witch lady

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sexta-feira, 13 de abril de 2012

JANELAS







Deixo abertas as janelas
Para entrar a luz do sol
E o vento, que varre para longe
Energias malfazejas...

Deixo abertas as cortinas,
Para entrar a claridade,
Borboletas, Joaninhas,
Um odor de Margarida...

Da janela, vejo a moça
Que tem algas nos cabelos,
E uma outra, elegante,
Que passa, e derrama poemas...

Vejo a moça de Brasília,
E de longe, uma que guarda
O amanhecer no nome.
Assim, elas passam, em cenas,
Derramando seus poemas...

Deixo abertas as janelas
Para ver e para ser vista
Por aqueles a quem amo
E que me amam também.



LAMPEDUSA






Cruzamos o mar, em busca da vida
E a vida arriscamos tentando viver
Mas ninguém nos quis, aqui, em Lampedusa...

Chegamos à ilha cheios de esperança,
Trouxemos famílias, trouxemos crianças,
Mas fomos lançados de volta ao mar...

E assim te deixamos, adeus, Lampedusa!
De volta ao destino, seremos lançados
E pereceremos em breve, entre os braços
Da guerra cruel, a Terrível Medusa!



ÁGUA









Água boa, de mina

Limpa, cristalina

Que desce, em sussurros

Por entre as pedras

Lá na mata,

Sobre o limo,

Entre as folhas,

Sob as asas...




Água cheia de vida,

Gotas cheias de luz

Que cintilam ao sol

E refletem o céu,

E se jogam

Por inteiro

Nas cascatas...




Água purificada

Onde moram Ondinas

Sereias e Iaras

E botos rosados

Peixes falantes

De corpo nacarado

Que atraem

E afogam

Meus olhares...




Água, vem pelos canos,

Cai na minha torneira,

Encha copos e cântaros,

E escorra no alpendre

De minha casa,

No telhado

De duas águas...



Trazendo os Bichos Para Fora





Quem me conhece, sabe o quanto eu adoro escrever... se pudesse, passaria a maior parte do meu tempo me dedicando a esta atividade! Acho divertido, além de espiritualmente enriquecedor, pois quantas coisas descobri sobre mim mesma através da minha própria escrita!...



Mas tanto quanto eu gosto de escrever, eu gosto de ler. Saber o que as outras pessoas pensam, quais as suas opiniões e experiências de vida, pois a gente também aprende muito assim. Ler, para mim, significa entrar na mente de outras pessoas, e olhar o mundo através dos olhos dela. Mesmo que eu não concorde com seus pontos de vista, é bom trocar idéias. E é isto o que fazemos ao ler e escrever: trocamos idéias. Aprendemos e ensinamos. Concordamos e discordamos, e muitas vezes, mudamos de idéia. Passamos a pensar diferente.



Jamais quero colocar um ponto final nas minhas idéias e crenças. Desejo estar sempre aberta ao novo, e sempre disposta às mudanças. Não quero estagnar: quero entender! Quero aprender a ser inteligente o suficiente para dizer: "Eu estou errada," quando for o caso. E nem sempre é fácil. Mas escrever me ajuda bastante.




As religiões sempre falam na importância de perdoar e amar aos inimigos, mas o que eu acho que ninguém entendeu até agora, é que o maior inimigo que nós temos, o que mais precisa de perdão e compreensão,somos nós mesmos! Há certas partes em nós que negamos e tentamos sufocar, partes que talvez não sejam tão 'politicamente corretas' ou que não seguem aquilo que os outros determinaram como O Certo. Temos que desmistificar o medo que temos de trazer estas coisas para fora. Faço isso quando escrevo. Por isso, tenho alguns poemas que podem ser considerados bastante negros... e alguns deles falam de mim mesma.



Uma vez, ouvindo um sermão de um religioso, fiquei pasma ao ouví-lo dizer o quanto é necessário que sufoquemos o mal dentro de nós, fazendo todo o possível para deixar apenas o Bem vir à superfície, e que a única maneira de fazer isto, seria seguir a religião dele. Ora, tudo o que sufocamos, um dia fica tão acumulado, que explode! Daí, as grandes catástrofes emocionais, como depressão, ataques de raiva e até assassinatos. O mal tem que ser aceito, entendido, educado.



