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sexta-feira, 27 de março de 2015

Quintalzinho




Quando eu era pequena, a nossa casa tinha um quintalzinho de terra. Não era muito grande, mas eu me lembro de que minha mãe plantava canteirinhos sob as janelas da frente e nós, crianças, plantávamos couve, alface e cheiro verde na lateral da casa. Na parte de trás, meu pai costumava plantar abóboras que se esparramavam e tomavam quase todo o espaço, e em um terreno baldio, plantei mudas de flores que ganhei de uma vizinha, e fiz um pequeno jardim. Sempre que eu chegava da escola, ia lá para molhar as plantas e afofar a terra. 

Havia dois abacateiros por perto, que tinham sido plantados por meu avô. Eu me encostava no tronco e ficava olhando o sol passar pelas folhas... certa vez, meu pai, que era serralheiro, construiu um recipiente de ferro e colocou-o na ponta de um bambu comprido, e nós colhemos muitos abacates depois daquilo. 

Eu gostava daquele canto da casa, no terreno baldio. Era úmido e silencioso, e a terra preta de boa qualidade garantia lindas floradas de cravos, azaleias, margaridas, beijos e bocas-de-leão. Mas um dia, ao mexer na terra, acabei desenterrando uma grande aranha, de aspecto apavorante. Depois daquilo, eu nunca mais fui ali, e o jardinzinho ficou abandonado, cobrindo-se de mato. 

Hoje, pensando naquilo, arrependo-me de ter abandonado meu jardinzinho porque não soube conviver com a possibilidade de deparar com as aranhas que viviam nele. Aprendi que é preciso ter coragem para viver e enfrentar os perigos que existem pelos jardins da vida, mas também a compreender que, em alguns jardins, existem tantos perigos sob as flores, que é melhor abandoná-los.



quinta-feira, 26 de março de 2015

É sempre a mesma coisa...







É Sempre a Mesma Coisa...


Acordo cedo, pois minhas aulas começam, geralmente, às sete da manhã. Gosto de ter tempo suficiente para tomar meu banho com calma, tomar café da manhã sentada e sem pressa, abrir a casa, cuidar dos meus cães e meditar alguns minutos. Portanto, eu geralmente me levanto às cinco e quarenta.  

Meus cães – Mottley e Leona – dormem na área de serviço, e mal escutam meus passos pela casa, começam a bater na porta de madeira. O dia começou, e eles estão ansiosos para brincar lá fora. Assim, abro a porta da cozinha que dá para o jardim e depois, abro a porta da área de serviço aonde eles dormem – as duas portas ficam bem em frente uma da outra. Os dois passam voando por mim, direto para o jardim, mas eu espero; sei o que vai acontecer logo em seguida: Mootley volta correndo, apanha um de seus brinquedos – geralmente, um caranguejo laranja – e com ele na boca, volta correndo para o jardim. Segundos depois, os dois voltam para me fazer muitas festinhas. Só então, partem alucinados para o jardim, Leona com sua bola, e Mootley com seu brinquedinho. Parecem dizer: “Oba!!! Começou mais um dia para sermos felizes!”

E eles não desperdiçam um só segundo. Olho para os dois brincando de correr, e a alegria deles me contagia. Vou preparar a sala de aula, e meia hora depois, ponho os dois de volta na casinha, pois está na hora de começar a trabalhar... o primeiro aluno logo vai chegar, e não vai ficar muito contente ao ser recebido por patinhas sujas de terra em sua roupa de trabalhar. Volto a soltá-los na hora do almoço.

ainda bebês


Toda vez que eles me veem, parece que é a primeira: a alegria com que me recebem é sempre a mesma, esfuziante, maluca, cheia de lambidas e carinhos, mesmo que tenham se passado apenas cinco minutos desde a última vez que nos vimos. 


Às vezes, quando eu os deixo soltos no jardim sem supervisão, chego na cozinha e os encontro sentados lado a lado, os narizes sujos de terra, feito dois anjinhos que nunca pecaram: é claro, sei que vou chegar no jardim e encontrar um buraco do tamanho do mundo... portanto, já vou munida de vassoura para tentar varrer a terra de volta para o buraco, mas ela nunca é suficiente para enchê-lo. Deixo a maior parte da tarefa para o jardineiro, especialista em tapar buracos de Mootley e Leona.

