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sexta-feira, 10 de abril de 2015

Guy Consolmagno - O Astrônomo do Vaticano




"Dentro em breve, as nações recorrerão aos alienígenas para sua salvação."


Com mestrado no MIT e pós-doutorado em Harvard, o padre Guy Consolmagno é um dos astrônomos do Vaticano. Nesta entrevista em que relembra a conturbada relação histórica entre ciência e religião, ele defende ambas com a mesma paixão.

Por que o Vaticano tem um observatório astronômico?

O observatório mostra ao mundo que a Igreja apoia, ativamente, a ciência. Isso é importante não só como resposta às pessoas que rejeitam a Igreja por achar que ela é, de alguma forma, anticiência, mas também para mostrar às pessoas da Igreja que a ciência deve ser encorajada. Nas palavras do Papa João Paulo II, a verdade não contradiz a verdade. Num sentido mais profundo, além de servir como ponte entre os mundos da Igreja e da ciência, nosso observatório ajuda os crentes a apreciar as glórias da criação, como uma forma de louvar o Criador. E isso significa fazer ciência de verdade, saber como o Universo realmente funciona, e não apenas presumir que já sabemos tudo. Uma pessoa só pode ser cientista se tiver um grande senso de humildade: para poder abarcar cada problema admitindo, desde o início, “eu não sei, vamos descobrir”.

Como era a relação entre ciência e religião quando o observatório foi criado?

O fim do século XIX, quando a versão moderna do observatório foi restabelecida pelo Papa Leão XIII, foi um período em que muitos, na cultura popular, acreditavam que ciência e tecnologia (com frequência confundidas, como ocorre até hoje) guardavam a promessa de resolver todos os problemas humanos e responder a todas as questões; poderiam algum dia até substituir a religião. Trata-se de um grave mal-entendido sobre o que é a ciência e como ela opera, mas continua a ocorrer hoje. Geralmente, as pessoas que querem fazer da ciência um substituto da religião não são cientistas!

Qual a posição do observatório em relação a Galileu Galilei?

A história da Igreja e de Galileu é, na verdade, muito complicada. Houve momentos em que ele foi altamente apoiado por alguns dentro do Vaticano; em outros, foi condenado. Ele tinha amigos e inimigos poderosos. Há muitos bons livros sobre Galileu e o fato de poucos deles concordarem sobre os motivos que levaram a Igreja a agir como agiu nos mostra que as motivações para o infame julgamento de 1633 não estão muito claras. Eu mesmo não entendo! Mas certamente é mais complicado do que a versão popular.

Como evoluiu a relação entre ciência e religião? Como é hoje?


Na verdade, entre cientistas e entre aqueles que trabalham na Igreja, a relação é excelente. Muitos cientistas são frequentadores assíduos da Igreja. E mesmo os cientistas que são ateus (e eles não são, de forma alguma, a maioria) não têm problemas com os cientistas religiosos. O “conflito” é inteiramente uma criação daqueles, de ambos os lados, que são ignorantes da ciência ou da religião. Com frequência, eles agem desse jeito por medo; e, algumas vezes, esses medos são compreensíveis. Pessoas fizeram muitas coisas ruins em nome da religião. Mas suprimir a religião não as impediria de fazer coisas ruins. Muitas outras também usaram a tecnologia que a ciência apoia de forma ruim. E deter a ciência não interromperia esse abuso.

A posição do Vaticano sobre a Teoria da Evolução de Darwin mudou ao longo dos tempos. Como o senhor analisa essas mudanças?

Não há, nem nunca houve, uma posição oficial do Vaticano sobre a Evolução. Certamente, ao longo dos anos, houve quem levantasse suspeitas sobre a teoria, mas em oposição àqueles que tentavam usá-la como um substituto para a religião — àqueles que, na verdade, estavam dizendo “nós podemos explicar a origem da vida, então não precisamos de Deus”. (A premissa dessa frase não é ainda verdade; e, mesmo se fosse, a segunda parte não logicamente segue a primeira!). Papas só falaram sobre a Evolução em duas ocasiões diferentes (Pio XII, em 1950, e João Paulo II, em 1996). Em ambas as vezes, eles afirmaram que não há nada de errado em explorar as formas pelas quais Deus age, desde que se reconheça que toda a criação é, no fim, o resultado da vontade de Deus. E que o aspecto sobrenatural da alma humana não é algo que possa ser atribuído ao acaso.

A descoberta do bóson de Higgs (a partícula que dota de massa todas as demais e estaria na origem de tudo) deixa menos espaço para Deus?

Me desculpe, mas isso é uma bobagem! A despeito do que pode ter sido inferido do título do livro que descreve a partícula (“A partícula de Deus”, de Leon Lederman), a partícula não tem nada a ver com Deus, exceto como uma manifestação da criação e, dessa forma, indiretamente, um reflexo do Criador.

Então qual é a sua resposta para o biólogo Richard Dawkins (autor de “Deus, um delírio”), quando ele fala do “Deus das lacunas”, ou seja, do Deus que só existe nas áreas que a ciência ainda não conseguiu explicar e que vai ficando encurralado à medida que a ciência avança, como no caso da descoberta do bóson como partícula derradeira?

