witch lady

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segunda-feira, 10 de abril de 2017

#Eunãotenhogatos


Descobri quem é o dono, e o nome da gata: Baronesa





#EuNãoTenhoGatos

Eu ali, concentrada, dando minha aula. De repente, meu aluno indaga: "Ué, Ana... você tem gatos?" Eu olho para ele (eu estava escrevendo no quadro) e respondo, surpresa; afinal, aquela pergunta estava totalmente fora do contexto da aula: "Não! Por que?"  Ele aponta para a porta da sala de aula, e diz: "Porque tem um gato bem ali!"

Olho para fora, e vejo essa gatinha passeando pela minha sala de jantar. Logo a reconheci, pois numa noite em que meu marido ainda não estava em casa, ela me deu um baita susto: passei pelo corredor, e dei com aquela sombra sinuosa e silenciosa descendo as escadas. Eu me arrepiei até o último ossinho da coluna, e ela estancou entre um degrau e outro, me olhando, as pupilas dilatadas em estado de alerta. Esclarecida a situação, ainda ficamos ali paradas, nos olhando e testando nossas reações. De repente, eu sorri, e esfreguei os dedos da mão, chamando-a. Ela ergueu a cauda, e acabou de descer as escadas, ronronando, e veio para o meu colo.




Desde então, ela vem me fazendo visitas frequentes. Quando havia uma moça aqui me ajudando na limpeza, chego na varanda e a vejo sentada naquela posição de iogue, olhando a moça limpar as vidraças da porta. Explico que ela não é minha, e ela diz: "Pensei que fosse! Está aí há algum tempo, me vigiando..." Quando olhei de novo, ela já tinha ido embora.




É bom tê-la aqui de vez em quando, sabendo que ela logo vai embora. Mas ela nunca tinha se deitado na cama do quarto de hóspedes antes. Pelo menos, não que eu tenha visto. E está chovendo muito lá fora; como eu poderia abrir a janela e mandá-la sair, debaixo desse aguaceiro? Seria cruel. E ela sabe disso. Já percebeu que pode me manipular. 




Só espero que ela seja castrada - tem dono, pois está muito bonitinha e bem tratada. Se ela não for, tomara que não venha trazer bebês para eu cuidar.

Não quero ter netos.





O VERMELHO E O NEGRO






Trechos de O Vermelho e o Negro, de Stendhal, um dos romances mais maravilhosos que já tive o prazer de ler e reler, e do qual me desapeguei há alguns dias. Ficam aqui algumas lembranças.




"Mas as verdadeiras paixões são egoístas"




"O meu Julien, ao contrário, somente gosta de agir sozinho. Nunca passou pela ideia dessa criatura privilegiada procurar apoio e socorro nos outros! Ele despreza os outros, e é por isso que eu não o desprezo. Se apesar da sua pobreza, Julien fosse nobre, meu amor não passaria de uma tolice vulgar, de uma péssima aliança desigual; eu não o desejaria; ele não teria o característico das grandes paixões: a imensidão da dificuldade a vencer e a negra incerteza do êxito."



 "J.-J. Rousseau não passa, para mim, de um tolo, quando se põe a julgar a alta sociedade; ele não a compreendia, e nisso tinha uma alma de lacaio parvenu."




"Não tenho 20 luíses de renda por ano e encontrei-me lado a lado com um homem que tem 20 luíses de renda por hora, e ainda assim riam dele... Um espetáculo como esse cura a gente da inveja."



"Qual é a grande ação que não parece extremada no momento em que a empreendem? Só quando foi cumprida é que parece possível às pessoas comuns."




"A vida de um homem era uma série de acasos. Agora a civilização expulsou o acaso, não há mais o imprevisto: se aparece nas idéias, não lhe poupam epigramas; se aparece nos acontecimentos, covardia alguma está acima de nosso medo. Seja qual for a loucura que nos leve a fazer, é desculpada. Que século degenerado e enfadonho!"




"Não, ou estou louco ou ela me faz a corte; quanto mais me mostro frio e respeitoso com ela, mais me procura. Isso poderia ser uma parcialidade, uma afetação;mas vejo seus olhos se animarem quando apareço de improviso. Saberão as mulheres de Paris fingir a tal ponto?"




"O inconveniente do reinado da opinião pública, que aliás busca a liberdade, é que ela se mistura ao que não lhe diz respeito: por exemplo, a vida privada."





"Que juiz não tem um filho ou pelo menos um primo a promover na sociedade?"






 "Um romance é um espelho que se leva por uma grande estrada. Ora ele reflete a vossos olhos o azul do céu, ora a imundície do lodaçal da estrada. E o homem que transporta o espelho nas costas será por vós acusado de ser imoral! Seu espelho mostra a imundície, e acusais o espelho! Acusai antes o grande caminho onde está o lodaçal, e mais ainda o inspetor de estradas que deixar a água empoçar-se e o lodaçal formar-se."