Também por isso, eu escrevo.

quinta-feira, 12 de abril de 2012

TRISTEZA












Uma alma triste, um pesar, no peito




Ao cozer, sorrindo, o farnel do dia...




A cabeça, à mil, preparando um jeito




De tentar sorrir, viver, desamar...




Uma triste alma, a almoçar sozinha,




A jantar sozinha, a dormir sozinha,




Com tempo de sobra para chorar...










Ah, que pena eu tenho do seu penar!




Pois a alma triste só quer um jeito




De ter para si o que não terá!...










Pois a vida passa, o momento passa,




Vão-se todos, e ela, lá na cozinha,




A comer sozinha, a chorar sozinha...

CARTA SOB O VASO








Quando era pequena, escrevia cartas para si mesma e colocava-as dentro de um saco plástico, sob um grande vaso que ficava na varanda de sua casa. Era um tanto difícil, para ela, levantá-lo, pois tratava-se de um vaso pesado. Plantado nele, uma miniatura de Ficus, as raízes atrofiadas tornando-o uma árvore anã. Bem, como era difícil erguer o vaso, juntava as cartas (escrevia uma por semana) e colocava-as sob o vaso apenas no final de cada mês. Aos poucos, a menina foi crescendo, e abandonando seu ritual de infância. O tempo passou, ela casou-se e mudou-se para uma nova casa. Mas o vaso ali permaneceu, na casa dos pais, até que eles faleceram e ela tornou-se herdeira da velha casa. E foi andando por ali, cheia de lembranças, que de repente ela recordou-se de suas cartas. Ergueu o vaso, coração aos pulos, sem saber se ainda estariam lá... mas... sob o vaso, apenas os ladrilhos umedecidos. Para onde teriam ido suas cartas? Para onde tinham sido levadas, e por quem ? Nunca mais soube delas, assim como também nunca mais teria de volta os momentos que vivera naquela casa.



Dias de Vento









DIAS DE VENTO

Libra é um signo do ar. Eu sou de libra, portanto, amo o vento. Gosto de sentar-me no jardim em dias de vento e conversar com ele, que me responde através dos sons de meus sinos de vento.
Ontem - terça feira - foi meu dia de faxina. Enquanto varria, aspirava, tirava o pó e esfregava, abri todas as janelas e portas da casa e pedi ao vento que me ajudasse. Eu limpava a sujeira física, e ele percorria os cantos, sacudindo as cortinas e banindo energias negativas acumuladas, ocasionais espíritos das trevas e maus pensamentos. 
Pus cobertores, almofadas, edredons e travesseiros ao sol, na varanda, e o vento sacudiu-lhes a poeira e os prováveis ácaros.
Ele passava assoviando, levando consigo para bem longe todas as impurezas. Eu cantava, e ele respondia. Ficamos nessa pareceria por toda a tarde. 
Quando finalmente terminamos, acendi alguns incensos pela casa e pelo jardim, e ele soprou o cheiro pelos quatro cantos, ajudando a perfurmar tudo e acalmar as energias. 
Agradeci ao vento pela grande ajuda, enquanto ia fechando as portas e janelas, cerrando algumas cortinas e chamando São Jorge e meu Anjo Guardião para que Eles reenergizassem a casa toda.
O sol já ia se despedindo, e dentro da casa limpa e refrescada, paz e silêncio. Tomei uma chuveirada bem quente, coloquei uma roupa limpa e agradeci a todos os meus ajudantes.
Em resposta, o vento assoviou de leve pela greta da janela.



CAMPAINHAS






Campainhas anunciam chegadas, e por isso mesmo, jamais devem ter um som irritante. Adoro aquelas que fazem ‘dlim-dlon’ como os sinos, e que soam suavemente pela casa. Bem, a minha não é assim, pois tenho um moderno interfone, cujo som é bastante chatinho. Mas um dia, ainda vou ter uma campainha que faça ‘dlim-dlon!”


