witch lady

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terça-feira, 4 de junho de 2019

Conversa






Existem coisas que só eu sei,
E que eu gostaria de gritar ao mundo,
Mas tenho medo dos olhares enfadonhos,
Das indiferenças,
Das malquerenças que se jogam sobre os sonhos.

O anonimato protege o coração.
Mantenho os meus olhos no céu
Enquanto eles mantém seus olhos no chão.

Existem fadas em meus pensamentos,
Mágicos caminhos,
Estranhas canções.
As fadas sorriem; adormecem protegidas
Pelos meus atentos dragões.



segunda-feira, 3 de junho de 2019

Estrelas





Estrelas que há muito se foram
Emitem seu brilho lá de cima
E distraídos, apontamos para elas...
Como pode ser possível
Que elas estejam lá, sendo que não mais estão?

O vento passa, arrancando as folhas,
E elas sempre voltam  a brotar, 
Soltam-se sem reclamar,
E nenhuma delas, nenhuma,
Tenta segurar-se.
Quem são essas folhas, em quem tanto confiam?

As águas de um rio passam sobre as pedras,
Tantas e tantas vezes, que as tornam lisas,
Limosas, arredondadas,
Pedras formatadas em vida...
Como podem as pedras saberem mais do que eu?

Como pode o mesmo céu ser azul e ser breu,
E o dia ensolarado de repente virar chumbo
Numa tempestade que arrasta mundos?
Como pode, meu Deus, eu conversar contigo
Sem nem sequer saber de que o teu rosto é feito?

Eu me olho no espelho, e de relance
Rapidamente, em um breve lampejo,
Vejo dentro dos meus olhos estrelas que brilham,
Que estão aqui, mas que já se foram.

Eu deixo que o vento me arranque as memórias,
E as espalhe pelo chão, sem que eu tenha certeza
De que um dia elas voltarão...
O rio passa, e carrega consigo
Tudo o que foi meu, e o que tem sido.
Sobre a minha pele, um musgo antigo,
Escorregadio e muito, muito liso...








quinta-feira, 30 de maio de 2019

Mudanças de Paradigmas e Caminhos - Life by Lufe






E se eu te Dissesse?



...Que aquela pessoa que andava escondida,
Que afundava o rosto nos pés que pisavam a vida,
Sem olhar, sem sentir, sem atrever-se
A desejar ser, a pensar, a dizer,
Já morreu há muito tempo?

Espero que o mesmo vento que a levou
Sopre em teus ouvidos, e te ajude a entender
Meu novo olhar, meus novos sentidos,
Para que jamais te esqueças ou te percas
Em caminhos já de mim banidos.

Aboli palavras que me incomodavam,
Que ficavam zunindo por horas em meus ouvidos,
Apaguei os passos que me ligavam
A caminhos fechados,
Caminhos só de ida...

Voltei, renovada, mais aguerrida,
E a batalha que eu escolho lutar de hoje em diante,
É contra a manada dos meus próprios elefantes.
Expulso-os da sala - desenho mandalas,
Canto mantras que ninguém sequer escuta...

Não creio que a vida deva ser uma luta,
Mas um jardim que eu mesma escolho plantar.
Eu olhei para o jardim em meu retorno sem escolta,
E esse mesmo jardim, sorrindo, me olhou de volta.


Escrevi ontem o poema acima. Ele explica a mim mesma - como se resumisse parte da minha nova história. Muitas coisas aconteceram em minha vida nos dois últimos anos, e a maioria delas foi muito boa, pois mesmo que algumas tenham começado de forma aparentemente ruim, trouxeram-me ao momento atual.

Para começar, eu nunca antes em toda a minha vida, tinha sido engajada em causas políticas. Para mim, o mundo da política era apenas um lugar do qual eu queria distância e que, portanto, ignorava. Mas nosso país foi caminhando em uma direção cada vez mais perigosa, e chegou um momento (tenho certeza que muitas pessoas como eu e que também se engajaram na mesma causa também sentiram a mesma coisa) em que foi impossível simplesmente ignorar, deixar pra lá, como eu sempre fazia. Eu olhava as coisas acontecendo na Venezuela, comparava com o ritmo do que ia por aqui e pensava: estamos indo pelo mesmo caminho.

