witch lady

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quinta-feira, 10 de novembro de 2016

What a Mess!







I look around
And I find out
I'd rather not open my eyes.

For what I see, 
I think the world is ending,
And there's no way to disguise it.

What a damn mess!
It seems that chaos
Has come, at last!

I rest my head
Upon my hand
And watch what's left
Go down the drain...




PRA LÁ DO MEIO DA ESTRADA






Dizem que quem passou dos quarenta está na meia idade. Pode ser, pois hoje em dia, alguém com 40 anos chega a viver além dos oitenta com saúde e disposição; mas, aos 51, estamos virando o Cabo da Boa Esperança – alguém aí conhece quem tenha 102 anos? Meia idade é metade da vida, e já estou além. Pra lá do meio da estrada.

Eu olho tudo o que está acontecendo no mundo hoje em dia, e penso nos momentos em que estou dedicada a uma intensa faxina da casa: as coisas fora dos seus lugares, panos e esfregões espalhados pela casa, garrafas de desinfetante, cera líquida e lustra móveis pelos cantos. A poeira por trás dos móveis aparece, e insetos mortos e secos parecem embalados por ela. Pode ser que baratas e demais insetos, sentindo-se desalojados, passem a correr pela casa, espalhando pânico e desejando manter seus esconderijos.

 A casa está em seu momento mais caótico, e se chegar uma visita, provavelmente não terá onde sentar-se. 

Mas quando a faxina termina, parece que a casa ganha vida nova: as coisas limpas, perfumadas e em seus lugares. Dá gosto andar pelos cômodos e pensar: “eu que fiz,” e imaginar desfrutar de tudo com a pessoa amada.

O mundo está num estado caótico. Acho que estamos vivendo momentos de transição. Vemos coisas acontecendo das quais até Deus duvida (e acho que Ele deve estar apavorado com as coisas que andam acontecendo por aqui). E o que torna tudo ainda mais difícil, é a não aceitação de tais transições por pessoas que desejam manter tudo como está, indo contra o bom senso. Ao invés de analisarem tudo sob uma nova ótica, continuam usando a velha (ca)ótica de sempre, indo contra tudo, sendo contra tudo, não importa o quanto as mudanças sejam necessárias – o que prevalece para estas pessoas é o orgulho ferido, a vingança, a incitação ao ódio, a incoerência. 

Eu prefiro ver essa bagunça como uma fase necessária, antes que a casa fiquei limpa e arrumada. Gosto de dar uma chance aos acontecimentos antes de ir contra eles. Nem sempre as minhas escolhas e preferências são as escolhas e preferências da maioria, e quando isso acontece, devo respeitar os fatos, sem torcer contra, sem querer que dê tudo errado, sem espalhar pânico, boatos e maledicências. As bestas do Apocalipse estão soltas, e correm pelo mundo, nascendo das linhas de blogs, sites e jornais, no formato de crônicas inflamadas e muitas vezes, mentirosas.

Eu já tenho mais que a metade do meu caminho andado. E quando eu paro para pensar, dou graças a Deus por isso. Tenho pena dos que estão chegando agora, e que serão adultos daqui a alguns anos. Sinto muita pena por essa idiotice que grassa por todo o planeta, pelos jovens que são manipulados como marionetes pelas mãos egoístas de quem só quer ver o circo pegar fogo a fim de defenderem seus interesses pessoais.

Tenho horror ao discurso pronto e repetitivo que sai de suas bocas quando eles cometem o sacrilégio de abri-las e dizerem o que os outros pensaram por eles. Causam-me asco os clichés incansavelmente repetidos, que nem fazem mais sentido, que não se encaixam mais em lugar nenhum. 

Espero que eu esteja certa, e que esta bagunça seja apenas uma fase de transição, e que logo as coisas se ajeitem e as pessoas se acalmem. De qualquer forma, não estarei aqui para ver como tudo ficará, e ao olhar em volta, dou graças por isso.




domingo, 6 de novembro de 2016

Lembrança







Quem morre,
É como um pássaro que se lança num abismo
E nunca mais pousa.

