witch lady

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quinta-feira, 10 de abril de 2014

Sopro








Eu sopro teu rosto, assim,
(meu rosto, invisível)
Para que te lembres de mim.

Deixo passos silenciosos
Pelo corredor da casa,
Deixo cair uma gota mínima
Do perfume que eu usava.

Mexo as saias das cortinas
Para que te lembres de mim,
Nos tempos em que eu dançava.

Eu venho naquela música
-Lembras? - que eu tanto gostava,
Derrubo em teu colo a flor seca
Que as páginas do livro marcava.

Me deito ao teu lado, assim,
Para que sonhes comigo,
Para que te lembres de mim.

Mas sei que um dia, me esqueces,
(As fotos amarelecem)
Cai a flor seca no chão
(Tu a pisas sem notar...)

Outros perfumes virão,
Outros risos, outras danças,
Outras formas de viver:
-E então, será minha hora,
De finalmente,  morrer...




quarta-feira, 9 de abril de 2014

Seis Horas da Tarde





Ela inclinou-se em direção ao rádio, aumentando o volume para ouvir melhor. Com a interferência, vinham alguns sons de assovios e estalos de estática, mas no meio daqueles sons, podia-se ouvir a voz do locutor com clareza. O crepúsculo iluminava a cozinha, e as luzes da casa ainda não tinham sido acesas. A mulher chama a menina:

-Aninha, vem escutar a Ave-Maria!

A menina desvia os olhos do desenho que passa na TV, dizendo:

-Depois eu vou, mãe. Agora está passando "Missão Mágica."

A mãe aumenta ainda mais o volume, perturbando o som da TV. Insiste:

-Vem ouvir a Ave-maria, Aninha. daqui a pouco, acaba.

Finalmente, Aninha suspira fundo e dá os poucos passos que a afastam da cozinha. Ela olha para fora, pelo janelão que dá para o telhado do vizinho, e vê o céu escarlate que serve de pano de fundo para as folhas de coqueiro que a brisa agita docemente. A mãe está em uma posição engraçada, inclinada em direção ao rádio, cotovelos em cima da mesa. 

O locutor lê uma carta. É uma história muito triste com música de fundo triste, que a menina não compreende muito bem. Ela pergunta:

-Mãe, o que é Ave-Maria?

A mãe faz sinal para que a menina faça silêncio, e Aninha, sentada à mesa, procura entre os feijões pretos algum grão colorido para brincar mais tarde. Ela adorava enfileirar os grãos e fingir que eram alunos, como as professoras faziam com as meninas no pátio do colégio.

O locutor termina a história e a oração, e uma música triste começa a tocar. A menina comenta:

-Que música triste, mãe....
-É linda! É a Ave-maria de Gounod. 
-Eu não gosto dessa música.

A mãe recorda, olhos no céu vermelho:

-Quando eu era interna no Colégio Amparo, todas as tardes nós rezávamos uma Ave-Maria às seis horas em ponto.
-Por que?
-Porque era assim.

Aquela cena repetir-se-ia muitas vezes na vida da mãe e da menina. Aninha já sabia rezar o Pai-Nosso e a Ave-Maria, embora não soubesse o que significavam aquelas palavras misteriosas e difíceis. Ela imaginava uma enorme pomba branca como sendo a Ave-Maria. E o Pai-Nosso tinha a cara igualzinha a do seu pai Sylvio. 

Havia no quarto da mãe, sobre o mármore de um camiseiro, uma imagem do Menino Jesus de Praga. Ela nunca entendia direito como o menino e o homem da cruz podiam ser os mesmos. E também não entendia como a mãe podia rezar para a imagem do menino, se quando ele morreu, já era um homem feito. Um dia, um moço bateu à porta e disse que era crente. A mãe deixou-o entrar, e quando ele viu a imagem do menino Jesus de Praga, pegou-a e jogou-a no chão, dizendo ser "coisa do diabo." A mãe colocou-o para fora e tentou colar a imagem, mas a lampadinha que ficava aos pés do santo nunca mais acendeu, e ficaram algumas lascas faltando, manchando o manto vermelho de branco.

Aninha aprendeu que seis horas é a hora de rezar uma Ave-maria e escutar aquela triste canção que toca no rádio. Por que? Porque é assim. E hoje ela estava na varanda da casa, quando às seis horas, o som da Ave-Maria na casa vizinha chegou-lhe aos ouvidos, e ela lembrou-se da mãe...

Nasceu no tronco do ipê...


terça-feira, 8 de abril de 2014

Vamos Entrar no Poema - com Anne Lieri



Participação de Anne Lieri na seleta "Verseja Brasil" - da qual também participo - da editora Pimenta Malagueta, de Miriam Sales. 



Uma coisa que eu adoro
É brincar de poetar!
Trocar palavras e rimas,
fazer de conta, inventar!

Vamos entrar no poema!
Venha comigo brincar!
Diga se você quer ser:
Flor, estrela ou luar?

Talvez uma andorinha
Com as asas da liberdade!
Ou a brisa bem fresquinha,
Trazendo felicidade!




