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quinta-feira, 9 de maio de 2013

Velhos Amigos








Velhos Amigos- de Oswaldo Montenegro



Velhos amigos vão sempre se encontrar
Seja onde for, seja em qualquer lugar
O mundo é pequeno, o tempo é invenção
Que o amor desfaz na tua mão

Nada passou, nada ficará
Nada se perde, nada vai se achar
Põe nosso nome na planta do jardim
Vivo em você e você dorme em mim

E quando eu olho pro imenso azul do mar
Ouço teu riso e penso: onde é que está?
A nossa planta o vento não desfez
É nunca mais, mas é mais uma vez






Linha Fina





Existe uma linha bem fina
Entre o idealismo e a tirania,
Entre o expressar-se e o calar os outros,
Entre ajudar e manipular.

Existem palavras
Cujos significados
Podem ser dúbios, dobrados
E desdobrados,
Cujo conteúdo pode ser torcido,
Retorcido
E apagado.

Existem pessoas 
Que clamam pela democracia,
Enquanto calam qualquer voz
Que discorde de suas crenças...

E  ainda dizem-se favoráveis
A quem diz o que pensa!

Existe uma linha fina
Entre a polidez e a falsidade,
A maledicência e a opinião,
Entre a mentira e a verdade.

E as marionetes pulam
Ao balançar da linha frágil,
Sem perceberem que só dançam
Quando alguém as movimenta!

E os bonecos seguem -( confiantes?)
Com  seus tristes sorrisos de plástico,
Trazendo as cabeças baixas de medo
Da opinião dos arrogantes.


Hora de Ir





Existe um velho ditado - e é um cliché, mas um cliché verdadeiro - que fala das pessoas que vem para ficar permanentemente em nossas vidas e das que vem só de passagem. As do segundo tipo são bem mais comuns, mas muitas vezes, bem mais importantes, também.

Acho que elas deveriam ser recebidas com reverência; suas presenças, desfrutadas com alegria, e na hora em que elas precisassem se retirar - para cuidarem das próprias vidas e seguirem seus próprios caminhos - deveriam ser efusivamente agraciadas com a nossa mais pura e verdadeira gratidão.Elas cumpriram sua missão junto a nós, e agora, precisam seguir viagem.

Tentar prendê-las por puro egoísmo, é injusto. Foram nossas amigas quando delas precisamos, e agora, necessitam que demonstremos por elas a nossa verdadeira amizade, deixando que elas escolham o que desejam fazer de suas vidas. E embora não seja fácil para nós, que nos acostumamos às sua presença, continuarmos sem elas, necessitamos compreender que é preciso deixá-las ir, e que temos de ser fortes o suficiente para continuarmos sem elas.

Prender-se a elas, e tentar retê-las, só demonstra a nossa imaturidade e  nosso egoísmo. Pagar amizade e dedicação com desprezo e ressentimento, é a pior coisa que alguém pode fazer a outrem. 

Algumas pessoas acham que, por mais que alguém faça por elas, jamais será suficiente. Querem ter todos aos seus pés, mas nem sequer se incomodam em dar um simples telefonema perguntando se você está bem, se precisa de alguma coisa, se está triste. Usam você, sugam tudo o que puderem de você, te procuram na hora que precisam e depois, te esquecem. E são exatamente essas que se ressentem quando você decide ir cuidar de sua própria vida antes que elas tenham acabado de usá-lo. Para elas, mesmo que você tenha dado muito, sempre, elas só se lembrarão do momento em que você precisou dizer 'Não' ás suas necessidades. Não vale a pena perder tempo com esse tipo de pessoa. Para elas, só elas e seus interesses tem importância, e ninguém mais presta.

Pessoas assim tem a habilidade de cuspirem no prato onde comeram e pisarem nas pessoas que, um dia, as ajudaram. Você só é bom enquanto elas precisam de você para alguma coisa; depois, elas te descartam sem a menor cerimônia ou agradecimento. E ainda falam mal de você! E mesmo que você lhes tenha salvo em uma hora muito difícil, elas jamais sentirão uma gota sequer de reconhecimento pelo que você fez.

A ingratidão é um veneno que afasta as pessoas, destrói amizades e demais relacionamentos - românticos, familiares e de trabalho - e deixa, por onde passa, um rastro de dor e solidão. E o único remédio para a ingratidão, é a humildade; mas infelizmente, humildade é aquilo de que os ingratos menos dispõe.






quarta-feira, 8 de maio de 2013

Jamais Diga




JAMAIS DIGA


Jamais diga que não teve escolha,
Ou talvez, que não resistiu...
Existe sempre a dignidade
Entre a tentação e o não.

