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sexta-feira, 17 de junho de 2016

PALAVRA DADA


Bonito é manter pontes e caminhos sempre desobstruídos, pois a gente nunca sabe quando precisará passar por eles novamente.





Quando eu era pequena, meu pai mantinha uma conta aberta em uma vendinha lá perto de casa, que pertencia ao Sr. Manuel, um Português, e sua esposa Dulce. Funcionava assim: Sr. Manuel tinha um caderninho onde ele anotava as coisas que as pessoas tinham comprado, e os valores. No final do mês, os clientes pagavam as contas, quitando-as ou deixando um saldo para o mês seguinte. Ninguém assinava papel nenhum: o que valia, era a palavra. Era raro alguém que não pagasse o que devia, e assim, o Sr. Manuel mantinha seus clientes e os clientes do Sr. Manuel contavam com o crédito que tinham com ele quando precisavam.

Quando meu avô morreu, minha mãe herdou um terreno que precisou vender, mas o inventário demoraria muito, e então ela o vendeu na base da palavra. A pessoa que comprou assinou os documentos, que na verdade, não tinham valor legal, e acredito que esteja por lá até hoje, se não passou o terreno adiante. Hoje em dia, quem faz uma negociação dessas está correndo sérios riscos de ficar sem dinheiro e sem propriedade.

Era bonito, quando a palavra tinha valor; palavra dada era palavra cumprida, e ninguém discutia depois. O que era acordado através de uma conversa, era cumprido, nem que aparecesse um negócio melhor: alguém combinava de esperar até a outra pessoa conseguir juntar dinheiro suficiente para comprar um carro, e se outro alguém aparecesse com a quantia toda de repente, à vista, o carro não seria vendido, a não ser à pessoa a quem o carro havia sido prometido. 

Hoje, as pessoas não cumprem nem o que está no papel; não temem processos, não temem nada. A palavra  é apenas alguma coisa usada em uma negociação, dada temporariamente enquanto for interessante para ambas as partes, mas na primeira oportunidade, quando uma das partes se vê na necessidade de cumpri-la, ela é descumprida sem a menor cerimônia e sem o menor constrangimento. Depois, a pessoa volta de cara lavada, achando que pode começar tudo de novo nos mesmos termos, e nem percebe que foi desonesta – deu a sua palavra e não cumpriu. 

Sou do tempo em que palavra dada era palavra cumprida, e que acordos eram selados através da honradez de cada uma das partes envolvidas. Morro de medo ao pensar nas gerações futuras, no que será delas, que não aprenderam a primar pela honestidade e pelo cumprimento da palavra. Hoje em dia, doa-se um rim, mas se precisarmos de uma gota de sangue que seja do receptor que recebeu nosso rim, ele olhará para o outro lado e fará cara de paisagem. Lamento muito pessoas que agem desta forma, pois a vida fecha suas portas a quem fecha seus corações.





quinta-feira, 16 de junho de 2016

FRIO...

A ilustração nada tem a ver com o texto, mas achei bonita...





Eu olho para fora; é cedinho, antes das seis. A paisagem está toda coberta por uma camada densa - e ao mesmo tempo, suave - de branco. Neblina. Frio. As folhas do cipreste gotejam. Na varanda, o termômetro marca cinco graus. Muitos detestam. Eu, adoro!

Trabalhar é mais fácil, pois não fico cansada e não suo. Detesto suar. Detesto tomar um banho e estar coberta de suor dez minutos após vestir a roupa. No inverno, fico cheirosa e limpa o dia todo. Durmo bem, faço minhas caminhadas com mais disposição e como muito bem, acompanhando a refeição com uma taça de vinho. Coisa boa!

Troco as capas coloridas das almofadas por outras mais felpudas, quentinhas e de cores mais neutras. Coloco os cobertores e mantas ao sol, e depois os deixo sobre os pufes, camas e poltronas. Coloco os agasalhos para arejar, e tiro meus cachecóis e lenços das gavetas, usando um diferente a cada dia. Amo!