No apartamento onde morávamos quando me casei, a campainha era estilo ‘cigarra’, e o som me assustava toda vez que alguém apertava o maldito botão! O som era como de um sapo rouco amplificado. Meu sogro tinha a mania de pendurar-se na campainha, tocando-a prolongadamente várias vezes antes que eu abrisse a porta. Ah, como eu ficava furiosa! E ele parecia saber disso.


Em uma das casas que morei, havia uma campainha que fazia ‘dlin-dlon.’ Adorava quando ela tocava, e ia abrir a porta bem-humorada. O problema, é que naquela rua passavam muitas crianças... e as danadinhas adoravam , como meu sogro, pendurar-se na campainha! Até aí, nada demais, se fosse apenas irritante; o maior problema, é que a campainha vivia entrando em curto, pois quando este tipo de campainha não é soado através de um breve toque, ou seja, quando a criatura que está tocando a campainha enfia o dedo e fica apertando toda vida, ela entra em curto. É uma campainha feita para pessoas educadas.


Um dia, o curto circuito foi tão grande, que quase colocou fogo na casa! Começou a soltar faíscas, explodiu, o fogo acendeu e a caixa da campainha caiu no chão da cozinha, em chamas. Sorte é que tinha um rapaz trabalhando em minha casa, e ele conseguiu apagar o fogo antes que virasse um incêndio, e desligou a luz geral. Depois daquilo, mandei tirar a campainha, pois fiquei pensando no que teria acontecido se um daqueles pequenos demônios tivesse tocado a campainha em uma hora que ninguém estivesse em casa.

Gostaria de ter uma campainha que fizesse ‘dlin-dlon.’ Mas acho que o mundo ainda não está preparado para elas.


BLOGUEIRA, SEM BOBEIRA.










Estou praticamente 'inaugurando' minha existência como blogueira. Vim de um lugar enoooorme, um site de escritores onde os acessos diários a cada texto podiam chegar a mais de duzentos, dependendo do escritor... para mim, uma simples Joana-ninguém, isso é muito. Às vezes, os meus textos chegavam a atingir cento e tantas leituras em poucos dias. Eu tinha textos por lá, mais antigos, com mais de duas mil leituras.

Mas por aqui eu tenho sentido que, apesar de receber menos visitas, as pessoas que acessam meus textos, por incrível que pareça... os leem! Muitas vezes, lá de onde eu vim, eu recebia alguns comentários que não tinham o menor sentido... apenas para que eu fosse até eles e os comentasse também. Todo mundo que escreve gosta de ser lido, e não há nada de ruim nisso! Mas postar um comentário do tipo 'Linda poesia-visite-me' em uma crônica... cáspite! Havia muita disputa por número de leituras, muita intriga... como se alguém fosse receber algum prêmio por ser mais lido.

Havia muitas pessoas maravilhosas lá dentro, e algumas delas continuam lendo-me aqui no blog, e eu sempre as visito. Visito também as que não me visitam por aqui, pois gosto realmente do que elas escrevem. A diferença de postar lá e aqui, é que lá, o número de leituras e comentários era bem maior, e os textos estavam logo ali. Vir a um blog para ler e comentar, se você não é blogueiro, não é muito fácil. Mas aqui é bem mais silencioso, e eu estou gostando muito também. E eu sinto que posso escolher as pessoas que eu gosto de ler com mais critério: tenho minha lista de leituras. Lá, o universo de escritores é tão grande, que a gente acaba se perdendo uns dos outros, algumas vezes. É como se lá fosse New York, e aqui, uma cidadezinha de Minas. Ambas com suas vantagens e desvantagens.

Ontem eu visitei um blog popularíssimo, e muito legal, o da Fal Azevedo, que escreveu o livro "Sonhei que a Neve Fervia." Ela é blogueira há um tempão. Tem postagens com centenas de comentários... mas não é muito fácil alcançar tantas leituras assim em um blog. Mas querem saber? Descobri que nem estou ligando... aqui, eu me sinto menos ansiosa.