Hoje eu estava sentada à mesa da cozinha almoçando, quando escutei as patinhas de alguém chegando devagarinho. Senti que algo esbarrava em meu pé, e quando olhei, deparei com a bolinha verde da Leona. Era ela, me chamando para brincar. E vamos lá para fora. Eu jogo a bolinha e ela corre atrás, numa alegria tão grande e tão absoluta, arfando, trazendo a bola de volta para mim até cansar. Mootley só fica observando de longe... de repente, ele sai correndo, as orelhas enormes balançando, as patinhas curtas ganhando o gramado. Corre, apenas. Uma corrida sem razão, sem propósito. Alegria pura, prazer de viver. Derrapa nas curvas, os olhinhos arregalados, a língua para fora, e quando eu menos espero, ele vem na toda e pula sobre o meu colo! “Ainda bem que ele é pequeno,” penso. Deixa atrás de si tufos de grama arrancados.



Olho para o gramado, e vejo os brinquedinhos espalhados: uma bola amarela e uma verde, um caranguejo laranja, um elefante verde, uma meia velha, um pedaço de galho. Pontos de cor que falam da presença alegre dos dois. 

Minha cozinha e minha área de serviço nunca mais foram as mesmas. Tem sempre marcas de patinhas no chão, por mais que eu varra e limpe tudo várias vezes ao dia. O puxador do armário está roído, o jardim pede misericórdia. A porta de vidro da sala de estar está cheia de marcas de lambidas e patas enlameadas, e já desisti de querer vê-la sempre imaculadamente limpa. Limpo quando dá.

Mas mesmo assim, a casa é bem mais alegre quando a gente tem cachorros.




quarta-feira, 25 de março de 2015

Sombrio




Num canto escuro da casa
Os fantasmas aguardam sentados,
Os rostos na sombra,
As mãos nos joelhos,
Os olhos velados
Por sob os chapéus.

As mulheres murmuram
Debaixo  dos  véus,
Os lábios cerrados,
Os rostos em sépia,
Os pés calejados
Descalços e frios.

Os homens aguardam,
De olhos fechados;
Sonhando com o dia,
Se perdem na noite
Sonhos desbotados,
Da Terra do Nunca,
Da Terra do Nada
Jamais voltarão.


Não há nada errado,
É que eles se foram,
Eles já morreram,
Não são nem lembrança,
Pois não há ninguém
Que chore por eles,
Que chame seus nomes,
Que olhe os retratos!




TEU É O REINO - Abilio Estévez





Perto de Havana, em meio a uma vegetação exótica e exuberante, numa propriedade chamada a "Ilha", repleta de fontes e estátuas fantasmagóricas, vive uma pequena comunidade que, inspirada num ser supremo e onipotente, parece estar à espera de um acontecimento que romperá para sempre sua abúlica inércia. Em meio aos resplendores do mundo do Caribe, numa elétrica atmosfera de um trópico turbulento, pequenos incidentes, aparentemente inocentes, vão se sucedendo no labirinto de um presente impreciso, feito de memórias, evocações e desejo. 



Trecho do livro Teu é o Reino, de Abílio Estévez


O que é a morte?

A Ilha.

