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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Planeta Casa: Quente!...




O ano de 2014 foi apontado como o mais quente de todos os tempos. Planeta casa precisando de cuidados... após tantos desmandos com seus cômodos, ele finalmente está dando sinais de cansaço... se eu pudesse (e soubesse como), ia lá para fora e fazia uma dança da chuva.  Mas não vai adiantar, pois não há nuvens.

Espero poder acordar com o barulhinho da chuva no telhado, em uma manhã fresca e perfumada, com cheirinho de terra molhada. Espero poder olhar da janela e ver as plantinhas do meu jardim, hoje ressecadas e tristes, com seus rostinhos voltados para o céu e sorrindo em agradecimento. Não tenho água suficiente para dividir com elas, e vê-las secando, ver a terra farinhenta feito areia, me dá uma enorme tristeza...

Os passarinhos fugiram todos. As frutas apodreceram no comedouro, sem ter quem as comessem. Ouço o canto deles na mata, sob as árvores, onde é mais fresco. Eles não se atrevem a cruzar os céus com esse calorão, debaixo desse sol. Só dão o ar da graça no finalzinho da tarde, e mesmo assim, por pouco tempo.

A limpeza da casa também fica comprometida, já que não posso usar muita água. Será que alguém aí já parou para pensar no que vai acontecer se ela realmente acabar de vez?...

Enquanto isso, balões cruzam os céus com suas tochas acesas. As matas secas aqui embaixo tremem de medo quando eles passam.



Sentindo na Pele




Na última sexta-feira, o Jornal Nacional começou falando das mudanças climáticas em curso no mundo. Enquanto eu assistia, parecia-me que estava fazendo parte de algum daqueles filmes de ficção que falam sobre o fim do mundo, da falta d'água no planeta. De repente, eu me dei conta de que não era um filme: está acontecendo.

Antes, quando escutávamos algo sobre este assunto, a maioria dos verbos estavam no passado. Atônita, percebi na última sexta-feira que eles estavam todos no presente. Um grupo de cientistas criou um gráfico que vai de um a quatro a fim de medir a intensidade das mudanças climáticas, sendo que o nível um é o nível mais ameno, e o quatro, o mais crítico, que implica extinção de espécies, aquecimento global e falta de água. Bem, como num pesadelo, descobri que estamos no nível quatro.

O ano de 2014 foi o mais quente da história, e parece que 2015 não vai perder o recorde. Vivo em Petrópolis, cidade serrana conhecida pelo clima ameno e pela boa qualidade de sua água; na minha varanda, neste exato momento - 11:38 da manhã - o termômetro marca trinta graus à sombra, e a água das minas que abastecem as casas em minha rua, está secando. Temos pouquíssima água. A chuva que estava prevista para cair por aqui na próxima quarta-feira, não está mais lá na previsão do tempo; foi substituída pelo anúncio de chuva leve na quinta-feira à tarde. 

Passeando em Itaipava no último domingo, nos sentamos para tomar um sorvete e beber água. Enquanto eu tomava a água mineral gelada, fiquei pensando se poderemos desfrutar deste prazer em um futuro próximo... porque as mudanças climáticas e suas consequências já não fazem mais parte de histórias que "cientistas loucos" como James Lovelock e Tim Flannery contavam sobre o futuro: elas estão aqui. Está acontecendo.





sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

FLOR




O olhar da criança
Pousou sobre as  pétalas,
Enquanto, encantada,
Ela anunciou: "Flor!"

Nos lábios rosados,
Um riso espontâneo.

A mãe corrigiu-a:
"Crisântemo!"
O riso murchou.

O olhar ansioso 
Por mais descobertas,
Pousou noutras pétalas,
E ela, encantada,
Ainda tentou: "Flor!"

A mãe, sempre atenta,
Querendo ensinar
Sobre as diferenças,
Logo consertou: "Margarida!"

Morreu o sorriso
No rosto da criança,
Cessou a magia
De ver só a flor
Nos jardins da vida.




quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Entre as Coisas mais Lindas do Mundo...