Acho correto rejeitar a ideia do “Deus das lacunas”. Deus não é uma explicação para toda parte da ciência que ainda não sabemos. Isso rebaixa Deus ao status de apenas mais uma força natural, em vez de o maior e definitivo sobrenatural autor do Universo capaz de evoluir para o que vemos hoje. Ser um ateu significa que você deve ter um conceito muito claro do Deus que você tem certeza de que não existe. Em muitos casos, o “deus” em que os ateus não acreditam é uma versão de “deus” na qual eu também não acredito. O Deus do amor que eu conheço e amo, o Deus das orações, das escrituras e dos sacramentos, esse é um Deus que eu experimentei e que eles, aparentemente, não.

O senhor acredita em vida alienígena? Como a Igreja lida com a perspectiva da descoberta de vida inteligente em outros planetas?


Essa é uma pergunta que aparece a toda hora, que as pessoas vem fazendo há séculos. E a resposta é que não sabemos. Não há uma política “oficial” sobre o assunto, nem deve haver. Não temos ainda nenhum indício concreto de vida fora da Terra, mas, certamente, seria idiota tentarmos estabelecer limites para o que Deus pode ou não ter criado. Teremos que esperar para ver! Enquanto isso, trata-se de uma maravilhosa questão para pensarmos, não porque poderemos dizer algo definitivo sobre as almas dos aliens, por exemplo, mas porque, ao fazer essa pergunta, podemos alcançar uma compreensão mais profunda sobre o que as nossas almas e a nossa salvação realmente representam.

Como o senhor vê o futuro da relação entre ciência e religião?

Nós fazemos ciência porque somos seres humanos com motivações humanas.... cães e gatos não fazem ciência. Essas motivações incluem curiosidade, desejo de saber, vontade de entender e um deleite em participar do Universo. Eu acredito, e acho que muitos cientistas também pensam da mesma forma, que essas motivações são, em última análise, religiosas. Mas pessoas ignorantes sempre vão tentar criar conflitos em nome de seus próprios objetivos pessoais. Pessoas sábias sempre saberão como ignorá-los.

fonte: O Globo (online)






quarta-feira, 8 de abril de 2015

QUERIA






Queria poder tecer a beleza
Com agulhas de tricô mágicas,
Que desafiassem minha falta de jeito,
Minha falta de dom,
Meu tom pretensioso
(Às vezes jocoso)
De dizer o que digo.

Queria enxergar além,
Para bem dentro do meu umbigo,
Para bem fora das minhas órbitas
Longe e perto de mim,
Pegar no ar a beleza...

-Tristeza!
Pois sei que minhas palavras
Não lavram os campos das almas...
No máximo, semeiam ideias
Que morrem de impacto
Às falésias de minhas falácias.

No final, às traças
O que melhor de mim houver,
Memórias e essências,
Restos da tecitura
De uma obscura mulher.


The Logical Song - Supertramp







The Logical Song
(A canção Lógica)   SUPERTRAMP


When I was young
(quando eu era jovem)
It seemed that life was so wonderful
(Parecia que a vida era tão maravilhosa)
A miracle, oh it was beautiful, magical
(Um milagre, ela era linda, mágica)
And all the birds in the trees
(E todos os pássaros nas árvores)
Well they'd be singing so happily
(Bem, eles cantavam tão felizes)
Oh, joyfully, playfully, watching me
(Tão contentes e brincalhões, me observando)
But then they sent me away
(Mas então eles me mandaram para longe)
To teach me how to be sensible
(Para me ensinar a ser sensato)
Logical, oh responsible, practical
(Lógico, responsável e prático)
And they showed me a world
(Então mostraram-me um mundo)
Where I could be so dependable
(Onde eu poderia ser tão confiável)
Oh, clinical, intellectual, cynical
(Clínico, intelectual, cínico)

There are times when all the world's asleep
(Há horas em que todo o mundo está adormecido)
The questions run too deep
(As questões correm tão profundamente)
For such a simple man
(Para um homem assim tão simples)
Won't you, please, please, tell me what we've learned
(Por favor, por favor, não me dirá o que aprendemos,)
I know it sounds absurd
(Sei que isto soa absurdo)
But please tell me who I am
(Mas por favor, diga-me quem eu sou)

Now watch what you say
(Agora, cuidado com o que diz)
Or they'll be calling you a radical
(Ou chamarão você de radical)
A liberal, oh fanatical, criminal
(Um liberal, fanático, criminoso)
Oh, won't you sign up your name
(Assine seu nome)
We'd like to feel you're
(Gostaríamos de sentir que você é)
Acceptable, respectable, oh presentable, a vegetable
(Aceitável, respeitável, apresentável, um vegetal)

