witch lady

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quinta-feira, 9 de junho de 2016

O Peso dos Anos






Eu hoje acordei 
Com um peso estranho 
Por cima dos ombros.

Olhei-me no espelho,
E em cada marca,
Havia cem anos.

Os olhos não viam
O que sempre viram,
Mas viam paisagens
Que eu nunca toquei
Na estrada das rugas
Por onde eu segui
Depois que acordei.

Eu hoje pensei,
Lembrei-me de coisas
Que eu tenho perdido:

Presenças ausentes,
Das quais abri mão
Tentando um sentido.

A boca não disse,
Não houve palavras
Minha voz já cansada
De não ser ouvida.
-Ah, coisas da vida!
Depus o meu fardo
E dele me aparto...









Morei Aqui

Eu amava a arquitetura desta casa, que foi construída no início dos anos 50. Infelizmente, os novos proprietários a modificaram e descaracterizaram completamente. Subiram um outro andar, acabaram com os tijolinhos e com a varanda. Hoje, ela é uma casa totalmente diferente; perdeu seu estilo.

Mexendo em gavetas, encontrei algumas fotos antigas e resgatei um pouco da minha história. 

Eu já morei nesta casa. Foi sete anos após termos nos casado. Esta foi a primeira casa que compramos, e que eu pude, finalmente, chamar de minha. Moramos nela durante sete anos, fomos felizes e infelizes, tivemos momentos ótimos e outros nem tanto... ela tornou-se uma parte importante da minha vida. 

Nunca me esquecerei do primeiro dia, a primeira manhã que despertei nela: estava frio, e quando abri os olhos, mal pude acreditar que estava acordada; parecia um sonho! Enquanto meu marido dormia, eu me levantei, fui preparar o café e comecei a andar pela casa - ainda havia caixas cheias de objetos na sala de jantar - e no silêncio daquela manhã, tomei posse da casa pela primeira vez. Percorri cada cômodo, e o cheiro de café misturado ao cheiro do sinteco novo é algo de que nunca me esqueço. Foi um dos dias mais felizes para mim.



Este canteirinho ficava sob a casa, que tinha um espaço vazio por baixo da varanda. Criamos este canteiro para preenchê-lo.

Era uma casa peculiar: nos meses de maio, junho, julho e agôsto, até meados de setembro, ela não recebia sol no jardim, apenas no telhado. Era uma casa fria, e precisávamos espalhar muitos anti-mofo nos armários, que precisavam ser arejados todos os dias. Mas a partir de setembro, até meados de abril, era tanto sol, que às seis da tarde, a parede do nosso quarto, dentro de casa, estava iluminada por ele. 

O quintal dos fundos era bem pequeno - uma faixa de cimento - e tão privado, que alguém poderia tomar sol totalmente nu, sem o risco de ser visto. Confesso que fiz isto algumas vezes: ligava o aparelho de som, e lá ia eu, tomar sol.

Era uma casa prática, pois era toda térrea e muito fácil de limpar. A sala de estar era enorme e conjugada à sala de jantar, que também era muito grande. Tínhamos dois quartos: um pequeno e um grande, e o banheiro, que reformamos quando já estávamos morando, era um dos banheiros mais bonitos que eu já vi. Pena que não tive a ideia de fotografá-lo também! Era todo azul, e o piso era de azulejo quadriculado de piscina. Parecia que estávamos dentro de uma enorme piscina azul, e uma das paredes era toda espelhada. Nunca vi um banheiro mais bonito.

A cozinha não era lá grande coisa, mas conseguimos torná-la aconchegante. O maior problema da casa, eram as aranhas... passamos alguns anos lutando contra elas, até que, finalmente, pusemos telas nas janelas dos fundos, e elas diminuiram. Mas era um tal de encontrá-las sob toalhas, nas paredes, debaixo de sofás... e a cada vez, um grito. Eram enormes e peludas. Não sei como eu consegui ficar tanto tempo na casa. À noite, o ritual era sempre examinar o quarto e as cobertas, para checar se a 'costa estava limpa.'



Este quadradinho de jardim, onde plantei várias roseiras, ficava abaixo da casa, e tinha acesso por uma escadinha de ferro. Passei muitas horas felizes nele, cuidando das plantas, aparando roseiras e brincando com meu falecido Rottweiller, o Aleph.