E eu não queria aquilo para mim. Não queria que o Brasil mergulhasse naquele mesmo caos - e já estávamos mergulhados até o pescoço, faltando pouco para sufocarmos de vez. Daí, me envolvi em coisas pesadas, pois  a política é algo pesado e cheio de negatividade. Paguei caro pela minha escolha, mas ao mesmo tempo, consegui ajudar a maioria das pessoas a parar aquele processo medonho no qual vínhamos caminhando. Acho que a vida é assim: existem momentos em que precisamos desarrumar a casa, hastear bandeiras, gritar, bater panelas; mas existem momentos em que precisamos acender um incenso e rezar, simplesmente.

Depois do objetivo alcançado, senti falta da minha paz de espírito. Minha intuição me disse: "Agora chega. Você fez a sua parte. Vá cuidar de você e esqueça o assunto, pois não é mais responsabilidade sua." E fui procurar outras coisas, sem saber bem o quê. Sentia que antes precisava me limpar daquela energia, e assim, acabei encontrando um curso de terapias holísticas que me despertou para muitas coisas em relação à minha espiritualidade, tão negligenciada; com ele, vieram as aulas de tarôt e as dezenas de livros sobre espiritualidade que passei a devorar, sem contar com os livros antigos que reli. Também abri um canal no Youtube, o Espiritualidade na lata. Escolhi este nome porque procuro sempre falar de uma forma breve e direta sobre aquilo que experiencio.

Também cheguei a alguns canais no Youtube que estão sendo de grande importância para mim; é isso: quando a gente muda a estação, as ondas certas nos chegam. Entre eles, estão o canal Escola Esotérica, que já recomendei aqui antes, e a minha mais recente descoberta (já citado em um de meus vídeos): Life By Lufe. Amo!!!

Estes canais se harmonizam perfeitamente a esta minha nova busca. Deixo aqui um dos vídeos do Life by Lufe, onde você poderá encontrar dicas sobre harmonização de ambientes, decoração, espiritualidade e grandes viagens espirituais. Só estou recomendando porque realmente gosto, está me fazendo muito bem assistir. Não conheço ninguém nesses canais, nunca conversei com eles e eles nem sabem que eu existo - e provavelmente, continuarão sem saber. Meu único interesse, é propagar essa energia vibrante e positiva que eles passam. Eis um dos vídeos. Impossível não amar.








Histórias





Invento pessoas,
Fico pensando nessas vidas imaginárias,
Personagens alegres e tristes,
Bandidos, mocinhos, santos e vilões,
E no meio disso tudo,
Sou deus em meu pequeno mundo.

E quando acabam as histórias,
Existirá um lugar
Aonde essas pessoas inexistentes
Começam a ser?

E se existe,
Haverá um dia no qual elas olharão para o céu,
Após verem passar um fogo rápido,
E se indagarão:
"- Quem nos trouxe aqui?"

E assim, 
Elas mesmas, então reais,
Começarão a contar suas histórias de fantasmas,
Fundarão seitas e religiões sobre mim,
Um deus obscuro, inseguro,
Criador de um mundo 
Sem começo ou fim.






Quem desejar conhecer alguns desses personagens, acessem o link do meu blog (já avisando que minhas histórias são longas e continuarão sendo),

HISTÓRIAS:





sábado, 25 de maio de 2019

Olha o Aviãozinho!



Eu



Eu, sentada na cadeira da cozinha olhando desanimada para um prato de comida. Eu sabia que minha mãe tinha misturado abóbora amassada no feijão, e eu não gostava de abóbora. Eu era muito pequena, e me lembro que precisava de ajuda para me sentar na cadeira e também para sair dela. Me lembro de tudo: o prato de comida na minha frente, eu choramingando; minha mãe de costas para mim, indo da pia ao fogão, o rádio ligado na Rádio Difusora. 

