Se tem uma coisa que eu aprendi nessa vida, é que tudo passa. Não importa qual a situação que você esteja vivendo hoje, seja ela boa ou ruim, agradável ou desagradável, ela passa. Não significa, necessariamente, que se você é feliz hoje, será infeliz amanhã; mas que haverá percalços, obstáculos a serem superados, e se você souber como lidar com eles, eles não terão o poder de afetar você de maneira permanente; basta vivenciá-los, aprender com eles e esperar que eles passem, focando naquilo que há de positivo e agradável.
Há algum tempo, entre 2014 e 2015, nós sofríamos com a falta d'água aqui em Petrópolis. Após dois anos praticamente sem chuva, as minas d'água começaram a secar, e tivemos que passar por um longo período de racionamento. Eu estava no quintal em um domingo à tarde, descansando na minha cadeira, tentando aliviar-me do forte calor, quando de repente, a torneirinha do jardim - que é diretamente ligada à caixa d'água, que fica no sótão, e não possui um registro para ligar ou desligar a água caso haja um vazamento- estourou, e a água começou a descer pelo cano com grande pressão.
Eu entrei em pânico: Com um pedaço de pano, tentava conter a água que espirrava em jorros, esvaziando todo o nosso reservatório, enquanto meu marido, nervoso, pegava a escada para subir ao sótão e tentar desligar a água. Neste trajeto, devido à pressa, ele levou dois tombos e machucou-se bastante. Eu fiquei completamente encharcada, e tão nervosa, que após o problema ter sido controlado com a ajuda de um vizinho, eu comecei a tremer e me sentir muito mal. Tive uma dor de cabeça fortíssima, falta de ar e não conseguia ficar de pé; passei o resto do domingo deitada. Tudo porque eu me deixei envolver emocionalmente com o que estava acontecendo, ao invés de manter a calma e resolver o problema - ou aguardar até que ele fosse resolvido. Não me mantive centrada. Deixei o pessimismo me dominar.
De qualquer maneira, o problema foi resolvido; se tivéssemos ficado totalmente sem água - o que não foi o caso - haveria uma solução: chamar um carro-pipa. Eu não precisava ter ficado tão nervosa. Meu marido não precisava ter corrido feito um doido e levado dois tombos horrorosos. O pior sempre acontece quando perdemos o controle. Um dia que começou bem, no qual eu me sentia maravilhosa, terminou muito mal devido à nossa falta de controle emocional.
Passei por isso também quando minha mãe adoeceu; vê-la naquela cama de hospital, cheia de tubos entrando e saindo do seu corpo, me deixava desesperada. Parecia que aquilo nunca ia ter fim. Eu chegava no hospital cansada, desanimada, querendo fugir para longe dali, querendo que tudo aquilo acabasse. Ficava nervosa, mal-humorada, deixando que o medo e a impotência tomassem conta de mim. No fim, aconteceu o que tinha que acontecer. Depois, passou. Eu me recuperei, estou bem de novo, estou aqui. Se tivesse sido capaz de manter a calma, talvez tivesse sido mais fácil.
Hoje, vejo as pessoas que perderam seus empregos no Brasil, sem saber do que viverão, como pagarão suas contas. Elas perdem noites de sono, perdem o apetite, entram em depressão e acabam com sua saúde e vida familiar, porque perdem o controle emocional. Nas piores horas, não compreendem que essa crise não vai durar para sempre, que ela vai passar, as coisas vão voltar a se normalizar e elas conseguirão trabalho de novo. Enquanto isso, com certeza, elas podem contar com a ajuda de alguém, tentar um emprego inferior ao seu grau de formação, temporariamente, ou prestar algum serviço para sobreviver. Quem sabe, descubram um novo talento, e acabem nem querendo mais um emprego regular?
Há soluções. Mas o nervosismo e o pessimismo não deixa que vejamos com clareza. Acho que em momentos difíceis, devemos respirar fundo, tentar nos acalmar e pensar devagar: o que pode ser feito? Se nada puder ser feito, a não ser esperar, esperemos. Se nos concentrarmos com calma, uma solução - mesmo que temporária - acabará aparecendo.
Esta crise vai acabar, vai passar. Ninguém vai ficar desempregado para sempre, isso vai ter que passar! Enquanto isso, vamos tentar encarar esta crise como uma fase ruim, que teve começo, tem meio e terá fim.