Vocês já repararam na Ilha? Imenso cemitério sem túmulos, cemitério gigante, a Ilha.
Almas errantes vagam pela Ilha,
e quando morreram esses pobres ilhéus?
Entre os Balonda, dizem, o homem abandona a choça e a terra onde morreu sua mulher favorita, e quando volta ao lugar, é só para rezar por ela.
Morrer é entrar na segunda vida, a melhor.
Eu não quero outra vida, que me deixem nesta para sempre, aguardente, majarete e, se for possível, um disco de Nico Membiela ou Blanca Rosa Gil, outro de Esther Borja cantando Damisela Encantadora, damisela por ti yo moero. 
Não se preocupe, nesta você continuará para sempre, pois os mortos não percebem que estão mortos, daí o drama, o terrível drama dos mortos.
Isso mesmo, que me deixem tomando cerveja Hatuey, comendo linguiças El Minõ, leitão assado, abóbora e mangarito cozidos com mojo, entendam, tem coisas que não são para esta noite.
O homem é uma roupa, um trapo velho que alguém esquece pendurado num prego, e o tempo passa, e quando você vai ver, nada, poeirinha no chão que se deve varrer.
Você já se perdeu na Ilha?
Ah, perder-se na Ilha, justo nessa hora da Ilha em que ninguém sabe exatamente que horas são.
Acordar sem saber quem você é, nem onde está, nem o que vai fazer,
tirar as camadas de terra que jogaram em cima de você, levantar para nada, olhar ao seu redor sem nada ter para olhar,
não, morrer é uma festa, um baile com Maravilhas da Flórida, 
com a orquestra de Belisario López, un son, um mambo, um cha-cha-chá, um bolerinho...







Abilio Estévez (Havana, 7 de janeiro de 1954) é um escritor cubano, nacionalizado espanhol, que atualmente vive em Barcelona, Espanha.

Nasceu em Marianao, na rua Medrano (hoje 102), junto ao antigo quartel de Columbia, onde o seu pai era radiotelegrafista do Cuerpo de Señales. Viveu em Marianao até deixar Cuba. A sua família é oriunda de Bauta y Artemisa, aldeias do interior de La Havana e Pinar del Río, respetivamente. Foi aluno do Pre-Universitario de Marianao. Em 1977, licenciou-se em Língua e Literaturas Hispânicas na Universidade de Havana, onde no ano seguinte realizou uma pós-graduação em filosofia. Ganhou o prémio "José Antonio Ramos" pela sua peça teatral La verdadera culpa de Juan Clemente Zenea, levada a cena por Abelardo Estorino, com Adria Santana e Julio Rodríguez como protagonistas. Aos 46 anos abandonou Cuba, sendo crítico do regime. Considerado um dos mais importantes dramaturgos da sua geração, escreveu uma dezena de peças e foi professor em vários países (Estados Unidos, Itália, Venezuela).
Estévez é um escritor polifacetado, romancista, contista, poeta e dramaturgo, que foi premiado em todos os géneros em que trabalhou. O seu romance Este é o teu reino, considerada por muitos como a sua melhor obra até ao momento, recebeu o Prémio da Crítica Cubana de 1999 e o Prémio ao Melhor Livro Estrangeiro publicado em França no ano 2000. Os seus livros foram traduzidos e publicados em inglês, francês, alemão, italiano, português, finlandês, dinamarquês, holandês, norueguês e grego.

Fonte: Wikipedia





segunda-feira, 23 de março de 2015

Num Instante






Pedaço quebrado de tempo,
O instante;
Jazendo entre a palavra,
O silêncio
E o livro na estante.

O tempo não perdoa,
Ele anda depressa,
E para quando bem quer:
Segura, entre os dedos,
O mister.

À janela,
Um pássaro bobo
Deixa um canto descuidado,
Caído,
Escorrendo sobre o reboco. 

Vem o tempo, e o silencia,
Vem o tempo e o ressuscita. 
Acende a luz da esperança
E assim, ao mesmo tempo,
Apaga as velas da vida.

O tempo não tem paciência,
Não perdoa o desperdício,
Não perdoa a nossa pressa,
Ele passa como quer,
Se encolhe, se estica,
Mas jamais fica.




ESPECTADORA







Eu ando pelo mundo feito espectadora,
Eu vejo a dor e o riso nas esquinas,
Nas calçadas, os sonhos caídos,
As bandeiras e os hinos,
Os destinos.

Me sento na praça, as pernas doridas,
Desencantada da vida,
Desejo o horizonte que ninguém anseia,
Pontuado de marés vazantes
E cheias.

Eu levo comigo um pequeno caderno,
Que me abre as portas do céu,
E as portas do inferno,
E nele eu escrevo as minhas impressões
(Que a ninguém interessam)
-Reflexões...

