Choveu muito aqui no domingo, no finalzinho da tarde. Deitada atravessada na cama, enquanto meu marido assistia a algo na TV, eu de repente comecei a prestar atenção nas gotas de água que se formavam nas pontas das telhas e iam engordando até cair. O vento fustigava os galhos do cedro, e passava zumbindo pela greta da janela. Lembrei-me de que, quando eu era pequena, adorava fazer exatamente aquilo quando chovia: deitar na cama e ficar olhando as gotas caindo das telhas, o céu de chumbo por trás. O pensamento vai longe... quando nos damos conta, ele está muito além das gotas, e as memórias é que começam a engordar e cair.
Passei pelo tempo. O telhado é outro, a casa é outra, minha aparência é outra -estou bem mais velha. Mas a chuva é a mesma: é a água que evapora do chão, lagos, rios e mares, e volta a cair. Em outra casa, em outro tempo, uma menininha que estava dormindo despertou, olhou o mundo e voltou a dormir.
Observo muito algumas coisas que vem acontecendo em redes sociais. Uma delas, é a mania que algumas pessoas tem de sempre tentar encontrar um bode expiatório para as mazelas do mundo. A culpa nunca é nossa, é da Globo, é dos políticos, é dos Estados Unidos. Alguém tem que dar um jeito. Mas não nós. Não somos pagos para isso. Eles que são, que resolvam tudo, e que assumam todas as culpas.
Vejo também muita intolerância. As pessoas tem publicado ou compartilhado coisas horríveis sem nem sequer tomarem cinco minutinhos do seu tempo a fim de verificar a veracidade do que partilham; dia desses vejo um post afirmando, como se fosse um artigo retirado de um site de notícias, que um deputado famoso estava tentado aprovar não apenas o aborto, mas a licença maternidade para as mulheres praticantes. Fui ao link, e ao olhar o site por alguns minutos, achei-o estranho; pesquisei no Google durante dois minutos apenas e descobri que o 'jornalista' do tal site não existe. Trata-se de um espaço fake cuja especialidade é difamar pessoas famosas como se estivesse escrevendo textos de humor sobre elas, mas dando um tom de seriedade às notícias para que as pessoas mais ingênuas acreditem e espalhem as fofocas. E nem mesmo após eu ter comentado sobre a inveracidade da notícia, a pessoa que a postou a apagou. Ficou lá, e o político em questão foi submetido ao ódio e às pragas rogadas por todos que não gostam dele.
A Rede Globo de televisão é outro alvo: ela é "culpada" de incentivar o homossexualismo, como se o homossexualismo fosse algum tipo de doença transmissível por satélite. "A culpa é da Rede Globo! Não assistam! Vamos boicotar!" Ora, se existe ou não exagero naquilo que é mostrado, a solução é uma só: mudar de canal, se não estiver gostando! A mim não incomoda. Existem coisas que não podem ser mais ignoradas ou encobertas, pois fazem parte do dia-a-dia de todos. Quem não gosta, que ao menos respeite.
As fábricas de vídeo games e brinquedos tornaram-se as responsáveis pelo aumento da violência; se a criança tem um revólver de plástico, isto significa que ela crescerá e se tornará um bandido. Antigamente, todos os meninos brincavam com armas de plástico e espadas de mentirinha, e a violência nem chegava aos pés do que é hoje. Porém, antigamente os pais eram mais severos. Eles sabiam dar limites aos filhos e mostrar o que era certo e o que era errado. Hoje, se um dos pais for pego dando uma palmada em um filho, poderá perder a guarda deste ou até mesmo ser preso!
Não há mais revólveres de plástico; as armas hoje são verdadeiras. Às vezes elas projetam balas, e noutras, palavras.