Perdão e Esquecimento





Perdão e Esquecimento

Ao ser indagado sobre quantas vezes devemos perdoar aos nossos ofensores, Jesus foi bem claro: “Setenta vezes sete.” Mas até mesmo esta conta é um número finito: 490. E com toda certeza, ele baseou este número em uma representação simbólica daquilo que ele mesmo faria – e qual de nós pode igualar-se a ele? Na oração que deixou para nós, ele continua: “Perdoai as nossas ofensas assim como nós perdoamos aos nossos ofensores”, ou em outra versão, “Perdoai as nossas dívidas assim como nós perdoamos aos nossos devedores." Mas em nenhum momento, ele disse: “Esqueçais as nossas dívidas assim como nós nos esquecemos dos nossos devedores.”  E foi ele mesmo que expulsou os vendilhões do templo (os oportunistas) à gritos e pontapés. Por mais que ele amasse a todos igualmente, Jesus sabia muito bem que existem pessoas e pessoas...

Jesus sabia muito bem que quem perdoa, não esquece. Lá no fundo da alma, no âmago do ser, aquele que foi traído, ferido, enganado ou caluniado, especialmente quem o foi mais de uma vez pelas mesmas pessoas, não pode esquecer-se deste fato. E mesmo que, por razões íntimas, sejam elas feitas de convicções religiosas ou do mais puro sentimento de amor, quando perdoam, as pessoas se lembram; nós nos lembramos. Porque, como circula em uma frase de filosofia Facebookeana, “perdoar não é sofrer de amnésia.”

Mas existe uma grande diferença entre não esquecer e guardar rancor. O rancor, o ódio, a raiva, são sentimentos destrutivos. Quando eu os sinto, eu procuro observá-los, entender suas causas e conversar com eles até que eu os tenha sob meu controle. Acredito que tentar soca-los debaixo de uma falsa capa de perdão e esquecimento poderá torna-los ainda mais fortes e nocivos, prejudicando até mesmo a minha saúde física e mental. E dizer a alguém “Eu te perdoo” sem que isso seja verdadeiro, é mentir. Mentir para si mesmo e para a pessoa em questão.

Tudo o que vivemos faz parte de nosso aprendizado, da nossa experiência, e não deve ser esquecido, porém, entendido, assimilado. Se uma pessoa me fere hoje, e amanhã, e depois de amanhã, qual o sentido em continuar expondo-me a ela deliberadamente, já sabendo de quais atitudes esta pessoa é capaz? Afasto-me dela. Observo-a. Dou-lhe um tempo para que ela evolua em seu próprio ritmo, sem tentar impor-lhe as minhas convicções mas sem submeter-me aos seus desmandos. E não o faço por razões falsamente altruístas, mas porque assim estarei protegendo a mim mesma. Se eu achar que aquela pessoa realmente vale a pena, digo a ela os motivos pelos quais estou me afastando. Caso contrário, não digo nada.

Aprendi que de nada adianta tentar modificar os outros, pois cada um acredita naquilo que está pronto a acreditar, e vive conforme suas próprias crenças e experiências. Tentar impor as minhas ideias e convicções – que podem muito bem estarem erradas - só vai fazer com que eu perca meu tempo. Mas eu também acredito que um dia todo mundo acaba percebendo os próprios erros e agindo a fim de consertá-los. Eu mesma sei que tenho muitos erros a serem consertados, e estou cuidando disso. 

Quando pessoas passam por treinamentos de busca e salvamento, elas aprendem, em primeiro lugar, a cuidarem delas mesmas e garantir a própria integridade física. Em um avião, em caso de acidente nós somos ensinados a colocar a máscara de oxigênio em nós mesmos antes de tentar ajudar os outros. A pessoa mais importante do mundo, para mim, sou eu mesma. Ninguém viverá por mim, ninguém aprenderá por mim, e se um dia eu precisar de ajuda, sei que é mais provável que eu a encontre em alguém que esteja calmo e equilibrado.

Perdoar não é esquecer; tem mais a ver com entender, compreender e superar, arriscando-se a ser ferido novamente. Porque muitas vezes, quem pede perdão não o faz sinceramente, mas apenas por questões que envolvem interesses pessoais momentâneos. Aprender a identificar estas pessoas é vital para quem preza sua autoestima. 

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terça-feira, 13 de janeiro de 2015

ASAS DE OURO





"Faça-se de outro as asas do pássaro e ele nunca mais voará aos céus." - Tagore



Asas de Ouro


Tuas asas são de ouro, 
De ouro são teus desejos,
E no coração, um peso
te mantém sempre no chão.

De brilhantes, os teus olhos,
E os teus pés, são de latão...
Só dão passos pequeninos,
Mantém-se firmes no chão...

Tuas asas são de ouro,
E tua alma encarnada
Entre pesos e tesouros
Perdeu-se num denso nada!

