witch lady

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terça-feira, 31 de julho de 2012

Fé na Pedra - conto









Um dia, caminhando por um jardim público, em um momento no qual passava por uma imensa tristeza e muitas dificuldades, Julia vislumbrou através da nuvem de lágrimas que encobria seus olhos, alguma coisa que faiscava de brilho, no chão, alguns passos adiante. Secou as lágrimas com as costas da mão, e inclinando-se até o chão, pegou o objeto.

Era uma estranha pedra branco-azulada, com alguns veios dourados que mais pareciam estradas tão finas quanto fios de cabelo em seu interior. O mais incrível, é que ela tinha a forma perfeita de uma pirâmide.

Julia tinha lido, há algum tempo, que pirâmides eram objetos que continham muito poder e magia, e considerou seu achado como um presságio de boa sorte. Levou a pedra para casa, e colocou-a em seu pequeno altar, onde já moravam a imagem de São Jorge, em uma estátua, um vaso com flores sempre frescas e uma fotografia de seu falecido pai.

Naquela noite, ela acordou e foi olhar a pedra. Ao acender o abajur, a luz fez com que ela brilhasse intensamente. Era mesmo uma linda pedra! Ainda um pouco entorpecida pelo sono, Julia viu-se fazendo um pedido à pedra: que lhe ajudasse a ter sorte na entrevista de emprego que faria na manhã seguinte.

Quando amanheceu, ela vestiu-se muito bem, maquiou-se levemente e, confiante, sentou-se à mesa para o café. A mãe e a irmã comentaram que Julia estava com uma aparência radiante! Foi para sua entrevista, e foi imediatamente selecionada, entre muitos candidatos!

Depois de  apenas algumas semanas, recebeu uma promoção e um bom aumento de salário. Os colegas a olhavam com admiração, dizendo que não era comum que funcionários novos fossem promovidos tão rapidamente. Julia sorriu, lembrando-se de seu amuleto da sorte.

Um dia, após o trabalho, ela estava indo para casa, em uma tarde quente de verão. Suava em bicas dentro do coletivo lotado, e ao chegar em casa, olhando para a pedra, pensou: "Gostaria de poder ter um carro para ir ao trabalho e voltar para casa..."  No dia seguinte, ficou sabendo que a companhia ceder-lhe -ia um de seus carros.

Desde que encontrou a pedra, a vida de Julia mudou radicalmente, e para melhor! Passou a ter mais confiança em si mesma, e coragem para ir atrás das coisas que desejava.  Sua fé aumentou consideravelmente, e embora ela atribuísse tudo à pedra que encontrara, não sabia que esta era apenas um objeto que a ajudava a acreditar em si própria. Um símbolo, através do qual ela projetava a si mesma.

Um dia, recebeu em sua casa a visita de uma velha amiga, que ao ver a beleza da pedra, perguntou a Julia do que se tratava. Animada, ela contou-lhe toda a história - da tristeza em que se encontrava ao achar a pedra, e da reviravolta que sua vida dera desde que levara a pedrinha para casa. A amiga, que era uma pessoa muito religiosa, quase beirando ao fanatismo, imediatamente retrucou:

"Jogue esta pedra fora, Julia! Com certeza, é um amuleto do diabo. Superstições não ajudam ninguém a melhorar de vida, apenas a fé pura em Deus e em Nosso Senhor Jesus Cristo."

"Mas... mas eu tenho fé em Deus e em Jesus Cristo!"

"Se tivesse, não precisaria de uma simples pedra. Prove que tem fé realmente, jogando-a fora agora mesmo!"

Julia hesitou bastante, mas finalmente, após a insistência da amiga - que teimava em descrever a Julia o que significava a verdadeira fé - ela pegou a pedra e atirou-a com força pela janela.

Na manhã seguinte, após uma noite mal-dormida, ela amanheceu adoentada, e não pode ir ao trabalho. No outro dia, quando apareceu no escritório, tinha a aparência cansada, e cometeu muitos erros. Semanas depois, foi demitida. Em pouco tempo, Julia voltou a ser a pessoa triste e derrotada que fora antes de encontrar a pedra.

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Moral da história: quem somos nós para questionar a fé de alguém? Talvez, para alguns, a fé em um simples objeto ou ritual,  as ajude a se tornarem mais confiantes, até que possam perceber, em seu próprio tempo, que na verdade, não necessitam dele.