Um leão ou uma girafa,
Golfinho alegre no mar,
Nuvem que vem e passa,
Menina linda a sonhar!

Um poderoso guerreiro,
Um fantasma para assustar,
Ou um simples mensageiro
Carta de amor a brilhar!

Príncipe em seu cavalo,
Fada, gnomo, duende...
Canção de ninar, embalo!
Uma chama que acende!

Sino que toca suave,
A praça, a matriz, jardim...
Ou uma pequena chave
Do teu coração pra mim!






MARZIPÃ





Marzipã


Surge,
Mistura-se à névoa que sobe
No denso silêncio
Que aos poucos, se encobre.

Um cheiro de nozes,
Um cheiro castanho de avelãs
E marzipã...

Um brilho sutil
De estrela da manhã,
Quase madrugada...

A noite foi longa,
Escura e pesada!...
Surge a deusa estilizada!

Cabelos de fogo,
Pele de romã,
E no hálito, marzipã.

-Manhã!





segunda-feira, 7 de abril de 2014

MORAR & VIVER




Acho que morar é diferente de viver. Moramos em qualquer lugar. Podemos morar em casas, apartamentos ou até mesmo debaixo de uma ponte. Mas viver é diferente: a gente vive aonde se sente bem, mesmo que seja em um parque, caminhando por uma rua ou por dentro de uma floresta. Viver é estar consciente de tudo o que está em volta, é olhar atentamente, sentir-se bem e agradecer. Conheci pessoas que moravam em casas ou apartamentos lindos, mas não viviam neles.

Acredito que o ideal seja encontrar um lugar onde se possa morar e viver, ao mesmo tempo. Na minha vida, já morei em cinco lugares diferentes, mas só vivi realmente em três. Lembro-me da primeira vez que vi esta casa - não tinha intenção nenhuma de comprá-la e nem sabia que estava à venda. Meu cachorro Aleph, durante um passeio, praticamente arrastou-me para esta rua, e chegando em frente ao portão desta casa, ele sentou-se. Olhei para dentro do jardim, e pensei: "Que lugar bacana! Adoraria morar em um lugar assim..." Antes, havia tido alguns sonhos estranhos com uma senhora idosa de quem eu comprava uma velha casa com uma estufa no quintal dos fundos. Meu marido também sonhara com o carro cheio de materiais de construção dirigindo-se para esta rua (antes mesmo de sabermos da existência da casa).

Bem, comentei com uma vizinha sobre a casa que acabara de ver, e ela me respondeu: "Aquela casa está à venda, e eu conheço a proprietária." Ela fez as apresentações, e fiquei surpresa ao ver que tratava-se de uma senhora idosa, mas diferente da que eu vira em meu sonho - ela era morena, e a do sonho, loira. Mas quando ela passou-nos os documentos para que déssemos início à transferência, vi que na fotografia da identidade, ela estava loira: igualzinho a senhora com quem eu tinha sonhado! Descobri que aqui era o lugar que eu queria não apenas morar, mas também viver...

Não tenho uma estufa no quintal dos fundos, mas tenho um Orquidário para cujas estufas eu tenho uma vista da varanda do andar superior da casa. Coincidência?...



A Mentira




A mentira 
É como uma flecha
lançada nos olhos
De quem nela crê.

Negra tinta derramada
Nas águas claras de um lago,
Veneno posto no doce
Oferecido ao inocente.

A mentira
É um prato florido e vazio
Que só faz ter mais fome
Quem dele come.

Ah, mas os que o servem...
Ah, para estes
Serão reservados
Os mais belos quartos
Com vista indevassável
Dos jardins internos
Do inferno.







sábado, 5 de abril de 2014

Pisava em Nuvens







Pisava em Nuvens


Pisava em nuvens de flocos,
Flutuava sempre acima...
Lá embaixo, um mundo de dores
Que jamais a atingia...

Era pura, branca, limpa,
Lábios rosados de mel;
Não conhecia a agonia,
Nem mesmo o gosto do fel...

Da vida, sempre escolhia
O que de mais puro havia,
Não falava de tristezas,
Nada nunca a afligia!

Tecia em volta de si
Pura seda de alegrias,
Fechava os olhos e ouvidos
Para o que fere os sentidos...

Costurava em sua fronha
Material para os sonhos
Que tecia pela noite;
Sempre belos e risonhos!

Não andava: flutuava,
Jamais pisava os espinhos
Que a vida, às vezes, plantava
Pelos áridos caminhos...

Mas um dia, sempre chega
Aquela nuance mais forte
Um tom de dor, uma perda
Perpetrada pela morte!

De negro tingiu-se-lhe a vida
O sorriso se apagou...
Da sua nuvem, caiu,
E de cinzas se banhou!

Os espinhos penetraram-lhe
A sola branca dos pés
Sangrando sua confiança
Diante daquele revés...

As nuvens passavam longe,
E com ela, não sonhavam...
No chão, chamava por elas,
Mas elas nem lhe acenavam!

Seus sonhos morreram todos
De medo e decepção
Ao saber que a dor atinge
Todo e cada coração...