Há um céu azul deserto
Coalhado de nuvens brancas,
Ansiando por teu voo,
Esperando que te livres
Das tuas asas de ouro!



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segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Nevegar é Preciso




De Fernando Pessoa:



"A verdadeira experiência consiste em restringir o contato com a realidade e aumentar a análise desse contato. Assim a sensibilidade se alarga e aprofunda, porque em nós está tudo; basta que o procuremos e o saibamos procurar."




"Quem cruzou todos os mares cruzou somente a monotonia de si mesmo. Já cruzei mais mares que todos. Já vi mais montanhas que as que há na terra. Passei já por cidades mais que as existentes, e os grandes rios de nenhuns mundos fluíram, absolutos, sob os meus olhos contemplativos. Se viajasse, encontraria a cópia débil do que já vira sem viajar."



"Somos todos míopes, exceto para dentro. Só o sonho vê com o olhar."


"A natureza é a diferença entre a alma e Deus."



"Tudo quanto o homem expõe ou exprime é uma nota à margem de um texto apagado de todo. mais ou menos, pelo sentido que havia de ser o do texto; mas fica sempre uma dúvida, e os sentidos possíveis são muitos."




"O homem superior difere do homem inferior, e dos animais irmãos deste, pela simples qualidade da ironia. a ironia é o primeiro indício de que a consciência se tornou consciente. E a ironia atravessa dois estágios: o estado marcado por Sócrates, que disse "Só sei que nada sei" e o estagio marcado por Sanches, quando disse "Nem sei se nada sei." O primeiro passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós dogmaticamente, e todo homem superior o dá e atinge. O segundo passo chega àquele ponto em que duvidamos de nós e da nossa dúvida, e poucos homens o tem atingido na curta extensão já tão longa do tempo, que , humanidade, temos visto o sol e a noite sobre a vária superfície da terra. Conhecer-se é errar, e o oráculo que disse "Conhece-te" propôs uma tarefa maior que as de Hércules e um enigma mais negro que o da esfinge. Desconhecer-se conscientemente, eis o caminho."







À Noite, no Jardim




As noites petropolitanas são sempre frescas, mesmo no verão , e apesar dos dias bem quentes que estamos tendo é possível ir lá para fora à noite e desfrutar de uma brisa fresca, quase fria. É o que temos feito sempre que possível.

Ficamos sentados no jardim, enquanto os cães brincam perto de nós. Olhamos as estrelas. Ontem, escutamos um barulho sobre o muro forrado de hera, e quando olhamos, percebemos que estávamos sendo observados: um ouriço caixeiro estava bem acima de nossas cabeças, e quando os cães latiram para ele, começou a mover-se bem lentamente sobre o muro, até desaparecer do outro lado. Ainda bem que ele não estava no gramado, ou teríamos problemas com os cachorros... tirar espinho de ouriço é trabalhoso.

Conversar no escuro é bom... parece que prestamos mais atenção ao que o outro diz sem as distrações do dia. Bem, mas é certo que a noite também tem suas distrações, como os ouriços, por exemplo. E os cães. E as estrelas cadentes. Mas são distrações mais serenas, que ao invés de nos puxarem para fora, encantam os caminhos que vão para dentro...



Hare Krishna




Saí bem cedo para caminhar, antes que o sol esquentasse demais. Acordar cedo é maravilhoso, e aconselho quem não gosta a experimentar durante alguns dias, mas de coração aberto...

Assim que acordo, ao escovar os dentes, olho pela janela do banheiro, e deparo com um pica-pau - daqueles de cabeça e pescoço vermelhos, com penacho e tudo - fazendo a festa no tronco da árvore do vizinho. Lindo de viver! Se eu não estivesse ali naquele momento, não o teria visto!

Desço a rua da minha casa, e vou encontrando com as pessoas que também acordaram cedo para ir trabalhar ou caminhar, como eu. Trocas de "Bom dia" em plena manhã de segunda-feira me deixam mais otimista em relação ao mundo e às pessoas. Uma brisa fresca sopra, mas o céu totalmente azul promete muito calor para mais tarde.

