Diego e Frida |
Ao conhecer Frida Kahlo, o renomado pintor Diego Rivera caiu de encantos pela menina determinada e forte. Ela decide pedir-lhe uma opinião sobre suas pinturas, já que nutre por ele grande admiração e quer saber se seus quadros são realmente bons ou se ela deve desistir de pintar. Achei lindo este trecho do livro, que fala do começo do amor entre eles... Um trechinho do livro Frida - A Biografia, de Hayden Herrera. Disponível na amazon.com.br
"...Eu me senti profundamente comovido de admiração por aquela menina. Tive de me refrear para não cobri-la de elogios tanto quanto eu queria. Mas não consegui ser totalmente insincero. Eu estava intrigado pela atitude dela. E perguntei por que ela não confiava no meu julgamento. Ela afinal não tinha ido me ver justamente pra ouvir a minha opinião? "O problema", ela disse, "é que alguns amigos seus me aconselharam a não dar muito valor ao que você diz. Eles me contaram que quando é uma mulher que pede sua opinião, e desde que ela não seja feia, você logo se derrama todo sobre ela e a enche de atenções apaixonadas. Bom, eu quero que você me diga só uma coisa. Acha mesmo que devo continuar pintando, ou devo procurar outro tipo de trabalho?" "Na minha opinião, por mais que seja difícil pra você, você deve continuar pintando", respondi de imediato. "Então vou seguir seu conselho. Agora, eu gostaria de te pedir mais um favor. Pintei outros quadros que eu gostaria que você visse. Já que você não trabalha aos domingos, será que poderia ir até a minha casa domingo que vem para ver as telas? Eu moro em Coyacán, avenida Londres, 126. Meu nome é Frida Kahlo." No momento em que ouvi o nome dela, eu me lembrei que meu amigo Lombardo Toledano, quando era diretor da Escola Nacional Preparatória, tinha reclamado de uma menina de mesmo nome. Ela era líder, ele dizia, de um bando de delinquentes juvenis que causavam tantos tumultos que ele tinha pensado em pedir demissão do emprego por causa deles.
pintura de Frida Kahlo |
Eu me lembrei de que uma vez ele me apontou quem era a menina, depois de deixá-la na sala do reitor para uma reprimenda. Então outra imagem surgiu em minha mente, a daquela menina de doze anos que desafiara Lupe (nota: Lupe, na época, era esposa de Rivera), sete anos antes, no auditório da escola onde eu estava pintando murais. Eu disse: "Mas você é..." Ela rapidamente me interrompeu, tão ansiosa que quase colocou a mão na minha boca. Seus olhos adquiriram um brilho diabólico. Em tom ameaçador, ela disse: "Sim, e daí? Eu era a menina do auditório. mas aquilo não tem absolutamente nada a ver com o agora. Ainda quer ver -me no domingo?" Tive grande dificuldade de não responder "Mais do que nunca!". Mas se eu demonstrasse minha empolgação, ela talvez nem me deixasse ir. Por isso, respondi somente: "Sim." Então, depois de recusar a minha ajuda para carregar as pinturas, Frida foi embora, com as enormes telas balançando debaixo dos braços. No domingo seguinte me vi em Coyacán, procurando a avenida Londres, 126.
Quando bati na porta, ouvi alguém assoviando "A Internacional" por cima da minha cabeça. No topo de uma árvore alta, vi Frida, de macacão, começando a descer. Rindo alegremente, ela segurou minha mão e me levou para dentro de casa, que parecia estar vazia, e para dentro do quarto dela. E então ela me exibiu todas as suas pinturas. O desfile das telas, o quarto dela, sua presença radiante, me encheram de uma maravilhosa alegria. Eu ainda não sabia, mas Frida já tinha se tornado o fato mais importante de minha vida, e continuaria sendo até o momento de sua morte, 26 anos depois.
Dias depois de visitar Frida em casa, eu a beijei pela primeira vez. Assim que concluí meu trabalho no prédio do Ministério da Educação, comecei a cortejá-la a sério. Embora ela só tivesse dezoito anos (vinte ou vinte um; Frida mentia sobre sua idade) e eu mais do que o dobro, nenhum de nós se sentia nem um pouco constragido. A família dela parecia aceitar que estava acontecendo. Um dia, o pai dela, don Guillermo Kahlo, que era um excelente fotógrafo, me chamou de lado: "Vejo que está interessado em minha filha, não é?" ele me perguntou. "Sim," respondi. "Do contrário não faria essa viagem toda até Coyocán para vê-la." "Ela é um demônio," ele disse. "Eu sei." "Bom, eu avisei," ele disse, e saiu andando.
Frida, já muito doente, pintando em sua cama, ao lado de Diego Rivera, seu marido. |