sábado, 15 de março de 2014
Mudanças
Acho que uma casa tem que acompanhar as mudanças da gente. As paredes devem tingir-se das cores que nos agradam no momento. E mesmo que não seja possível pintá-las, é possível incluir essas cores nos pequenos detalhes: uma almofada, uma toalha de mesa ou cortina, um tapete.
Às vezes eu olho para quadros que fazem parte de minhas paredes há anos, e vejo que seus desenhos ou paisagens nada mais tem a ver comigo; substituo-os por outros ou troco-os de lugar. E quando eu os substituo, sempre acabo presenteando alguém com eles, pois quase nunca guardo coisas que não uso mais - a não ser que eu sinta que as usarei novamente.
Gosto de caminhar pela casa e ver as coisas diferentes. Nem precisam ser mudanças radicais (nem sempre temos o dinheiro suficiente para fazê-las), mas detalhes aqui e ali que dão um ar diferente, inovado. Parece que a casa respira melhor. É quase como quando a gente corta o cabelo ou compra roupas novas.
Viver é mudar. Não consigo ficar na mesmice. "Conservadora" não é um adjetivo que me define bem, pois apesar de ter meu lado conservador, que tem mais a ver com meus valores, até mesmo estes mudam. Eu não gostava Drummond, e agora, eu gosto. Acho que com o tempo, se nos permitirmos estar abertos às mudanças, novos entendimentos passam a fazer parte do nosso ponto de vista, e passamos a compreender melhor certas coisas que costumávamos não gostar, e ao mesmo tempo, passamos a não gostar mais de outras que eram consideradas muito importantes.
Não, não chego a ser uma metamorfose ambulante; mas também não tenho aquela velha opinião formada sobre tudo.
ADÉLIA PRADO
Trechos de Poemas de Adélia Prado
"Eu sou uma mulher sem nenhum mel
eu não tenho um colírio nem um chá
tanto a rosa de seda sobre o muro
minha raiz comendo esterco e chão.
Quero a macia flor desabrochada
irado polvo cego é meu carinho.
Eu quero ser chamada rosa e flor
eu vou gerar um cacto sem espinho."
(Senha)
Nunca me senti moradora,
a sensação é de exílio.
Criancinha de peito, essa já sabe,
seu olhar muda quando desmamada.
Tudo é igual a tudo,
mas por agora a unidade nos cega,
daí o múltiplo e suas distrações.
Deus sabe o que fez.
Mesmo com medo escrevo
que é 1º de julho de 2011.
Parece póstumo, parece sonho.
Alguma coisa não muda,
minha fraqueza me põe no caminho certo.
Deus nunca me abandonou."
(Sala de Espera)
quarta-feira, 12 de março de 2014
O Número de Dunbar
Recentemente, usei em minhas aulas um artigo da revista Speak Up - gosto muito desta revista, pois traz assuntos interessantes para discutir em sala de aula com meus alunos de inglês - sobre o Número de Dunbar. De acordo com a Wikipedia (outra de minhas fontes favoritas, pois é simples e direta), Robin Dunbar (28/07/1947) é um antropólogo evolucionista da Universidade de Liverpool, Inglaterra. Após pesquisas, ele criou o Número de Dunbar. A Wikipedia explica que:
"O número de Dunbar define o limite cognitivo teórico do número de pessoas com as quais um indivíduo pode manter relações sociais estáveis. Nesse tipo de relação o indivíduo conhece cada membro do grupo e sabe identificar em que relação cada indivíduo se encontra com os outros indivíduos do grupo-1 Esse número teórico fica entre 100 e 230 pessoas, entre parentes e amigos. Deve-se reparar que as pequenas comunidades - tribos, aldeias, grupos de interesse comum - costumam ficar mais ou menos nessa faixa."
Dunbar criou um sistema de anéis concêntricos onde você está no centro, e à sua volta, um grupo social de cento e cinquenta pessoas, sendo que o anel mais próximo de você é formado por 3 a 5 pessoas, enquanto o segundo anel contém 10 a 15 pessoas, e o terceiro, 30 a 45. As pessoas compondo o primeiro anel podem ser consideradas nossos amigos de verdade. Ele explica que, apesar de podermos considerar as pessoas dos anéis mais distantes como amigos ou pessoas com quem temos coisas em comum, dificilmente alguém conseguirá manejar relacionamentos significativos com um número de pessoas maior que 35. Os membros familiares não estão incluídos nestes números.
