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segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Raul de Leoni - Legenda dos Dias





Legenda dos Dias - Poema de Raul de Leoni ( do livro Luz Mediterrânea, publicado em 1922 quando o autor contava 27 anos. Raul de Leoni faleceu aos 31 anos, de tuberculose).





O homem desperta e sai a cada alvorada
Para o acaso das cousas... E, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o ideal nalguma encruzilhada...

As horas morrem sobre as horas... Nada!
E ao poente, o homem com a sombra recolhida,
Volta, pensando: "Se o ideal da vida
Não veio hoje, virá na outra jornada..."

Ontem, hoje, amanhã, depois e assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera;

E a vida passa... efêmera e vazia:
Um adiamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia...



Raul de Leoni nasceu e morreu no Rio de Janeiro (1895-1926).


Noite de Medo e Surpresa





Há muito tempo, quando eu tinha apenas vinte e dois anos, meu pai nos deixou. Bem, ele estava doente há algum tempo, e o médico nos preveniu de que ele poderia morrer a qualquer momento, pois tinha um coração muito fraco. Mas ninguém está totalmente preparado para a morte de alguém, mesmo quando ela é iminente.

Eu era a última filha - a caçula - e fiquei morando com minha mãe. Os outros irmãos já eram casados e tinham suas próprias casas. Pela primeira vez, sentia-me insegura por morar em uma casa; mesmo sabendo que meu pai era um gomem muito doente, ter uma presença masculina dava-me segurança. Quando ele se foi, eu e minha mãe nos sentimos bastante vulneráveis...

Certa noite, acordamos com o ruído de alguém forçando uma maçaneta. O banheiro ficava dentro da área de serviço, cuja porta que ligava à cozinha, nós trancávamos durante a noite. Concluímos, após escutarmos por alguns instantes, que tinha alguém forçando a porta do banheiro, provavelmente pensando que ela conduzia ao interior da casa. Aos cochichos, minha mãe e eu deliberamos o que fazer. Decidi colocar uma chaleira de água para ferver, pois se alguém tentasse invadir, receberia um banho de água fervente! Ela achou melhor deixar claro de que a c asa não estava vazia, e começou a falar em voz alta:

-"Nós estamos aqui, e temos uma arma! Nem pense em entrar!"

Mas os ruídos não cessavam. Eu estava quase em pânico! Ficamos um bom tempo tentando decidir o que fazer. Naquela época, não tínhamos telefone em casa, e não poderíamos chamar a polícia. Talvez se gritássemos?... Pensei nisso, mas minha mão falou:

-Eu vou abrir uma greta da porta para ver quem é.

Quase morri de susto quando ela falou aquilo! Pedi-lhe que desistisse da ideia, mas ela insistiu, já começando a girar devagarinho a grande chave antiga da porta da cozinha. Enquanto ela olhava pela greta (eu apreensiva atrás dela, pronta a 'atacar), vi quando o rosto dela se desanuviou:

-Dá uma olhada nisso, Ana.

Olhei, e vi a nossa gata (cujos filhotes estavam em uma caixa, dentro do banheiro) tentando abrir a porta, pulando na maçaneta e agarrando-a com as patas. Ela saíra pela janela do banheiro durante a noite, subindo na pia e pulando para fora, mas era alto demais para ela pular de volta para dentro.

domingo, 11 de agosto de 2013

Lembranças de Outra Vida





Na gota de chuva

Lembranças 

De quando foi nuvem.





Dona de Casa - Um poema


Vassoura em punho,
Percorreu cantos recolhendo o pó em montes.
Pôs as cobertas ao sol,
E abriu bem as janelas.
Ia pintando, com suas tintas,
A tela simples de sua vida,
Deixando tudo melhor
E mais limpo, onde passava.

Batia um bolo, cerzia um pano,
Enquanto a roupa batia na máquina.
Lia um poema na cozinha
Enquanto o jantar cozinhava.



A idade já pesava,
Mais ainda, ao chegar à janela
E ver a moça que passava,
Bem-vestida e maquiada...

A dona-de-casa pensava:
"Deixei aqui minha vida,
Entre a roupa limpa e as panelas,
Papinhas e histórias da Carochinha
Contadas nas noites insones das crianças..."

Às vezes, ela sentia angústia
Ao pensar no que havia
Do outro lado da vida,
Onde a moça que passava vivia...

O que ela não sabia,
Era que a vida passava
Para a tal moça, também,
Que ao vê-la à janela,
Sonhava com a própria casa
Que um dia, ela teria,
Não fosse a vida agitada!...



