witch lady

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segunda-feira, 10 de agosto de 2015

UMA VASSOURA





Gosto de deixar limpas e perfumadas todas as casas das quais eu me mudo. Costumo acender um incenso, percorrer os cômodos e ir me despedindo. Penso que a nova família que irá ocupá-la, gostará de encontrar a casa limpa, sem poeira ou lixo, o chão brilhando, os banheiros lavados. Mas eu nunca levo panos de limpeza usados ou vassouras velhas; jogo tudo fora. 

A única vassoura que me acompanha desde que me casei é uma antiga, feita de crina de cavalo (naquela época, era comum que colchões e vassouras fossem feitos dos pelos desses pobres animais, e ninguém parava para pensar no assunto...). Só sei que a vassoura tem quase vinte e cinco anos hoje, e está perfeita. Dela, eu não me separo. Ela já viu muitas vassouras novas chegarem cheias de pompa e circunstância, se achando as tais, e irem embora, jogadas no lixo ao se tornarem inúteis, enquanto ela permanece firme e forte, as cerdas perfeitas, o cabo de ferro pintado de vermelho já descascando aqui e ali, mas firme no lugar. Ela foi a única que eu trouxe comigo do apartamento onde moramos quando nos casamos e mais tarde, da antiga casa.

Ainda na casa antiga, em ocasião na qual fazíamos obras no banheiro, me lembro de um dia em que antes de sair de casa,  avisei ao pedreiro: "Se precisar varrer pó de cimento do chão, por favor, use a vassoura de piaçava. Não use minha vassoura de pelo para varrer sujeira de obra, OK?" Ele concordou comigo, e fui sair, tranquila.

Quase tive um ataque de nervos quando, ao voltar, encontrei-o varrendo cimento úmido com minha vassoura de estimação! Já quase gritando, me lembro de dizer: "Mas eu não avisei para não usar a minha vassoura para fazer este tipo de serviço?!" Ele nem se abalou: "Era a que estava mais perto  no momento." Arranquei minha vassoura das mãos dele, e  "cantando pneus," fui para o tanque lavá-la antes que o cimento secasse. Nunca mais ele tocou na minha vassoura.

Hoje, aos quase cinquenta anos de idade, eu às vezes penso se esta será a nossa última casa, se nós moraremos nela até o fim da vida ou se acabaremos nos mudando para um apartamento menor, sem escadas ou jardim e mais fácil de limpar e cuidar quando ficarmos mais velhos. Bem, seja qual for a resposta, a vassoura estará conosco, e será com ela que varrerei  meu alpendre pela última vez - esteja onde estiver.







sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O JARDIM







De repente,
Largou os brinquedos e os enredos,
Abandonou, sem medos,  seu cowboy
Seguindo a estranha moça até o portão.

Disseram que eles foram de mãos dadas,
Deixando, no quintal, abandonadas,
A infância, as esperanças, a ilusão.

De repente,
O vento trouxe a chuva sobre tudo,
Enferrujou gangorras e balanços,
E apagou os passos pelo chão.

Disseram que ele não deixou bilhetes,
Mas a voz de criança, num falsete,
Ecoa, às vezes, entre a solidão.



UMA HOMENAGEM A TODAS AS CRIANÇAS ROUBADAS, DAS QUAIS NINGUÉM NUNCA MAIS TEVE NOTÍCIAS.




terça-feira, 4 de agosto de 2015

VOAR E VIVER




Lembro-me de que quando voei pela primeira vez, ao decolar, tive uma sensação de vazio por dentro, como se tivesse soltado tudo o que me segurava à terra de repente; todos os medos, apegos, raízes. Pensei, enquanto olhava pela janelinha do avião e via a terra ficando pequenininha: “Estou no ar! Estou totalmente dependurada no ar, e ninguém, a não ser as leis da física, estão me segurando! Como pode, algo tão pesado, pairando desse jeito?” 

Algumas pessoas podem dizer que é Deus quem está segurando o avião, e talvez seja mesmo; porém, se pensarmos um pouquinho, saberemos que mesmo que Deus segure o avião no ar -com a ajuda e a  habilidade dos pilotos - se houver uma falha mecânica ou humana, ele despenca. Acidentes de avião acontecem quase todos os dias, e a maioria deles é fatal para todos os ocupantes. Mas, mesmo sabendo disso, nós voamos. Despachamos nossas bagagens e entramos no avião como se fosse a coisa mais normal do mundo, e não sabemos se decolaremos e pousaremos de maneira segura. Confiamos no piloto. Confiamos na mecânica e na física. Confiamos na nossa boa estrela. 

Confiamos em Deus.

Mas os aviões caem, e às vezes, com pessoas que amamos dentro deles, ou quem sabe, conosco. 