Eu ando pela rua como quem se perdeu,
E perdida, encontrou novos caminhos,
Alguém para quem as ausências 
Tornaram-se novas presenças,
As certezas absolutas,
 Meras crenças.

Eu fico cansada de tanto enxergar
De tanto fechar os olhos,
De tanto dizer e calar,
Pois sei que no fim,
No fundo, nada fica,
Nada vai sobrar...

Eu sou andarilha que não deixa marcas,
Meus pés pisam o chão sem desenhar pegadas,
Minha voz, o vento apaga,
Meu olhar deita-se sobre as paisagens
Sem deixar manchas,
Minhas mãos tocam o vazio das coisas,
O pó da estrada.

Um dia, nem este poema,
Nem esta página, 
Nem mesmo os tremas...

Pois sou espectadora que não aplaude nada,
Não é aplaudida,
Não vaia,
Não é vaiada,
Eu não sou forte nem fraca,
Eu olho tudo,
Mas não sou vista
Nem vejo quase nada.

Eu sou um espectro
Do meu próprio verso,
O reverso da rima
De uma poesia confiscada.



SILENTE






Manhã dourada de névoa
Pousada na relva,
Na selva fechada
Ecoam os pios
Dos pássaros:
As vozes trincadas
Caídas sem susto
Por sobre os arbustos
No fundo azul.

As gotas silentes
As tímidas gotas
Poeira de chuva,
Pousando nas folhas,
As flores, escolhas
Das joaninhas,
Das andorinhas,
Nos galhos finos,
Longas passarelas,
Lagartas.

Bem dentro da mata
Os olhos se perdem,
Os olhos vislumbram
Mistérios,
O peito pesado,
Coração fechado,
A voz do passado
Passando com o vento
Pousando no rosto
Molhado.



sábado, 21 de março de 2015

CONSTRUÇÕES







O amor é uma casa cuja construção jamais termina - Ana Bailune


O sonho da maioria das pessoas do mundo todo, é ter uma casa; às vezes, as pessoas as compram já prontinhas para morar, outras vezes precisam fazer algumas reformas. Há também os que preferem construí-las: plantar os alicerces, escolher cada detalhe. Cada um faz como quer e pode. Outros preferem alugar - ou o fazem porque ainda não tem condições de construir ou comprar. Mesmo assim, uma casa alugada é um lar como outro qualquer.

A gente faz de tudo para deixar as nossas casas com a nossa cara, e também com a cara das demais pessoas que vivem nelas. Passamos um bom tempo escolhendo móveis, ajeitando tudo, plantando um jardim, pintando-as com as nossas cores favoritas. Até que, finalmente, a casa fica pronta! Entramos nelas pela primeira vez como moradores, e estamos tão felizes e realizados, que queremos dividir esta alegria com as demais pessoas. Fazemos a nossa "open house," que é como a inauguração da nossa casa. Neste período, precisamos estar preparados para ouvir muitas críticas de pessoas menos sensíveis à importância que a casa tem na vida de alguém... mas faz parte!

Algum tempo depois, a gente percebe que a casa precisa de um pequeno conserto... talvez uma telha quebrada, mofo na parede da sala, uma planta que morreu no jardim, a tinta que descascou... e enquanto vivermos, passaremos por estas reformas (grandes ou pequenas). 

A casa vai mudando. Pode ser que a gente perceba que aquelas cores que antes nos encantaram, já não surtem o mesmo efeito sobre nós. Hora de trocar. Talvez aproveitemos para mudar a decoração, ou quem sabe, os móveis de lugar. Lembro que minha mãe adorava mudar os móveis de lugar o tempo todo, e era estranho chegar em casa e encontrar tudo diferente. Mas acostumei-me assim, e hoje, peguei a mania dela: de vez em quando, troco (quase) tudo de lugar.

E a gente também pode mudar de casa, seja por escolha ou necessidade. Quando estamos jovens, queremos uma casa maior e mais confortável, e na velhice, uma casa menor pode ser mais adequada. 