Às vezes, Deus nos manda uma pedra quando precisamos de fé.

segunda-feira, 30 de julho de 2012

RASTILHO





O rastilho lastra a pólvora
Fareja destruição
Fogo rasteia o pavio
Procura por explosão...

O chiado ciciando,
Pavio curto apontando
A pólvora se preparando
O rastilho rastejando...

A cobra acende o pavio,
A maldade aviva o cio,
Explode, queima, destrói,
E o veneno se espalha!

A palavra arrematou
O fio desta mortalha!
E o que restou da pólvora
Secou por sobre a cangalha...

DESCOBERTAS



Todos temos (ou tivemos) recantos em nós, estes, cheios de cantos e frestas que ninguém percorre, onde nenhuma luz ou facho jamais incide. São como estradas que ninguém - especialmente nós mesmos - deseja percorrer. São caminhos abandonados, onde a paisagem cinzenta e salpicada de ruínas parece-se com a de algum filme de terror.

Lá, deixamos nossos piores medos, nossos maiores fracassos e um ou outro arrependimento. Também ficam lá os sonhos que não realizamos, e deixamos Trancamos bem a porta.

Muitas vezes, vagam por lá os nossos mortos. Eles voltam a nós em sonhos, quando descuidadamente deixamos a porta entreaberta, e eles voltam para nos assombrar. Assombrar, sim, pois estão mortos, e assim permanecerão: fantasmas em nossa memória.

Muitas vezes, outras coisas escapam de lá, e nos obrigam a pensar sobre elas. Mas elas são tão inadimissivelmente terríveis, que preferimos trancá-las novamente, na esperança de que morram à míngua, mas elas não morrem, e no fundo, sabemos disso. Um dia, teremos que lidar com elas, mas não hoje, não agora...

Esquecer é um processo muito extenuante, pois para que ele dê certo, temos que lembrar-nos dele o tempo todo. Não é como simplesmente apagar uma luz. Não é o mesmo que fechar os olhos, ou virar de costas. Esquecer é aprender a ignorar.

Esquecer é lembrar-se o tempo todo de que não devemos lembrar daquilo mesmo que tentamos ignorar. Até que um dia, conseguimos passar um longo tempo neste processo. Pensamos: "Conseguimos!" Mas só este pensar, é o suficiente para nos levar de volta àquele recanto funesto dentro de nós mesmos, e ao cutucarmos com o pé as lembranças moribundas, vemos que elas ainda respiram, e voltam para nós os seus olhos semicerrados, estendendo-nos as garras.

É melhor não ter estes recantos.

Não precisamos fazer nenhum esforço para nos esquecermos daquilo que um dia foi dor. Podemos transformar esta dor em outra coisa, em aprendizado, em experiência de vida, em poesia, em uma estória para contar. Podemos transformar essas memórias dolorosas em lindas pedras, e colocá-las à beira da estrada para embelezá-la, e dar aos outros viajantes um local onde eles poderão sentar-se para descansar.

A vida não precisa ser um processo triste. 

Aprendi a lidar com minha solidão e transformá-la em uma companheira. Aprendi a desfrutar de meus momentos de forma rica e satisfatória, e fiz de mim mesma minha melhor amiga. Hoje, a possibilidade de passar algumas horas a sós comigo mesma transformou-se em um evento muito feliz. 

Acho que é uma grande causa de sofrimento, a tentativa de querermos fazer parte de uma maneira forçada, só porque achamos que isso seria o 'normal'. Assim, procuramos estar o tempo todo rodeados de 'amigos', em meio a muita agitação e música alta, a fim de não ouvirmos os gemidos que vêm daquele recanto dentro de nós. Chegamos ao cúmulo de forçar nossa presença onde nem sequer somos bem-vindos. Apenas para sentir que "fazemos parte."

Não existe uma definição para 'felicidade', mas todos nós sabemos, instintivamente, o que ela significa para cada um de nós. O problema é quando se tenta estabelecer um padrão, onde toda e qualquer pessoa deva encaixar-se para considerar-se feliz. Daí, só podem nascer a frustração, a comparação, a ansiedade.