"Estranho efeito do casamento, tal como o produz o século XIX! O tédio da vida matrimonial faz seguramente morrer o amor, quando o amor precedeu o casamento. No entanto, diria um filósofo, ele gera em seguida, nas pessoas bastante ricas para não trabalharem, um cansaço profundo de todos os gozos tranquilos. E somente as almas secas, entre as mulheres, não buscam de novo o amor."





"A política … é uma pedra atada ao pescoço da literatura e que, em menos de seis meses, a submerge. A política em meio aos interesses da imaginação é como um tiro de pistola em meio a um concerto. É um ruído dilacerante sem ser enérgico. Não combina com o som de nenhum instrumento. Essa política irá ofender mortalmente uma metade dos leitores e aborrecer a outra, que, ao contrário, a julgou especial e enérgica no jornal da manhã…"




"A tirania da opinião – e que opinião! – é tão estúpida nas pequenas cidades da França quanto nos Estados Unidos da América."




"O andarilho que acaba de escalar uma montanha íngreme senta-se no topo e encontra um prazer perfeito em repousar. Mas seria ele feliz se o forçassem a repousar sempre?"




"Um viajante inglês conta a intimidade em que vivia com um tigre; ele o criara e o acariciava, mas tinha sempre sobre a mesa uma pistola armada."







DESAPEGANDO DE ALGUNS LIVROS





Muitos pensam que eu não gosto mais dos livros de papel, só porque publiquei livros virtuais e comprei um Kindle, que adoro e acho muito prático, além de bem mais ecológico e econômico. Mas faço uso das duas plataformas de leitura, sem preconceitos. Para mim, o que importa, é o que está escrito, e não onde está escrito.

Há alguns dias, vi um post no Facebook, pedindo doações de livros para uma feira. Eu vinha adiando uma arrumação nas minhas estantes de livros, que ficam sob as escadas que dão no andar superior, e achei que seria uma ótima oportunidade de, não apenas ajudar a quem precisa, como também de abrir um pouco mais de espaço nas minhas prateleiras. 

Sentar-me no meio de todas aquelas pilhas de livros, olhar as capas, tirar o pó e separar os que ficariam dos que iriam embora, foi cansativo e, ao mesmo tempo, agradável. Um exercício de desapego e também de reflexões, que surgiram ao reler algumas páginas. Confesso que havia alguns romances cujo enredo eu nem recordava mais. Pensei em guardá-los para reler mais tarde, mas considerei: se eles estavam ali há tantos anos sem que eu sequer me lembrasse da existência deles, é porque não são necessários!

Não foi muito fácil desapegar-me de "O Vermelho e o Negro", de Stendhal, uma edição de capa dura vermelha com lombadas douradas. Mas já perdi a conta das vezes em que li aquele livro, e de quantas vezes chorei por Julien Sorel. 

Desapegar é necessário. A gente se sente bem mais leve depois. 

Quando terminei, as estantes estavam limpas e organizadas. Ficaram aqueles que já li e reli várias vezes, e que gosto de reler de vez em quando. Os que acho importantes para mim, de Feng Shui, psicologia, espiritualidade e também de lendas antigas, que adoro.

 Comecei a carregar as pilhas para a garagem - eram muitos livros, mais do que eu pensei- subindo e descendo as escadas do jardim várias vezes. Quando terminei, estava suada, empoeirada, cansada e com os músculos doloridos. No dia seguinte, a moça - uma ex-aluna minha - passou para levá-los embora. Ajudei-a a colocá-los no carro,  despedindo-me deles de vez.

Espero que as pessoas que os comprarem fiquem felizes, e aproveitem a leitura.




quinta-feira, 6 de abril de 2017

A Vingança




Ontem à noite estávamos - eu e meu marido - lendo um trecho do livro O Evangelho Segundo o Espiritismo. Temos feito isso todas as noites: escolhemos um livro entre alguns selecionados para esta atividade, e depois, abrimos uma página ao acaso, lendo em voz alta e refletindo sobre o que lemos. Ontem, o livro escolhido foi o já citado, e a página aberta, a que falava sobre vingança.

 Ninguém aqui é santo, e a maioria das pessoas pode ter alguma reação intempestiva ao ser afrontado ou ofendido. Eu, por exemplo, embora esteja tentando muito mudar isso, posso reagir intempestivamente e dar uma resposta curta e grossa a alguma abordagem ofensiva, mas depois, eu esqueço; não fico guardando ódio ou pensando em vingança. Acho que as grandes questões dos relacionamentos devem ser resolvidas à medida em que aparecem com uma boa conversa, e após resolvidas (ou não), devemos seguir em frente e focar nas coisas boas, no que realmente vale a pena e nos faz felizes, e não em vinganças. 