Viver é como voar: não sabemos o que nos espera, e por isso, contamos com a fé na vida, tentando acreditar que tudo ficará bem. Vivemos e voamos, pois ficar parados, com medo do que possa acontecer, não leva a lugar nenhum. A única chance que temos de chegar a algum lugar, é nos arriscarmos a entrar no avião, e fazer planos para um futuro que não sabemos se teremos, e mesmo conscientes de que um dia tudo termina, agirmos com a  fé de quem flutua na eternidade. 



segunda-feira, 3 de agosto de 2015

SOBRE A POESIA




Sobre a poesia, algumas visões poéticas:


"Os poemas são pássaros que chegam
não se sabe de onde e pousam
no livro que lês.
Quando fechas o livro, eles alçam vôo
como de um alçapão.
Eles não têm pouso
nem porto;
alimentam-se um instante em cada
par de mãos e partem.
E olhas, então, essas tuas mãos vazias,
no maravilhado espanto de saberes
que o alimento deles já estava em ti..."

Mario Quintana





Poeminha Amoroso

"Este é um poema de amor 
tão meigo, tão terno, tão teu... 
É uma oferenda aos teus momentos 
de luta e de brisa e de céu... 
E eu, 
quero te servir a poesia 
numa concha azul do mar 
ou numa cesta de flores do campo. 
Talvez tu possas entender o meu amor. 
Mas se isso não acontecer, 
não importa. 
Já está declarado e estampado 
nas linhas e entrelinhas 
deste pequeno poema, 
o verso; 
o tão famoso e inesperado verso que 
te deixará pasmo, surpreso, perplexo... 
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."

Cora Coralina





"Árvores são poemas que a terra escreve para o céu. Nós as derrubamos e as
transformamos em papel para registrar todo nosso vazio."

Khalil Gibran



"O que eu odeio é que algum dia tudo se reduzirá a nada, os amores, os poemas. Acabaremos recheados de terra como um taco barato. Que coisa mais triste, tudo é tão triste - a gente passa a vida inteira feito bobo pra depois morrer que nem besta."

Charles Bukowski



NA SERRA



Vista da BR 040, antes da devastação



Ontem, ao descer e subir a Serra - BR 040 - para um passeio, fiquei um tanto triste; não vi mais a água que escorria das pedras. Não vi as minas e fontes que costumavam jorrar na estrada Rio/Petrópolis. Devido às obras de duplicação, milhares de árvores foram cortadas, e seus tocos permanecem ainda, como prova do verdadeiro assassínio do qual foram vítimas em nome da mobilidade e da praticidade..

A ampliação da estrada trará à Petrópolis o famigerado "progresso."  Mais pessoas virão para cá. Algumas delas começarão a morar, quem sabe, em um dos mais de trinta enormes condomínios que estão sendo construídos em áreas antes preservadas de Corrêas, Itaipava e Nogueira. Se já há a falta d'água para os que aqui estão, fico me perguntando como será quando a população for quase duplicada. Penso nos engarrafamentos que estas pessoas enfrentarão todas as manhãs ao se dirigirem ao trabalho e ao voltarem para suas casas.


Muitos vem morar aqui em busca de uma vida mais calma e de um espaço mais verde e fresco; alguns vem em busca de água pura de boa qualidade. Acho que se decepcionarão quando perceberem que estas coisas estão cada vez mais ausentes. Quase não houve inverno em Petrópolis em 2015. Os verões estão cada vez mais quentes e a água, cada vez mais rara.

Dentro do carro, lembrei-me do alívio que eu sentia quando, ao voltar das férias na região dos lagos, começávamos a subir a serra e abríamos as janelas do carro para sentir o perfume da floresta e o frescor do anoitecer. Assim que fazíamos a curva em Duque de Caxias e começávamos a subir, a mudança no clima era sentida. Ontem, ao percorrer a estrada e ver as marcas ressecadas sobre as rochas, onde antes escorria água de mina, senti muita tristeza. Estava tudo seco. Seco e quente.

Eu entendo que as coisas precisam mudar. Entendo a necessidade do progresso. Mas também entendo que deveria haver mais controle e menos especulações financeiras controlando o progresso. As encostas de Petrópolis, invadidas, desabam nos períodos de chuva - e por isso mesmo, não sei se a diminuição drástica das chuvas é um fator positivo ou negativo. O que vale mais: preservar as encostas e minas d´água, a flora e a fauna, ou as construções irregulares onde moram milhares de famílias? Decisão complicada e dolorida, pois qualquer que seja a conclusão, saímos perdendo. 


BR040 - em obras...


MAGIA



Magia é aquilo que se deita sobre a relva
Bem cedo, de manhã,
E depois se ergue em um fio
Pelo bico do passarinho,
Transmuta-se em canto.

Magia é aquilo que nos olha de dentro da neblina,
Entre a densidade branca e úmida
Que envolve os caules e as folhas,
Escondendo os picos das montanhas
E transformando, por instantes,
O mundo em Avalon.

Magia é aquilo que viaja com os ventos,
Entranhando-se em nossos cabelos,
Eriçando nossos pelos,
Fazendo cantar as frestas das janelas.

Magia é aquilo que se esconde atrás do luar,
No lado mais escuro
Onde nenhum astronauta jamais há de pisar.







domingo, 2 de agosto de 2015

UMIDADE




Rolam sobre a pedra
As gotas de chuva,
Tecendo macias estradas
De veludo verde.

