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domingo, 9 de junho de 2013

Orfandades - Pe. Fábio de melo





Trechinho do livro "Orfandades - O Destino das Ausências" - Pe. Fábio de Melo


"A notícia me doeu na carne. Rolei pelo chão do quarto acometida pelas mesmas dores que o expulsaram do meu ventre vinte e três anos antes. As dores da morte eram as mesmas que as do nascimento. As contrações naturais que encaminharam o meu menino ao mundo estavam de volta. Retornavam os dolorosos movimentos dos interiores que já não toleram mais o corpo invasor. Mas dessa vez sem o que expelir. Doíam vazios, doíam ocos, doíam solitários. No nascimento, só a expulsão cessa a dor. O menino que desliza pelas pernas arranca consigo as agonias da carne. Era ele o espinho que magoava o corpo. Mas a mágoa é bem-vinda. Todos sabem. Toda forma de nascimento é um milagre em si. Nas cimento é superação das sombras. É quebra de crepúsculo."




Orfandade - O Destino das Ausências - Pe. Fábio de Melo



Orfandades – O Destino das Ausências – Pe. Fábio de Melo

Editora Planeta – 2012 – 158 páginas



Quem espera que este livro lhe traga algum tipo de conforto espiritual após uma grande perda, não deve lê-lo; da mesma forma, quem pensa encontrar aqui soluções espirituais e respostas para as coisas da vida e da morte, acabará se decepcionando. Este livro foi escrito por Fábio de Melo – o homem, não o padre.

Mas quem deseja uma leitura verdadeira e cheia de poesia, que traz a dor e suas facetas cruas e sem máscaras; quem tem a coragem de assumir que a espiritualidade e a religião não trazem todas as respostas às nossas dores e mazelas, e que não nos protegem contra aquilo que estamos acostumados a chamar de ‘mal,’ encontrará neste livro uma leitura que, embora seja difícil (ninguém gosta de caminhar pela Estrada da Dor), será envolvente, surpreendente e inesquecivelmente bela.

Padre Fábio de Melo ausenta-se por algum tempo, é dá lugar ao homem Fábio de Melo, que nos escreve dezenove contos que falam da perda, do medo, da dor e da morte. Um livro para leitores corajosos. Os contos de “Orfandade” arrancarão lágrimas e despertarão lembranças. Além de oferecer beleza e poesia, ao ler este livro nos lembraremos do quanto somos todos tão parecidos na hora da dor e da perda, e o quanto estamos todos igualmente vulneráveis a elas. 

O livro nos fala das ausências e dos desejos reprimidos que muitos já sentimos, desejos de deixar tudo para trás e atravessar até o outro lado do rio, levando na bagagem apenas a cara e a coragem (“O Outro lado” e “O Mapa”). Talvez ele consiga expressar toda a dor de nos sentirmos órfãos (“Mãe Morta” e “Pai de Poeira”) ou o nosso medo de assumirmos a nossa própria vida e nos responsabilizarmos por nossas próprias escolhas ( “A mulher Acabada” e “A Escolhida”). Enfim; para cada um de nós haverá um personagem que nos custará assumir, mas que nos fará mais humanos e, ao mesmo tempo, transcendentes.


Trecho de “O Mapa”

“Queria o dom de esquecer. Que confortante, viver a oportunidade de olhar para o muro e nele não encontrar rosto familiar. Andar pelos cômodos da casa e deixar de ouvir as vozes dos que partiram, mergulhada numa estranheza, como se tudo fosse visto pela primeira vez. Todas as coisas reduzidas a serem o que são. A pedra é pedra. Nada mais. Nenhuma abertura de sentido para a materialidade.”

Trecho de “Mãe Morta”

“Já posso morrer. A pedra posta me segura. “Aqui jaz Antonieta Bonaparte do Couto. Viveu, sonhou e amou.” O argentado das palavras reluz tristeza. Contradição. A frase triste está prenhe de esperanças que ainda não sei reconhecer. Minha mãe está morta. Repito. Digo a palavra mais dura, o recado mais tristonho. Mas no avesso da aterradora notícia há um travesseiro de conforto. Minha orfandade é alforria. O amargo da verdade se mistura ao doce de um futuro que posso ter. Sua partida me outorga direitos. Já posso morrer também. Não tenho mais a obrigação da vida. Posso aventurar-me sem medos, dar-me aos descuidos, avançar limites, ultrapassar fronteiras. Posso partir, posso morrer, desistir, ser infeliz.

Morrer requer ter nascido. Quarenta e dois anos e só agora o meu nascer terminou. O cordão que me atava ao outro corpo foi decepado. O ventre está lacrado. Nele não há respiro. Estou livre.”

Trecho de “A Consagrada”

“O amor me coloniza. Faz comigo o mesmo que Portugal fez com minha pátria. Arranca o ouro, devasta as reservas e me outorga misérias que frutificarão no futuro. Eu as descubro aos poucos como se a névoa da realidade me preservasse do susto de vê-las num mesmo movimento de olhos. Alguém deve ter rezado nessa intenção. Deus age como pode. Também Ele, ainda que goze de soberania e poder, vê-se impossibilitado de realizar proezas. Eu o limito, algemo suas mãos quando não sou capaz de encher as talhas para que o milagre aconteça. O vinho é resultado dele, dádiva de sua gratuidade, mas a água é atributo humano, é a parte que me cabe.

Amar é perder a pertença; ser invadida por outro, ver rasgada a cortina que me preservou por tantos anos indivisa, proprietária da decisão de descer escadas, cruzar a rua, realizar o simples da vida, o ordinário, o natural de ser livre. É desastroso amar assim.”



sábado, 8 de junho de 2013

EU






Eu


Sou eu que arranho, em desespero,
As portas da tua memória,
Sou eu quem aguardo lá fora
Por uma migalha, que seja,
Do teu olhar.