É tão mais fácil pedir desculpas ao cometermos um erro, ou tentar conversar e entender o que levou uma pessoa a agir de forma que nos desagradou, mas ao invés de sentar e conversar, as pessoas estão guardando e alimentando o ódio e transformando-o na força destrutiva da vingança, partindo laços que são importantes, afastando pessoas que são ou poderiam transformar-se em amigas verdadeiras. Desconsideram o lado bom do relacionamento, não levam em conta o quanto estarão perdendo ao guardarem suas mágoas para usá-las em uma vingança ao invés de tentarem conversar e esclarecer o assunto.

Algumas pessoas orgulham-se de suas vinganças, contando aos outros sobre elas, achando-se muito espertas e inteligentes. Gastam boa parte do seu tempo e da sua energia planejando, observando e armando o bote para finalmente pular no pescoço de suas vítimas com toda a fúria e toda a negatividade que puderem despejar. Fico pensando no quanto estas pessoas despendem um tempo precioso nesta rotina infame, ao invés de se cuidarem, tratando da saúde física, mental e espiritual. 

Percebo também que ao longo do tempo, estas pessoas, por mais bonitas que sejam, vão mudando. Cada vez mais, seus rostos adquirem um aspecto taciturno e infeliz, e sua postura vai tornando-se rígida e atarracada como se estivessem prestes a saltar sobre alguém a qualquer momento. O tom de voz também muda, tornando-se mais grave e gutural. Passam a desconfiar de todos a sua volta, reagindo com raiva e agressividade a qualquer um que tente aproximar-se e que elas achem que de alguma forma as ameacem ou às suas posições na vida.

Conheci uma moça que era linda em todos os aspectos: morena, cabelos negros e longos, alta, um sorriso muito branco. Mas ela fez tantas maldades contra pessoas - especialmente pessoas que a ajudaram - que acabou tornando-se feia. Fiquei impressionada com a mudança que vi nesta moça alguns anos após conhecê-la, ao passar por ela na rua. 

No livro que lemos há um trecho que fala no quanto as pessoas se afastam de gente assim, e que de repente elas se encontram sozinhas e não sabem o porquê. Nem sequer tomam um pouco de seu tempo a fim de meditar e tentar entender o que aconteceu, fazendo uma retrospectiva sobre as pessoas que ofendeu e prejudicou com a sua vingança, e muitas vezes, apenas porque tais pessoas não agiram como elas desejavam.

As religiões, em sua maioria, dizem que aquilo que mandamos para o universo,  nos é devolvido em triplo. Acredito muito nisso. O ocultismo diz que tudo o que abraçamos no mundo oculto, nos abraça de volta. Fico aqui imaginando quais braços estão em volta destas pessoas, e quais energias pesadas elas estão atraindo para elas mesmas.









quarta-feira, 5 de abril de 2017

Uma Amiga que Vem às Vezes...









Exposição







As cores da aquarela eram cores magoadas,
Havia imensos nãos entre a palheta seca
E as tintas aguadas.
O pincel tocava as cores que dormiam, caladas,
Entre as nervuras rachadas.

Não havia água.

O sonho e o desejo permaneciam mudos
Sobre a tela branca que ninguém pintava.
Quadros jaziam sobre as paredes nuas,
O anseio dos olhos não passava pelos corações,
Não transportavam as emoções caladas.

Havia um grito preso que queria ser,
Havia a ansiedade de nascer...
-Mas como, sem um berço, sem caminhos, sem estradas,
Sem cores – só as telas brancas, que não traduziam
A dor presa no ventre, que quase matava?





Prece






Madrugada; 
Os olhos se abriam de repente
Na casa vazia.
Na cozinha,
Uma xícara de chá de solidão.

Por companhia,
Os ecos das batidas
Soando pela casa:
Um relógio carrilhão.

Uma, duas, três horas de agonia,
Quatro, cinco, seis passos pelo chão
Marcado pelos saltos
Daqueles que se foram.

A prece em desespero
Às pressas recitada,
Palavras gotejadas 
Aos pés da madrugada...

A prece, bem aos poucos
Virando imprecação:
"Para onde foi aquele
Que transformou-me  a vida
Nessa desilusão?"

De volta à cama, o suor
Após o pesadelo...
-Não há nada que apague,
Ou que traga de volta
Por esses mesmos trilhos
Aquilo que se foi!

Sozinha pela vida,
Tornara-se refém
Daquela prece árida,
Daquelas noites pálidas
De dores sussurradas...

Nada mais lhe restava,
A não ser uma prece
Na qual não acreditava,
E a última palavra
(Que conhecia bem)
Pois era a que selava
A sua solidão:

"Amém."





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