A folha goteja
A vida,
Entregando à terra
Sua esperança.

Barulho de água
Na mata fechada
Ecoa mensagens
De lagos de luz.

A nascente abre
Seu ventre entre as folhas
Parindo umidade.

As gotas de chuva
Na teia de aranha
Parecem minúsculas
Uvas de vidro.

Eu peço que chova
Sobre as cabeceiras
Onde sonham as nascentes
E os rios.







ACENDA UMA VELA!


Iluminarium, em Itaipava.


Nada mais romântico que um jantar à luz de velas. As pupilas ficam mais dilatadas, tornando os olhares mais intensos, e a iluminação suave torna tudo bem mais romântico e aconchegante. 
Quando eu era criança, havia períodos de falta de luz quase todas as noites em meu bairro, e nós sempre tínhamos velas em casa. Era acabar a luz e minha mãe acendia as velas pela casa, que de repente  se transformava em um universo paralelo e mágico onde tudo era possível! Poderia haver fadas, duendes ou monstros descansando entre as sombras, e minha imaginação de criadora de histórias, que aflorou bem cedo,  começava a funcionar a todo vapor.




As primeira velas das quais se tem notícia remontam aos tempos primitivos, segundo pinturas encontradas em cavernas,  e eram feitas de gordura animal. De acordo com o site A ORIGEM DAS COISAS, "As primeiras referências às velas datam do séc. X a.C. e vêm referidas em textos Bíblicos. Essas velas eram nada mais que simples de juncos besuntados com sebo. Descobertas arqueológicas encontraram no Egito e na Grécia velas com formato de bastão. Para os gregos as velas simbolizavam o luar e constatou-se que na Grécia as velas eram usadas ao 6º dia de cada mês como adoração a Artemisa, a deusa grega da caça."




Até hoje, a maioria das religiões tem as velas como parte de seus rituais. Acendemos velas aos mortos, acreditando que elas podem iluminar-lhes os caminhos. Também as usamos para agradecer por uma graça alcançada e para pedirmos iluminação e proteção aos nossos anjos guardiões. E durante os aniversários, quem não gosta de cantar "Parabéns à você" e apagar as velinhas?

Acreditava-se, antigamente, que a chama das velas, quando fixadas insistentemente, possibilitava a visão de espíritos e a previsão do futuro. A antiga dinastia chinesa costumava usar relógios de velas para contar o tempo.

Iluminarium, em Itaipava

Hoje, utilizamos velas não apenas para iluminar ambientes quando a luz acaba, mas também como ornamentos decorativos. Algumas são tão lindas, que a gente tem pena de acender os pavios! Tenho aqui em casa minha pequena coleção de velas, que eu geralmente adquiro em Itaipava, no Shopping Vilarejo, em uma lojinha que é um encanto só, chamada  "Iluminarium." A página no Facebook:https://pt-br.facebook.com/IluminariumVelasEDecoracoesLá, além das velas, tem coisas lindas para decorar a casa e presentear os amigosÉ tanta coisa bonita, que a gente não sabe para onde olhar! 


As velas podem ser temáticas, comemorativas; eles tem velas para todas as ocasiões e datas especiais! Conhecer esta loja é algo que eu recomendo.

Aqui em casa, temos velas enfeitando o espaço em volta da lareira, espalhadas em cachepôs que pendem do telhado da varanda, enfim, enfeitando quase todos os espaços da casa. Eu adoro!








sexta-feira, 31 de julho de 2015

ONDE A SAUDADE MORA...








A saudade
Mora nos retratos,
Debaixo das camas,
Dentro dos armários,
No fundo espelhado dos pratos.

Tem pés que pisam duro,
Fazendo barulho,
A saudade.

Não perdoa a noite,
E é quando ela vem
Ainda mais forte,
Invadindo os sonhos...

E pela madrugada,
Antes que alguém dê conta,
Desce ruidosamente
Se senta na poltrona,
Aguarda-nos na sala.




SE EU FOSSE...




o luar aqui em casa, ontem...





Olhando para trás,
Buscando a vida na memória,
Vejo os restos que ficaram nos trilhos
Depois que o trem passou,
E penso:

- Ah, se eu fosse me importar!

Espadas e dentes,
Navalhas e pentes,
Os caules sem flores,
As contas caídas
Dos colares arrebentados
Da vida!

Só ossos e restos,
Que já nem mais cheiram,
Que já nem mais falam,
Bocas ressequidas,
Dedos desmanchados,
Peles carcomidas,
Almas que voaram,
Outras que ficaram
E que se perderam
Nas tramas furadas
Dessa estranha vida...




terça-feira, 28 de julho de 2015

A Saudade que eu Sentia










A saudade que eu sentia
  Passou,
    Como um trem que vai pra longe
        Levando dentro dele
           A dor que me apertava.

Eu vi você,
   À janela desse trem,
      E me despedi
                  Sem medos ou sustos,
                          Sem apegos ou suspiros
                                    Da mão que me acenava...





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