Jamais diga que não teve culpa,
Ou que alguém te conduziu...
A responsabilidade
É sempre de quem agiu.

Jamais venha pedir-me desculpas
Por agir como bem quis,
Não te peço redenção,
Não sou deus, e nem algoz.

Pois que nunca há de haver
Entre nós, qualquer ciência,
Basta ouvir o coração
Fazer o que diz a decência

Não aquela que eu conheço,
Não a que outros te apontam,
Mas aquela que tu sabes
Guardada em tua consciência!


BARRINHAS

GLÓRIA!





Glória!


Glória ao dia que começa,
Esperança que amanhece,
Rasgo de nuvem no céu,
Raio de luz que desce...


Glória à vida, à paz, ao ser
Cada vez mais, sempre menos
Do que aquilo que me julgo,
Mais que aquilo que me julgas!


Glória à esperança frágil
Que abre as asas, devagar
E se atreve, pouco a pouco,
A jogar-se, a voar!


Glória a ti, a mim, a todos,
Que embalam mais um sonho
Junto ao peito, qual criança
Que acaba de nascer...


Glória àqueles que se atrevem
A apostar no que acreditam,
Aprendendo, todo dia,
Mais um pouco, o que é viver...




O Sonho - Yung




Trecho de "L'âme et la Vie", de Yung


O sonho é uma porta estreita, dissimulada no que há de mais obscuro e íntimo na alma. Abre-se para essa noite original cósmica que pré-formava a alma bem antes da existência da consciência do ego, e que há de perpetuá-la bem além do que jamais uma consciência individual conseguirá atingir. 




Pois toda consciência do eu é esparsa. Distingue entre fatos isolados por meio da separação, da extração e da diferenciação, e apenas é percebido o que pode entrar em contato com o ego. A consciência do ego, ainda quando consegue entrar em contato com as nebulosas mais longínquas, é feita somente de compartimentos bem delimitados.



Com o sonho, pelo contrário, penetramos no mais fundo do ser humano, o mais verdadeiro, o mais geral, o mais durável, naquilo que ainda mergulha no claro-obscuro da noite original, onde era um todo e onde o todo estava nele, no seio da natureza indiferenciada e impessoal.




É destas profundezas, onde o universal  se unifica, que jorra o sonho, seja ele revestido das aparências mais pueris, grotescas e imorais (...) Quando se nos aparecem sem sentido, somos nós os insensatos, desprovidos, segundo toda aparência, desta fineza de espírito necessária para decifrar as mensagens enigmáticas de nossos ser noturno (...). Ninguém duvida da importância da vida consciente e de suas experiências. Por que então duvidar da significação dos acontecimentos inconscientes?




Fazem parte também de nossa vida, e neles, vibra tanto, senão mais quanto em nossa existência diurna; e às vezes, são mais perigosos, às vezes mais salutares que esta.








OS DEGRAUS
Não desças os degraus do sonho 
Para não despertar os monstros. 
Não subas aos sótãos - onde 
Os deuses, por trás das suas máscaras, 
Ocultam o próprio enigma. 
Não desças, não subas, fica. 
O mistério está é na tua vida! 
E é um sonho louco este nosso mundo...Mario Quintana



"Mesmo que seja um sonho, mesmo que seja uma ilusão, se existe dentro de você, é porque é para você. - Zíbia Gaspareto


O Caderno






Há muitos anos, quando eu estudava à noite, fazendo o antigo 'segundo grau' e trabalhava durante o dia em uma loja, tive um colega de escola que adorava filosofia. Ele era um tanto taciturno e sonhador, idealista, contra o capitalismo, a burguesia, o domínio das massas, e sustentava em seu discurso um tanto confuso marxista/comunista/idealista,  uma vontade de mudar o mundo. Ele tinha uma alma aflita.

Certa noite, ao sairmos da escola, ele me procurou com uma porção de cadernos manuscritos, e me pediu que os guardasse. Deu-me também um casaco (até hoje não descobri o motivo), dizendo que ia fazer uma longa viagem - que, na verdade, não durou nem uma semana, e pelo que sei, ele não foi a lugar algum. Fiquei preocupada na época, achando que ele ia suicidar-se, mas após várias garantias de que ele não tinha a menor pretensão de fazê-lo (e porque o último ônibus da noite já chegava no ponto), deixei-o.