Sou feliz da minha maneira, e minha receita só serve para mim. Mas posso dizer que:
-Aprendi a desfrutar de minha própria companhia e posso passar muitas horas sozinha e sentir-me muito tranquila e feliz.
-Jamais me comparo a ninguém.
-Não tenho inveja.
-Não nego meus sentimentos, nem crio recantos cinzentos dentro de mim.
-Não nego a minha sombra - aquele lado demasiadamente humano, onde estão sentimentos como raiva, indignação, medo, fúria, desejo de estrangular alguém, ou de vingar-me. Ao contrário, procuro reconhecer esses sentimentos dentro de mim e transformá-los em outras coisas, aprendendo a dominá-los.
-Acho importantíssimo, aliás, a coisa mais importante do mundo, conhecer a mim mesma.
-Gosto de mim como eu sou, e procuro melhorar sempre, não pelos outros, mas por mim mesma.
-Aprendi a dizer não e estabelecer meus limites.
-Não deixo que ninguém tente pisar em mim ou manipular-me. 
-Procuro não ter preconceitos, e se eles surgem, trago-os à tona e tento entendê-los, mas jamais negá-los.
-Aprendi a desenvolver e usar a minha intuição, sentindo as energias que me cercam e trabalhando com elas, e estou aprendendo a proteger-me de energias nocivas.
-Sempre presto atenção a minha intuição, mesmo que a mensagem pareça absurda no momento. 
-Tento fazer de minha casa, um templo. Um lugar de paz e harmonia, descanso e recuperação.


Estas são as coisas que fazem com que eu me sinta bem. Não sou nem desejo ser perfeita, e nem gosto da palavra 'perfeição', pois ela não passa de uma quimera, algo imposto pelas religiões para que nos sintamos sempre inadequados e falhos, sendo assim dominados por aqueles que tem "A Verdade."

Eu tenho a minha verdade, e talvez ela não sirva para você.

domingo, 29 de julho de 2012

Para Onde Foi a Cerejeira?...



Eu compreendo muito bem que árvores junto a uma piscina - local onde deve reinar, absoluta, a luz do sol - não é um bom arranjo; compreendo também que naquela rua deserta e um pouco úmida, o excesso de árvores em volta de uma casa não ajudará a umidade a dissipar-se nas manhãs de inverno.

Mas eu não compreendo passar por ali e não ver mais o luar entre os galhos daquela cerejeira, infestada de flores, que quando caíam, pintavam a calçada de cor de rosa. A árvore apinhada era um espetáculo sem igual! Os galhos debruçavam-se por sobre o muro, e iam se oferecer aos poucos passantes da rua - privilegiados como eu - que podiam fotografá-los, cheirá-los ou simplesmente, deleitar-se olhando para eles, no mais puro êxtase de beleza!

Ficaram, no início, apenas os troncos com os cortes farpados, restos da cerejeira cortada. Depois, nem isto... ontem passei por ali, e a cerejeira tinha sido completamente removida. Olhei para o céu, e o luar estava nu.

Agora, só me restam estas fotos, que tirei em um momento de puro esplendor, quando voltava para casa, há uns dois anos. Lembro-me de que larguei as compras no chão, peguei meu celular e passei alguns minutos ali naquela rua, fotografando a linda cerejeira em flor.







sábado, 28 de julho de 2012

Transformação






TRANSFORMAÇÃO

Aquele velho sorriso
Que eu tinha, já se foi,
Cortadinho em mil pedaços,
Amortalhou-se.

Mas ficou um outro riso
(Talvez não tão franco ou bonito)
Mas ficou, e se transforma
A cada dia, lentamente,
Em algo um pouco melhor.

Morre um riso, nasce outro,
Porque sorrir é preciso.

To Sir With Love - Uma Lembrança











To Sir With Love - Uma lembrança

Quando eu estava na sexta série, e estudava no colégio EPA, aqui em Petrópolis, havia um professor de quem todos gostávamos. Ele era engraçado, divertido e tinha uma maneira de ensinar tão especial, que quando ele falava, a classe toda ficava quietinha, ouvindo-o. Ele lecionava história, e a partir do momento que passei a ter aulas com ele, esta matéria deixou de ser uma das que eu menos gostava, e passou a ser a minha favorita, já que eu conseguia prestar atenção e aprender sem esforço. A aula era muito interessante, e ele, um professor habilidoso...