Chego à Barão do Rio Branco. Começo a caminhar mais rápido. Carros e ônibus passam pela estrada, e mais pessoas me cumprimentam. Sinto o movimento da vida, a semana que se inicia, caminhos que se cruzam, portas que se abrem e se fecham. Olho para o céu, as árvores antiquíssimas, e penso no quanto é preciso agradecer todas as manhãs. E agradeço. Faço as minhas orações, tenho a minha conversa com o Deus que vive em mim. Depois, respiro fundo várias vezes, e começo a entoar, mentalmente, um antigo mantra que aprendi quando ainda era adolescente:

"Hare Krishna, Hare Krishna, Krishna Krishna, Hare Hare / Hare Rama, Hare Rama, Rama Rama, Hare Hare." Ele significa: "Ó Senhor Todo-Atrativo e fonte de todo o prazer, ó energia do Senhor, por favor, ocupai-me no vosso serviço".

OCUPAI-ME NO VOSSO SERVIÇO.

E enquanto o recito muitas e muitas vezes, mentalizo uma luz azul entrando pelas minhas narinas quando inspiro, e uma luz cinzenta saindo quando expiro. Vou me limpando por dentro.

Faço isso há muito tempo, toda vez que saio para caminhar. Para mim, esse mantra significa soltar as amarras da vida  que supomos ter entre as mãos e deixá-la fazer o serviço, conduzir-nos no caminho, mostrar-nos por onde seguir. Porque nós não temos controle de nada, absolutamente nada. Podemos sonhar, correr atrás daquilo que queremos, mas só virá até nós aquilo que for nosso por direito divino. A vida sempre sabe o que é melhor, o que precisamos fazer para aprender o que viemos aprender. Acredito que uma grande parte das desgraças e frustrações que nos caem são devidas à nossa mania de querer controlar tudo, apressar tudo.

Vejo pessoas lutando para obter coisas e mais coisas, e mesmo após obtê-las, não conseguem se sentir felizes, não tem paz, e o desejo de obter mais e mais coisas jamais cessa; acho que é justamente porque elas querem mandar na vida, controlar tudo, tomar a frente de Deus. 

Caminhar me traz serenidade. Sozinha na estrada, eu me lembro de compreender que qualquer estrada que tomemos sempre nos conduzirá a algum destino. Mas quando estivermos em uma encruzilhada, a decisão sobre qual caminho tomar não deve vir só da gente. É hora de silenciar para escutar. 




sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

A MUSA






Penteava, tranquila,
Seus cabelos de Medusa,
A musa.
Mirava-se num rio
De águas profundas,
Sua imagem desfazendo-se em círculos concêntricos,
Descrita nas palavras
Da gente confusa
Que não entendia a sua língua.

Deitava lágrimas nas águas 
E risos nas margens.
Mergulhava fundo,
E embora não soubesse nadar
Jamais se afogava!

Enquanto isso,
A barca passava...

Poetas deitavam suas penas nas águas claras
Da musa impassível,
Formando conjuntos risíveis de luz e de trevas,
Mentes obtusas
Que se alimentavam
Das linhas da musa.

Julgavam com palavras excusas,
E profetizavam
Sobre o que somente ela compreendia.

A noite engolia o dia,
Apagando as inspirações...




Entre Orquídeas




Uma caminhada. O dia estava quente. Após andar durante quase trinta minutos sob o sol forte, preciso refrescar-me. Passo em frente ao Orquidário Binot, e entro, percorrendo o caminho sombreado por feixes de bambu e árvores frondosas, escutando o barulhinho da água que entra no laguinho de trutas através de um pequeno riacho.

O resto, é só encantamento.



Caminhar entre as flores... deixar-me ficar ali, olhando para elas em reverência, sentindo suas energias de cor e veludo... qualquer alma há de sentir-se em paz, com a sensação benfazeja de que tudo está certo no mundo, e que todas as coisas caminham para um bom final. Junto às flores, não pode haver tristeza, saudades, ou qualquer tipo de eco maldoso vindo do mundo lá fora. Aqui só chega a paz. Estou protegida, e nada de mal pode acontecer-me. 



Não quero ir embora. O vendedor chega, oferecendo-me ajuda, e digo que só estou olhando. "Me refazendo," digo a ele, e ele sorri, e tenho certeza de que me entendeu. retira-se discreta e reverentemente, deixando-me à sós com a beleza. Mas o mundo lá fora me chama... há as urgências: aulas a serem preparadas, alunos chegando, jardineiro aguardando o lanche da tarde.

Dirijo-me à saída carregando uma caixa com a orquídea e a bromélia que comprei. Sinto-me leve, refeita, energizada e totalmente feliz. Levo para casa um pedacinho daquela paz, que arrumo sobre o console da lareira. É reconfortante saber que aquele lugar estará ali amanhã, e depois, e depois...

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