E ao chegar a madrugada,
Sou eu que te espero, cansada,
Na beirada da tua insônia,
Em imagens esfumaçadas...

Eu sou a voz que tu ouves,
O toque pelo qual anseias
E que jamais haverá...
Eu sou a ânsia que grita
Guardada no pensamento,
Eu sou quem jamais virá. 

E quando pensares que a dor
Da minha ausência passou,
Eu volto, num raio de sol
Para te dizer que eu existo.

Pois eu sou a tua saudade,
O eco do que tu adoras
Que numa nuvem de bruma
De repente, foi embora.

Partidas






Ela era a estação,
E ele, o trem que chegava de manhã
E que partia ao findar o dia.
Naqueles breves encontros,
Ela sonhava permanências
E ele se despedia.

Ela deixava os sonhos sobre os trilhos ainda quentes,
Guardava o futuro
Num horizonte mutante
E morno de branduras...

Ele se perdia por um mundo sem fronteiras,
Onde as estações eram somente
Uma pausa entre aventuras.

E cada um era o avesso
Do que o outro desejava;
E era isto que fazia durar:
O coração não descansava
De sempre e tanto
Sonhar.

sexta-feira, 7 de junho de 2013

Não te Vejo!






Não te Vejo!


...E quanto mais dizia, com ensejo
A orgulhosa frase: "Não te Vejo,"
Fechando os olhos à odiada imagem,
Mais esta lhe ocupava os pensamentos!

E então se retorcia, em vil tormentos,
Ao ver o seu retrato impiedoso...
E a boca escarneava, em tom jocoso,
A mesma velha frase: "Não te vejo!"

E quanto menos via, mais sentia,
E o ódio transformava-se, choroso,
Em algo que a gente percebia

No coração trancado, vigoroso,
Um outro sentimento, em segredo...
Semente de tal fruto amarguroso...

*




Poemas de Arana do Cerrado





Alguns poemas que expressam um pouco do grande talento de Arana do Cerrado. Arana tem uma página no Recanto das Letras.






Lonjuras


No leme dessa nau
contemplo sem esmorecer.

nasci ribeirinha.

em água grande desde sempre mergulhei.
finas areias, pedras enormes roliças,
antes de barrarem sua força e beleza.

tornou-se o Paranaíba sem voz,
parado, quieto por cima...
em suas barrancas quis morrer numa noite escura,
não deu-me permissão.

isso foi antes, muito antes
da vigília galos-madrugadas
em insones noites
de carneirinhos contados, recontados,
olhos secos,
antes de todo mar e sal mudarem-se pra oca...
boiei anos!

distante, fria, dormente, revirei-me com a morte.

na lonjura desses dias à ferro e fogo,
deixo vento desalinhar-me inteira e se sonhos desbotam,
aquarelo-os!
todos desejos, pássaros-livres,
liberto-os com ardor.

hora de cantar a vida
lançar fora correntes
desembaraçar laços, teias,
hora de enxergar pelas janelas d'alma
essa calma que agora habita-me!








Coração é terra de ninguém......



Se pudesse tocar seu coração
com minha emoção,
os dias teriam mais sóis nas chuvas
e as noites,luares cheios na nova.

Ah se pudesse tocar seu coração!!!!
os verdes dos olhos reaprenderiam brilhar
sem marejos e seria livre o cantar
amordaçado de tristezas
por não lhe tocar...

Daqui posso ver onde devo chegar...

Amanhã, se houver, acordo outra,assim é.
Aquela que iniciou essa prosa/pensamentos,já não existe mais!
Aquela morreu.
Outra continua e não há mais mistérios...

Então como posso tocar seu coração???

Distraí-me com a totalidade da VIDA/MORTE!!

Vivemos para a morte e este prazer é efêmero quando aprofundamos no ponto.

Por sobre a água espelho
por baixo molhada....
Viver é assim.

Perdão por desejar tocar seu coração.












quinta-feira, 6 de junho de 2013

Marketing & Propaganda





Marketing & Propaganda


Dia desses recebi um e-mail de uma loja na qual costumo comprar online, e decidi dar uma olhada nos preços dos cortadores de grama; afinal, os jardineiros vivem sumindo, e eu, que não gosto de jardim mal-cuidado, preciso me prevenir.

Aproveitei e dei uma passadinha pelos notebooks, já que o meu netbook anda rateando. Logo depois, ao comentar a página de um escritor do Recanto, vejo um anúncio com um cortador de grama, piscando sobre um fundo vermelho. Lembrei-me daquela antiga propaganda de chocolate, na qual um menino hipnotizava alguém, dizendo: "Compre batom! Compre batom!" A estratégia era tão boa, que até hoje, quando vejo este chocolate, eu me lembro da propaganda e o compro!

Senti a mesma coisa a respeito dos cortadores de grama; é como se aonde quer que eu vá na internet, tivesse alguém em meus ouvidos: "Compre cortador de grama! Compre cortador de grama!" Ou então: "Compre notebook! Compre notebook!"

Fiquei pensando que a mesma receita poderia servir muito bem em vários lugares aqui no Brasil. Imaginem só, se lá no Planalto Central, houvesse um auto-falante que a cada trinta minutos, vocalizasse a seguinte mensagem: "Sejam honestos! Sejam honestos!" 

O mesmo recurso poderia ser usado também em outras instituições, como escolas, escritórios, hospitais e muitos outros locais. E se você pudesse escolher um local no qual aplicá-la, qual seriam o local e a mensagem?

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