Um dia, a gente vai embora, e as casas ficam. E ficam nelas as lembranças daquilo que a gente foi um dia. Alguém vem e acha as nossas fotografias. Dividem nossa mobília. Leem nossos diários e poemas. Doam nossas roupas, sapatos e livros. A casa esvazia-se de nós. Outros podem vir a ocupá-la, escrevendo novas histórias em suas paredes. 

Para mim, a casa é um elemento vivo. Se ficarmos em silêncio dentro dela, podemos escutar muitas histórias que nos são contadas através de um relógio tiquetaqueando no silêncio, da madeira estalando, da água passando nos canos, do vento soprando entre as gretas, das vidraças sendo bicadas por passarinhos (aqui acontece bastante; hoje acordei assim). 

Pensando em tudo isso, escrevi a frase lá em cima: "O amor é uma casa cuja construção jamais termina."Mas eu me esqueci de dizer que nós também somos assim: nascemos incompletos e morremos incompletos. Acrescentamos histórias, pessoas, dores, risos, alegrias, lições de vida. Fazemos muitas perguntas. Obtemos pouquíssimas respostas. Demolimos e reconstruímos partes de nós e de nossas vidas. Trocamos nossas cores conforme o nosso estado de espírito. Mudamo-nos. 

Não entendo como pode ter gente que ache a vida monótona. Acho que é apenas uma questão de falta de observação...



quinta-feira, 19 de março de 2015

A Vingança de Gaia





Trecho traduzido por mim - introdução ao livro "A Vingança de Gaia", de James Lovelock. 


Quem é Gaia? O que ela é? O "O que" é a fina casca esférica de terra e água entre o interior incandescente de terra e a atmosfera superior que a cerca. O "Quem" é o tecido interativo de organismos vivos que, por mais de 4 bilhões de anos, veio a habitá-la. A combinação entre o "O que" e "Quem", e o modo pelo qual eles afetam um ao outro, é nomeado "Gaia." Ela é, como James Lovelock diz, uma metáfora para o planeta Terra. A deusa grega do qual este nome deriva deveria ter orgulho pela maneira como seu nome foi colocado.

A noção de que a Terra está, em seu sentido metafórico, viva, tem uma longa história. Deuses e deusas foram vistos como encorporando elementos específicos, que variavam entre o céu e uma chuva de primavera, e a noção de que a Terra estava viva surgia regularmente na filosofia grega. Leonardo da Vinci via o corpo humano como o microcosmo da Terra, e a Terra, como o macrocosmo do corpo humano. Ele não sabia tão bem quanto hoje sabemos que o corpo humano é um macrocosmo de pequenos elementos vivos - bactérias, parasitas, vírus - frequentemente em guerra uns contra os outros, e juntos constituindo mais do que nossas células corporais. Giordano Bruno foi queimado há apenas 400 anos por afirmar que a Terra estava viva, e que outros planetas poderiam estar também. O geologista James Hutton via a Terra como um sistema auto-regulável em 1785, e T.H. Huxley a via da mesma forma em 1877. Vladmir Ivanovich Vernadsky via o funcionamento da biosfera como uma força geológica que cria um desequilíbrio dinâmico que, por sua vez, promove a diversidade da vida.



Mas foi James Lovelock que melhor explicou esta teoria em sua Hipótese de Gaia em 1972 neste livro, ele a refina e acrescenta de maneira prática. Olhando para trás, é estranho o quão imprópria esta ideia soava à sabedoria não-convencional quando era era explicada em sua forma atual há um quarto de século atrás. Maneiras não familiares de olhar para o familiar tendem a levantar oposição emocionada em proporções bem distantes do argumento racional: Assim foi a oposição ao evolucionismo pela seleção natural no século dezenove, ao movimento tectônico no século vinte e, mais recentemente, à Gaia. No começo, alguns viajantes da Nova Era subiram à bordo e alguns cientistas sensatos desceram. Eles estão agora subindo à bordo novamente. A mudança foi bem resumida em uma declaração publicada após um encontro de cientistas dos quatro maiores programas de pesquisa global em 2001, que disse:

"O sistema da Terra comporta-se como um único sistema que se auto regula, composto de componentes físicos, químicos, biológicos e humanos. As interações entre os componentes são complexas e mostram variações em uma multi-escala temporal e espacial."