Hoje eu acho que vou fazer meu chocolate quente. Um de meus alunos (e amigo), o Marcelo, adora quando eu faço. Eu uso bastante chocolate em pó meio-amargo, uma lata de leite condensado, duas de leite em pó diluido em água, uma de creme de leite (que coloco depois que o chocolate está pronto, e baixo o fogo para só aquecer). Segredinho: duas colheres de sopa de pó para flan sabor chocolate, acrescentadas junto com o chocolate em pó, que deixa o tudo mais cremosinho...


No meio da tarde, entre as aulas, tomo a minha xícara de chá verde bem quentinho. Adoro o inverno, e olha que ele ainda nem chegou de verdade... estamos no outono ainda. Deixo para escancarar as janelas entre o meio-dia e as três da tarde, fechando tudo depois para que a casa fique aquecida. Nos finais de semana, acendemos a lareira. Bom demais.




quarta-feira, 15 de junho de 2016

Rolinhas


PASSAR












Passar de leve, passar,
Pois a vida é só um sopro,
Uma janela entreaberta,
Incerta coreografia
De uma dança sem ensaios...

Passar de leve, passar,
Pois a vida é como um raio,
Repentina, intensa, breve,
Leve como a pluma solta,
E chegamos sem escolta
-Breve vida, vida louca!

Passar de leve, passar,
Pois que nada levaremos,
E também nada trouxemos,
A não ser páginas brancas
Que aos poucos, vão manchando
De chorar e de amar...

Passar de leve, passar,
Sem fazer muito barulho,
Como fazem os marulhos
Do imenso, denso mar,
Que se ergue sobre ondas
Que se acabam nas areias
Voltando a se desmanchar...








terça-feira, 14 de junho de 2016

Viver é Muito Perigoso...







Trechinhos de Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa











"Ah, a mocidade da gente reverte em pé o impossível de qualquer coisa!"







"Desespero quieto às vezes é o melhor remédio que há. Que alarga o mundo e põe a criatura solta. Medo agarra a gente é pelo enraizado."






"Acho que o que não deixa é a minha boa memória. A luzinha dos santos arrependidos se acende é no escuro."







"A lembrança da vida da gente se guarda em trechos diversos, cada um com seu signo e sentimento, uns com os outros acho que nem não misturam. Contar seguido, alinhavado, só mesmo sendo as coisas de rasa importância. De cada vivimento que eu real tive, de alegria forte ou pesar, cada vez daquela hoje vejo que eu era como se fosse diferente pessoa. Sucedido desgovernado. Assim eu acho, assim é que eu conto."








"Ah, medo tenho não é de ver morte, mas de ver nascimento. Medo mistério. O senhor não vê? O que não é Deus, é estado do demônio. Deus existe mesmo quando não há . Mas o demônio não precisa existir para haver - a gente sabendo que ele não existe, aí é que ele toma conta de tudo. O inferno é um sem-fim que nem não se pode ver. Mas a gente quer céu porque quer um fim: mas um fim com depois dele a gente tudo vendo. Se eu estou falando às flautas, o senhor me corte. Meu modo é este. Nasci para não ter homem igual em meus gostos. O que eu invejo é a sua instrução do senhor..."








"Moço: toda saudade é uma espécie de velhice."






"Riobaldo, a colheita é comum, mas o capinar é sozinho..."






"Viver é muito perigoso... Querer o bem com demais força, de incerto jeito, pode já estar sendo se querendo o mal, por principiar. Esses homens! Todos puxavam o mundo para si, para o concertar consertado. Mas cada um só vê e entende as coisas dum seu modo."






"Explico ao senhor: o diabo vige dentro do homem, os crespos do homem - ou é o homem arruinado, ou o homem dos avessos. Solto, por si só, não tem diabo. Nenhum!"















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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...