Um dia, andando pela casa, tive a sensação de que me despedia dela... ainda nem estávamos pensando em ir embora, mas a sensação foi forte e inequívoca: um ano depois, encontramos esta casa onde hoje moramos, e começamos a negociá-la; foi difícil, mas após quase um ano, conseguimos chegar a um acordo. Dois anos e meio após aquela sensação de despedida, nós mudamos para cá.

Lembro-me que eu chorei muito ao voltar lá pela última vez, a fim de pegar alguns objetos e trancar a casa pela última vez. Foi como deixar uma parte de mim para sempre! Hoje, quando passo por lá e vejo o quanto a modificaram - na verdade, a obra ficou boa, mas não existe mais aquela casa dos anos 50 que adorei desde a primeira vez - fico feliz que eu tenha estas fotos.



quarta-feira, 8 de junho de 2016

ControVERSOS



Imagem: Google






Dizia, olhava,
- Claro que queria!
O olhar queimava,
A boca vermelha,
Cereja molhada
Guardando seu mel
Na língua que ardia.

Movia a cintura,
Dançava, girava,
Cabelos ao vento,
Suor gotejava,
Amargo sorriso,
O riso amargava.

Fingia não ver,
Enxergar não queria!
A noite aguardava
À borda do dia
Um sonho, em promessa
Ao fim da tal festa...
E então, provocava,
Vulcão explodia!

Deitou-se, lasciva,
Na cama mal-feita,
Lânguida, desfeita,
A pele brilhando,
A boca pedindo,
O corpo aguardando
As mãos convidando...

E então, disse: "NÃO!"
Quebrou a magia,
Zombou do desejo
De quem lhe queria,
Despiu-se do fogo
Que lhe encendiava,
E logo, rogava
A quem lhe forçava:

"Me deixa sair,
Me deixa ir embora!"
Mas era um incêndio
O que ela causara,
E a água foi pouca,
Nem mesmo apagou
O fogo da cara,
Quiçá, o da fome
Que não saciara!

E a boca vermelha
Tornou-se borrada,
Os olhos que ardiam
Morreram de dor...
O corpo brilhante
Fechou-se ao amor,
Mais nada sobrou:
-Alquebrada alma
Sem paz e sem calma,
Que desmoronou!

A infância roubada
Nas mesas dos bares,
A crua vileza
Nascida dos ventres
Da indiferença;
A falsa inocência
Que nunca existiu,
Não chegou a ser,
Já nasceu mulher,
Nunca foi criança,
Não teve limites,
Não soube a esperança.

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terça-feira, 7 de junho de 2016

A REALIDADE









A realidade, sem a fantasia,
É como uma lenda sem alegoria,
É um sonho torto numa noite insone
É sangue parado nas veias de um morto.

A realidade, pura e simplesmente,
É solo arenoso, estéril semente,
Viver doloroso, aquarela sem cor
Dor intermitente, vida sem sabor.

A realidade, sem a poesia,
É comida fria, sem tempero algum.
É um barco à deriva numa tempestade,
perfume sem cheiro, adeus sem saudade.

A realidade, sem imaginação,
É um vale sem eco, amor sem paixão,
Beco escuro e triste, estrada sem destino,
Presente sem futuro, bandeira sem hino.






sexta-feira, 3 de junho de 2016

Que Seja Assim







Que seja assim, tão bonito
Quanto a suavidade da folha
Que cai da árvore com o beijo do vento
E antes de pousar no chão definitivo, 
Vive o êxtase, doce momento,
Do seu  primeiro e último voo.

Que haja pássaros cantando lá fora,
E o pedaço de céu visto da janela
Seja azul-rosado, e azul cobalto
Quase assim, nacarado,
Bordado de nuvens esgarçadas e finas
Cortinas rendadas guardando o palco
Para o meu último adeus.

Que seja assim, a alma a voar livre
Pelos sisudos corredores rescendendo a éter,
Por onde caminham, cabisbaixas,
Pessoas amarguradas
Pela sua fé embotada,
Por tudo o que não percebem.

Que eu esteja calma, branda, leve,
Sem nada que me detenha
Ou me faça olhar para trás...
Que seja assim, finalmente,
Um desprender-se de repente
E um seguir livremente
Pelo caminho que se apresente
Por trás dos meus olhos fechados.









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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...