Isto é, de fato, Gaia. 

A principal mensagem deste livro, é menos do que Gaia está sob ameaça ( 'Uma cadela dura', como Lynn Margulis a chamou), mas que os humanos tem causado sérios danos à sua atual configuração. Gaia está mudando, e pode ser menos forte do que no passado. O calor do sol sobre a Terra está aumentando, e no futuro, a auto-regulagem da qual toda a vida depende será posta em risco. Olhando para o sistema global como um todo, o aumento da população, a degradação da terra, o esgotamento de recursos, a acumulação de lixo, a poluição de todos os tipos, mudanças climáticas, abusos tecnológicos e a destruição da biodiversidade em todas as suas formas, constituem uma ameaça em especial Ao bem estar humano, desconhecida para gerações anteriores. Como Lovelock escreveu em outra ocasião,



"Nós crescemos em número a um ponto onde nossa presença está incapacitando o planeta, como se fosse uma doença. Como nas doenças humanas, há quatro possíveis resultados: destruição do organismo invasor; infecção crônica; destruição do hospedeiro; ou simbiose - uma relação durável de benefícios mútuos ao hospedeiro e ao invasor."

A questão é como alcançar aquela simbiose. Estamos longe dela hoje em dia. Lovelock eloquentemente examina cada um dos principais assuntos, principalmente surgindo da evolução industrial, em particular, do uso de combustíveis fósseis, elementos químicos, agricultura e espaço vivo. Ele então prossegue ao sugerir como podemos - durante muito tempo - começar a lidar com a situação. Como ele disse, a primeira exigência é reconhecer que o problema existe. A segunda é entender e chegar à conclusões corretas. A terceira é fazer algo sobre elas. Hoje estamos em algum lugar entre os estágios um e dois. 

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Como Lovelock explica, estamos atualmente presos em um círculo vicioso de feedback positivo. O que acontece em um lugar logo afeta o que acontece em outros. Somos perigosamente ignorantes da nossa própria ignorância, e raramente tentamos ver as coisas como um todo. Se, no futuro, conseguirmos alcançar uma sociedade humana em harmonia com a natureza, devemos ser guiados demonstrando mais respeito por ela. Não é surpresa que algumas pessoas tentaram criar uma religião através de Gaia, ou através da vida como tal. Este livro é uma maravilhosa introdução à ciência de como nossa espécie deveria fazer as pazes com o resto do mundo no qual vivemos.

Crispin Tickel


A montanha é uma parede impressionante, em Levy Gasparian





Melancolia







Como pode ser bela, 
A melancolia!
É um raio de sol
Secando uma dor
Ao final do dia,
Chuva na vidraça,
Pensamento longe,
Os olhos perdidos,
Tempo que não passa...

-Mas há graça!
Está no silêncio,
No beijo solene
De um colibri
Na tarde silenciosa,
No canto embutido
Na mata fechada
Na voz das cigarras!

A melancolia
Que súbito, explode
Em cores miúdas
Na pele das flores,
O olhar caído
Sobre a poça d'água
Que mostra, no céu,
A nuvem que passa...

E assim, de repente,
Uma brisa cálida,
Qual sopro divino
Em nossos ouvidos...
Ah, melancolia,
Que chega de noite,
Que amanhece o dia...

E ela se cala,
Bem presa na ponta
De uma caneta,
E ela se liberta
E sangra da pena,
E sangra dos dedos
Por sobre o teclado
Virando poema...




terça-feira, 17 de março de 2015

Páscoa





A Páscoa sempre me enche de boas lembranças. Engraçado... mas prefiro a Páscoa ao Natal. Acho que a simbologia do renascimento é muito forte. Assim como o Natal, a Páscoa é cheia de tradições que muitas pessoas não sabem como surgiram. Quem tem crianças em casa, faz um ninho todo decorado com papel de seda colorido para que os coelhinhos ponham seus ovos de chocolate; mas de onde surgiu esta tradição? Pesquisando, descobri na Wikipedia que:


