Quando eu era pequena e não sossegava, minha mãe bradava: "Você parece que tem bicho carpinteiro! Não para o dia inteiro, não para o dia inteiro!" Ela estava cantando a letra de uma antiga marchinha de carnaval.
Na verdade, eu era uma criança quieta. Ela sempre dizia que nem parecia que tinha criança em casa.
Em relação à casa, gosto de mudar feito bicho carpinteiro que não para o dia inteiro. Troco móveis de lugar, cortinas, quadros, cores nas paredes, almofadas, colchas... depois, eu me sento e fico curtindo as mudanças. Por um tempo, estará bom...Mas chega novamente o dia em que eu olho em volta e penso: "Enjoei!" E lá vou eu de novo... e a cortina da sala vai parar no quarto, e as capas das almofadas são trocadas, e o sofá muda de lugar. Meu marido chega em casa e diz: "Acho que errei de endereço de novo."
Mas isso não acontece apenas em relação à casa; gosto também de trocar meu estilo de vestir. Tenho fases de cores, ou seja, períodos em que olho em meu armário e a maioria das coisas são verdes, ou pretas, ou azuis. Às vezes tenho mais vestidos do que calças compridas, e então, vice-versa.
Será que tem cura?
Acho que sigo uma tendência que é mundial, ou seja, a fugacidade. Hoje em dia, as pessoas mudam muito, o tempo todo: elas mudam de endereço, mudam de emprego, de carro, de relacionamento, de computador, de telefone... tudo é muito rápido e impermanente. Não sei se isso é bom ou ruim. Existem certas coisas que não desejo mudar nunca em minha vida, e se for possível, ficarei com elas até morrer, mas as mais superficiais, eu estou sempre mudando. Consumismo? Talvez... Mas acho que está tudo bem em consumir, desde que não nos deixemos ser consumidos.
Não vou matar meu bicho carpinteiro.