Quando alguém ouve a notícia da morte de outra pessoa, geralmente diz: "Mas como? Estive com ele há apenas alguns dias!" Como se a morte esperasse, ou seguisse qualquer tipo de cronômetro determinado por nós: se estivemos com alguém há apenas alguns minutos, significa que esta pessoa não vai morrer tão cedo.
Mas a morte é a coisa mais inesperada da vida. Até mesmo quando sabemos que alguém está muito doente e que vai morrer em breve, nunca é fácil aceitar quando recebemos a notícia. Porque após uma morte, as possibilidades de milagres se dissolvem no éter: é o fim. Acabou.
Ao ler na internet sobre a morte de D. Marisa. Fiquei sabendo de coisas sobre a vida dela que eu não sabia: ela ficou viúva e grávida aos dezenove anos. Conheceu Lula quando estava tentando conseguir a pensão por viuvez. Os dois se casaram logo depois. Ela confeccionou a bandeira do PT, criando a tão famosa estrela, com cortes de tecido que tinha em casa. Fiquei sabendo de mais uma porção de coisas sobre ela.
Pensei : onde foi que a estrela deixou de brilhar? O que fez com que aqueles casal cheio de ideais e sonhos se desviasse do caminho? Será que aquela pessoa, que, há pouco tempo, se referia ao povo brasileiro de maneira tão deseducada e desprezível naquela ligação telefônica gravada, era a mesma moça que criou a bandeira do partido?
A alma humana é fraca e corrompível. Porém, acho que existe alguma coisa ruim na política que faz com que as pessoas que comecem a tomar parte nela, percam suas almas com muita rapidez. Elas se perdem delas mesmas e de seus sonhos e promessas. Acho que só quem for muito forte, e tiver uma estrutura muito boa, é capaz de resistir às enxurradas de proprinas que brotam do solo da política e se oferecem em cascatas tentadoras a quem quiser pegar. É só estender a mão. O preço, é que quem tocar nesse dinheiro, vende a alma ao diabo.
Lula está pagando o preço por esse negócio que ele fechou. Não gosto dele, não gostava de D. Marisa, assim como não gosto de Eike Batista, Renan Calheiros e muitos outros que estão nos afundando nesse imenso mar de lama. Não lamento pela morte física da ex-primeira dama, mas pela morte de sua alma, que aconteceu gradualmente, bem antes da morte física, pois antes, havia uma pessoa humilde que desejava mudar um país, e ela era cheia de sonhos.
Acho um absurdo que a mídia e os partidários de esquerda estejam tentando usar este fato da morte de Dona Marisa para culpar pessoas que nada tem a ver com isso. Já vomitam nas redes sociais que ela morreu por 'culpa dos coxinhas.' Que a culpa da morte dela é da 'mídia golpista' e das paneleiras. Que ela não aguentou a pressão de estar diante da possibilidade de ver a ela mesma e sua família inteira presa por crimes de corrupção, lavagem de dinheiro e outros. Bem, concordo com esta última afirmativa; talvez, para ela, a morte tenha sido um livramento.
Todo mundo já sabe que Dona Marisa não se cuidava bem; tinha pressão alta, um aneurisma que poderia explodir a qualquer momento e inclusive, já tinha sido avisada pelo médico desta possibilidade. Além disso, fumava demais e também consumia alimentos inadequados a alguém com o quadro dela. Mas acho que as pessoas às vezes se pensam imortais.
Não vou lamentar a morte dela; lamento sim, as centenas de milhares de outras mortes que acontecem diariamente em hospitais públicos, muitas vezes, sem que os pacientes sequer recebam atendimento médico. Tudo porque o dinheiro público é roubado descaradamente, por pessoas como ela e sua família, e também por pessoas públicas como Eike Batista. Jamais esquecerei o que ela disse que as donas de casa brasileiras - as paneleiras - deveriam fazer com suas panelas.
Ninguém tem culpa pela morte dela. Pessoas morrem todos os dias de diferentes maneiras, e um dia, a morte chegará também para você e para mim. Que possamos agir de forma a não deixar este planeta com tanto peso nas costas e no coração.