A menina da vizinha gritava: “Aninha! Vem brincar!” Meu coração dava um pulo, mas minha mãe olhava para trás: “Só depois que terminar de comer!” Era assim todos os dias.

Até que ela pegava o livrinho de histórias e colocava em cima da mesa. Ela o abria e ia mostrando as figuras, enquanto tirava a colher da minha mão e ela mesma passava a enchê-la de comida e leva-la à minha boca trancada: “Olha o aviãozinho!” Mas eu não queria saber de aviõezinhos. Eu queria o final da história, que eu já conhecia de cor.

Minha mãe ralhava: “Se quiser que eu conte, abra bem a boca e engula a comida!” Vencida, eu obedecia, e enquanto ela ia virando as páginas e contando a história, eu engolia dezenas de aviõezinhos sem perceber. De repente, ela raspava o prato vazio com a colher: “Acabou! Viu só? Agora pode ir brincar!” 

E eu ia brincar, ainda com bigodes de aviõezinhos na boca, carregando fadas, castelos, reis, rainhas  e princesas na imaginação. 

Um dia, ela me trouxe uma cartilha: “Senta aqui. Vamos aprender a ler!” Eu tinha quatro anos e meio. Ela colocou o lápis em minha mão, segurando-a e me ajudando a cobrir as letras “A” na linha pontilhada algumas vezes. Depois, me instruiu: “A é a letra do seu nome. Agora vá cobrindo os pontinhos até terminar a página toda.” E eu gostava daquilo!

Aos cinco anos, já sabia ler e escrever muito bem. Cobrira pontinhos suficientes para chegar até  a lua. Peguei o gosto pela leitura e também pela escrita, pois bem pequena, já arriscava umas histórias. 

Mas eu cresci, e meu sonho de ser escritora foi se esvaindo, como a comida do prato que entrava em minha boca através dos aviõezinhos. Meus escritos foram lançados por aí, em milhares de aviõezinhos – a maioria muito pouco lidos. Mas o prazer de escrever me alimenta. Sem estes aviõezinhos, a minha alma tem fome. 



Mãe


segunda-feira, 20 de maio de 2019

Objeto









Quando no meio do lixo,
Uma flor 
É um objeto
Abjeto.

O erro que te define,
Não está no chão,
Mas no teto.

Olhe em volta, 
Dê a volta,
Realinhe
Tua mira
Torta.

Pois se és
Objeto,
Que não sejas
Abjeto,
Plataforma,
Pouso livre
A todo tipo
De inseto.






sexta-feira, 17 de maio de 2019

Mentiras que Amamos










A verdade era quase óbvia; estava na falta de concordância verbal evidente em quase todas as suas falas, nas datas equivocadas, nos diplomas inexistentes para mestrado em Harvard e também na cronologia impossível de suas histórias. Estava no tom de voz exagerada e falsamente sofrido durante a palestra da TED e nos relatos de vida desencontrados, na fala compulsiva de quem fingia demonstrar a não vitimização usando a vitimização para justificar-se (sou negra, mulher, pobre e venci na vida).

Porém, aquela era exatamente a mentira que eles estavam procurando para exaltarem e justificarem suas causas: a mulher pobre, negra, sofrida, excluída, que através de força de vontade e muita luta, dá a volta por cima e vai fazer doutorado em Harvard. 

E a mentirosa foi entrevistada, exaltada, premiada cinquenta vezes, aplaudida por artistas lacradores, e até mesmo teria sua incrível biografia exibida em um filme. 

Só que não.

Uma leve arranhada na superfície (que ninguém teve a coragem de dar, talvez porque a mentira lhes estava sendo útil e colaborava com a causa que defendiam) foi o suficiente para desmascarar a farsante. E a verdade é assim: uma vez que ela vem à tona, nunca mais poderá ser ignorada. 