Aprendeu a ser mais forte,
A sonhar com mais cuidado
E a olhar quem percorria
Os caminhos escarpados.



JARDINS DO MUSEU IMPERIAL DE PETRÓPOLIS






























sexta-feira, 4 de abril de 2014

Direito de Resposta





O espaço onde ambas participamos não dá direito de resposta; pelo menos, aqui, em meu blog, que é um espaço livre, posso manifestar-me. Jurei que não iria mais à sua página, mas você sempre me manda os links das nojeiras que publica, e também mandou-me por e-mail as respostas aos meus comentários naquele texto injurioso disfarçado de poema com o título "Um Beijo pra Você". É sempre assim, já não é a primeira vez que você republica textos retirados pela administração do site trocando os miolos de textos já publicados e mantendo títulos de outros textos mais antigos.Adora afirmar que eu tenho inveja de você e do seu trabalho - como se fosse trabalhoso criar poemas estúpidos com duas sílabas em cada verso, em tercetos. Você se diz tão cheia de luz e de brilho, e no entanto, vive de tentar empanar brilhos alheios e de soltar suas pragas rogadas a mim e a muitas outras pessoas em todos os seus textos; examine-os: grande parte deles contém mensagens direcionadas, humilhando outros escritores e ressaltando o brilho da sua "infinita luz de amor e bondade" (acrescento: luz tão forte, que tornou-a cega e pretensiosa, sempre com a mania de achar que todo mundo tem inveja de você).

Você fala mal dos gordos. Você fala mal de quem sofre e perde pessoas da família. Você sente-se vitoriosa apontando o dedo para as pessoas que estão passando por alguma dificuldade e julgando o quanto elas merecem ou não passar pelo que passam. Mas olha só: todo mundo sofre. Todo mundo passa por maus momentos na vida, e com certeza, você também já passou e passará, e espero que na pior hora, ninguém escreva poemas zombando da morte de seus entes queridos.

Cara senhora lunática, eu não tenho inveja de você. Sabe por que? Você não tem nada que eu pudesse sequer cogitar em desejar. Não troco meus poemas pelas coisinhas que você publica, e afirma que são lindas e cheias de luz. Prefiro meus poeminhas foscos e sem-brilho, pois não escrevo poesia para ganhar dinheiro na internet, como você afirmou que pretende, em um dos e-mails que me enviou. Não te desejo, como você me deseja abertamente naquele post absurdo, nenhum mal ou sofrimento; não é necessário desejar mal às pessoas. A vida se encarrega de trazer a cada um o que merece. 

Quero, de verdade, que você encontre ainda nesta vida um pedacinho de felicidade. Quero que você venda muitos poemas, muitos livros e cartilhas ensinando as pessoas como escrever a sua obra prima (ui,ui...) e que fique famosa, consiga ir ao Fantástico para uma entrevista e torne-se membro da Academia Brasileira de Letras. Desejo também que você se torne o Paulo Coelho feminino da literatura brasileira, e vá trilhar o Caminho de Compostela a fim de encontrar a paz espiritual. Desejo que você seja feliz em todos os sentidos: no amor, na profissão, na vida familiar e na literatura. Te desejo muita saúde e vida longa. Que nem você nem  ninguém de sua família fiquem doentes jamais.

Quero também que um dia você aprenda a rir. Rir de si mesma, do mundo, das vicissitudes da vida. Talvez seja isso o que te falta: alegria de viver. Olhar para as coisas simples e aprender a gostar delas, admirá-las. Porque só quem consegue ser simples pode ser capaz de admirar algo que outra pessoa faça e enxergar além do próprio umbigo  sem sentir tanta amargura.

De hoje em diante, escreva o que quiser e nem se preocupe em mandar-me por e-mail, pois você, a partir de agora, deixa de existir em minha vida. É página virada. Menos que o cocô do cavalo do bandido. Qualquer coisa vinda de você que, porventura, me chegue à caixa de e-mails, será alegremente deletada sem ser lida. Fale mal de mim para seus amigos, conte o que quiser, faça-se de vítima ou de algoz: eu não dou a mínima. Sabe por que? Porque muitas pessoas já me contataram, dizendo que também foram ou são molestadas por você. As pessoas te conhecem bem. E você, sempre tão preocupada com sua imagem de escritora de sucesso, cuidado para não escorregar no quiabo e cair de cara no chão. 

Sem mais para o momento, Feliz Páscoa, feliz natal e Próspero Ano-novo.



A MARIPOSA





O vento me trouxe uma mariposa
Morta
Jogou-a aos meus pés
No chão da varanda.

Ela agora descansa
Na palma da minha mão.

Lá longe, na mata, 
Revoam borboletas amarelas e brancas,
Cantam as cigarras.

Um grilo pequenino
Toca sua leve guitarra,
Não sabe da tempestade
Que é gerada no ventre das nuvens negras.
Um colibri chega bem perto,
De repente,
As asas zunem enquanto ele me olha
E vai embora...

Visita tão breve e tão preciosa!

Tudo é vida, tudo!...
Mas a mariposa me fez lembrar
De coisas que eu queria esquecer.
De repente, fiquei triste,
Começou a chover.





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