At night when all the world's asleep
(À noite quando todo o mundo está dormindo)
The questions run so deep
(As questões correm tão profundamente)
For such a simple man
(Para um homem assim tão simples)
Won't you please, please tell me what we've learned
(Por favor, por favor diga-me o que aprendemos)
I know it sounds absurd
(Eu sei que isto soa absurdo)
But please tell me who I am
(Mas por favor, me diga quem eu sou)
Who I am, who I am, who I am
(Quem eu sou, quem eu sou, quem eu sou)



terça-feira, 7 de abril de 2015

Gotejando




Choveu muito aqui no domingo, no finalzinho da tarde. Deitada atravessada na cama, enquanto meu marido assistia a algo na TV, eu de repente comecei a prestar atenção nas gotas de água que se formavam nas pontas das telhas e iam engordando até cair. O vento fustigava os galhos do cedro, e passava zumbindo pela greta da janela. Lembrei-me de que, quando eu era pequena, adorava fazer exatamente aquilo quando chovia: deitar na cama e ficar olhando as gotas caindo das telhas, o céu de chumbo por trás. O pensamento vai longe... quando nos damos conta, ele está muito além das gotas, e as memórias é que começam a engordar e cair.

Passei pelo tempo. O telhado é outro, a casa é outra, minha aparência é outra -estou bem mais velha. Mas a chuva é a mesma: é a água que evapora do chão, lagos, rios e mares, e volta a cair. Em outra casa, em outro tempo, uma menininha que estava dormindo despertou, olhou o mundo e voltou a dormir.


A Culpa Nunca é Minha




Observo muito algumas coisas que vem acontecendo em redes sociais. Uma delas, é a mania que algumas pessoas tem  de sempre tentar encontrar um bode expiatório para as mazelas do mundo. A culpa nunca é nossa, é da Globo, é dos políticos, é dos Estados Unidos. Alguém tem que dar um jeito. Mas não nós. Não somos pagos para isso. Eles que são, que resolvam tudo, e que assumam todas as culpas.

Vejo também muita intolerância. As pessoas tem publicado ou compartilhado coisas horríveis sem nem sequer tomarem cinco minutinhos do seu tempo a fim de verificar a  veracidade do que partilham; dia desses vejo um post afirmando, como se fosse um artigo retirado de um site de notícias, que um deputado famoso estava tentado aprovar não apenas o aborto, mas a licença maternidade para as mulheres  praticantes. Fui ao link, e ao olhar o site por alguns minutos, achei-o estranho; pesquisei no Google durante dois minutos apenas e descobri que o 'jornalista' do tal site não existe. Trata-se de um espaço fake cuja especialidade é difamar pessoas famosas como se estivesse escrevendo textos de humor sobre elas, mas dando um tom de seriedade às notícias para que as pessoas mais ingênuas acreditem e espalhem as fofocas. E nem mesmo após eu ter comentado sobre a inveracidade da notícia, a pessoa que a postou a apagou. Ficou lá, e o político em questão foi submetido ao ódio e às pragas rogadas por todos que não gostam dele.

A Rede Globo de televisão é outro alvo: ela é "culpada" de incentivar o homossexualismo, como se o homossexualismo fosse algum tipo de doença transmissível por satélite. "A culpa é da Rede Globo! Não assistam! Vamos boicotar!"  Ora, se existe ou não exagero naquilo que é mostrado, a solução é uma só: mudar de canal, se não estiver gostando!  A mim não incomoda. Existem coisas que não podem ser mais ignoradas ou encobertas, pois fazem parte do dia-a-dia de todos. Quem não gosta, que ao menos respeite. 

As fábricas de vídeo games e brinquedos tornaram-se as responsáveis pelo aumento da violência; se a criança tem um revólver de plástico, isto significa que ela crescerá e se tornará um bandido. Antigamente, todos os meninos brincavam com armas de plástico e espadas de mentirinha, e a violência nem chegava aos pés do que é hoje. Porém, antigamente os pais eram mais severos. Eles sabiam dar limites aos filhos e mostrar o que era certo e o que era errado. Hoje, se um dos pais for pego dando uma palmada em um filho, poderá perder a guarda deste ou até mesmo ser preso!

 Não há mais revólveres de plástico; as armas hoje são verdadeiras. Às vezes elas projetam balas, e noutras, palavras.



segunda-feira, 6 de abril de 2015

ONDE MORAM AS NUVENS











ALGUÉM






Alguém que não me conhece
Tenta contar minha história:
Escolhe lindas palavras
(Muito embora, equivocadas),
Arranhando, em longas páginas,
Com as unhas, uma face
Onde pensa desenhar
Esboços da minha alma;

Espalha-os,  feito estrelas
Salpicadas num céu negro:
Ah, linhas desordenadas!

Os cometas passam feito
Mil luzes de fogo e água,
E com eles, passam sombras
De uma vil face borrada...
E eu aqui, mãos sob o queixo,
Cotovelos sobre o muro,
Observo o céu noturno
Que de mim, não me diz nada.





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O Tucano O TUCANO   Domingo de manhã: chuva ritmada e temperatura amena. A casa silenciosa às seis e trinta da manhã. Nada melhor do que me ...