E a atriz Global lacradora Taís Araújo, em ato de falsa nobreza e humildade, ainda teve tempo de negar interpretar o papel de Joana D’arc por não se achar negra o suficiente para tal. 

Ontem à noite, andando pelas cercanias do Youtube, ainda deparei com uma outra moça (atriz Global também, para variar) que justificou a atitude da professora, alegando que se não fosse assim, uma mulher pobre, negra, etc, etc como ela, jamais teria alcançado a notoriedade que alcançou; ainda se referia aos brancos (em extrema atitude de preconceito e falta de respeito) como “A branquitude.”  Daí eu me pergunto: qual a vantagem de se alcançar notoriedade através de uma mentira tão horrorosa???

É isso, minha gente.

O caso da professora deveria ser analisado por psiquiatras, pois pode se tratar, realmente, de um problema mental sério. Se nenhum problema psicológico for detectado, acho que ela deveria ser afastada do seu cargo e punida pela mentira que propagou, pois não está apta a servir de modelo aos seus alunos. 

Mas toda essa história nos serviu para uma coisa: provar a necessidade de verificar notícias antes de espalhá-las a torto e a direito. Escolher  analisar histórias antes de decidir acreditar nelas. Depois de ver quanta gente ‘inteligente’ e poderosa foi enganada facilmente por uma mentira tão mal contada e de verificação tão simples, dá para entender melhor o poder de uma mentira bem contada. 






terça-feira, 14 de maio de 2019

A Memória das Estátuas






Estão todos alinhados,
(Alguns, de braços dados)
Olhos presos nas colinas
E além delas.

Refazem todo o caminho
Percorrido, ao chegarem
A esse lugar tão ermo.

Não sei do que eles se lembram,
Ou de quem se esqueceram.
Saberão dizer os nomes
Que um dia eles tiveram?

Parecem estátuas eretas,
Caladas e misteriosas,
Como as da Ilha de Páscoa.

Não sabem de onde vieram,
Ou se alguém virá busca-los.

A terra na qual eles vivem
É toda feita de memórias
Alheias às suas vontades.

Sonham em serem esquecidos,
Sonham muito com o tempo
Em que serão varridos
Desta terra adormecida.

Às vezes, me pego pensando
Nas suas vozes distantes,
Nas peles cheias de marcas
Que só quem olhou de perto, 
Realmente conheceu.

Nas pupilas dilatas
Que eles tinham quando riam,
Se assustavam ou sofriam...

Eu me lembro da alegria,
Também lembro da tristeza,
E do quanto eu não queria
Entre nós, essa distância
Que pouco a pouco se abria.

Mas eu penso no alívio
Que seus últimos suspiros
Concederam à minha dor.

Me lembro de toda pena
Que senti, por tanta vida
Que um dia, foi amor.





segunda-feira, 13 de maio de 2019

Algumas Coisas







Algumas coisas são.
O sol nasce, invariavelmente, todos os dias – mesmo que chova.
Movem-se em redemoinho as folhas soltas,
O vento brincando com a morte,
Erguendo as sementes pelo ar
Para depois
Soltar.

Eu olho tudo com olhos de primeira vez,
E ao mesmo tempo,
Com olhos de nunca mais.
Até quando, eu não sei,
Só sei que agora eu sou
E então,
Não.

Bate o passarinho com o bico na vidraça,
Tentando me chamar a atenção.
“Eis aqui o mundo,” ele diz,
“Venha cá para fora e alimente-me!”
Eu o obedeço,
Contente.

Alguns pensam nos amores proibidos,
Guardando gritos na garganta
Feitos de sonhos não vividos.
Mas ah, se fossem reais!
Talvez pássaros indo bater no vidro,
Para caírem depois, amolecidos,
Fio de sangue a escorrer dos ouvidos
- A sua essência
De mortais.

