na sua casa; pode ser um local público. Pode ser uma praça, ou a casa de um amigo ou conhecido.  Mas enquanto você estiver lá, ele será só seu. E você será só dele.



Olhe para um jardim, e ele olhará para você. Vocês dois estabelecerão uma conexão importante, privada, construindo em seu coração um lugar de paz e de relaxamento para onde você poderá ir sempre que quiser ou precisar. 



segunda-feira, 14 de outubro de 2019

O QUE SE FALA / O QUE SE ESCUTA

O que se Fala /  o Que Se Escuta



Era um site de moda praia no Instagram. Comecei a segui-lo porque achei os modelos de maiôs bem bonitos e diferentes dos que encontramos aqui fora, e como o verão está chegando, pensei na possibilidade de, mais tarde, adquirir algum modelo.
Grande enfado disso tudo...


Após algumas semanas, deparo com a fotografia de uma modelo plus-size (digo ‘plus-size’ porque, nos dias de hoje, se dissermos coisas como ‘gordinha’ ou ‘cheinha’, poderemos ser processados ou acusados de preconceito, embora o termo ‘plus-size’ signifique ‘tamanho grande’, ou seja, tamanho para pessoas acima do peso considerado padrão – grupo no qual eu mesma me incluo). O biquini que ela usava era extremamente pequeno para o tamanho dela, o que implicava que partes que geralmente permanecem cobertas, vazavam pelos lados da calcinha. A pergunta da postagem: “O que você acha deste modelo?” Meu comentário: ‘Acho que está pequeno demais para ela.’

Em nenhum momento fiz alusão ao fato do biquini ser bonito ou feio, ou a moça, gorda ou magra. O fato é que o biquini em questão era bem menor do que o corpo dela exigia. Eu só disse que o tamanho do biquini era inadequado ao tamanho da modelo.

Logo começaram a chegar as respostas ao meu comentário, vindas das feminazis de plantão: “Como assim??? Preconceituosa! Por um acaso ela pediu sua opinião sobre o corpo dela?” “E se ela quiser assim, o que você tem com isso?”

Detalhe: em nenhum momento eu dei opiniões sobre o corpo da moça, ou sobre o modelo do biquini, mas sobre o tamanho do mesmo. Mas hoje em dia, infelizmente, o analfabetismo funcional, aliado à má vontade, contribui para que as pessoas não consigam interpretar sequer um texto de uma única linha.

Precisamos tomar cuidado, pois a qualquer momento, alguém pode nos acusar de preconceituosos, racistas, fascistas, nazistas, apenas porque não concordam conosco ou não concordamos com eles.






quarta-feira, 9 de outubro de 2019

AGORA, QUE JÁ NÃO ESTÁS





Olho teu retrato e converso contigo sem usar palavras
Que às vezes eram pontes, noutras eram mágoas.
Falamos um com o outro por sobre o silêncio,
O vento carrega os sentidos e traz as respostas
Que me sopras, de onde estás, de onde és imenso.
E nos compreendemos, e nos olhamos sem julgamentos,
Pois vemos hoje a alma que o físico escondia...
E nunca em minha vida te falei por tanto tempo,
Ou por tanto tempo te ouvi, agora, que já não estás.

Às vezes a distância aproxima duas almas
Que quando estavam juntas, desviavam seus olhares.
Às vezes os amores que andavam adormecidos,
Navegam suavemente, descobrindo novos mares
Que os reaproximam, em ondas de perdão
Impulsionadas pela ausência da incompreensão.

A mim, o teu semblante nunca foi tão mais exato
Quanto nesse retrato que eu projeto na memória,
Apago e reescrevo novamente as mesmas linhas
Que antes rabiscava, manchando a nossa história.
Tu hoje és o mesmo, só que mais verdadeiro,
E eu hoje finalmente posso pedir teu perdão
Por todas as palavras que eu te disse, sem razão,
Sabendo que me ouves no teu sono derradeiro
Agora, que já não estás.