Segundo Angelita Viana Corrêa Scardua, pioneira nos estudos de psicologia positiva no Brasil, "...amizade que é amizade tem o suporte dos sentidos! Amigo de verdade tem olhos para ver, nariz para cheirar, mãos para tocar, ouvidos para ouvir…”Amigo virtual” pode até ser bom para “enganar” a solidão, pode mesmo até ajudar a expandir o círculo social, contribuindo com mais informações para o processamento cerebral… Mas amigo que é só virtual dificilmente poderá contribuir para que o cérebro libere muitos dos neurotransmissores que nos ajudam a nos sentirmos mais relaxados, alegres e felizes. Afinal, a ocitocina, um hormônio muito associado ao vínculo afetivo, tem no contato físico um dos seus principais gatilhos. Não é a toa que a ocitocina é carinhosamente chamada pelos cientistas de “hormônio do abraço”!
Concordo plenamente com ela. O que sabemos, realmente, sobre as pessoas com quem 'encontramos' no mundo virtual? Apenas o que elas colocam na rede. Vemos as fotografias mais bonitas, onde elas estão vestindo suas melhores roupas em lugares maravilhosos, sempre sorridentes e felizes. E quem não faz como elas, ou seja, quem não demonstra estar feliz e sorridente o tempo todo - mesmo que esta felicidade seja totalmente falsa - é considerado esquisito e desajustado. É preciso ser feliz a qualquer custo (ou pelo menos, fazer os outros acreditarem que é assim que somos). Jamais discordar, ser sempre amigo de todos, fazer cara de paisagem mesmo nas situações que normalmente nos tirariam do sério aqui fora, pois é preciso manter uma imagem de perfeição e impecabilidade.
No Facebook - uma rede social na qual tenho, no momento, 384 pessoas em meu círculo de amigos - eu sinto o quanto o Número de Dunbar realmente faz sentido.
Eu acho perigoso acreditar que realmente temos trezentos, quinhentos ou até mais amigos online. Amizade e afinidade não são a mesma coisa. Sempre tomo muito cuidado ao considerar alguém como amigo, e não tenho nenhum tipo de ilusão romântica a esse respeito. Porém, acredito que, de perto, ninguém é normal, mas também não é tão esquisito assim.
terça-feira, 11 de março de 2014
MEU AMOR NASCEU DA PEDRA
O poema abaixo foi composto a pedido de Zélia Maria Freire - participação em uma brincadeira no Facebook, onde os escolhidos deveriam publicar um poema em 24 horas ou presentear seu desafiante com um livro de poesias. Zélia desafiou-me, e ficou assim:
Meu Amor Nasceu da Pedra
Meu amor nasceu da pedra
Do meu coração fechado
Nasceu de um pedaço quebrado
Sem tempo, sem rosto e sem regra.
Derramei-me nessa entrega,
Mas teu coração malvado
Lacerou-me na refrega
E marcou de dor, para sempre
meu coração magoado...
-Antes fosse só de pedra,
Antes ficasse fechado!
segunda-feira, 10 de março de 2014
De que Vale um Poema?
Por que escrevo? Qual o peso, sobre as coisas do mundo, de um poema? Modificarei as pessoas, melhorarei a humanidade, enriquecerei a mim mesma financeiramente? Não.
Qual o peso do teu poema? Até hoje, a quem ele modificou, a não ser a você mesmo?
Qual o peso da poesia? Por que as pessoas tem diferentes talentos? Algumas sabem escrever, outras sabem pintar, outras cantam ou compõe músicas. Há os que são mestres na cozinha e os que constróem casas. Há também os que sabem ensinar e educar.
E outros, escrevem poemas. E de todos os talentos nos quais eu possa pensar, talvez este seja o mais inútil, e o que menos possa valer aos olhos dos outros, e que menos provoque alguma reação ou mudança na humanidade.
Um poema não muda a humanidade, não melhora a nossa imagem pessoal, não é altruísta, não serve para quase nada.
A não ser para quem o escreve. Através da poesia, eu coloco meus pensamentos e sentimentos em dia. É a poesia que tem me salvado nos piores momentos da vida, e é ela quem me ajuda a expressar as minhas alegrias - duradouras ou efêmeras. Não sei o motivo desse dom. Não sei se nasci com ele. Nem sei se eu o mereço. Mas acreditemos que Deus dê a cada um de nós uma maneira de expressar-se e tornar, nem que seja apenas o espaço que nos cerca (escrever pode ser um talento um tanto egoísta), um pouco mais respirável e bonito.