Nesse meu tempo em contagem regressiva,
Não quero muito da vida.
Quero ir lá para fora e vislumbrar o passarinho
Que canta escondido no galho mais alto,
Quero andar descalça pelo asfalto,
Mas de pés nus sobre o gramado.
Quero ter o conforto de não ter que fazer muitas escolhas,
Quero ver o vento
E o redemoinho de folhas,
Um pouco de música,
Minha casa,
Meu amor,
Meus cães,

-Nada mais.










quarta-feira, 8 de maio de 2019

A Esperança







A esperança
Era uma menina distraída
Que ela trazia em um balanço
Que pendia da ponta do dedo.

Se a noite escurecesse demais,
Ela a observava,
Agoniada,
Numa tentativa
De espantar o medo.

Abria a janela,
Olhava as vielas vazias
Das respostas que queria.

Um gato de rua miava,
Acordando o luar,
Encomendando o dia.

Ah, solidão enviesada,
Tristeza aprumada
Que ela mesma escolhia!

Enquanto a esperança balançava
Na ponta do dedo,
Disfarçando o medo,
Ela mal sorria...









terça-feira, 30 de abril de 2019

Sua casa, Sua Vida!


foto: uma pousada em São José do Vale do Rio Preto


Qual é a casa mais linda do mundo? O que é preciso fazer para se ter um cantinho onde as pessoas gostem de estar, e que agrade a você e à sua família?

Para mim, o lar é essencial; a casa pode ser própria ou alugada - afinal, se você está pagando, ela é sua - grande ou pequena, simples ou sofisticada, pode ser um apartamento, um bunker, um container, uma casa de madeira, de tijolos ou de papelão prensado... qualquer lugar que nos caiba e nos proteja. E é claro, que nós amamos.

No  Espiritualidade na Lata de hoje, eu falo da importância das casas na espiritualidade. 


Eis aqui o vídeo:




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segunda-feira, 29 de abril de 2019

Avaliação









Algumas coisas se foram,
Partiram com as águas que escorrem dos olhos.

Não choro mais.
As águas que levam, as águas que lavam,
As águas que trazem.

Algumas coisas se foram, 
Partiram-se as bordas com alguma surpresa,
Mas sem qualquer decoro.
Eu passo por elas, e deixo passar.

Mas olho nos olhos que não mais conheço,
E penso no que esses olhos pensam...
Eu vejo as pupilas que são como estranhos
Lâmina da vida que passou cortando...

Será que algum dia estivemos juntos?
Será que algum dia nós nos enxergamos
Ou sequer olhamos para o mesmo cume?
Ou, quem sabe, fomos o que nós pensamos?

-Para onde vais?
-Prazer, estranho!







Um Jardim Tem Seu Preço



Imagens: coisas que estão / já estiveram em meu jardim



Ando tentando melhorar a aparência do meu jardinzinho. Gostaria de colocar algumas estatuetas e uma fonte; ele precisa de mais flores e plantas, e o gramado precisa ser adubado. Tudo isso custa dinheiro, que tenho economizado a fim de atingir o meu objetivo.






Um jardim é importante, assim como uma casa - um refúgio -  em meio a tantas coisas ruins e negativas que estão no mundo. Ficar alguns minutos durante o dia em um lugar calmo, em silêncio, observando a natureza, é como uma cura para a alma, pois alivia o estresse e traz perspectivas mais positivas. Mas até mesmo o cultivo da paz de espírito pode dar trabalho!





Quando nos mudamos para cá, ganhamos de presente um ipê roxo. Ele tinha menos de trinta centímetros de comprimento, e nós o plantamos em um canto do jardim. Hoje ele está mais alto do que a casa, que tem dois andares. Durante alguns meses do ano - entre março e junho - as folhas começam a cair, e o gramado precisa ser varrido todos os dias, se eu quiser mantê-lo limpo e com boa aparência. para alguns, isso pode ser bem cansativo, mas quando pego no ancinho, aproveito para tirar alguns momentos para meditar e me exercitar fisicamente, pois dá trabalho recolher tantas folhas secas todos os dias. 