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

OBRIGADO, MEU PAI - Uma Carta




Obrigado, Meu Pai - texto de Jorge Chammas Neto





Meu querido pai, meu companheiro e amigo, meu ídolo: hoje não vou vê-lo nem abraçá-lo, como fazia todos os anos neste dia especial. Não lhe comprarei o presente tradicional e não verei o seu sorriso bondoso de agradecimento. E o seu filho, hoje, não estará alegre e feliz à mesa do almoço festivo.

Mas, eu estarei como sempre, pensando em você. E me auto-avaliando, em função dos ensinamentos de vida que você me deu, por palavras e atitudes, sobretudo, por exemplos verdadeiramente maravilhosos. Dizem que os filhos, normalmente, não querem 'repetir o papai'. Como eu gostaria de repetir você, meu pai! Eu teria orgulho de poder ser tão bom, tão trabalhador e inteligente, tão progressista e patriota, tão humilde e válido à sociedade, tão querido e respeitado, enfim, tão merecedor de carregar o seu nome.




Por isso, eu quero lhe fazer hoje, para valer enquanto eu viver, uma promessa: vou lutar até os extremos de minha força, para honrá-lo; para não deixar perecer a sua obra, senão para engrandecê-la; para preservar suas amizades, que eram seu orgulho; para manter íntegra sua família, que era a sua paixão, para ser homem e ser gente, como você sempre desejou que eu fosse.

Hoje, eu não lhe mandarei o presente tradicional, mas depositarei flores em seu túmulo e elevarei fervorosas preces ao Deus Amigo, para que o tenha na eternidade e para que um dia me dê a suprema graça de unir-nos  de novo.



A Noite





A Noite

A noite permite o sonho,
Dá espaço ao que não vemos
Durante o dia; desejos
Que num afago, afogamos.

A noite dá corpo às almas,
Que a vagar, se encontram
Sob o brilho de um luar
Que paira noutro recanto.

A noite salva o encanto
E permite a fantasia...
Prepara, bem devagar,
Nova mesa para o dia

Que nasce, junto com o sol
Surgindo por trás do ontem
Até que em horizontes opostos
O sol e a lua se encontrem.


quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Corte & Costura



Quando eu era pequena, minha mãe tinha uma daquelas máquinas de costura Singer, de pedal. Ali, ela fazia vestidinhos e batas para nós, e também fronhas e lençóis para a casa. Lembro-me de uma calça de lã marrom que ela fez para mim, e na primeira vez em que usei, levei um tombo e rasguei-a no joelho... de castigo pela minha desobediência (minha mãe tinha mandado eu parar de correr algumas vezes, antes do tombo), ela a cerziu e tive que usá-la assim mesmo; morria de vergonha de ter que usar a calça cerzida no joelho!

Minha mãe também fazia nossos vestidos de festa caipira para o colégio, e uma vez, confeccionou meu vestido de noiva! Noiva caipira, é lógico.



Mas naquela máquina de costura, ela ensinou minhas irmãs a costurar. Uma de minhas irmãs, a Ester, aprendeu rapidamente: logo, ela estava costurando calças modelo pantalonas saint-tropez para a mulherada toda da vizinhança, e as calças que ela costurava, faziam o maior sucesso. Minhas outras duas irmãs também aprenderam logo, mas eu era uma negação... nunca consegui passar linha na máquina, muito menos, costurar.

Minha mãe tentou de tudo: bordado, tricô, crochê. O máximo que ela conseguiu, foi ensinar-me a pregar botões. Eu era - sou - uma negação em trabalhos manuais. Quem fazia as roupinhas para minha boneca Suzi (uma antepassada da atual Barbie), era uma amiga, cuja mãe trabalhava em uma malharia, e sempre tinha muitos retalhinhos coloridos em casa.



Aprendi a fazer pulseirinhas de palha, entremeadas de contas. Nisso, eu era boa! Chegava no colégio e trocava com as outras meninas por roupinhas de boneca, ou então, vendia e comprava mais continhas para fabricar mais pulseirinhas e colares. Eu amava fazer aquilo!




Já casada, eu tentei fazer fuxicos. Não, não estou falando de fofoca maldosa, mas daqueles pedacinhos de pano cortados em formato redondo e depois franzidos; quando se tem uma porção deles, a gente emenda os pedaços e faz colchas, almofadas e o que mais a imaginação mandar. Investi fundo na compra de retalhos. No começo, foi divertido, cortar os paninhos e sentar na rede para franzir os fuxicos, jogando-os num saco plástico ao ficarem prontos; mas na hora de montar a colcha... céus! Que desgraça... ficou tudo um horror, e minha fase-fuxico passou como uma ventania.