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Para a Recantista

Sandra Rosa



OS DOIS CAMINHOS







Para mim, existem apenas dois caminhos na vida, e todos nós nos revezamos entre eles várias vezes em uma vida; frequentemente, em um só dia percorremos ambos algumas vezes. São estes os caminhos: o caminho que segue para cima e o caminho que segue para baixo. E nessa jornada, cruzamos com outras pessoas que estão subindo ou descendo.

Quando seguimos o caminho que nos leva para cima, as coisas vão muito bem. Estamos bem de saúde, a vida amorosa está fluindo, os negócios estão progredindo e estamos em paz conosco e com todos – ou com a maioria das pessoas.

Quando seguimos para baixo, é porque alguma coisa vai mal: estamos doentes, ou sem trabalho, insatisfeitos no amor ou nos relacionamentos familiares. É muito difícil estar apenas subindo ou descendo em todos os aspectos, e por isso, quando estivermos indo mal em alguma coisa, temos que focar naquilo no qual estamos indo bem e que nos leva para cima, ou seja, para o melhor de nós. Assim não nos sentiremos tristes ou desesperados. E tem sempre alguma coisa que está indo bem, a gente é que não quer enxergar e tende a focar apenas no que vai mal. Devemos lembrar sempre de agradecer, pois a vida não tem piedade dos ingratos.

Mas eu penso que a coisa mais difícil a se fazer, é estar no caminho que segue para cima. Porque quando estamos nesta posição, tendemos a julgar os que estão no caminho contrário. É nestes momentos que passamos por alguém que está descendo e pensamos (ou pior, dizemos): “É a Lei do Retorno.” Quando fazemos tais observações, nos esquecemos de que também já estivemos ali naquela descida, e que voltaremos a estar.

Creio fortemente, tenho plena convicção de que Deus não é um Ser julgador que fica ali na beira desses caminhos, ajudando os que acertam e condenando ou zombando dos que erram. Sinto Deus como uma ENERGIA de amor que não interfere nos acontecimentos, como gostamos de acreditar, pois isso seria o mesmo que uma mãe ou pai que faz o dever de casa do filho.  Deus não manda nada de ruim para ninguém e também não manda nada de bom de graça, pois essa Energia não tem preferidos. Ninguém aqui é queridinho de Deus. Ele deixa que aprendamos segundo a nossa dedicação e capacidade. Leva mais tempo para uns e menos tempo para outros.

Por isso eu também acredito que essa coisa de ajudar demais acaba atrapalhando. Quando eu me ofereço para carregar o fardo do outro, ajudá-lo em um momento de necessidade, isso não quer dizer que eu tenho que fazer o que ele mesmo deveria estar fazendo. Ele tem sua escolha. Quem trabalha mais, naturalmente terá mais bônus, e quem ficar só olhando enquanto os outros se dedicam não sairá do lugar e passará a vida só reclamando e se fazendo de vítima. Ajudar as pessoas desse segundo grupo é complicado. Mas isso não significa que eles mereçam que a gente fique apontando-os e criticando-os como se fôssemos os donos da verdade. Melhor deixar com que eles vivam suas vidas como quiserem – desde que não tentem interferir na nossa ou se dependurarem em nossos ombros, pois não temos obrigação nenhuma de sustentá-los.

Nas duas últimas semanas eu estive no caminho que desce durante algum tempo. Primeiro, eu comecei a ficar muito chateada por não poder trabalhar, dar minhas aulas, que para mim, são sagradas. Comecei a ficar emburrada porque além de estar me sentindo mal, não podia cuidar da casa como sempre. Mas então eu pensei: se não pode com eles, junte-se a eles! Daí peguei meu controle remoto, minha lista de filmes e meu Kindle. Se eu não podia trabalhar, ou sair, então eu ia me divertir! E foi isso que eu fiz: aproveitei. Li, vi meus filmes e dormi muito.