Leona




Meu ipê, que tem nove anos de idade, dá pouquíssimas flores, mas aguardo pacientemente para que ele esteja pronto para cobrir-se de flores roxas que o vento vai espalhar pela casa. Vai ser lindo! 





Quando o vento sopra e as folhas vão se soltando e se espalhando pelo gramado, eu penso na vida. Pode parecer um cliché, mas se a gente observar a natureza, verá que ela nos revela muitas coisas as quais chamamos mistérios. As folhas secas caem, são varridas, depois vêm as flores, e novas folhas nascem. Na mesma árvore. Porque a árvore fica. 


Muitas saudades do nosso Aleph, que se foi em 2012


Tenho também um ipê amarelo, desses de jardim, não muito grandes. Ele é antigo, e andou meio-adoecido; achei que ia morrer. Próximo a ele, eu tinha um vaso de plantas. Um dia, vi que alguma coisa estava crescendo no vaso: um novo ipê, com certeza plantado ali por uma semente do ipê antigo que caiu! Parece que ele quer deixar um sucessor. Plantei-o nos fundos da casa, junto à cerca do canil, e lá está ele. Eu o vejo todos os dias pela janela da minha sala de aula, junto ao muro de hera, enquanto estou trabalhando. Cresceu, e já está bem alto. Reparei que há várias bolinhas peludas nas pontas, que são botões, e que ele vai florir em setembro, como seu 'pai.' 


Mootley



Eu olho para as árvores e 'sinto' se elas são meninos ou meninas... tento adivinhar. O ipê amarelo, com certeza, é menino: descolado, vive o momento sem criar muito caso. O ipê roxo é menina, pois é melindroso e gosta de fazer suspense. O meu cedro é menino: um senhor antigo, nodoso, forte. Mas a cerejeira é menina, sem sombra de dúvida. Uma mocinha.




Eu ando entre essas árvores todos os dias. Olho como vão indo as minhas plantinhas novas. Elas iam mal, porque formigas as estavam devorando. Tentei de tudo o que vi em sites e blogs para livrar-me das formigas de forma democrática: joguei água com sabão, canela em pó, cravinhos da índia. Até conversei com elas e pedi para irem embora, como sugeriu um site esotérico. Mas elas não iam embora, e só se multiplicavam e comiam as minhas plantas. Fingi que era uma poda natural, até que elas começaram a fazer buracos nas pilastras de madeira da garagem, a invadirem o canil e morderem os cachorros e a entrarem dentro de casa em fileiras. Não teve jeito: tive que usar veneno.





Matei centenas de formigas. Lamentei, mas não teve jeito: quando a praga é muito grande, a gente precisa lutar pelo nosso direito de ter uma casa, um jardim. Precisamos combater os invasores. Na vida também é assim: se a gente não toma cuidado, invadem as nossas vidas e tomam os nossos espaços, relegando-nos a qualquer cantinho obscuro. 





Ontem assisti ao filme Olhos Grandes, sobre uma artista plástica dos anos sessenta que deixou que o marido assumisse a autoria de suas obras porque ele tinha mais tino para os negócios, e mulheres artistas não eram respeitadas na época. Eles ficaram ricos. Ela passava horas trabalhando em um quartinho nos fundos da casa. Não podia receber amigos, pois eles poderiam descobrir que era ela que pintava os quadros. Não tinha vida social e mentia até para a própria filha. Enquanto ela trabalhava anonimamente,  ele vendia os quadros, ficava famoso, fazia amigos e admiradores, saía com outras mulheres. Eu me lembrei das formigas no meu jardim, e achei que fiz bem em acabar com elas. 




Todo jardim tem seu preço. Ele demanda trabalho, dedicação e investimento. Você vai passar muito tempo se livrando de pragas, replantando mudas, adubando, reconstruindo canteiros que a chuva estragou, arrancando ervas daninhas e fazendo a rega. Mas vale a pena, porque é o seu jardim.

É a sua vida.





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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...