Gosto de olhar para o céu
E pensar em voos eternos,
Asas que movem-se, abertas
Por sobre a saudade dos vivos.
Estranho, como nos tornamos
Tão próximos de quem se vai,
Pois é possível, sempre,
Olhar para cima e revê-los,
Abranger distâncias 
Através dos pensamentos.

E essas águias que planam,
O que sentem?
Escutam as preces sopradas,
Ou pairam sobre as saudades
Num voo longo e solitário
Sem pousos, sem sofrimentos,
Adormecidos?

Mas há manchas no azul,
Há sombras dentro das nuvens
E um brilho diferente 

Simples






segunda-feira, 31 de outubro de 2016

O CÃO SEM PLUMAS







O Cão Sem Plumas

(João Cabral de Melo Neto)




A cidade é passada pelo rio

como uma rua

é passada por um cachorro;

uma fruta

por uma espada.




O rio ora lembrava

a língua mansa de um cão

ora o ventre triste de um cão,

ora o outro rio

de aquoso pano sujo

dos olhos de um cão.




Aquele rio

era como um cão sem plumas.

Nada sabia da chuva azul,

da fonte cor-de-rosa,

da água do copo de água,

da água de cântaro,

dos peixes de água,

da brisa na água.




Sabia dos caranguejos

de lodo e ferrugem.




Sabia da lama

como de uma mucosa.

Devia saber dos povos.

Sabia seguramente

da mulher febril que habita as ostras.




Aquele rio

jamais se abre aos peixes,

ao brilho,

à inquietação de faca

que há nos peixes.

Jamais se abre em peixes.




Minha Casa




A minha casa é meio-Frida Kahlo:
As cores se misturam e se espalham
Aleatoriamente nas paredes,
Em verdes e azuis, roxos, laranjas,
Em brancos, amarelos e vermelhos.

Cortinas não tem forros; esvoaçam
Ao vento que adentra e as agita,
E espalha o cheiro doce do incenso
Que eu queimo pela casa todo dia.

A minha casa é simples, e aqui dentro
Somente os objetos que amamos:
Presentes e lembranças de viagens,
E coisas que gostamos e compramos.

Por sobre a escadaria de madeira,
As mãos dos marceneiros já idosos...
A maioria deles já se foi,
Deixaram suas presenças no meu chão.

Sob esta escadaria, hoje estão
Os livros que mais amo, e que não doo;
De vez em quando os leio, e então me entrego
A branda realidade dos seus voos.

O meu jardim é uma parafernália
De plantas que eu encontro pela rua,
E ao plantá-las, raramente brotam
Onde eu as plantei, mas onde querem.

E Burle Marx, acho, se revira
Na tumba onde dorme, ao contemplá-lo!
Pois nada nesse canto é ordenado,
E nada obedece seus espaços!

Cresce uma pitangueira no canteiro,
As rosas se debruçam sobre o muro
E escolhem enfeitar outros jardins;
O meu bonsai cresceu trinta centímetros,
O cedro se encheu de passarinhos
Que fazem os seus ninhos por ali;
Me acordam de manhã, sempre bem cedo.

Pelo gramado, há falhas onde a grama
Foi arrancada pelas patas ávidas
Dos meus cachorros; ele se divertem
Ao derraparem sobre as folhas verdes.

Na minha casa nada é muito certo:
Eu desafio o rígido bom gosto
E rio das suas leis – desobedeço
O que já foi determinado e posto.





Tons de Primavera








quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Vá Comprar Uma Laranja!







Cheguei ao ponto de ônibus perto da minha casa, e encontrei novamente aquele senhorzinho, também esperando pelo raro evento de um transporte de passageiros aqui na minha rua – o que só acontece a cada uma hora. Nos cumprimentamos, como sempre, e ele começou a puxar assunto. Não sei por que, mas as pessoas geralmente puxam assunto comigo – mesmo eu tendo essa cara não muito amigável. 

