Eu varro a casa, e ela fica varrida; eu limpo o gramado, e ele fica limpo. Passo o pano úmido na cozinha, e dois dias depois, ela ainda está brilhando. Não há marcas de patas no chão, pelos caídos nos cantos (que mesmo com tanto aspirador de pó, jamais iam embora totalmente), almofadas e cobertores das várias caminhas que eu mantinha para ela pela casa.
Às vezes eu acordo num sobressalto, pensando: "Tenho que alimentar a Latifah / preciso dar os remédios da Latifah." E então eu me lembro, e a dor se espalha. Posso fechar os olhos e voltar a dormir, mas não durmo. Acabo me levantando da cama no horário de sempre, e desço as escadas para uma casa vazia. O mesmo sol entra pela janela. Os passarinhos continuam nas árvores, aguardando sua comida - frutas que coloco para eles todas as manhãs. A rotina é quase a mesma.
Acabo de passar a roupa, sozinha na área de serviço. Minha companheira, que sempre ficava comigo enquanto eu passava a roupa, não estava lá. Acabaram-se as brincadeiras e interrupções no serviço para coçar-lhe a barriguinha e fazer-lhe festas.
Mas pensando bem, a casa não mudou; eu mudei. A casa continua a mesma, só que mais vazia. Bem mais vazia. Somente quem já teve um animalzinho de estimação e o perdeu, sabe o que eu sinto.
Mas assim são os animais: trazem-nos sempre muitas alegrias, momentos que ficarão para sempre na memória.
Trazem muitas alegrias, e apenas uma tristeza.