Há meses venho planejando arrumar minhas gavetas de panos de prato. Isso mesmo, no plural: gavetas! Tenho muitos, e recentemente estive um uma loja em Juiz de Fora – lindíssima, por sinal – onde comprei dois conjuntos novos, prometendo – a pedido do meu marido, que estava comigo quando os comprei – que faria uma limpeza geral nas gavetas. Ele disse: “Mais panos de prato? Mas você já tem tantos!” Ele tem razão. Mas eu sou uma mulher estranha, uma espécie em extinção, do tipo que ama paninhos de prato e coisinhas para a casa. Quer me dar um presente, mas não sabe o que comprar? Panos de prato!
Adiei o quanto pude, até que hoje de manhã, eu disse a mim mesma: “É hoje; ou vai ou racha!” E abri minhas gavetas, retirando-as do lugar e colocando-as no chão da cozinha, em volta de mim. Sentada no chão, comecei a examinar as gavetas. Tinha alguns já bem amarelados, de tanto ficarem guardados, pois não dou conta de usar todos os que tenho; outros – meus favoritos – já velhinhos, meio puídos, são os que “enxugam bem.” Ah, esses eu não posso tirar!
No meio do processo, meu marido aparece na cozinha para tomar café da manhã: “Finalmente!” E de soslaio, ele me observa, enquanto dobro e coloco de novo na gaveta os panos mais velhinhos. Ele arrisca: “Ana, isso não está velho demais não? Por que não joga fora?” Pensei: como jogar fora os meus melhores panos, os que enxugam? Mas novamente, ele tem razão. Mas só que não. Não dá para jogar fora. Ele parece ler meus pensamentos, e sugere: “Estou precisando de uns paninhos velhos na garagem, para limpar o carro. Você podia deixar alguns lá!” Essa possibilidade me anima: melhor do que jogar fora. Ele escolhe dois. Apenas dois.
Então me animo, e separo alguns para deixar guardados na área de serviço, como panos de limpeza. Ainda sobram muitos depois disso! Decido coloca-los junto com as roupas que separei para doação. Meu marido ergue as sobrancelhas, e sei exatamente o que ele está pensando: ”Quem vai querer ficar com isso???” Respondo: “Podem ser úteis para alguma coisa! E se não quiserem, que joguem fora.”
E recomeço a separar os panos. “Olha esse! Compramos na viagem para Natal, lembra?” Ele concorda, e me aponta um outro que trouxemos de Recife, todo bordado e amarelado. Mostro a ele um verde com um desenho de um pescador, que tenho desde que nos casamos (meu marido adora pescar, e alguém nos presenteou para brincar com ele). Passamos por um conjunto que tem os dias da semana, um em cada paninho. “Lembra desses? Ela me deu dois pacotes. Deve ter sido difícil para ela pagar por eles...” A pessoa que nos presenteou não tinha boas condições financeiras, e já faleceu. Não tenho todos, a maioria já gastou, mas sobraram a segunda, duas quintas e uma sexta. Separo dois para a área de serviço e guardo os outros na gaveta.
Ele se despede para ir trabalhar, mas antes olha um todo bordado, feito pela mãe dele. “Esse aqui não foi a minha mãe que bordou?” Concordo, e ponho de volta na gaveta. E tem aquele outro, presente de aniversário da fulana. E outro que compramos naquela viagem à parte histórica de Minas. Um de Fortaleza. Um lindo, com um cordão de papais-noéis em croché na borda, daquela lojinha fofa de Itaipava que infelizmente, já fechou.
Enfim: tive que fazer um esforço para me desapegar de alguns deles, mas acabei arejando bastante as gavetas. Antes, eu precisava de três gavetas, e agora ocupo apenas duas. Aproveitei a que ficou vazia para guardar alguns utensílios de cozinha.
Os paninhos de prato são lembranças de lugares por onde viajamos, momentos felizes que vivemos, presentes de pessoas que já não estão mais aqui e de outras que ainda estão e que são tão queridas... tenho alguns presenteados por alunas e ex-alunas, pessoas de quem eu gosto muito.
As pessoas que vão receber alguns deles, mesmo que amarelados, não fazem ideia do carinho que tenho por eles. Espero que eles sejam usados; espero que alguém enxugue sua louça com eles, ou limpe a sua cozinha, e que seja num dia de festa muito feliz, entre conversas na cozinha e música tocando na sala.