Bem, essa minha vida de blogueira está muito divertida! Se um dia eu resolver voltar lá para o site New York, voltarei bem mais leve. Mantendo sempre, é claro, a minha casa de campo na cidadezinha agradável de Minas. Ou talvez a casa para passar temporada seja lá, e aqui acabe virando minha residência fixa.



ABUTRES






As gaivotas cercam os barcos de pesca,
Fazendo festa,
Enquanto aguardam uma refeição.

Mas muitas preferem o mergulho no mar,
Mirando seus objetivos,
Que nadam sob o brilho das ondas.

Mas os abutres, os pobres...
Estes, ficam na areia,
Torcendo para que algo podre
Lhes seja atirado,
Ansiando pelo que sobra das gaivotas
Ou que elas caiam mortas
Sob seus pontiagudos bicos.

Não sabem nadar, 
E seu voar é sem brilho,
Manchas negras contra o céu...

Os abutres
Sempre regojizam-se
Quando uma gaivota morre.




quarta-feira, 11 de abril de 2012

MEDO DE ESCURO





Ela tinha medo de escuro.

A escuridão pegou-a de surpresa, durante uma tempestade, em uma noite na qual o marido estava fora, em viagem. Ali onde morava, a escuridão era total. De repente, após um trovão, enquanto ela se encaminhava para a cozinha a fim de separar velas, fósforos e candelabros - já prevendo o que aconteceria - a luz acabou. E ela viu-se no meio do corredor negro, no meio da escuridão negra. Lá fora, a chuva torrencial.

Por um instante, ela não pensou em nada, sentindo o pânico que rastejava sinuosamente pelo chão, em direção às suas pernas, para subir por elas e agarrá-la totalmente. O coração dava pulos dentro do peito, querendo sair pela garganta, e ela não conseguia mover-se. Um relâmpago clareou tudo por alguns segundos, e ela deu alguns passos em direção à cozinha, aproveitando a breve claridade.

A chuva fustigava as vidraças. O vento, maldoso, assoviava pelas frestas. Vieram-lhe à mente cenas dos filmes de terror que assistira quando era criança. Disse a si mesma: "Você é uma mulher feita, não há nada na escuridão, apenas o seu medo." Assim, braços estendidos à frente do corpo, conseguiu chegar à cozinha às apalpadelas. E apalpando, abriu o armário. Derrubou algumas caixas de chá até tocar a caixa de fósforos . Também deixou cair a lembrancinha que trouxera da festa de casamento que fora na semana passada, antes de alcançar as velas.

Mãos ainda trêmulas, acendeu um fósforo e localizou o candelabro sobre a geladeira. Dali em diante, pensava, deixaria os três - candelabro, velas e fósforos - sempre ao alcance das mãos. Acendeu a vela, e quando ia virar-se para voltar à sala, onde estava antes, sentiu uma presença muito forte atrás de si. Parou, com o candelabro na mão, sem conseguir virar-se para trás. Um trovão ribombou, fazendo o chão tremer e os copos chacoalharem na cristaleira. Ela fechou os olhos, sentindo o medo voltar. Podia sentir alguma coisa atrás dela, que de vez em quando, tocava seu cabelo.

De nada adiantaria gritar, pois o vizinho mais próximo estava a mais de cinquenta metros, e com aquele temporal, ninguém a ouviria. Decidiu que se ficasse imóvel, aquilo - seja lá o que fosse - iria embora. Fechou os olhos. Um vento que entrou pela fresta aberta do basculante da cozinha apagou a vela. Ela se sentia dentro de um filme de terror, vivendo seu maior pesadelo. Achava que não sobreviveria àquela noite. Começou a rezar, logo ela, que não tinha fé. Prometeu que, se ela conseguisse sobreviver, tornar-se-ia uma católica devota.

Milagrosamente, a chuva começou a diminuir. A luz voltou, piscou algumas vezes e depois estabilizou-se. Ela sentiu os músculos retesados irem se afrouxando aos poucos, e suspirou, aliviada. Ao olhar para trás, deparou com a enorme borboleta Monarca pousada na parede.

Esqueceu-se de todas as suas promessas de fé e dedicação eternas.



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