Começamos a conversar sobre os problemas de água em Petrópolis e nas dezenas de condomínios de luxo que estão construindo em Itaipava, Corrêas, Nogueira e outros locais. Nos perguntávamos se haverá água para toda essa gente, se já está começando a faltar para nós. Falamos também das chuvas que estão rareando cada vez mais. Falamos do aumento de temperatura dos últimos anos.

De repente, ele apontou para a ladeirinha que conduz à minha rua, e perguntou: “Você mora ali?” eu disse que sim, e ele me perguntou se eu tinha conhecido um senhor que morava ali e que morreu recentemente. Respondi: “Sim, ele era meu vizinho. Morava quase em frente à minha casa!” E ele começou a enumerar algumas pessoas que ele conhecia, e que tinham morrido. Lamentamos por eles. 

Não entendo por que lamentamos pelos que já morreram, se não sabemos o que há do outro lado, que pode até ser bem melhor do que o que temos aqui, ou então, se não há absolutamente nada, é aí que eu acho que deveríamos lamentar menos ainda. Mas a gente diz de quem morreu: “Coitado! Que descanse em paz!” Como se estarmos vivos fosse alguma espécie de presente, e a morte, uma desgraça. Estar vivo é vencer, e morrer, é perder. Será?

Bem, mas meu amigo e eu continuamos a nossa conversa, e de repente, ele começou a dizer algo, e uma vozinha lá de cima sussurrou em meu ouvido: “Escute com atenção, sua idiota. Isso é pra você!” Ele disse: “É... ninguém pode prever esse tipo de coisa... a morte, você sabe. Eu, toda vez que tenho vontade de comer uma laranja, por exemplo, eu vou lá fora, compro uma e como, porque a qualquer momento, a gente está aqui e de repente... dá um estalo no coração e a gente vai embora.”

E eu pensei nas laranjas que ainda não comprei. Pensei em todas as laranjas que tanta gente deixa de comprar, por medo, preguiça, vontade de economizar, ou simplesmente porque acha que hoje não é um bom dia, porque está chovendo. E muitas dessas laranjas ficam para trás nas estradas das nossas vidas, apodrecendo inutilmente, e a nossa vontade de prová-las, que não foi jamais saciada, será a fome que sofreremos antes do nosso último suspiro.





quarta-feira, 26 de outubro de 2016

Minha Casa







A minha casa é meio-Frida Kahlo:
As cores se misturam e se espalham
Aleatoriamente nas paredes,
Em verdes e azuis, roxos, laranjas,
Em brancos, amarelos e vermelhos.

Cortinas não tem forros; esvoaçam
Ao vento que adentra e as agita,
E espalha o cheiro doce do incenso
Que eu queimo pela casa todo dia.

A minha casa é simples, e aqui dentro
Somente os objetos que amamos:
Presentes e lembranças de viagens,
E coisas que gostamos e compramos.

Por sobre a escadaria de madeira,
As mãos dos marceneiros já idosos...
A maioria deles já se foi,
Deixaram suas presenças no meu chão.

Sob esta escadaria, hoje estão
Os livros que mais amo, e que não doo;
De vez em quando os leio, e então me entrego
A branda realidade dos seus voos.

O meu jardim é uma parafernália
De plantas que eu encontro pela rua,
E ao plantá-las, raramente brotam
Onde eu as plantei, mas onde querem.

E Burle Marx, acho, se revira
Na tumba onde dorme, ao contemplá-lo!
Pois nada nesse canto é ordenado,
E nada obedece seus espaços!

Cresce uma pitangueira no canteiro,
As rosas se debruçam sobre o muro
E escolhem enfeitar outros jardins;
O meu bonsai cresceu trinta centímetros,
O cedro se encheu de passarinhos
Que fazem os seus ninhos por ali;
Me acordam de manhã, sempre bem cedo.