Não adianta; quem nasceu para lagartixa, jamais chega a jacaré. Não sei costurar, e pronto. Mas sei fazer um doce de abóbora que ninguém faz melhor!



Cedo ou Tarde




Cedo ou tarde,
Faz-se um silêncio
Pesado e denso
Dentro da gente.

 Foge a palavra,
Esconde-se, cala-se,
Resvala pela fresta da janela
Põe-se como o sol
Num horizonte mudo.

Turva-se o mundo,
Envolve-se em neblina
E nem que se tente,
Por mais que se tema,
A palavra não surge,
Não amanhece o silêncio
Não há poema.

E é como o ar que nos falta,
A luz que não brilha,
Verão sem cigarras,
Fogo sem calor,
Guitarra sem canção,
Canção sem amor...

E a alma  se perde,
Qual sombra a fitar-nos no espelho
Dentro de um olhar vazio
E taciturno.

E há de ser assim,
Para que não nos esqueçamos
De que palavra é dom,
E como dom,
É coisa dada,
Não nos pertence
E nos pode ser tomada.


Razão





Razão


Lembro-me bem;
Já passei por aqui,
Há muito, muito tempo...

Deixei beijos sobre as folhas,
Suspiros de encantamento
Ecoando entre estes muros.

Eu nada trouxe comigo,
-Nem levarei nada, eu juro,
Vim apenas de passagem
Sem pretender causar danos
Sem amassar o relvado.

Quero apenas reviver
Tentar saber se 'inda resta
Um pouco do que encontrei
Naquele tempo acabado...



quarta-feira, 7 de agosto de 2013

Meu Adeus





MEU ADEUS
  poema de Idamar Caixeta Bornelli



Queridos pais, esta é a hora
Aqui deixo a minha despedida...
Agradeço o muito que fizeram
De grande e bom, em minha vida,

E estes pobres versos são lamentos
Dum coração que é partido agora.
Dele, metade a vocês se une,
Outra, comigo ir-se-há embora.

Vinte anos vivi, só de alegria
E, se hoje parto, fico aqui também
E o carinho recebido um dia
É o que levo de supremo bem!




Hoje que vou, cheia de esperança,
Sigo em busca da felicidade
Mas esta, se encontrar, será envolta
Num véu de doce e cruel saudade.

E quando a tristeza atingir minh'alma 
Relembrando meu passado aqui,
Chorarei sim, e então a calma
Virá em breve e me fará sorrir.

Pois a lembrança do que já vivi
Dar-me-há forças para prosseguir!
Hoje sou misto: dor e alegria
Sou hoje angústia e serenidade,
Hoje sou pesar e euforia,
Amanhã, eu serei, serei saudade!




E o lar que construirei lá fora
Será deste lar continuação;
E os frutos que meu amor tiver
Terão suas raízes neste chão.

Adeus, anjos queridos, na jornada,
As suas sombras seguirão comigo.
E se me ferir, um dia, a árdua estrada,
Sentir-me-ei consolada neste abrigo.





Nesta hora em que os deixo, pais queridos,
O amor mais puro no meu peito exala,
Um pesar atroz em meu peito grita;
E sinto assim que minh'alma se cala
Ante a dor cruel que esse adeus suscita!
E mal contendo nesta despedida,
As lágrimas que me embaçam o olhar,
Peço-lhes que orem pela nova vida
Desta filha que nunca os deixará de amar.



terça-feira, 6 de agosto de 2013

O Cão





Um cão raivoso,
Osso bem preso
Entre suas patas...

Nada lhe agrada,
Ou alivia
O seu pesar...
-Nada!

Uiva sozinho
Pelo caminho
Sonha com um mundo
Bem diferente...

Ele reclama 
Do osso duro
Da vida dura
Que há de roê-lo;

Ele reclama,
Do osso duro
E a si engana,
Pois não o larga
Nem o consome.

Morre de fome
O pobre cão
Sem ter ninguém
Que o assista...

Mas na verdade,
O que ele quer,
O que deseja,
É que lhe notem!

Então, rosnando,
Faz um buraco,
Enterra o osso
E deita sobre
A terra fofa.

Quem se aproxima
Daquele cão
Ganha um rosnado
E a exposição
De muitos dentes
Bem afiados!

Mas não; não larga,
Jamais entrega 
O osso duro
Que tanto odeia!


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