Hoje estou bem – graças a Dona Cortisona. Apelei para ela após um episódio de filme de terror com efeitos colaterais e nada especiais de antibióticos e anti-inflamatórios. Tive até coisa que nunca tivera antes: alucinações. Náusea fortíssima, ansiedade, fraqueza muscular, tontura, sensação de desmaio, ou seja: caramba.  Nunca mais tomo essas porcarias.

E após tantos dias sem conseguir falar direito, estou falando pelos cotovelos – coitado de quem chega perto de mim ou dos meus blogs.

De volta ao caminho da subida, cito o personagem de  Arnold Schwarzenegger no lendário filme Exterminador do Futuro: “I’m Back!”



sexta-feira, 4 de outubro de 2019

TUDO BEM








Dois dias de aulas desmarcadas e repouso. A gripe me pegou, e estacionou em minha garganta, me impedindo de dar minhas aulas. Hoje eu estou voltando devagar. Está tudo bem.


Mas sou daquelas que pensa que todos os momentos da vida devem ser aproveitados, até mesmo os piores. Febril e com a garganta ardendo, pude colocar em dia a minha lista de filmes a serem assistidos. Foram horas intermináveis deitada no sofá do quarto, conhecendo personagens e entrando nas histórias a fim de disfarçar a realidade do momento, que estava bastante dolorida. E o filme de ontem à tarde foi uma história baseada em fatos reais.


É claro que eu não me recordo do título, mas a história fala sobre duas meninas adolescentes que o destino infelizmente uniu. Uma delas é linda e talentosa, uma bailarina. Tem uma família amorosa, muitos amigos e um namorado lindo e apaixonado. A segunda menina é desajustada, está acima do peso, não é bonita e sofre de depressão e eplepsia; seus pais acabaram de se separar, e ela ouve uma conversa da mãe com uma amiga na qual ela diz que o pai foi embora porque já não conseguia aguentar a menina.


Um dia, a menina feia olha pela janela e vê sua linda vizinha bailarina dançando para a família. Ela fica fascinada, e passa a elaborar um plano para transformar-se nela. É claro que isso significa que a outra deve morrer. Assim, ela dá asas à sua imaginação invejosa e passa a elaborar um plano macabro para acabar com a outra. Infelizmente, ela é bem sucedida.


O filme termina com a menina bonita sendo sepultada entre as lágrimas da família, e a menina feia indo parar em um manicômio. Dá um nó na garganta saber que o filme foi baseado em fatos reais, em coisas que realmente aconteceram. A inveja e uma coisa perigosa, embora a maioria das pessoas prefira achar que é apenas um sentimento ruim sem maiores consequências.


A inveja é a causadora de todas as tragédias, pois ela está unida a sentimentos como ciúmes, mentiras, competição e possessividade. De todos os males liberados pela caixa de Pandora, com certeza este é o pior de todos.


A inveja está naquele olhar que nos examina enquanto estamos distraídos e derrama-se sobre nossas roupas. Ela especula sobre nossas vidas, quer buscar informações sobre nossas posses, onde moramos, onde trabalhamos, quanto ganhamos. Ela também está nas redes sociais, nas fotos compartilhadas que são observadas compulsivamente por pessoas que dedicam horas a tais atividades. A inveja está na mulher mal-amada que cobiça o marido de outra. 


Em todas as situações conflituosas entre as pessoas, ela estará lá: a Dona Inveja, sentada à cabeceira daquele que espalha tragédias e maledicências, ditando regras e estabelecendo atitudes maldosas. E ela não sossega enquanto não ver destruidos os seus alvos, ou enquanto não for detida através de atitudes de confrontamento e exposição.

Porque o mal cresce e prospera no silêncio. A partir do momento em que alguém acende a luz, expondo a sua feiúra, ele age como os vampiros ao sol:seca e dissolve-se em si mesmo. 

Pena que as meninas bonitas às vezes confiam demais nas meninas feias - e eu não falo aqui de beleza física.







Parceiros

Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...