Mas um dia, uma coisa aconteceu que mudou meu modo de pensar; um dos meninos havia assitido na TV a uma reportagem  sobre algo que estava acontecendo na época - não consigo lembrar-me do que era, mas tinha alguma coisa a ver com política - coisa com a qual eu nem me preocupava aos doze anos de idade. Este menino fez uma pergunta sobre aquilo ao professor, que respondeu-lhe com toda convicção, e já ia continuar aula, quando o menino interferiu com uma outra pergunta sobre o mesmo assunto; novamente, o professor a respondeu (já demonstrando um pouco de impaciência), mas o menino rebateu a afirmação do professor, discordando do que ele dissera, e apresentando seus argumentos - que, acredito, talvez fossem até equivocados para quem tinha apenas treze anos. Tudo estava indo bem, mas naquele momento, o professor levantou-se de sua mesa, e aos berros, apontou ao garoto a porta da sala de aula, mandando que ele saísse imediatamente, dizendo: "Como é que você se atreve a discordar de mim? Quem você pensa que é?"

Naquele momento, fez-se um silêncio sepulcral na sala de aula, enquanto o garoto seguia para fora, em direção à secretaria, de cabeça baixa. Todos ficamos indignados com o que aconteceu. Perdeu-se, para nós, a simpatia que tínhamos por aquele professor, que demonstrou ser apenas mais um ditador arrogante disfarçado, ao agir daquela forma com alguém que tinha uma opinião diferente da sua. Todo o seu discurso sobre igualdade e democracia foi por água abaixo...

Não sei se, naquele dia em especial, o professor estava aborrecido com alguma coisa que acontecera fora da sala de aula, mas hoje, pensando sobre o que aconteceu, eu entendo que, seja lá o que for que tivesse acontecido, quando uma opinião contrária à nossa nos é apresentada, e nós a trancamos lá fora, excluindo a pessoa que opinou, estamos demonstrando não a nossa sabedoria, mas a nossa presunção. E da presunção, não brota nada. Achar-nos melhores que outros por termos mais conhecimento, tira de nós aquela coisa maravilhosa que é abrir-mo-nos a novas idéias, mesmo que depois de ouví-las, ainda preferamos permaner com as nossas.

Neste caso, eu gosto daquela canção de Raul Seixas, que diz "Eu prefiro ser aquela metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo." A distância entre uma opinião e o preconceito, é de apenas centímetros; às vezes, vai do ouvido de quem escuta até a boca de quem fala.

sexta-feira, 27 de julho de 2012

"A Vida Não é Fácil..."






A vida não é fácil
Se você nem ao menos tentar...
Mas antes, é preciso descobrir
O que você deseja buscar,
Pois quando não há rumo,
Como pode haver caminho,
Como pode haver um chegar?


A vida não é fácil,
Para quem não se esforçar
Um pouquinho só, que seja,
Dar um passo a cada dia,
É preciso fazer escolhas,
É preciso ter uma
Ou quem sabe, duas bolhas
Na palma da mão,
Resultado de trabalho,
De esforço e dedicação.



A vida não é fácil
Para quem só quer sonhar
E acha que tem o direito
De ter tudo o que quiser
Mas sem jamais se esforçar...
Não importa aonde estejas,
Não importa quem tu sejas,
Ou o se o berço onde nasceu
Foi de ouro ou foi de palha...



O que importa, é um objetivo,
Um caminho pra seguir,
Um desejo de crescer,
Ousadia pra sonhar,
A vontade de vencer,
Disposição para o trabalho,
E por dentro, uma fé grande
Naquilo que quer buscar!



A vida é sempre difícil,
Para quem se senta, inerte,
E se põe a reclamar,
Lamentando a sorte má,
As pessoas que lhe cercam,
Os exemplos que não teve,
A vitória que não veio
Da batalha que nem lutou...
A vida é sempre difícil
Para quem só tem desculpas
E que gosta de por culpas
Naqueles que o criaram.



O medo é uma arma fraca,
A autopiedade, uma desculpa
Das mais do que esfarrapadas
Para ficar onde está,
Sonhando com o que não tem,
Chorando porque não pode,
Culpando quem não lhe dá
Aquilo que você quer.



Basta um pouco de autoestima,
Amor próprio, objetivo,
A vontade própria é sempre
O maior dos incentivos!
Basta acordar mais cedo,
Traçar o sonho com o dedo,
Por fé naquilo que quer,
Amar aquilo que é...
E acima de tudo, ser grato,
Olhar em volta, perceber
Que  a metade do caminho
Já foi trilhada, ao nascer...

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O Tucano O TUCANO   Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me ...