O ovo de chocolate ou ovos de Páscoa são uma tradição milenar relacionada ao cristianismo. Costumava-se pintar um ovo oco de galinha de cores bem alegres, pois a Páscoa é uma data festiva que comemora a ressurreição de Jesus Cristo, sendo o ovo um símbolo de nascimento. Outros povos como os gregos e os egípcios também coloriam ovos de galinha oco, porém em datas diferentes.
O ovo é símbolo bastante antigo, anterior ao Cristianismo, que representa a fertilidade e a renascimento da vida. Muitos séculos antes do nascimento de Cristo, a troca de ovos no Equinócio da Primavera (21 de Março) era um costume que celebrava o fim do Inverno e o início de uma estação marcada pelo florescimento da natureza. Para obterem uma boa colheita, os agricultores enterravam ovos nas terras de cultivo.

Quando a Páscoa cristã começou a ser celebrada, a cultura pagã de festejo da Primavera foi integrada na Semana Santa. Os cristãos passaram a ver no ovo um símbolo da ressurreição de Cristo.

Colorir e decorar ovos é um costume também bastante antigo, praticado no Oriente. Nos países da Europa de Leste, os ortodoxos tornaram-se grandes especialistas em transformar ovos em obras de arte. Da Rússia à Grécia, os ortodoxos costumam pintar os ovos de vermelho. Já na Alemanha, a cor dominante é o verde. A tradição é tão forte que a Quinta-feira Santa é conhecida por Quinta-feira Verde. Na Bulgária, em vez de se esconder os ovos, luta-se com eles na mão. Há verdadeiras batalhas campais. Toda a gente tem de carregar um ovo e quem conseguir a proeza de o manter intacto até ao fim será o mais bem sucedido da família até à próxima Páscoa.

Das tradições da Europa Oriental, o hábito passou aos demais países. Eduardo I de Inglaterra oferecia ovos banhados em ouro aos súditos preferidos. Luís XIV de França os mandava, pintados e decorados, como presentes. Isso iniciou a moda de fazê-los artificiais, de madeira, porcelana e metal, contendo alegras surpresas aos presenteados. Seu sucessor Luís XV presenteou sua amante 33 anos mais jovem, Madame du Barry, com um enorme ovo, o qual continha em estátua de Cupido. Essas tradições inspiraram também Peter Carl Fabergé na criação dos famosos e valiosos Ovos Fabergé..1

Os ovos de chocolate vieram dos Pâtissiers franceses que recheavam ovos de galinha, depois de esvaziados de clara e gema, com chocolate e os pintavam por fora. Os pais costumavam esconder ovos nos jardins para que as crianças os encontrassem na época da Páscoa. Com melhores tecnologias, a partir do final do século XIX, se difundiram os ovos totalmente feitos de chocolate, utilizados até hoje.

Não é uma linda tradição?  Bem, os ovos de chocolate estão cada vez mais caros, mas bombons bem embrulhados com papel celofane e laços de fita pode ter um efeito bastante semelhante; o importante é que as pessoas estejam unidas pelo verdadeiro sentido da Páscoa, que é o renascimento, a fertilidade, a celebração da vida. Uma data para estarmos junto às pessoas que amamos. Em casa.


segunda-feira, 16 de março de 2015

seda




Conceda-me um corte
Da tua seda
Para que eu teça
Um longo vestido
Para minha alma.

Prenderei as partes 
Com lindos botões, 
Pequenos feitiços
De madrepérola nacarada.

Pedirei às fadas
Que bordem teu nome,
Pedirei a Baco
Que sirva-me o vinho
Da tua sede.

Dá-me uma medida
De fita dourada
Tirada das beiras
Da tua vida
E cetim branco,
Para minhas anáguas...

Pedirei à Yara,
Rainha das águas,
Que molhe o vestido,
Que o deixe ajustado,
Colado em meu corpo.

E mais um pedido
Eu hei de fazer
Soprando-o no vento
À Nossa Senhora
Das Graças:

Que poupe o vestido 
Tecido das sedas
Que tu me cedeste
Dos dentes ruidosos
Das famintas traças.




Parceiros

O TUCANO

O Tucano O TUCANO   Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me ...