Depois, a vida nos afastou. Comecei a namorar meu marido. A escola terminou, casei-me, mudei de emprego várias vezes e não sei, absolutamente, o que aconteceu com ele. Acho que ele me pediu os cadernos de volta, e eu os devolvi, juntamente com o casaco; minha mãe adorava ler aqueles cadernos, e achava que o meu amigo, na verdade, tinha uma paixonite por mim... o que continha os cadernos? Trechos de discursos filosóficos, políticos, religiosos (ele abominava a religião). Coisas de Karl Marx, Nietzsche, Yung, Platão... antes, eu mal havia ouvido falar destes caras.

Bem, depois que minha mãe morreu, enquanto olhávamos as poucas coisas que ela deixou para decidir quem guardaria o que, achei um dos cadernos. Encapado com plástico amarelo transparente, assim que pus os olhos na capa, lembrei-me de meu antigo amigo. Achei curioso que eu tivesse me esquecido de devolver um dos cadernos! Minha mãe o guardou entre suas coisas por mais de trinta anos. 

Percebi, ao folheá-lo, que havia algumas páginas que tinham sido removidas, cortadas com uma tesoura, e que o último discurso terminava repentinamente. Parece que meu amigo havia sido interrompido enquanto o copiava. E lá nas últimas páginas, após algumas folhas em branco, Havia um texto de minha mãe. Um texto que me deixou muito triste, pois falava da solidão que ela sentia e do arrependimento por ter deixado sua própria casa para ir morar com minha irmã. Falava muito de solidão e de não sentir-se adaptada. Este texto foi escrito em 1991, um ano após meu casamento.

Fiquei olhando o caderno, e pensei no trabalho que meu amigo havia tido para copiar, um a um, todos aqueles textos. Na nossa época, lá pelos anos 80, mal se ouvia falar em internet, e ninguém tinha computador em casa. Pensei nas muitas horas solitárias que aquele jovem passou perdido em seus pensamentos e anotações, e no quanto a sua cabeça devia fervilhar diante daquelas ideias tão imensas.

Pensei em toda a tristeza e solidão que minha mãe guardou só para ela durante tanto tempo... e sem que eu jamais suspeitasse de que ela se sentisse daquela maneira. Quanto desperdício!

Transcrevo aqui as últimas linhas escritas por minha mãe, pois afinal, apesar de tantas tristezas, elas provam o quanto ela gostava da vida:

"(...) Às vezes penso que a só a morte poderá me consolar, mas a vida é tão bonita, apesar dos pesares, o mundo é tão belo que ainda não quero este consolo. 
Sei que tudo é ilusão, tudo acabará, nada é eterno, só Deus. Eu não quero ser uma intrusa na vida de ninguém, isso me desgosta muito. Quem sabe, se não arranjo um jeito?
E se a morte é um descanso, eu não quero descansar."

Fico me perguntando: o que faz com que nos distanciemos tanto das pessoas, e tentemos esconder nossos sentimentos e pensamentos com tanta ênfase? O que nos causa tanto medo? Por que achamos vergonhoso revelar o que sentimos e pensamos, se no fundo, todos nós temos medos e anseios tão parecidos? Por que, meu Deus, esse medo de demonstrar fragilidade, essa necessidade de competir, enganar, ser 'mais esperto' e aparentar ser e poder mais que todos, e mostrar-se sempre forte, sorridente, vencedor?

Qual é o problema em sermos apenas humanos?

Qual o problema em dizermos, sinceramente: "Hoje eu estou escuro", ou "Preciso de você", ou "Sinto-me só?" Caminhamos durante toda a nossa vida entre seres que deveriam ser encarados como nossos semelhantes, e ficamos o tempo todo tentando provar que somos bem diferentes deles. Essa solidão, esse medo, e essa tristeza, vem exatamente daí: da nossa decisão de nos negarmos a ter sentimentos reais, dessa mania de evitarmos olhar para dentro de nós mesmos, compreender o que sentimos e partilhar experiências.

Ninguém aqui é super homem! Então, para quê fingir? Por que tentar criar uma capa de falsa felicidade, um verniz que não resiste ao menor arranhão? Se todos tivéssemos coragem de retirar as máscaras, com certeza, o mundo ficaria bem mais leve. E seríamos, quem sabe, felizes de verdade.

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EU SÓ TENHO UMA FLOR

  Eu Só Tenho Uma Flor   Neste exato momento, Eu só tenho uma flor. Nada existe no mundo que seja meu. Nada é urgente. Não há ra...