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terça-feira, 31 de maio de 2016

Querer











Entre o querer de Deus e o dos homens, pode haver longas distâncias. Faltam silêncios para encurtá-las.


Ana Bailune






sábado, 28 de maio de 2016

MULHERES MACHISTAS







Eu creio que o estupro seja uma das formas mais vis de violação da alma. Ele vai muito além da violação do corpo. Pode tornar-se um trauma que será carregado durante uma vida toda, transformando-se em sérios problemas psicológicos e pesadelos recorrentes. Eu penso que, se fosse possível obter uma fotografia da alma de alguém que foi estuprado – digo ‘alguém’ referindo-me também ao sexo masculino, pois todo mundo sabe que os homens também sofrem estupros – seria possível visualizar uma espécie de buraco escuro, fumegante nas bordas, bem no meio da alma do estuprado. E se olhássemos dentro da alma do estuprador, talvez descobríssemos que já quase não lhe resta uma alma. Uma pessoa que comete tal abuso não é dona de si, não pertence a si mesma: é dominada pelas forças do mal que se harmonizam com ela. Toda forma de estupro é mais que condenável, e deveria ser exemplarmente punida. 

Ontem, assistido à Globo News, não me surpreendeu o fato de ficar sabendo que a maioria dos estupros acontecem dentro da própria casa da vítima, perpetrado por alguém que ela não apenas conhece, mas em quem aprendeu a confiar. Muitas vezes, quando a vítima relata o calvário pelo qual está passando, a mãe – a própria mãe – manda que se cale, ou por não acreditar que possa ser verdade ou por não querer abrir mão do relacionamento, que proporciona-lhe um pouco mais de segurança financeira ou outro tipo do que ela considere vantagem pessoal. A vítima ainda é ameaçada de ser expulsa de casa, ou então a culpa é jogada sobre ela, enquanto o algoz é inocentado de qualquer responsabilidade. Este é um tipo de machismo feminino.

Após o caso da adolescente que sofreu estupro coletivo, muita indignação em forma de protestos tomou conta das ruas e das redes sociais, o que acho mais que necessário, pois coisas assim não deveriam acontecer jamais. Mas o fato, é que elas acontecem, e provavelmente, continuarão acontecendo. Ainda falta muito para que o nosso mundo, a nossa sociedade, possa ser considerado um lugar seguro e civilizado. 

Entre comentários e textos que me chamaram a atenção ontem, ao assistir o jornal da Globo News, havia alguns que ressaltavam o fato de que uma mulher pode usar o que bem entender aonde ela estiver. Eu não concordo com isso, mesmo que eu pense que deveria ser assim, pois a realidade em que vivemos não é esta. Uma adolescente vestindo uma saia curta e uma blusa justa e decotada, saltos altos e maquiagem pesada, vai a um baile funk em uma favela, e dança a noite toda rebolando até o chão com um total estranho. Bebe, usa drogas, comporta-se de maneira vulgar e acha que nada de ruim poderá acontecer a ela, pois ela não merece ser estuprada. 

Só que não. 

Algumas das pessoas que estão ali podem não pensar da mesma forma, e se eu tivesse uma filha, diria isto a ela. Jamais, em pleno uso da razão, eu deixaria que minha filha adolescente acreditasse que ela poderia vestir-se de qualquer forma e frequentar qualquer lugar; jamais eu diria a ela que, se seduzisse um homem e, após estar nua na cama dele, poderia dizer “não” sem correr riscos de ser estuprada, e que caso isto acontecesse, ela era uma vítima sem culpa nenhuma. Eu a aconselharia a jamais fazer tal coisa. Eu tentaria protege-la de uma sociedade machista, que não funciona da forma que eu gostaria, e sim da forma como ela é.

Daí, surge um outro tipo de machismo feminista: quem cria e educa os machistas e estupradores? Quem diz coisas como “Prenda suas cabritas, pois meu bode está solto?” Quem faz a menina lavar a louça do jantar enquanto o menino assiste futebol na sala com o pai? Quem se coloca contra as noras, defendendo o filhinho querido destas, como se elas fossem criaturas perigosas, vulgares e aproveitadoras, que só querem seduzir e dominar seus pimpolhos masculinos? Quem, ao encontrar uma amiga que não vê há algum tempo, murmura maldosamente: “Nossa, como ela envelheceu!” 

E ainda, quem desrespeita o relacionamento alheio, jogando-se de forma compulsiva e vulgar em cima de um homem que está acompanhado por outra mulher durante uma festa, ou insinua-se de todas as formas para um homem comprometido sem o menor respeito pela outra mulher que está com ele? Quem, senão outra mulher? 

É louvável que as mulheres lutem para conquistar seu espaço na sociedade, mas também é importante que antes elas matem o comportamento machista que existe dentro delas mesmas. As mulheres não respeitam umas às outras. As mulheres, muitas vezes, competem contra as outras mulheres, tentando humilhá-las e rebaixá-las. Raramente eu vejo esse tipo de comportamento entre os homens. 

De nada adianta fingir que o mundo é como a gente quer; ele é como é, e toda mudança real acontece devagar, e pode levar gerações para se estabelecer. Mas a maior das verdades, é que nenhuma mudança duradoura acontece de fora para dentro, e sim de dentro para fora. De nada adianta gritar e protestar se continuamos a nos comportar da mesma maneira. 

E as perguntas que geralmente são feitas às pessoas que são estupradas, e que sempre são condenadas sem a menor reflexão, deveriam ser levadas mais em consideração, tanto pelas vítimas quanto por seus responsáveis: 

-O que você estava vestindo?
-O que uma adolescente estava fazendo tarde da noite em uma rua escura?
-Quem são seus amigos?
-Você estava bêbada ou drogada?
-Onde está seu filho (a) até esta hora da noite? E com quem? Fazendo o quê? 

Estas perguntas não tem por intenção condenar a vítima, mas leva-la à reflexão, para que tais coisas não voltem a acontecer. O nosso comportamento pode sim, muitas vezes, influenciar naquilo que nos acontece. A nossa postura diante da vida e das outras pessoas pode nos colocar em dificuldades ou nos tirar delas, e deixar uma menina acreditar que ela pode frequentar os lugares que quiser, andar mal acompanhada e vestir o que bem entender, é mentir para ela e colocá-la em uma situação de alto risco. Nem todos os homens são cavalheiros, mas uma mulher não precisa se vestir e se comportar de maneira vulgar para provar que é liberada.






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