Então, este terá sido o valor de um poema, e o valor de um talento.
Porque é preciso que nos troquemos por alguma coisa, e muitas vezes, este ato tem muito pouco ou quase nada a ver com as outras pessoas. E se por um acaso, alguém sentir-se tocado de alguma forma pelo que fizemos, então esta terá sido uma linda recompensa por um talento que nos foi concedido, mas jamais a maior delas. Porque, para mim, a maior recompensa é escrever.
Temperinhos
A vizinha chamou-me pelo muro, e entregou-me uma plantinha verde com uma pequena raiz: "É manjericão. Você pode plantar, e terá sempre um galhinho fresco para colocar em massas e carnes."
Plantei-o, e ele cresceu e expandiu-se tanto, que sobra canteiro afora! Juntamente com ele, plantei também hortelã-pimenta (que ainda não vingou muito bem), alecrim e salsinha. Depois, acrescentei pimenta dedo-de-moça, mas ela ainda não deu pimentinhas.
Sempre bom plantar alguma coisa naquele espaço vazio nos fundos da casa. De vez em quando, peço licença ao meu manjericão e retiro algumas de suas folhas para temperar a comida. Acho gostoso esse ritual de ir lá fora buscar tempero.
Lembro-me de que minha mãe tinha mania de cortar os tomates e espremer as sementes na terra, sem cuidado, sem nada. Dias depois, começavam a aparecer mudas que iam crescendo, crescendo... e logo tínhamos tomates vermelhinhos! Infelizmente, não tenho o dedo verde de minha mãe, e nem tudo o que eu planto, cresce com facilidade. Mas alguma coisa sempre vinga, e por isso, eu vou tentando... aqui em casa eu fiz como ela: espalhei as sementes do tomate, e eles brotaram. Comi alguns na salada, embora não tenham ficado tão bonitos e vermelhos quanto os dela. Acho que é excesso de zelo.
Lá na casa de minha irmã, onde minha mãe morou até morrer depois que me casei, ela um dia plantou - ou melhor, apenas espetou no chão - um galho de roseira vermelha, de uma rosa que tinha ganho e que murchou; até hoje, a gente chega lá e vê a enorme roseira, sempre florida, as rosas cor de sangue aveludadas...
Gandhi
Pensamentos de Gandhi
"A felicidade é quando o que você PENSA, o que você DIZ e o que você FAZ estão em harmonia."
"O silêncio já se tornou para mim uma necessidade física espiritual. Inicialmente escolhi-o para aliviar-me da depressão. A seguir precisei de tempo para escrever. Após havê-lo praticado por certo tempo descobri, todavia, seu valor espiritual. E de repente dei conta de que eram esses momentos em que melhor podia comunicar-me com Deus. Agora sinto-me como se tivesse sido feito para o silêncio."
"Prefiro ser violento se houver violência em meu coração, do que negar minha essência..."
"Assim como uma gota de veneno compromete um balde inteiro, também a mentira, por menor que seja, estraga toda a nossa vida.”
“Você nunca sabe que resultados virão da sua ação. Mas se você não fizer nada, não existirão resultados.”
“Quando me desespero, eu me lembro que durante toda a história o caminho da verdade e do amor sempre ganharam. Tem existido tiranos e assassinos e por um tempo eles parecem invencíveis, mas no final, eles sempre caem - pense nisso, SEMPRE.”
HAIKAIS
Teia de aranha
Transparente armadilha
Para quem voa.
.
Louva o Louva Deus
Dentro de si tem fome
Por borboletas.
.
Poça de lama
Aonde o sol se olha
Porém não se vê.
.
A formiguinha
Espionando o voo
Das andorinhas.
.
Canta a cigarra
E entrega sua vida
Por um poema.
sábado, 8 de março de 2014
A VIDA
A vida é esse instante no qual te moves
E perguntas, e gritas, duvidas e foges
De todas as respostas que ela te der.
A vida é a paisagem à tua janela,
(Quer queiras ou não tornar-te parte dela)
A vida é o que passa, e tu passas com ela.
A vida é o que zomba da eternidade,
E conta mentiras, distorce verdades,
E ela te mata sempre no final.
E é só te matando que ela se revela,
E só te liberta quando ela te sela
No esquife ilusório da história fatal.
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