Pelo gramado, há falhas onde a grama
Foi arrancada pelas patas ávidas
Dos meus cachorros; ele se divertem
Ao derraparem sobre as folhas verdes.

Na minha casa nada é muito certo:
Eu desafio o rígido bom gosto
E rio das suas leis – desobedeço
O que já foi determinado e posto.





terça-feira, 25 de outubro de 2016

Poupando a Alma




A gente vê uma formiguinha se afogando em uma poça; nossa primeira reação, se tivermos alguma solidariedade pelas outras criaturas, será salvá-la. E olhamos em volta a procura de um galhinho ou de uma folha que possamos usar para resgatar a formiga de uma morte terrível por afogamento, mas não achamos nada, e ela continua a debater-se no meio da poça. É urgente que algo seja feito, ou ela morrerá em poucos segundos. Sem hesitar, mergulhamos o dedo na água e a resgatamos.

O que poderá acontecer então? Esperamos que a formiga nos agradeça, ou demonstre respeito por nós devido a nossa atitude? Se esperamos que haja, da parte de uma formiga, qualquer tipo de reconhecimento, é porque somos insensatos. O máximo que poderemos conseguir, caso não sejamos espertos o suficiente para colocá-la no chão o mais rapidamente possível, é uma ferroada. Porque uma formiga sempre agirá conforme a sua natureza, aferroando tudo que ela considere uma ameaça. É típico das formigas agirem desta forma.

O mesmo acontece em relação a alguns seres humanos que, após receberem a nossa ajuda, nos retribuem com a ingratidão, ou pior ainda, com a indiferença. É da natureza deles que hajam desta forma. 

Porém, não é por isso que devemos permanecer ao seu redor, convivendo com sua indiferença ou levando ferroadas e amortecendo pontapés. Temos uma escolha: podemos sair de perto de pessoas assim. Podemos escolher poupar as nossas almas desta convivência onde um é o doador e o outro apenas recebe. 

Muitos dizem que, ao darmos alguma coisa, não devemos esperar nenhuma recompensa, mas recompensa, neste caso, não é bem a palavra; quem doa, quem ajuda, quem resgata, espera que pelo menos não sofra a ingratidão da indiferença, e que aqueles a quem ajudou, não se voltem contra eles sem motivo algum.

Acho que existe uma má interpretação das palavras que Cristo disse quando nos estimulou a oferecer a outra face. Oferecer a outra face é resgatar a formiga da poça d'água, mesmo sabendo que poderemos ser aferroados, mas não é deixar o dedo disponível para a formiga picar. É ajudar a quem precisa, mesmo que tenhamos sido magoados por esta pessoa, mas sem permitir que voltemos a ser magoados. 

Poupemos as nossas almas das convivências infrutíferas. Perdoemos, mas não continuemos nos expondo a relacionamentos dos quais só podemos esperar sofrimento, ingratidão e injustiça. procuremos nos relacionar com aquelas pessoas que realmente demonstram gostar de nós, da nossa presença, e que nos respeitam e admiram.




segunda-feira, 24 de outubro de 2016








Há os que chegam em silêncio,
Deitam os olhos sobre tudo
E saem sem nada dizer,
Sem nada sentir,
Sem nada trazer.

Há os que chegam de repente,
E trazem facas entre os dentes;
Ferem sorrindo,
Dão gargalhadas,
Saem contentes.

Há os que chegam sem querer,
São empurrados pela vida,
Trazem sementes,
Partilham almas,
Saem mais sábios.

Há os que chegam por escolha,
Bem conscientes,
Preces nos lábios,
Dentro do peito
Um “Obrigado.”

Vem todos pela mesma estrada,
Seguindo sempre as mesmas trilhas,
Trazidos pelos mesmos ventos...
Mas cada um vem diferente,
E cada um vai diferente.





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Wyna, Daqui a Três Estrelas

Este é um post para divulgação do livro de Gabriele Sapio - Wyna, Daqui a Três Estrelas. Trata-se de uma história de ficção científica, cuj...